segunda-feira, 29 de junho de 2015

Show me the money, parte II

A época 2014-15, em termos contabilísticos e financeiros, acaba amanhã, dia 30. Neste momento tudo se resume a isto: ou a venda de Jackson Martínez é fechada até à meia-noite de terça-feira e o orçamento será cumprido e superado em termos de expetativas de lucro, ou a SAD vai apresentar prejuízo anual dois anos consecutivos pela primeira vez desde o pós-Gelsenkirchen. 

Já todos perceberam que algo de errado se passa. Nélio Lucas e Galliani brindam à contratação de Jackson no avião, o presidente anuncia que Jackson escolheu o Milan, depois aparece o Atlético e Pompeo dá-o por garantido em Madrid, tal como o próprio jogador. Temos tudo para uma novela mexicana. Ou colombiana. 
Querem? Paguem.

Ponto prévio: Jackson Martínez é/foi capitão do FC Porto, três vezes Dragão de Ouro (o recordista) e passou três épocas a levar a equipa às costas, com máximo profissionalismo e capacidade de sacrifício dentro de campo (que é o que importa, não é as palavras bonitinhas fora dele). Provavelmente nunca tivemos um jogador tão bom em 3 épocas tão atribuladas. Logo, não queriam começar a vender o filme de que a culpa é do jogador.

Foi de facto o FC Porto quem trouxe Jackson para a ribalta europeia. Trouxe, não descobriu, porque na altura já era um nome muito falado para a Premier League, e talvez só não tenha assinado antes pelo Liverpool pois era difícil atribuir licença de trabalho na altura. Mas para a história fica que foi o FC Porto quem abriu as portas da Europa a Jackson Martínez. Depois, surge a célebre promessa de Pinto da Costa. Como Deco, Quaresma ou Falcao a tiveram. Como até o próprio Varela teve e depois foi encostado. «Ficas mais um ano e depois sais». 

Mas claro, para isso acontecer, há que haver um comprador disposto a pagar o que o FC Porto quer. Por vezes corre mal, como foi exemplo Varela e até Quaresma, que em 2008 passou de 39,999.999M€ para 18,6M€, com o perdido Pelé à mistura. Para Jackson não há esse problema, pois é um jogador com mercado e que tem características quase únicas no futebol europeu. Se calhar há melhores pontas-de-lança. Mas como Jackson não há mais nenhum. E vender um ponta-de-lança que vai fazer 29 anos acima dos 30M€ é simplesmente brilhante. 

E todos se aperceberam disso desde o início. A matilha começou cedo a cercar o osso, a começar pela controversa troca de agentes, de Manso para Pompeo, com uma bifurcação na SAD pelo meio, sendo que um dos desvios nem integra o mapa de órgãos sociais - e nunca há-de integrar. Qual foi o interesse em Pompeo passar a representar Jackson? Absolutamente nenhum. Um empresário sem rede, sem contactos para grandes transferências. O FC Porto atribuiu-lhe, na renovação de Jackson, 5% de uma futura transferência. E para quê, se na hora de vender para o Milan teve que ser pelo tipo do costume (Jorge Mendes)? Que fez Pompeo para o FC Porto lhe atribuir um potencial valor de 1,75M€? Jorge Mendes sim, justifica grandes comissões, pois tem sido um ganha pão para FC Porto e Benfica. Agora Pompeo?

Na verdade, Pompeo (na condição de procurador para Jackson) acabou por apresentar a proposta do Atlético de Madrid, que decidiu agir numa operação-relâmpago quando tudo se conjugava para Jackson rumar a Milão. E Pompeo vem agora ameaçar dar nomes aos bois. Só há um pequenino problema para este empresário: ele disse que o Atlético ia pagar a cláusula de rescisão. Logo, tudo isto quer dizer, tal como se temia aqui, que o Atlético não se disponibilizou, até à data de ontem, a pagar cláusula nenhuma.

Se o Atlético quisesse de facto pagar a cláusula, Pompeo não tinha que andar a pedir reunião nenhuma. Era muito fácil, bastava Jackson notificar a SAD - até podia ser por fax, como Villas-Boas fez - com vista à rescisão e o Atlético fazer o depósito dos 35M€ à ordem. Como parecia ser mais lógico, o Atlético até pode estar disposto a pagar os 35M€, mas nunca a pronto.

Assim, a SAD só vende se quiser. E tal como Jackson Martínez não estava obrigado a ir para Milão, o FC Porto também não está obrigado a vendê-lo ao Atlético. A solução? Tudo sentado à mesa, a pensar nos superiores interesses do FC Porto, e não em decidir quem faz ponte para onde. Tal como em campo não ganham os jogadores, mas sim o clube, fora dele quem deve ganhar é sempre o FC Porto. 

Se as restrições da FIFA forem de facto aplicadas, no máximo será atribuída uma comissão de 1,05M€, além dos 1,75M€ a que à partida Pompeo terá direito. Se o Atlético quisesse de facto pagar a cláusula, não se começaria a discutir Moya - não vale a pensar falar em Óliver pois já era ponto de interesse antigo, que dependerá sempre da pré-época que fizer com Simeone. Assim sendo, que façam valer as suas boas relações, que se sentem à mesa e que se concretize o melhor para o FC Porto, que é o dinheirinho ser contabilizado até à meia-noite de dia 30. 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Falemos de Maxi Pereira

Opinião sobre todo
o processo de contratação
Escrever, não escrever, esperar que o circo mediático acalme, que o próprio FC Porto decida que posição/versão quer assumir publicamente... Opinar em função do desfecho e em comunhão é fácil. Mas é uma questão que merece ser debatida, independentemente do seu desfecho, porque um facto já não podem contornar: houve intenção, negociação e proposta para que Maxi Pereira seja jogador do FC Porto.

No final podíamos todos rejubilar por obrigar o Benfica a subir a parada na sua proposta de renovação, e em última instância até dizer que isto foi tudo um bluff de mestria para obrigar o rival a aumentar a sua proposta. Não queiramos enganar ninguém, pois isto não é poker.

Neste momento, com a saída de Danilo, Maxi Pereira é o melhor lateral direito do futebol português. A estatística dá sempre dados curiosos e contra-natura: Danilo fez 6 golos e 4 assistências no último campeonato. Maxi Pereira fez 5 golos e 8 assistências. O Benfica sofreu apenas mais 3 golos do que o FC Porto. Danilo é muito melhor do que Maxi, a todos os níveis. Mas é sempre curioso verificar que na estatística, pelo menos em termos ofensivos e coletivamente no número de golos sofridos, o rendimento não é muito díspar. Tudo isso porque os laterais não são match-winners.

Podemos recordar que Danilo custou 13M€ (mais encargos) quando chegou. Já aqui foi defendido que Danilo não poderia nunca ser a referência para justificar um grande investimento, mas estávamos a falar de um atleta de grande potencial e margem de progressão. Falar de Maxi Pereira é falar de um jogador experiente a todos os níveis, capaz de entrar diretamente num 11, de jogar acima da média no futebol português. Mas não vai evoluir, nem potenciar uma grande transferência.

Por isso, não há maneira de compreender como é possível propôr a Maxi Pereira um contrato de 4 épocas, de valor bruto de cerca de 16 milhões de euros (o que daria 2M€ limpos por ano). Está claro que se o FC Porto quer Maxi, tem que oferecer mais do que o Benfica, pois se a proposta fosse igual ou inferior é claro que Maxi iria preferir continuar em casa, onde é adorado e até uma referência. Justifica que se perca a cabeça por ele? Não, de forma alguma. Baixar o vencimento e encurtar o contrato para 2 ou 3 anos? Seria mais admissível. Mas se não oferecermos mais do que o Benfica, certamente que Maxi não teria interesse em mudar.

Curiosamente, as maiores preocupações que se leem nem é do investimento: é do simples facto de Maxi Pereira vestir a camisola do FC Porto. Porque é um «caceteiro», basicamente. Não sejamos hipócritas: se Maxi Pereira estivesse no FC Porto há uns anos, diriam todos que é um jogador à Porto. Porque tem raça, garra, dá tudo em campo, tudo aquilo que caracteriza um jogador à Porto. Mas como é natural, se um jogador tem essas caraterísticas mas está num rival, é normal que não gostemos dele.

Maxi Pereira já está muito identificado com o Benfica, já teve picardias com o FC Porto, logo é normal que isto seja mais difícil de aceitar. Mas se João Pinto, Jorge Costa ou Paulinho Santos jogassem no Benfica (dá arrepio só de imaginar), nenhum portista gostaria deles. Tal como se Maxi Pereira fosse do FC Porto, nenhum benfiquista o suportaria. Isto é absolutamente normal. O maior problema não era Maxi Pereira vestir a camisola do FC Porto. Afinal, o que é o jogador à Porto senão aquele que dá tudo em campo em prol da sua equipa? O melhor jogador à Porto que podemos ter tem um nome muito simples: é o jogador profissional. Queremos o jogador à Porto das selfies, das produções de moda e dos amuos ou o profissional que vai dar tudo pela equipa?

Mas claro, há outro problema: a motivação de Maxi para vir para o FC Porto é sobretudo financeira. Tanto dele como do seu empresário, Paco Casal, bem conhecido durante o negócio de Cristian Rodríguez, que já lhe deu uma reforma bem jeitosa - em 2012-13, quando já tinha saído, ainda andámos a pagar uma percentagem do passe de Rodríguez, por 1,66M€.

A ambição de Maxi Pereira, neste momento, não é desportiva. Ele quer o grande contrato que qualquer trintão quer. Receber 8M€ limpos até quando fizer 35 anos? Um grande jackpot. Se o Benfica só lhe dá 4.5M€ limpos em 3 anos, é fácil perceber para que lado a balança tomba. O tal profissionalismo de Maxi Pereira, que poderia ser visto como um jogador à Porto, fica seriamente comprometido a partir do momento em que troca 8 anos de história num clube pelo rival, meramente por um melhor salário. O profissionalismo de todos os jogadores tem um preço. E este é bem caro.

Há muitos portistas que ainda não querem acreditar que Maxi Pereira possa vestir a camisola do FC Porto. Isso já se tornou relativo, pois é um facto que o jogador já recebeu, via empresário, a proposta para jogar cá. Logo, a SAD do FC Porto legitimou essa possibilidade. Até podia acordar amanhã, sentir-se benfiquista, pensar que quer continuar a dar passeios em Lisboa em paz e roer a corda. Mas não mudaria nada, pois o FC Porto já quis contratar Maxi Pereira. Ponto.

É curioso que Liedson não tenha gerado metade desta revolta. Um jogador que, por exemplo, simulou uma não agressão de Jorge Costa, mandou calar os nossos adeptos no Dragão... Mas veio em circunstâncias completamente diferentes - empréstimo de 6 meses e ambição de fazer no FC Porto o que não conseguiu no Sporting: ser campeão. Maxi Pereira não vem por 6 meses, nem vem procurar no FC Porto aquilo que não conseguiu no Benfica. Vem porque pagamos mais. O Benfica não quer Maxi no FC Porto, obviamente, tanto que até retransmitiram na Benfica TV uma entrevista antiga de Maxi Pereira a falar do golo de Maicon na Luz. Mas foi incapaz de aumentar a proposta de renovação.

Não podemos ignorar que foi às custas de correr maiores riscos financeiros que conseguimos desviar do Benfica nomes como Danilo, James Rodríguez ou Falcao. Mas nesse caso estávamos a falar de atletas com grande margem de progressão, com quem poderíamos recuperar e multiplicar o investimento mais tarde. Com Maxi Pereira, nada disso. Dispensa período de adaptação, é verdade, e pode chegar e jogar. Mas não vai ter capacidade para jogar 4 épocas, nem sequer permitir que recuperemos o investimento mais tarde.

Além disso, Maxi Pereira tem um empresário extremamente limitado, que não vai arranjar um clube do Qatar ou dos Emirados que daqui a um ano pague um bom dinheiro. Reparem que não foi capaz de arranjar uma única alternativa para Maxi Pereira sair do Benfica para o estrangeiro. E se não fosse o FC Porto a avançar, se calhar não teria mais nenhum clube a oferecer mais do que oferece o Benfica (o Sporting também lhe apresentou uma proposta, mas de valores inferiores). Então se nenhum clube quer pegar em Maxi Pereira agora, de graça, hão-de querer pagar algum dinheiro ao FC Porto daqui a um ano?

E agora falemos de outro aspecto maravilhoso. Paco Casal pediu 2,5M€ de intermediação ao Benfica pela renovação. Recordemos as novas regras da FIFA para intermediação de jogadores. Supostamente, cada empresário só pode receber 3% do valor da transferência ou 3% dos salários brutos do contrato do jogador. Ah, pois, então e as transferências a custo zero? Essa preocupação foi aqui expressada no final de março e, pelos vistos, não há restrições aplicáveis a transferências a custo zero. 

Imaginando que o FC Porto oferece 2M€ a Paco Casal. Para o empresário receber uma comissão desse valor numa transferência, Maxi Pereira tinha que ser transferido por 66,6M€. Absolutamente absurdo e pornográfico. Com esta artistada da FIFA, se calhar vamos deixar de ver empresários a pressionarem jogadores e clubes para venderem jogadores; vão é começar a pressionar jogadores para não renovarem contrato, pois assim saem a custo zero e já podemos exigir comissões sem restrição.

E que prémio de assinatura para Maxi Pereira? Se se confirmassem os 2M€, isso significaria que consegue ganhar mais do que João Moutinho (1,8M€ pagos a três anos), capitão do Sporting, quando assinou pelo FC Porto. A diferença é que João Moutinho pôde evoluir e render financeiramente no futuro. Maxi Pereira não.

Sem contar com as comissões, assumamos a despesa de 16M€ em Maxi Pereira. Então com um plafom de 16M€ a quatro anos, Maxi Pereira é o melhor lateral direito que a SAD, juntamente com equipa técnica e departamento de scouting, consegue identificar? O FC Porto distinguia-se por encontrar barato, valorizar e vender caro. Agora vamos buscar quem é caro, não se irá valorizar e que não pode ser vendido? Com 16M€, renovávamos por muito tempo com Alex Sandro, com quem poderíamos recuperar o investimento mais à frente, e ainda dava para pagar/renovar muita coisa.

Concluindo. Se Maxi Pereira assinar, vamos deixar de apoiar a equipa, rasgar os cartões de sócios e assobiar um jogador que enverga a camisola do FC Porto? Claro que não. Aplaudiremos cada corte que fizer, cada golo que marcar, cada minuto em que representar o FC Porto. Porque o problema não é o fim (a contratação). É o meio para o fim (todo o investimento).

Pergunta(s): O meio justifica o fim?

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Show me the money

Quando Pinto da Costa disse «Jackson escolheu o Milan», era sempre algo para suspeitar. Tinha que haver outra cartada na manga. Ou dar um empurrãozinho para aproximar Jackson de Milão, ou simplesmente para dar um último aviso ao mercado: se o querem, é agora ou nunca. Seja qual for a intenção, resultou pelo melhor, pelo menos no dossiê Jackson.

35 milhões de euros por um ponta-de-lança que faz 29 anos em breve. Desportivamente, Jackson era o melhor que poderíamos ter. Financeiramente, é um negócio sem paralelo, do melhor que o FC Porto já conseguiu fazer. Falta só uma coisa: show me the money.

Dragão de Ouro
O Atlético comprometeu-se a pagar a cláusula de rescisão. À hora em que este texto é escrito, ainda não o fez. Pois a partir do momento em que a cláusula é accionada, o FC Porto tem imediatamente que notificar o mercado regulador. Exatamente como aconteceu em 2011, com Villas-Boas: a 20 de junho tiveram que declarar que não tinha sido paga nenhuma cláusula, mas no dia seguinte o negócio estava oficializado. É uma questão de horas, nunca de dias.

Para a cláusula de rescisão ser accionada, o pagamento tem que ser feito a pronto e tem que Jackson Martínez a pedir a rescisão. Tendo o Atlético e o FC Porto boas relações, é surpreendente e quase bom de mais para ser verdade que a cláusula seja paga. O Atlético é um clube avantajado financeiramente e habitualmente cumpridor, mas pagar 35M€ sem antes tentar negociar esta quantia? 

Só se justifica por FC Porto e Milan, com a Doyen como ponte, já terem chegado antes a acordo. Mas a vontade do jogador também conta. E é a Doyen que é parceira do FC Porto, não é o FC Porto que é parceiro da Doyen. Temos pena, mas o melhor é a proposta do Atlético, apesar de se tratar de um clube com quem também ainda temos muito que discutir, da baliza ao ataque, passando pelo meio-campo. Daí que bater 35M€ de uma só vez, sem puxar outras cartas à mesa, seja verdadeiramente surpreendente. Bom de mais até para, a esta hora, ainda estar na expetativa sobre se é paga a cláusula, ou se é pago o valor da cláusula. São coisas diferentes.

De qualquer forma, com a venda de Jackson Martínez, e salvo a existência de despesas que não estavam previstas, o FC Porto não só cumpre como supera as obrigações orçamentais. Além da mais-valia de Jackson ir além dos 21M€ que eram vistos como base (não esquecer que Pompeo tem direito a 5% - e se for o Atlético a fazer o depósito da cláusula, não temos que pagar mais comissões nenhumas), conseguimos a receita extraordinária com Casemiro. Orçamento cumprido em esforço, mas cumprido, e bem. E para nunca mais repetir, de preferência.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Os 10 poderes da diarreia

Bem vindos ao futebol português, onde o pior árbitro da época é eleito para apitar a final da Taça de Portugal. Quase que é a cereja no topo do bolo que foi toda a época do Conselho de Arbitragem. Comecemos só por recordar algumas dessas fatias.

Gestão anti imodium
1 - Tendo em conta que o CA consegue transformar um árbitro sem experiência num internacional, quase que faz sentido que se despromova o internacional Marco Ferreira. Mas saliente-se que este CA nem sequer respeita as diretrizes da FIFA.

2 - O CA não respeita nem tem qualquer critério nas nomeações. Há árbitros que só servem para arbitrar determinados clubes. E pelos vistos há clubes com uma invejável capacidade de veto.

3 - O CA coloca os piores árbitros a arbitrar os melhores jogos e não é capaz de admitir que o sistema de nomeações está esgotado - pelo menos para 16 das 18 equipas da primeira liga.

4 - Nem só dos árbitros nos podemos queixar: a nomeação dos bandeirinhas também não obedece a qualquer lógica ou coerência.

5 - Aqui com intervenção (ou falta dela) do Conselho de Disciplina, as instâncias do futebol português permitem que o treinador do líder e o melhor jogador do 3º classificado violem os regulamentos. E ninguém pia.

6 - O CA sentiu-se incomodado meramente por factos enumerados por Lopetegui ao longo da época. Já quando difamaram abertamente os árbitros e os acusaram de ter decidido um campeonato, ninguém teve comichão

7 - O CA permitiu que a liga chegasse à 24ª jornada com um líder que beneficiou de erros de arbitragem em 24% dos pontos conquistados. Ninguém disse que foi premeditado. Apenas que aconteceu e é essa a história que fica.

8 - Não basta ter árbitros que só apitam um clube. O CA consegue formar árbitros que só servem para apitar o mesmo clube no mesmo estádio.

9 - O CA é liderado por um responsável que sacode culpas, não identifica problemas, não apresenta soluções e que passou mais tempo no Seixal esta época do que a debater ou expor os problemas do futebol português.

10 - Por fim, o CA fechou a pestana perante a denúncia de manipulação de resultados numa liga ganha pelo Benfica, repleta de casos de arbitragem. Nem sequer procurou defender a integridade dos seus árbitros perante todos os acontecimentos da Liga Aliança.

De quem é a culpa? De Vítor Pereira? Não, não. A culpa foi da ausência de uma caixa de imodium. Isto quase que chega a ser poético: é graças à diarreia que o Conselho de Arbitragem pôde desenvolver tão sério trabalho nos últimos anos. Sim, pois Vítor Pereira foi eleito por um voto em 2011, 42-41 contra Luís Guilherme. E só ganhou porque o delegado de Viana de Castelo, que não ia dar o seu voto a Vítor Pereira, teve um ataque de diarreia durante a viagem para Lisboa e não compareceu na eleição para os órgãos sociais da FPF.

A gestão de Vítor Pereira no CA vai fazendo jus à principal razão da sua vitória: a diarreia. O pior árbitro da liga foi escolhido para arbitrar a final da Taça de Portugal. O Jamor devia ser o ponto alto da carreira de um árbitro a nível interno. Neste caso, foi um prémio para o árbitro que foi considerado o pior.

Há muito(s) pior(es)
Dirão os vieiristas pereiristas que o presidente do CA não pode conferir semanalmente as notas que os árbitros recebem. Isto só torna situação mais ridícula: temos um presidente do CA que não acompanha sequer o desempenho e evolução dos árbitros com base nas suas notas ao longo da época. Como podemos nós ter árbitros competentes assim?

Marco Ferreira não é o pior árbitro da liga. Pelo contrário, até está acima da média. Mas consta que este árbitro se revoltou contra José Rufino, que recorria a imagens televisivas para lhe atribuir a nota na condição de observador. Isto é ilegal, pois os árbitros não podem ser avaliados com base na perspetiva televisiva, mas sim na que têm dentro de campo. Marco Ferreira tem toda a razão em reclamar. Mas o CA acha melhor fazer descer o árbitro madeirense. Adivinhemos de que associação será o promovido para a sua vaga.

Mais um pormenor interessantíssimo. Mais de metade dos árbitros internacionais são da AF Lisboa, inclusive o prodigioso Tiago Martins (ler o ponto 1). Mas os dois melhores árbitros da liga são da Associação de Futebol do Porto. Jorge Sousa é o melhor, com todo o mérito, pois teve uma grande evolução. Um dia algum iluminado lembrou-se de escrever num espaço qualquer da internet que era um ex-Super Dragão. Como disse Abraham Lincoln, se alguém escreveu na internet, então é verdade. Mas estás errado, barbucho, pois Jorge Sousa nunca foi SD. Já Soares Dias também se confirma como um árbitro acima da média.

É altamente suspeito que um adepto do FC Porto diga que os melhores árbitros são os portuenses. Mas que mais escolha há? Reparem só nesta: João Capela foi 4º, Manuel Mota 5º e Bruno Paixão 6º. Estão entre os 6 melhores árbitros segundo o ranking de notas. E para o Sporting, segundo maior clube lisboeta, nenhum deles presta. Se um grande clube lisboeta diz que não prestam, quem somos nós para esperar o contrário? Ah, mas do outro lado da Segunda Circular, a opinião pode não ser a mesma. Sendo o Benfica campeão 2014-15, só nos podemos revoltar por Capela, Mota e Paixão não formarem o top 3. A obra de Vítor Pereira não dá para tudo. O sorteio dos árbitros, à partida, vai regressar na próxima época. Será preciso uma grande ginástica para isso não se refletir na classificação.

Só falta o remate final: o Benfica perdeu 3 jogos no campeonato. Adivinhem quem era o árbitro em 2 deles: Marco Ferreira. Bruno Paixão aguenta-se, pois já faz parte da mobília, e aquele arzinho de pânico em Paços de Ferreira mostrou que ele bem tentou o inevitável. Já Marco Ferreira recebe o devido castigo.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Investimento a galope

Mlynarczyk. Zé Beto. Barrigana. Helton. Vítor Baía. Américo. A nossa história é rica em grandes e marcantes guarda-redes. E o mais caro de todos chama-se Raúl Gudiño e tem 19 anos.

Está comprado, de contrato assinado, e agora pertence aos quadros do FC Porto. Uma surpresa é que o investimento seja de 3,5 milhões, segundo se escreve no México. Os clubes nunca confirmaram o valor publicamente, logo não se sabe, publicamente, quanto era a opção. Por exemplo, Paco Palencia chegou a anunciar que era de 2,5M€ e que o Chivas estava insatisfeito, pois queria ter conseguido uma cláusula maior. E agora subiu para 3,5M€. Pela totalidade do passe? Teremos que esperar para ver.

Três anos é muito pouco
Raúl Gudiño vale os 3,5M€? Vai ter que valer. O FC Porto torna Gudiño o guarda-redes mais caro da sua história. Isto diz algo muito claramente: que vai ter que ser o futuro número 1. Que não faz sentido que, sobretudo após renovar com Helton, se volte a contratar outro guarda-redes. Há ainda Fabiano, que foi o titular em grande parte da época e o guarda-redes menos batido das ligas europeias, Andrés Fernández, com um investimento superior a 1M€, Ricardo e Bolat, que foram contratados para fazer números (o plural não é acaso), e os jovens Kadú, Caio, Andorinha e Filipe Ferreira. Chega e sobra de guarda-redes nos nossos quadros profissionais, para todos os gostos e planos.

Neste momento deixemos de nos preocupar em contratar mais um guarda-redes e preocupemo-nos em lançar Gudiño para ser o número 1. Não vai ser titular em 2015-16, claro que não. Mas o plano terá que ser fazê-lo evoluir nesse sentido. Não se falou do trabalho de Juan Arévalo durante a época, mas trata-se de um treinador que trabalhou com guarda-redes como Oscar Ustari, Miguel Moya ou Abbondanzieri, material de seleção espanhola ou argentina. Agora há que preparar Gudiño.

O jogador não tem culpa de quanto custa. Não podemos nunca colocar sobre Gudiño a responsabilidade de ter que estar à altura do estatuto de guarda-redes mais caro da história do clube. O que temos que esperar é que Lopetegui e a sua equipa técnica potenciem Gudiño na parte desportiva e que a estrutura, assumindo o grande investimento em Gudiño, perceba que agora é a hora de prepará-lo. Mas uma questão: um contrato de 3 anos para o guarda-redes mais caro da história do FC Porto? Apenas 3? Se não vai ser titular esta época, vai começar a ser titular quando faltar 1 ou 2 anos de contrato para o final? O investimento não está bem defendido com um contrato de apenas 3 anos. 

E agora um salto ao Liechtenstein, onde vamos ter Mauro Caballero a jogar na liga suíça. Vamos só recapitular um pouco do que já foi dito sobre o jogador há um ano. 

«É sabido que Gonçalo Paciência é o único ponta-de-lança para começar a pré-temporada. Onda está Caballero? Tal como Bolat, nem na lista apresentada pelo FC Porto se encontra, e no Olival nem sinal dele. Só para refrescar a memória. Estamos a falar de um jogador que envolveu um litígio e a FIFA; um jogador que fez capas de jornais a ser apresentado como alternativa imediata a Jackson; e que mal chegou relegou logo André Silva e Gonçalo Paciência, os dois mais promissores avançados portugueses, para segundo plano. 

Investimento sem
aposta sequente
Mais um refresco: em janeiro de 2013, o advogado Gerardo Acosta garantia que o FC Porto ia pagar 365 mil euros, apenas por direitos de formação. Chegou o Relatório e Contas e o que se viu foi 1,53 milhões de euros pagos à MHD, S.A.»

O Google ajuda como pode e diz-nos que a MHD é provavelmente um escritório situado em Chardonne, em Vaud, na Suíça. E agora Caballero vai jogar no... Vaduz. É esta a melhor solução para fazer evoluir um jogador que, quando chegou, começou a ganhar páginas de jornais como futura alternativa a Jackson ainda antes que um tal de Gonçalo Paciência (que vai para o Europeu a um ano do fim de contrato com o FC Porto)? Quem é sequer o treinador do Vaduz? Que experiência tem ele na evolução de jovens? Que tipo de futebol joga o Vaduz que possa ajudar Caballero? Se calhar até fica pertinho do escritório, mas não havia melhor para uma grande aposta da SAD, na medida em que até um litígio e a FIFA envolveu?

Teve números razoáveis no Aves. 15 golos na segunda liga, ainda que grande parte de penalty, que é sempre uma boa forma de valorizar um ativo (por exemplo, Abdoulaye marcava os penaltys no Covilhã - e assim conseguiu vender-se o jogador com o rótulo de central goleador, o que torna sempre um defesa mais apetecível). 

Caballero vai para o 3º de 5 anos de contrato com o FC Porto. Ansiamos pelo dia em que vejamos Rui Pedro, André Silva ou Gonçalo Paciência assinarem um contrato de 5 épocas. Até agora, de Caballero retemos um bom momento com a camisola de FC Porto, que foi um grande golo em Viseu. De resto, nada e nem para a pré-época contou. Marcou golos na Libertadores com 16 anos? Assinalável. Mas vejamos aqui o que aconteceu a alguns dos mais jovens goleadores da Champions.

Caballero não está condenado a ser um mau investimento. Mas não terá sido dado o melhor passo para evitar o contrário. Melhor das sortes da Gudiño e Caballero na sua evolução em 2015-16.

Pergunta(s): Gudiño justifica o investimento/contrato? O empréstimo de Caballero ao Vaduz foi uma boa solução?

domingo, 14 de junho de 2015

Análise 2014-15: os avançados

A hora da sucessão
Há Jackson Martínez e há o resto. O resto tem potencial, mas quando há Jackson não há espaço para muito mais do que esperar na sombra do colombiano. Pela terceira época consecutiva, não conseguimos ter o melhor ataque do campeonato, ficando sempre atrás do Benfica. Mesmo assim, Jackson consegue durante três épocas seguidas ser o melhor marcador, faz 92 golos em 3 épocas e tornou-se um dos melhores pontas-de-lança do mundo. Sem ele, as últimas três épocas teriam sido bem mais complicadas do que o foram.

E agora, a sucessão. Um tema que tem sido difícil de gerir. Aboubakar é o sucessor natural, Gonçalo Paciência pouco tempo tem de primeira equipa e André Silva ainda não o tem. Alberto Bueno foi um negócio de oportunidade, com vista a algo mais do que um 4x3x3. Entre Kléber, Ghilas e até Walter e Caballero há 16M€ investidos sem retorno à vista. Leonardo Ruiz vai fazer a primeira época na B, restando saber se demoram muito a fechar a compra do passe (sem desculpas para inflações à Kayembe). Ainda vai chegar mais um ponta-de-lança do mercado. O natural seria Aboubakar partir como primeira opção, até porque Gonçalo não vai começar a pré-época, abrindo espaço para a terceira vida de Kléber. Mas podemos admitir que está tudo em aberto no que toca ao ataque, seja em 4x3x3, seja no 4x4x2 que na época passada só funcionou na cabeça de Lopetegui e frente ao BATE. Vamos à análise.

Jackson Martínez - Passou a época a receber elogios semana após semana, logo tudo o que se diga agora torna-se redundante. Talvez só Danilo possa competir com ele na designação de melhor jogador da época. Foram três anos a levar a equipa às costas, na mais ingrata das tarefas - fê-lo não em tempos de hegemonia, como Jardel, Lisandro ou até Falcao, mas sim durante três épocas de grande dificuldade e exigência para o FC Porto. É o 2º melhor marcador estrangeiro da história do clube, só atrás do insuperável Jardel. Além de toda a valia desportiva, saindo pela fasquia dos 30M€ ainda se torna num excelente negócio financeiro para a SAD. Merecia sair com mais títulos na bagagem. É sempre subjetivo definir quem é o melhor, mas foi o mais completo ponta-de-lança que o FC Porto teve em muitos anos.

Aboubakar - Chegou para crescer na sombra de Jackson. Aproveitou dentro do possível as suas oportunidades, fazendo 8 golos na época de estreia e revelando o potencial que levou o FC Porto a apostar na sua contratação. Não é Jackson, claro que não. Mas pode ocupar o lugar de Jackson, mesmo que isso implique que Lopetegui passe a utilizar o seu 9 de maneira diferente. Jackson Martínez jogava pela equipa, enquanto que neste caso a equipa terá que jogar um pouco mais para Aboubakar. E a própria equipa, sobretudo do ponto de visto criativo no meio-campo, terá que render muito mais, pois Jackson disfarçava muita coisa. Aboubakar tem condições para começar a próxima época como primeira opção, desde que lhe peçam para fazer de... Aboubakar, não de Jackson.

Adrián López - Tal como Falcao não é o jogador que viram no Man. United esta época, Adrián também não é o que mostrou no FC Porto. No início da época, foi uma contratação que genericamente gerou entusiasmo, excepção à parte de ter chegado por 11M€, tão reais quanto os 8,6M€ de Roberto ou os 6M€ de Pizzi. É certo que o feitio do jogador não ajudou. Não é que seja mau profissional, mas revelou-se frágil psicologicamente para aguentar a pressão de as coisas não terem começado desde o início a correr bem. Mas também foi contratado para uma equipa na qual não tinha espaço. Não podia ser extremo, não podia ser 9. Lopetegui tentou encaixá-lo naquela variação de 4x4x2, mas o esquema não funcionou de todo. E sendo esse o único esquema onde Adrián podia entrar, o jogador também ficou sem grande margem. Depois veio a lesão e terminou a história de Adrián no FC Porto. Ficando no plantel o FC Porto teria que começar a liquidar os 11M€, mas nem um décimo do investimento conseguiu justificar - e o pior é a massa salarial. Logo há que esperar que Jorge Mendes encontre uma solução.

Gonçalo Paciência - Tem caraterísticas raríssimas. Estivesse já a jogar numa liga estrangeira (na Bélgica ou na Holanda, por exemplo, os jogadores jovens começam mais cedo a jogar nas primeiras equipas) e já o comparariam a Ibrahimovic. No FC Porto, num clube onde a exigência é máxima e havia Jackson Martínez, era difícil ter muito tempo de jogo. Podia ter saído por empréstimo, mas Lopetegui quis que ficasse a trabalhar e evoluir sob a sua supervisão. É bom de mais para estar na equipa B ou limitado a minutos residuais na equipa A. Já vai para a 3ª época de senior, logo precisa de jogar numa equipa principal. Se Lopetegui não encontrar espaço competitivo para ele, talvez o empréstimo seja a melhor solução. Resta responder à questão: quem chegar do mercado terá mais potencial e oferecerá mais a curto prazo do que Gonçalo Paciência? Não faz sentido contratar um projeto de jogador quando temos um projeto chamado Gonçalo. Nem sequer investir no mercado quando o contrato de Gonçalo acaba em 2016.

Os bês - André Silva foi prejudicado pelo impasse na sua renovação e, de certa forma, pela tentativa de coexistir com Gonçalo na equipa B, desviando-o para uma ala - o seu lugar é a posição 9. Vai para o 2º ano de sénior, o que indicia que possa continuar na B, mas se já podermos aumentar o estímulo competitivo a que está sujeito só há a ganhar. Anderson (que só chegou em janeiro) e Roniel fizeram uma época exemplar daqui para que não devia servir uma equipa B - como porta de importação para jogadores cujo agenciamento é melhor do que o talento demonstrado.

Pergunta(s) - O sucessor de Jackson deve vir do mercado ou do plantel? Que papel para Gonçalo Paciência em 2015-16?

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Análise 2014-15: os extremos

Não há comparação possível entre os extremos que o FC Porto teve para iniciar 2013-14 e os que conseguiu para a última época. Paulo Fonseca basicamente só tinha Varela como jogador «feito», e tinha-o contrariado. Lopetegui teve qualidade de sobra, pois a época foi mais bem preparada, o treinador foi ouvido e o ataque ao mercado foi forte e bem conseguido. O resultado? Quaresma: 10 golos e 7 assistências. Tello: 8 golos e 11 assistências. Brahimi: 13 golos e 10 assistências. Contamos apenas este top 3, o mais produtivo que tivemos em muitos anos, sem contar com as passagens episódicas de Ádrian, Quintero, Óliver e até Hernâni pelas alas.

Todos os atuais extremos têm condições para serem mantidos no plantel. Temos experiência (Quaresma), explosão (Tello), criatividade (Brahimi) e projetos de jogador, que vão de Ivo a Hernâni, de Frédéric a Rúben Macedo. Cabe a Lopetegui escolher. Se alguém sair, que seja substituído por alguém do mesmo perfil, embora nada esteja previsto nesse sentido. Em relação a extremos, é um setor para o qual não precisamos de contratações para o 11, mas sim de continuar a aproveitar as soluções que já temos e os talentos que estão na forja. Não esquecer que só em Kelvin (continua no Brasil) e Hernâni foram investidos 6M€, dinheiro ainda por rentabilizar. Não estamos na melhor altura para apostar em «planos C» quando os «B» ainda estão na forja. Mas como sempre, há quem não seja da mesma opinião.

Quaresma - Esteve por um fio no início da época, fruto do feitio que fez com que fosse considerado um flop no Barcelona, no Chelsea ou no Inter. Mas amadureceu como poucos esperariam - talvez nem ele próprio. Tornou-se um extremo mais equilibrado e mais completo, mesmo perdendo velocidade (como é normal na sua idade). É muito raro um extremo de 31 anos ser titular numa grande equipa. Quaresma sabe - se não sabe ficará a saber - que será difícil ser titular absoluto em 2015-16, mas ficando no plantel será um elemento de grande valia. Isto se souber que quer no banco, quer dentro de campo, o símbolo que representa é sempre o mesmo. Não estava na morgue, mas o FC Porto reabriu-lhe todas as portas.

Tello - Uma, duas, três lesões, as duas últimas já quando estava na sua melhor forma ao serviço do FC Porto. Aprendeu a definir melhor, a usar o que de melhor tem, tornou-se decisivo numa sequência de jogos importantes, ora com golos ora com assistências. 2015-16 tem tudo para ser a sua grande época. Postura irrepreensível ao serviço do clube, em todos os momentos, e a não ser que o Barcelona decida estragar a festa entrará em 2015-16 como uma das grandes armas do FC Porto para resgatar o título e voltar a brilhar na Champions (onde Tello acabou por não conseguir ser influente como poderia ser).

Brahimi - Partiu tudo nos primeiros meses, a ponto de fazer uma cláusula de 50M€ parecer pouco. A partir de Novembro (ainda antes da CAN), caiu numa espiral de exibições apagadas e moleza, mesmo intercalada com alguns momentos/jogos do brilhantismo a que nos habituou. Era a primeira época de Brahimi num clube que joga na UEFA, que luta para ser campeão, que em todos os jogos a nível nacional joga contra equipas com linhas defensivas recuadas. Realidades novas para Brahimi, que também teve/tem que aprender a fazer de um passe a melhor finta, a enquadrar-se taticamente num coletivo e a perceber que é impossível ele partir todos os defesas em todos os jogos. Vai ficar e na próxima época estará bem mais preparado para a regularidade que lhe faltou. Sem Danilo e Jackson, deve emergir como a grande figura do FC Porto para 2015-16.

Hernâni - O TD não concordou com a sua contratação, como foi opinado no fecho do mercado. A não concordar com algo, que seja dito atempadamente, porque em prognósticos no final do jogo todos somos 100% certeiros. Mas a partir do momento em que Hernâni chega ao FC Porto, é de esperar que o elevado investimento seja rentabilizado e que as suas características sejam tão aproveitadas quanto possível. Ao fim de meia época, Hernâni é ainda o mesmo jogador que fomos buscar ao Guimarães: com bola no espaço pode fazer a diferença, mas em tudo o resto apresenta limitações. Fez 2 golos no campeonato, esforçou-se, mas em termos evolutivos ainda não deu para ver muito. Parte como última opção para as alas, se ficar no plantel, e precisa de muito mais para singrar no FC Porto.

Kelvin e Ivo Rodrigues serão analisados no setor de jogadores emprestados, enquanto Ádrian López entra nos avançados.

Pergunta(s): Há necessidade de ir ao mercado buscar um extremo? Que papel para Hernâni no FC Porto 2015-16?

PS: A efeméride passou ao lado. O Tribunal do Dragão celebrou um ano de existência. 245 posts, 5.000 comentários, 1,8 milhões de visitas. A frequência de posts não tem sido a maior nas últimas semanas, por motivos de força maior (daí o menor número de posts e a ausência de respostas a comentários), mas tentaremos repetir os números no segundo ano, sempre com o mesmo propósito: um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto. Um obrigado a todos os portistas que visitam e comentam regularmente este espaço.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Análise 2014-15: os médios

(Em)préstimos de grande valia
Em relação à última época, Herrera e Quintero foram os únicos médios que se mantiveram no plantel. Para uma equipa que sofre tão profundas alterações no coração da equipa, é necessário tempo. Tempo para os novos jogadores se adaptarem, para conhecerem mutuamente as respetivas caraterísticas, para assimilarem o modelo de jogo. Manteve-se o que vem sendo tradicional: o FC Porto tem sempre a equipa com maior percentagem de posse de bola e maior acerto no passe (média de top5 na Liga dos Campeões), mas todos repararam que, a nível interno, faltou alguma verticalidade. Por outras palavras, fazer em 12 passes ou 15 segundos o que muitas vezes fazemos em 25 passes ou 40 segundos. 

Somos uma equipa de ataque planeado, de posse, há vários anos. Vamos continuar a ser. Mas há que ter a capacidade e compreensão de que muitas vezes, no campeonato português, será necessário um pouco mais de pulmão e velocidade e um pouco menos de cabeça e calma. Lopetegui, ao ficar no FC Porto, tem que ter aprendido isto. Destacar o 3º médio para um papel mais criativo e desequilibrador e evitar que o 2º médio tenha que baixar para a primeira linha de construção são alguns dos pontos a rever. Mas como este setor ainda vai sofrer várias alterações, para já avaliemos o que foi 2014-15.

Rúben Neves - A grande vitória de Lopetegui. Fazer de um juvenil titular na equipa A do FC Porto mostra que em termos de aproveitamento de talentos nos sub-19 e na equipa B há muita gente a dormir (até Paulo Fonseca já tinha chamado Rúben Neves a treinar com a equipa A - coisa que ninguém nos juniores ou na B foi capaz de fazer). É presente e futuro para o FC Porto. Deverá renovar em breve, pois até completar os 18 anos não podia assinar um contrato de longa duração. Temos em mãos um dos jogadores mais promissores à escala mundial. E portista dos pés à cabeça. Pés com muito talento, cabeça com muito juízo, e coração com grande dedicação. Um digno Dragão de Ouro para esta época.

Casemiro - Foi do 8 ao 80. Começou a época com exibições penosas, mas continuou a merecer a confiança de Lopetegui e sempre teve boa imprensa, não só por cá como em Espanha. Chegava a ser desesperante vê-lo a falhar o mais simples dos passes. Na segunda metade da época, tornou-se simplesmente imprescindível. Qualidade, profissionalismo e dedicação em doses certas. Ajudou a fazer uma boa campanha na Champions, valorizou-se e ainda permitiu ao FC Porto fazer um grande encaixe financeiro, num negócio que motiva todos os elogios à SAD. Afinal, também é possível tirar proveitos financeiros, e não apenas desportivos, com jogadores emprestados. Não deve haver muitos exemplos de um clube que lucrou mais de 6M€ com um jogador que esteve emprestado. 

Evandro - Chega com um ano de atraso, pois Paulo Fonseca já o tinha pedido (e que jeito teria dado enquanto ninguém se entendia entre Defour, Herrera e Carlos Eduardo há um ano). Investimento significativo para a idade (afinal vai fazer já 29 anos), mas que valeu a pena. Comparação claramente ousada, mas a fazer lembrar o papel de Alenichev, o de um 12º jogador de luxo. É preciso velocidade? Mete o Evandro. É preciso manter a bola? Mete o Evandro. É preciso reorganizar a equipa? Mete o Evandro. Médio completo e apto para todas as funções. Justifica a continuidade no plantel. 

Campaña - Não era primeira, nem segunda, nem terceira escolhas. Lopetegui quis Clasie, quis Ñíguez, quis Darder, e não foi possível chegar a nenhum. Em cima do gongo apareceu Campaña, por empréstimo. Quando o vimos em campo, raramente desgostámos. Aquele olhar de serial killer mete qualquer adversário em sentido. Tem escola, sabe tratar a bola, é agressivo, mas não conseguiu ter grande relevância e espaço no plantel. Resta saber se por culpa da concorrência, se por insatisfação de Lopetegui ou também por culpa do jogador. Negociar a compra só faz sentido se for para ter um papel mais ativo na próxima época. Para só fazer 2 jogos no campeonato, não vale a pena.

Herrera - Casemiro foi do 8 ou 80 a meio da época. Herrera vai do 8 ao 80 de um jogo para o outro, mas ao longo da época foram bem mais os 80s do que o resto. Melhorou muito na precisão do passe, embora continue a nem sempre tomar as melhores decisões (momento de soltar a bola, passe de primeira), mas é sempre o jogador que mais corre, deixa sempre tudo em campo, fez alguns golos importantes e valorizou-se para um patamar acima do que o que o FC Porto investiu nele. Tem mais dois anos de contrato, o que para um jogador caro leva a que a sua situação seja revista. Serve de garantia num empréstimo com a célebre e quase obscura (na medida em que pouco se conhece) For Cool Co Ltd (envolvida em negócios com Walter e Hulk, mas de quem quase nada se sabe publicamente), com um método de reembolso que não é esclarecido pela SAD. Significa que interessará manter Herrera com uma valorização alta, com vista a uma transferência, nunca abaixo dos 20M€. Ficando no plantel, é natural que se mantenha como primeira escolha para o meio-campo. 

Óliver - O menino que ninguém queria e que agora todos querem de volta. Como Deco, não corre, desliza pelo campo. Foi a sua primeira época como titular numa grande equipa, e o início não podia ter sido mais promissor. O regresso ao FC Porto será sempre uma porta entreaberta, que dependerá da avaliação que Simeone fizer dele. Ter um jogador assim melhora qualquer equipa, e em 2015-16 fá-lo-ia muito mais. Óliver Torres mostrou, também, que nem só 10 anos de casa fazem um jogador à Porto: às vezes a mística já nasce com eles. Só precisa do sítio certa para se revelar. Serás sempre um dos nossos, Óliver.

Quintero - O caso mais discutido ao longo da época. Quando a bola lhe chega ao pé, ganha olhos e constroem-se mil possibilidades. Fora disso, Quintero ao fim de 30 minutos já está rebentado, é lento e não sabe jogar sem bola. Num 4x3x3, não há médio assim que se safe num clube de topo. Ao fim de 2 anos, pouco ou nada evoluiu. E a SAD assumiu o investimento de mais 4,5M€ no seu passe, mesmo sem que Quintero fosse um indiscutível para Lopetegui. O natural seria Quintero entrar na próxima época como titular, mas pouco fez para justificar isso. Ter talento não chega e Quintero tem sido a maior prova disso. Ou se assume como opção para 2015-16 (e isso depende mais do próprio Quintero do que de Lopetegui) ou é tempo de recuperar o investimento.

Os bês - É difícil avaliar em pleno o rendimento de uma equipa B quando não há treinador que a saiba potenciar/fazer evoluir. A insistência de Luís Castro em formar um trio de meio-campo com 3 jogadores de características mais defensivas em simultâneo prejudicou equipa e jogadores.  Mas tentemos. Mikel não jogou esta época, por lesão, mas muito dificilmente entraria nas opções de Lopetegui, pelo que um empréstimo a um clube de primeira liga é o ideal. Chico Ramos, já com contrato renovado, faz uma boa época, tornando-se já um indiscutível na B no seu primeiro ano de sénior. Tomás Podstawski, melhor a 6 do que a central, também tem um bom primeiro ano de sénior. Para segurar, obviamente. João Graça demorou a entrar na equipa e teve pouco espaço, mas mais por culpa do meio-campo altamente conservador de Luís Castro do que por falta de talento. O mesmo podemos dizer de Pité, a um nível baixo face ao que prometia no Beira-Mar, mas também algo lento e ainda com pouca intensidade (precisa de mais tempo de jogo). Já Pavlovski tornou-se um mistério: todos sabem que é bom jogador, mas Luís Castro raramente lhe deu continuidade. O FC Porto deveria comprá-lo, mas sem loucuras à Kayembé. E há ainda Leandro Silva, que foi subindo na formação como uma espécie de 12º jogador, mas já tem longo percurso nas seleções e assumiu-se como o patrão do meio-campo. O ideal seria rodar numa primeira liga, sobretudo aproveitando a projeção que teve em Inglaterra.

Pergunta(s): Qual foi o melhor trio de médios da época? Que futuro para Campaña e Quintero? Herrera deve continuar ou ser negociado - por que preço? Qual seria o trio ideal para 2015-16 (com potencial contratação à mistura)?

terça-feira, 2 de junho de 2015

Análise 2014-15: os centrais

Foi porventura um dos sectores mais criticados e instáveis da época. O que mostra o quão estranho pode ser o futebol. O FC Porto perdeu, no espaço de 6 meses, dois centrais de classe mundial (Otamendi, o melhor em muitos anos, e Mangala) e o melhor amigo de qualquer defesa, Fernando. Teve que se habituar a jogar com um novo guarda-redes, com uma forma de comunicar com a linha defensiva completamente diferente da de Helton. E mesmo sob todas estas condicionantes, acabou a época com a melhor defesa das 25 principais ligas europeias, com apenas 13 golos sofridos.

Quando ser o melhor não
chega para (con)vencer
Houve vários erros defensivos ao longo da época? Sim. Mas era possível fazer melhor? Talvez até fosse, mas a estatística diz que ninguém foi melhor do que nós. Mas houve de facto um problema, que não tem que ver necessariamente com a forma de defender, mas com a forma de atacar com a defesa.

E regressamos ao ponto mais criticado da época: às bolas paradas. Só fizemos 3 ou 4 golos, em toda a época, de bola batida para a grande área, num livre ou num canto, e alguém a cabecear ou desviar para golo. Se repararmos nos números ofensivos da nossa defesa, Danilo está acima de tudo, com 7 golos. Mas Alex Sandro, em 40 jogos, só fez um golo. Martins Indi, em 37, fez dois. E Maicon (39 jogos) e Marcano (32) não fizeram nenhum golo em toda a época. Como é claro, não podemos culpar nenhuma perda de pontos por um defesa não marcar golos. Mas talvez fosse isso que faltava para não perder alguns pontos decisivos. Se compararmos com o rival, Maxi fez 5 golos e Luisão, Jardel e Eliseu fizeram 4 cada um. 

Em termos defensivos, a equipa foi do melhor que há na Europa. Mas a nossa defesa fez poucos golos. Mesmo contando com o número acima da média de Danilo, em 2014-15 os nossos defesas só fizeram 10 golos. A última vez que tivemos uma defesa a marcar tão pouco foi em 2007-08, mas provavelmente nunca ganhámos um título com tão fraca concorrência como nesse ano. Por isso, Lopetegui e a sua equipa técnica (que pode perfeitamente subtrair e somar para melhorar) têm que fazer com que o FC Porto melhore nas bolas paradas. Defensivamente, é impossível pedir mais, pois já somos os melhores da Europa. Mas há muito por melhorar no sector, não só nas bolas paradas ofensivas, mas como no envolvimento dos centrais na construção de jogo. Vamos à análise, um por um.

Maicon - É o segundo mais antigo do plantel, perfeitamente identificado com o FC Porto. Foi o central mais utilizado por Lopetegui e, tirando as charutadas às quais insiste em chamar passes longos e a mania de complicar o que deve ser simplificado, é um elemento de valor. Não está ao nível dos grandes centrais projetados pelo FC Porto em vendas milionárias, nem voltou a atingir o nível a que jogou com Vítor Pereira, mas justifica a presença e continuidade no plantel. Mas há um problema: apenas mais dois anos de contrato. Como deixar um jogador a um ano de fim de contrato dá quase sempre mau resultado, sobretudo um com 26/27 anos, a sua situação contratual/negocial deve ser revista, isto sempre tendo em conta os planos que Lopetegui tenha para 2015-16.

Indi - À partida, no início da época, era visto como o melhor central do FC Porto. Experiência internacional, cotação no mercado, mas não a melhor das escolas (a Holanda não é propriamente a mais rica em defesas-centrais). Mas nunca podemos pensar apenas num central. Temos que pensar numa dupla. O facto de ser esquerdino não é problema nenhum, pois se dois destros podem jogar juntos, dois canhotos também. É tudo uma questão de rotinas. Mas de facto Maicon e Marcano, a determinada fase da época, complementavam-se muito melhor. Indi é agressivo, forte, rápido, competente no primeiro passe, mas no jogo aéreo deixa a desejar. Tem tudo para melhorar. É para manter, não esquecendo que há um investimento alto a rentabilizar.

Iván Marcano - Uma das melhores surpresas da época. Face à lamentável saída de Rolando, que teria sido muito útil ao FC Porto esta época, foi uma solução interessantíssima. Alto, forte no jogo aéreo, bom na antecipação, bom na construção e leitura de jogo, inteligente e seguro. Não mostra os dentes (é que nem os da frente), poucas vezes sorri, mas é um profissional sério e exemplar, e um elemento que merece entrar em 2015-16 como titular, depois de uma primeira época de adaptação a uma realidade diferente. Ri-te, Marcano, porque gostamos de ti. 

Diego Reyes - Ainda não tinha chegado e já tinha metade do passe alienado. uma vez que foi uma aposta da SAD e não um pedido do treinador (no caso Vítor Pereira) para entrar a curto/médio prazo na equipa. Que tinha potencial, tinha, e tem. Para valer 7€, seguramente não. Sobretudo porque não podemos potenciar/aproveitar a qualidade técnica/tática de um jogador que ainda nem sequer está formado fisicamente (é impossível vingar a nível europeu sendo tão magro). Tal como há 2 anos se dizia, precisa de ganhar massa muscular e precisa de jogar com regularidade. 2014-15 foi uma época deitada fora na sua evolução. Dificilmente vai entrar em 2015-16 como titular ou sequer primeira alternativa, logo deve ser emprestado para que a sua evolução prossiga (ou comece, finalmente). Ter um central de 7M€ que, na sua segunda época, jogou mais na equipa B do que na A é um sinal de que a coisa não está a correr como devia. Reyes é bom miúdo, com vontade de trabalhar e singrar no FC Porto, mas vai precisar forçosamente de jogar com muita regularidade na próxima época. E de ferro, muito ferro! Não esquecendo que, havendo ainda Reyes por evoluir/rentabilizar, a SAD terá que ponderar muito bem no momento de contratar mais um jovem central, com o reconhecimento do treinador.

Os bês - O passe de Lichnovsky já foi reduzido a 55%, o que significa que alguém acredita muito no seu potencial. E tem razões para isso. Já está perfeitamente preparado para ser titular numa equipa de primeira liga, com toda a naturalidade, e faz todo o sentido que assim o seja, embora haja alguma falta de centrais nos nossos quadros. Zé António devia sair, pois não faz o menor sentido ter um homem de 38 anos a jogar numa equipa B e a tapar lugar para um jovem. Diego Carlos, mesmo sendo ainda jovem, foi mostrando por que é que o Estoril não o queria. De Siemann pouco ou nada se viu. Para a próxima época Malthe e Verdasca já terão idade senior e podem e devem ser opção regular na B. Poderíamos falar de Podstawski, mas a maioria concordará que a 6 será melhor.

Pergunta(s): Qual deve ser a dupla titular no início da próxima época? Que papel para Reyes em 2015-16? Há necessidade de contratar um novo central? Quem?