domingo, 28 de janeiro de 2018

O que pode Gonçalo Paciência trazer à equipa

O FC Porto não tem grande tradição em repescar jogadores no mercado de inverno. Quem está emprestado, por norma, termina a época longe do Dragão. Kelvin, por exemplo, voltou ao FC Porto em 2017 para jogar 21 minutos na I Liga e Hélder Barbosa interrompeu a sua evolução na Académica, em 2008, para jogar pouco mais no regresso ao Dragão. 

Mas quando não há disponibilidade para investir e há o fair-play financeiro da UEFA à perna, algo que limita o FC Porto a empréstimos ou oportunidades muito específicas de negócio, há que olhar para dentro. E subitamente, com a Taça da Liga, o nome de Gonçalo Paciência regressou ao debate portista, agora que está finalmente a fazer a primeira época consistente na carreira sénior. 

Em 2014-15, Lopetegui quis que Gonçalo ficasse no plantel para a segunda metade da época, mas revelou-se um erro, pois acabou por não haver espaço para que fosse aposta. Seguiu-se o empréstimo a uma Académica medíocre, com um plantel fraco e mau futebol. Difícil esperar que Gonçalo fosse o milagreiro no meio daquele caos.

A cedência ao Olympiacos revelou-se uma solução ainda pior. Ainda que tenha sido uma solução encontrada por quem o representa - a ProEleven -, o clube grego iria, logicamente, tentar rentabilizar os seus próprios ativos em vez de dar minutos a um jogador emprestado, que chegava ao clube por intermédio do seu representante. Felizmente, a cedência foi interrompida em dezembro. Entre o fantasma das lesões e da falta de minutos, Gonçalo chegou ao Rio Ave, mas na altura o plantel vila-condense já estava formado e só encontrou protagonismo como suplente utilizado. 

No Vitória de Setúbal, enfim, Gonçalo Paciência tem finalmente o espaço desejado. E tem também números para acompanhar o seu rendimento: 11 golos e 6 assistências. A questão é: faria sentido o FC Porto promover o seu regresso se não fosse para jogar? Agora que Gonçalo está finalmente a jogar com continuidade, deveria o clube correr o risco de o fazer regressar para, depois, talvez ser a última opção da linha para o ataque?

Tudo passa, naturalmente, pela vontade de Sérgio Conceição. Mas olhando aos jogadores já recrutados no mercado de inverno - Paulinho e Waris -, ambos servem os propósitos já ensaiados no 4x4x2: avançados a jogar em profundidade. Ora, Gonçalo Paciência não pode ocupar essa função. Não é jogador para ganhar metros nas costas da defesa. É muito forte fisicamente, não deve muito nesse âmbito a Aboubakar ou Marega, mas não tem a velocidade e a capacidade de comer metros no último terço que os avançados africanos do FC Porto têm. 

Então, o que poderia acrescentar Gonçalo Paciência ao FC Porto?


Desde logo, a capacidade individual que, muitas vezes, se resume a Brahimi no ataque do FC Porto. Gonçalo Paciência é o 3º principal driblador do Campeonato, neste momento só atrás de Brahimi e Gelson Martins. Gonçalo tem 36 dribles eficazes na Liga - Marega e Aboubakar, juntos, têm 38. 

Há que ter em conta que o Vit. Setúbal é uma das 5 equipas que menos tempo tem a bola em seu poder no Campeonato. Logo, cada ação de Gonçalo com bola tem valor acrescido nesse aspecto. Por exemplo, na quantidade de faltas que consegue arrancar: já leva 57 no Campeonato, mais do que o jogador mais castigado do plantel do FC Porto, Brahimi, com 51. O mesmo é dizer que Gonçalo Paciência sofre mais faltas do que Marega e Aboubakar juntos (53). Numa equipa como o FC Porto, que sobretudo nos grandes jogos depende bastante das bolas paradas para chegar ao golo, é sempre bom ter um jogador a arrancar faltas nos últimos 30 metros. 

No 4x4x2 do FC Porto, muitas vezes, Aboubakar baixa para junto da linha média, para ir buscar jogo, enquanto Marega se prepara para atacar as costas da defesa. Gonçalo Paciência só poderia desempenhar a primeira função, a de jogar mais recuado, pois é nisso que é mais forte: receber, aguentar a pressão, explorar situação de 1x1 ou apostar desde logo no remate de meia distância. É pouco habitual ver o FC Porto rematar de fora da grande área com os seus avançados: Brahimi, Aboubakar e Marega têm 24 tentativas em conjunto... tantas quanto Gonçalo. Mas a verdade é que também são poucas as vezes em que esses remates se traduzem em golo. 

Gonçalo Paciência é o 6º mais rematador do Campeonato, com 47 disparos, menos do que Aboubakar (57) ou Marega (63), mas comparando com os avançados do FC Porto recebe muito menos vezes a bola na grande área. Daí que, embora remate mais de longe, tenha muitas poucas oportunidades para disparar nos últimos 15 metros. 

Mas nem tudo é um mar de rosas no rendimento de Paciência no Bonfim, havendo claramente alguns dados que o limitam enquanto opção para o que resta da época. Desde logo, o facto de ser o jogador com mais perdas/receções de bola falhadas no Campeonato, com 71, à frente do reforço de inverno Paulinho. O facto de jogar muitas vezes desapoiado no ataque do Vit. Setúbal não ajuda, claro. 

Além disso, tirando os guarda-redes, Gonçalo Paciência é o jogador da I Liga com maior percentagem de passes falhados: falhou 46% dos seus passes. Mas tendo em conta que Marega (continua a ser o pior passador do plantel, mas subiu para uma eficácia de 68,6%) liderou durante várias jornadas esta estatística, também não haveria de ser isso a riscar Gonçalo do mapa de possibilidades.

Porém, há algo que ajuda a explicar isso mesmo. No Vitória de Setúbal de Couceiro, Gonçalo Paciência é exposto muitas vezes à seguinte situação: receber mais atrás, rodar e tentar o passe em profundidade. Ou seja, Gonçalo não recua para fazer tabelas, jogar para trás ou ser um mero apoio: recua para segurar a bola e ser ele próprio o lançador do ataque. 

Isso explica porque é que 65,3% dos passes de Gonçalo Paciência são feitos para a frente, enquanto no FC Porto a maior parte dos passes de Marega e Aboubakar são feitos para trás - 55,1% para o maliano e 51,9% para o camaronês. Além disso, os africanos do FC Porto jogam num raio de ação mais curto, com passes médios de 14 a 15 metros, enquanto Gonçalo tem uma média de passe de 18 metros. Ou seja, é muito mais exposto ao risco e não tem tantas soluções para jogar curto. 

Por fim, as ocasiões de golo criadas na Liga. Aboubakar leva 15, Marega 14 e Gonçalo Paciência... 14. Ou seja, numa equipa que tem menos posse de bola, que ataca menos e que tem menos qualidade, o avançado português consegue, ainda assim, criar tantas ocasiões de golo como os ponta-de-lança do FC Porto. Diferente, muito diferente, mas não menos produtivo. 

Agora tem a palavra Sérgio Conceição. 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O mesmo filme x3

Terceiro clássico da época. Terceira vez em que o FC Porto é muito superior ao rival. Terceira vez que não sofre golos. Terceira vez em que também não os marca. As grandes penalidades castigaram uma equipa que tem sabido ser melhor, que tem sabido manter a baliza trancada, mas à qual tem faltado muita clarividência nos grandes jogos para acertar na baliza.

Não se trata apenas dos clássicos, pois já tínhamos notado esse fenómeno na Liga dos Campeões. Antes da goleada ao AS Mónaco, em 10 golos, sete foram de bola parada, e os restantes divididos entre um contra-ataque, uma bola em profundidade e uma jogada de insistência com vários ressaltos. 

Falta golo ao FC Porto nos grandes jogos. 270 minutos sem golos em clássicos - ainda que Aboubakar tenha marcado um golo limpo ao Benfica e que o golo anulado a Soares ao Sporting deixe muitas dúvidas; dúvidas essas que recomendariam que se deixasse o lance seguir - é algo para merecer a nossa preocupação, sobretudo sabendo que vêm aí mais quatro clássicos, que podem valer o Jamor ou até mesmo a liderança isolada/reforçada da I Liga. 

Exibicionalmente o FC Porto não se diminui. É mais forte, ataca mais, chega mais vezes ao último terço e tem sabido reduzir os rivais a escassíssimas oportunidades. Mas lá está: o FC Porto tem jogado sempre averso ao 0x0 inicial, é a equipa que mais luta para se desfazer dele, mas não tem sido feliz nesse aspecto. 

No que toca à Taça da Liga, houve diversas adversidades, desde o efeito psicológico de quebra por celebrar quase durante um minuto um golo que não valeu, a lesão de Danilo Pereira, a necessidade de remodelar um meio-campo que nunca tinha sido utilizado e a dureza imprópria neste jogo - FC Porto e Sporting têm uma média de 14 a 16 faltas cometidas e sofridas na I Liga, mas neste clássico cometeram 28 cada. 

E se já não bastava a maldita Taça da Liga, sobraram os malditos penáltis, onde o FC Porto tem sido imensamente infeliz. Benfica, Chaves, Braga, agora Sporting, não esquecendo os antecessores que vão desde o Fátima ao Schalke 04, o FC Porto tem perdido a esmagadora maioria de desempates por grandes penalidades nos últimos anos. Rui Patrício é forte nas grandes penalidades, mas acabou por defender tantos remates como Iker Casillas. Curiosamente, no último desempate com o Sporting o FC Porto tinha vencido, numa ronda em que só João Moutinho falhou. Desta vez saiu ao contrário. 

Aboubakar e Héctor Herrera (que até já tinha marcado desta forma a Rui Patrício num FC Porto x Sporting) nunca falharam uma grande penalidade em tempo regulamentar, mas desta vez erraram. O mesmo para Brahimi, que só tinha falhado 2 penaltys em toda a carreira e tinha uma eficácia de 80% na marca dos 11 metros, mas desta vez acertou no ferro. Correu quase tudo o que podia correr mal, enquanto o Sporting, inofensivo durante 90 minutos (a bola mais perigosa - a única - na direção de Iker Casillas foi-lhe endereçada pelo poste), teve a sorte grande nos penaltys. As meias-finais da Taça de Portugal já eram importantes, agora muito mais. 





Ricardo Pereira (+) - O melhor do lado do FC Porto, mesmo num jogo de dimensão física muito acima daquilo a que o lateral está habituado. Coentrão, Acuña ou Rúben Ribeiro não fizeram nada pelo seu corredor e Ricardo não se inibiu de ir ao ataque, com destaque para a grande jogada em diagonal que terminou com um remate para defesa de Rui Patrício. Fez quilómetros pelo corredor, deu sempre a zona central a Marega (poucos efeitos práticos, mas fartou-se de lutar) e mostrou uma condição física impressionante.


Alex Telles (+) - Certinho a defender, rápido a sair para o ataque. Não pôde chegar tantas vezes ao último terço como é habitual, mas tal como Ricardo fez um jogo irrepreensível na antecipação e na cobertura aos flancos. O Sporting não pôde utilizar os flancos para servir Bas Dost e isso deveu-se à boa exibição dos laterais do FC Porto, também sempre a saírem por cima nos lances de 1x1.

Reação à perda de Danilo (+) - Não há alternativa a Danilo no plantel do FC Porto. Isso já é um problema. Então perder Danilo nos primeiros minutos de um clássico, ainda pior. O FC Porto teve que reorganizar por completo a sua estratégia, com novas funções para Herrera e Sérgio Oliveira, Óliver a entrar a frio e o risco de ter a retaguarda mais exposta. Resultado? A partir dos 15 minutos, o FC Porto foi sempre superior ao rival e, na dimensão defensiva, não se sentiu a falta de Danilo. Ese também houve mais faltas do que o habitual, foi também porque foi necessário ser mais «rijo» perante a falta de Danilo. Grande resposta coletiva da equipa.





A definição (-) - Espaço para rematar? Mais um passe. Espaço para avançar? Vai remate daqui. Um colega ao segundo poste? Vai bola para o lado oposto. É um problema: o FC Porto chega sempre bem ao último terço, mas tem falhado bastante no momento de definição. Invariavelmente vimos Herrera, Sérgio Oliveira ou Marega chegarem com perigo à grande área, mas depois longe de tomarem a melhor decisão. Tendo em conta que o Sporting, em 180 minutos de clássico frente ao FC Porto, fez 2 remates à baliza, bastava aproveitar uma ou duas oportunidades das muitas criadas para ser feliz. 

Será a melhor fórmula? (-) - No Mónaco, Sérgio Conceição surpreendeu com a aposta em Sérgio Oliveira, num meio-campo reforçado. O FC Porto ganhou. Desde então, voltou a repetir isso mesmo em mais cinco jogos considerados «grandes». O FC Porto não ganhou nenhum deles. Talvez seja hora de repensar se esta estratégia funciona assim tão bem nos jogos de maior exigência. Sim, o FC Porto foi sempre melhor do que Benfica e Sporting, mas poderá Sérgio Oliveira ser o tal fator diferencial que vai aproximar o FC Porto da vitória? Não tem sido.

Além disso, há que colocar a questão: quantos clubes, em todo o Mundo, têm um jogador que só utilizam nos grandes jogos? Que tipo de jogador especial será Sérgio Oliveira que só jogou 26 minutos esta época em jogos de menor exigência, mas depois aparece 3 vezes como titular na Champions e 3 vezes em clássicos? Questionável, sobretudo quando há quase um espaçamento de dois meses desde a última aparição a titular. Uma vitória em seis jogos não é o melhor saldo para atestar a eficiência de uma fórmula para os grandes jogos. 

Os clássicos e o desenrolar da época mostram uma coisa: o FC Porto é melhor do que Benfica e Sporting. Mas aqui ninguém quer vitórias ou satisfações morais, mas sim resultados. A bola vai ter que entrar na próxima oportunidade. Para já o Moreirense. 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Um municiador e uma seta

Depois de uma importante e difícil vitória frente ao Tondela, com um golo que caiu do céu, e da atípica visita ao Estoril, num jogo em que o FC Porto entra em campo com 4 laterais e vê-se forçado a deixar o resultado em suspenso durante cinco semanas, eis que Sérgio Conceição conta finalmente com duas novas unidades no Olival. 

Waris e Paulinho são contratações que despertam diferentes expetativas. Se o médio brasileiro já não é uma novidade - já interessava em maio, bem antes da chegada de Sérgio Conceição, e já era expectável que a SAD recrutasse pelo menos um jogador ao Portimonense -, o avançado ganês é uma surpresa absoluta e que foge por completo ao tipo de contratações levadas a cabo pelo FC Porto nos últimos anos.

Antes de uma breve apreciação aos dois jogadores, uma retrospetiva sobre as contratações de inverno do FC Porto nos últimos anos:

2017 - Soares
2016 - Suk, Marega, José Sá
2015 - Hernâni
2014 - Quaresma
2013 - Liedson e Izmaylov
2012 - Lucho, Janko e Danilo (já previamente contratado)
2011 - 0
2010 - Rúben Micael e David Addy
2009 - Cissokho e Andrés Madrid
2008 - 0
2007 - Lucas Mareque e Rentería.
2006 - Anderson e Adriano.
2005 - Leandro, Léo Lima, Ibson, Leandro Bonfim, Pitbull.
2004 - Sérgio Conceição, Carlos Alberto e Maciel. 

O padrão é claro: em janeiro, o FC Porto tem por hábito contratar apenas jogadores já totalmente familiarizados com o futebol português. Nos últimos 10 anos, excetuando o caso específico de Danilo (que já tinha sido contratado ao Santos, mas a sua chegada ao Dragão foi adiada para janeiro), apenas dois jogadores não tinham experiência de I Liga - Janko, ponta-de-lança que correspondia a um perfil desejado por Vítor Pereira para o ataque, e David Addy, uma contratação que não teve base desportiva. 

Outro pormenor que se destaca é que o FC Porto não tem sido, de facto, feliz nas suas compras de inverno. Nos últimos 5 anos, apenas Quaresma e Soares conseguiram ter impacto como verdadeiros reforços de inverno. José Sá e Marega estão atualmente a ser titulares, mas em 2015-16 não acrescentaram nada ao plantel. 

Porque um reforço de inverno implica isso mesmo: ser capaz de dispensar o período de adaptação e encaixar logo na equipa. Nesse âmbito, Paulinho é uma boa adição ao plantel. Chega ao FC Porto já adaptado à I Liga e com muita rodagem competitiva, restando saber que lugar Sérgio Conceição terá para ele no plantel.


Os melhores jogos de Paulinho no Portimonense foram feitos no miolo, mas o brasileiro pode jogar descaído para os flancos - e deverá ser precisamente por aí, como alternativa a Corona, que Sérgio Conceição pensará no brasileiro, pelo menos para o 4x4x2. É sabido que Sérgio Conceição não dispensa a dimensão física no meio-campo, por isso Paulinho poderá ter dificuldades em fazer o papel de Herrera, mas pode entrar no 4x3x3. 

Paulinho, na apresentação, disse que espera acrescentar algo ao FC Porto no capítulo do último passe. E é precisamente esse o cartão de visita do brasileiro: a capacidade de meter a bola em zonas de finalização. O atleta de 23 anos é o médio que mais ocasiões de golo cria em todo o Campeonato, com 2,3 passes para finalização por jogo e um total de 44 ocasiões criadas. Em toda a Liga, melhor só Alex Telles, com 56.

No entanto, Alex Telles destaca-se sobretudo nas bolas paradas, daí que crie tantas ocasiões de golo. Excluindo as bolas paradas e pensado apenas nos passes curtos no último terço, Paulinho é jogador da Liga que mais ocasiões de golo já criou: 37, à frente de Bruno Fernandes (29), Alex Telles e Brahimi (28). 

Paulinho é, por isso, um jogador que vai «alimentar» os avançados do FC Porto e ajudar a colocar muitas vezes a bola em zonas de perigo. Mas embora não seja um jogador veloz, Paulinho também acrescenta qualidade individual - é o 2º jogador com mais dribles completos na Liga, com 43, só atrás de Brahimi, que já leva 101. Gelson Martins também tem 43 dribles eficazes, mas já falhou 33 tentativas, enquanto Paulinho falhou apenas 16. 

É este o cartão de visita de Paulinho, restando saber quanto custará a sua eventual inclusão a título definitivo no plantel. Tendo em conta que a SAD do Portimonense é controlada por Teodoro Fonseca, e que o clube de Portimão não iria simplesmente emprestar um jogador-chave ao FC Porto sem garantias de nada, resta saber quanto terá o FC Porto, no futuro, que desembolsar por esta operação - e se será (apenas) efetivamente Paulinho a ser contratado. 

Convém recordar que o Portimonense nunca vendeu um jogador por mais de 1 milhão de euros, logo, ouvir falar em valores de 6 a 10 milhões de euros por jogadores como Paulinho ou Nakajima, que têm 20 jogos de I Liga na carreira num clube que está 4 pontos acima da linha de água... Não combina. Contratar qualidade sim, sobrevalorizar na hora da compra não. 

Paulinho é, assim, uma boa adição ao plantel. Já Waris... é uma incógnita, uma surpresa total, um tipo de contratação que não é habitual ver o FC Porto fazer. Waris estava na II liga francesa e praticamente não joga desde o início de novembro - fez apenas 26 minutos desde então. Não é um jogador com o ritmo competitivo recomendável para encaixar já na equipa. 

Waris começou no futebol sueco e estreou-se em 2012 na Europa. Não se adaptou minimamente ao Spartak Moscovo e também teve uma experiência pouco produtiva no Trabzonspor, da Turquia. Só na Liga francesa deu algum ar da sua graça, com 29 golos em 72 partidas. Pode não parecer muito, mas é, por exemplo, uma média de golos muito superior à que Aboubakar trouxe de França (26 golos em 108 partidas). Logo, o registo passado pode significar muito pouco: Waris pode perfeitamente marcar muito mais pelo FC Porto do que marcava pelo Lorient.


Na pré-época, Waris esteve perto de ir para a Premier League, para o Burnley, mas a transferência gorou-se e isso contribuiu para que a sua permanência no Lorient não fosse pacífica, até porque era o jogador mais bem pago do plantel. E como é claro, um jogador que passa da hipótese de ir para a Inglaterra à Segunda Liga francesa não fica particularmente satisfeito. 

Waris faz todas as posições do ataque, polivalência que não existia no plantel do FC Porto, embora em França tenha jogado quase sempre no eixo central. Não tem a dimensão física de Aboubakar e Marega, mas é um avançado bastante veloz, forte nas diagonais e bom a explorar o espaço nas costas da defesa, caraterísticas que são do agrado de Sérgio Conceição. No entanto, taticamente não é um jogador particularmente evoluído e sempre apresentou algumas dificuldades no 1x1, fazendo sobretudo da velocidade a sua principal arma, não tendo a capacidade de Aboubakar ou Marega para segurar a bola. Enquanto Aboubakar e Marega conseguem ganhar metros no choque com os defesas, Waris procurará fugir dos defesas e atacar o espaço. 

É portanto um avançado com caraterísticas diferentes. Neste momento é essencial perceber se Waris está bem fisicamente e com ritmo competitivo para entrar na equipa, além de ter que se adaptar a uma nova realidade - em França, no Lorient, jogava para o pontinho e em contra-ataque; aqui terá que se encaixar numa equipa dominadora, que nem sempre terá o espaço que Waris procura nas costas da defesa adversária. 

Sérgio Conceição diz que conhece Waris da Liga francesa. Posto isto, só podemos mesmo esperar que Conceição conheça e deseje Waris mais do que Nuno Espírito Santo conhecia ou desejava Depoitre. 

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Os Pentas: Dezembro de 2017

Oito vitórias consecutivas em jogos oficiais. Uma sequência que o FC Porto não alcançava desde a época 2010-11, mas que tem sido justificada com uma série de boas exibições, não só a nível coletivo como individual. Esta série de triunfos teve início precisamente em dezembro, o mês que agora avaliamos em retrospetiva, com os cinco jogadores que mais se destacaram ao longo das seis vitórias consecutivas nesse mês, com a importante marca de 22 golos marcados. Foi provavelmente o mês em que mais candidatos houve ao top 5 - assinale-se, desde logo, a injustiça de jogadores como Ricardo ou Alex Telles não figurarem na lista - , mas estas são as escolhas d'O Tribunal do Dragão.

5. Moussa Marega

No que toca a competições internas, Marega continua a ser garantia de um golo por jogo, seja com um remate certeiro ou uma assistência. No último mês, conseguiu cinco golos e um passe decisivo, tendo sido particularmente importante com o bis apontado diante do Marítimo (3x1), que valeu a permanência no primeiro lugar. O maliano continua a falhar muito mais do que acerta, mas continua a acertar o número suficiente de vezes para justificar a continuidade no 11. E a equipa tem ajudado, e muito, Marega a evidenciar as suas potencialidades físicas e a esconder as suas limitações técnicas, fazendo do maliano o 2º jogador que mais vezes recebe a bola na grande área para rematar na Liga.

4. Héctor Herrera

Denominador comum: a melhor fase do FC Porto desta época foi aquela em que Herrera esteve em melhor forma. Um patinho feio habilita-se sempre a que digam: «Herrera está bem porque o FC Porto está bem». Mas o mexicano reafirmou-se mesmo como essencial. Bem na ocupação do espaço, tem sido sempre o elemento com mais ações com bola (média 83/jogo), apoia bem os flancos, farta-se de correr e pressionar e é o 3º principal criador de oportunidades de golo no plantel, apenas atrás de Alex Telles e Brahimi. 

3. Danilo Pereira

Faz a diferença na retaguarda, mas já todos conhecem a sua utilidade na grande área adversária, tendo conseguido um golo e duas assistências em dezembro. Personifica tudo o que os adeptos querem ver num jogador: qualidade, inteligência, capacidade de revolta sem perder a compostura. Considerado o melhor em campo nos jogos contra Benfica e Vit. Guimarães, é o médio com maior percentagem de tackles e bolas aéreas ganhas na Liga e tornou-se o melhor passador do FC Porto na prova, com 88,2% de eficácia de passe, à frente de Herrera. Não só conseguiu adaptar-se ao 4x4x2 de Conceição  - esquema difícil para ele no arranque da época - como se tornou essencial no funcionamento dessa fórmula. 

2. Yacine Brahimi

Curiosamente, não foi eleito o MVP pelos leitores d'O Tribunal do Dragão em nenhum dos jogos disputados em dezembro (algo que influencia Os Pentas), mas ninguém duvidará da sua influência na equipa. Autor de quatro assistências e dois golos no último mês, continua a exibir-se numa dimensão à parte na I Liga, onde já leva 88 dribles eficazes, mais do dobro do segundo melhor driblador do Campeonato. Brahimi desequilibra, cria 2 situações de finalização por jogo, é quem mais bolas recupera no meio-campo adversário e não tem havido jogo em que o brilho de Brahimi se faça sentir. É o génio do plantel e, provavelmente, o mais virtuoso e talentoso jogador do Campeonato. 

1. Vincent Aboubakar

Dez golos: foi esta a modesta contribuição de Vincent Aboubakar no último mês, colaboração que faz dele o melhor jogador de dezembro. Além de ter apontado oito golos, ainda somou duas assistências (sem contar com as faltas que sofreu para grandes penalidades) e demonstra melhorias claras na hora de atirar à baliza - era o jogador com mais ocasiões flagrantes de golo falhadas na Liga, mas em dezembro aproveitou todas as de que dispôs. Aboubakar tem intervenção direta num golo a cada 70 minutos e já ultrapassou, em larga escala, o rendimento de André Silva, o melhor avançado da última época.



O Top 5 mais votado dos leitores d'O Tribunal do Dragão para Dezembro/2017:
1. Yacine Brahimi
2. Danilo Pereira
3. Héctor Herrera
4. Vincent Aboubakar
5. Alex Telles

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Novo desafio, nova superação

O FC Porto nunca tinha estado em desvantagem no marcador neste Campeonato. E se a primeira parte também não deu ares de que a reviravolta seria tarefa fácil, Artur Soares Dias voltou a dar um exemplo de que nem com os melhores árbitros deste Campeonato o FC Porto pode estar «descansado». Se o golo do Vitória é perfeitamente aceitável, por ser um lance no limite, há mais duas grandes penalidades por assinalar a juntar ao cardápio e uma expulsão poupada a Rafael Miranda. Lances que, felizmente, não fizeram falta nem colocaram em causa a justiça do desfecho do jogo, fruto de uma grande segunda parte. 

A equipa está ao nível da última época de Vítor Pereira - mesmos pontos e mesma diferença de golos - e distingue-se, neste momento, pela grande facilidade em criar situações de remate e finalização na grande área, sendo inclusive a melhor equipa do Top 6 da UEFA nesse aspecto - 11,9 remates na grande área/jogo, à frente de Bayern, PSG e Real Madrid, as únicas equipas a rematar mais de 10 vezes na grande área por partida. 

E mesmo na vertente defensiva, apesar dos 2 golos sofridos, na Europa só Man. City (6,3) e Nápoles (7,5) permitem menos remates por jogo do que o FC Porto (7,7). Um exemplo de que isto se trata de uma equipa forte a atacar e a defender, madura e equilibrada taticamente, que não ocupa o lugar que ocupa graças a místicas, raças e outros lugares comuns. O FC Porto é líder porque é uma equipa de qualidade, com cunho de Sérgio Conceição, que combina a tal luta com bom futebol.




Brahimi (+) - Se não está no seu melhor nível desde que assinou pelo FC Porto, então anda lá perto. Foi o único a exibir-se a bom nível na primeira parte, com destaque para a forma como inventou uma jogada que ninguém aproveitou aos 44', mas foi no segundo tempo que deslumbrou, ao criar e aproveitar sozinho o espaço para o 2x1, numa jogada de génio. Em toda a Europa, só Neymar e Messi têm mais dribles eficazes do que o argelino, que criou 4 ocasiões de golo, rematou 4 vezes e só falhou uma tentativa de drible. A este nível, e com o 28º aniversário à porta, o mercado pode agitar-se.


Fórmula na 2ª parte (+) - Sérgio Conceição admitiu-o, e bem: o FC Porto teve imensas dificuldades no jogo exterior até ao intervalo. Nada estava a funcionar pelos flancos, tanto que a equipa não acertou nenhum cruzamento na primeira parte. Depois, o FC Porto forçou particularmente as subidas pelo corredor direito e foi desse flanco que nasceu a vitória: três cruzamentos de três jogadores diferentes (Corona, Hernâni e Ricardo), para três boas finalizações de Aboubakar e Marega, que nem estavam a fazer um bom jogo, mas apareceram quando foi preciso para resolver.




A primeira parte (-) - O FC Porto foi a tempo de transformar um Machado num Boné, pela forma como reajustou a estratégia para a segunda parte. Mas isso não invalida o grande desacerto e desconcentração que marcaram os primeiros 45 minutos. Nada a funcionar pelos flancos, demasiados passes longos falhados, dificuldades em encontrar espaço. Corona desconcentrado e inconsequente, Danilo e Óliver sem entendimento no miolo, Aboubakar e Marega a perderem a maioria das bolas e pouca profundidade nos corredores. Valeu o despertar ao intervalo, para a oitava vitória consecutiva. 

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Como ele cresceu!

Ainda ninguém sabia o que eram padres, missas e e-mails, mas já se perspetivava um grande futuro a Fábio Veríssimo, o «wonderboy» que, literalmente no espaço de um mês, passou das distritais para o estatuto de árbitro internacional, com apenas um par de jogos de I Liga no currículo e atropelando as diretrizes da FIFA

É caso para dizer: como cresceu o menino! Bruno Paixão, VAR para o Feirense x FC Porto, deve ter ficado orgulhoso com o que testemunhou, recordando os seus célebres desempenhos no Campomaiorense x FC Porto (99/00) ou no Gil Vicente x FC Porto (11/12). Veríssimo honrou a herança de Paixão.

Mas de facto, há que ter a sensibilidade de discutir uma coisa: Fábio Veríssimo fez o que fez por ser um árbitro inqualificado para o cargo?; ou fê-lo por estar condicionado e sob pressão? Tudo bem, à partida, quem está condicionado e sob pressão já não pode ser qualificado para o cargo. Mas estará Fábio Veríssimo refém de que sabem enumerar nomes, moradas, famílias, matrículas e mais detalhes - alguns deles ilícitos - da vida pessoal dos árbitros? É a questão que se impõe, sabendo que o resultado acaba sempre por ser o mesmo: benefício para o Benfica, prejuízo para o FC Porto.

Sérgio Conceição e os jogadores escaparam à rasteira e, de uma jornada de Benfica x Sporting, tiraram o máximo proveito: o regresso à liderança isolada, com os registos que têm acompanhado a equipa - invencibilidade, melhor ataque e melhor defesa. Dizer que foi na raça de pouco vale, porque a raça, por si só, não ganha nada. Mas quando é acompanhada por esta inteligência e qualidade, sim, faz a diferença.

O FC Porto fez, e bem, uma exposição ao Conselho de Arbitragem, mas não pode deixar que esta tenha o mesmo resultado das anteriores. Por exemplo, já poucos se recordarão que o FC Porto fez o mesmo relativamente à arbitragem de Rui Costa na receção ao Arouca, em 2015-16, após erros que envolviam um golo mal anulado e um penálti (com consequente expulsão) perdoados. Mas se calhar a coisa de que muitos mais rapidamente se recordam foi que Maicon escorregou nesse jogo e desistiu de um lance.

Outro exemplo, o FC Porto-Chaves da época passada, que também foi alvo de uma exposição face à arbitragem de Vasco Santos. De que resultou? De nada, pois logo depois houve uma derrota com o Moreirense e empates com Feirense e Paços de Ferreira, e já ninguém quis saber de arbitragem. Aliás, só nessa época, até ao mês de dezembro o FC Porto fez não uma, nem duas, mas sim cinco exposições ao Conselho de Arbitragem. Que efeito tiveram? Zero. Benfica campeão, FC Porto prejudicado, o mesmo filme das últimas épocas. O erro não pode ser repetido. 




Brahimi (+) - Já teve intervenção direta em 16 golos nesta época, o último dos quais o 1x0 nesta visita ao Feirense. Num jogo em que foi difícil para as individualidades «aparecerem», Brahimi voltou a ser denominador comum na criatividade do FC Porto, tendo sido eficaz em todas as tentativas de drible no meio-campo adversário. Teve 65 ações com bola, por exemplo mais do que Aboubakar e Marega juntos, e fez dois dos cinco remates enquadrados do FC Porto.


Aboubakar (+) - O único à frente de Danilo Pereira a conseguir acompanhar o ritmo de Brahimi e a acrescentar coisas à equipa. Abriu o marcador, com o seu 24º golo nesta época, criou mais uma ocasião flagrante de golo e tentou sempre oferecer soluções à equipa, quase sempre longe dos últimos 25 metros. Não esteve tão assertivo no passe como seria desejável, mas acabou por revelar-se novamente decisivo num jogo muito difícil, do qual se destacaram ainda Danilo, Alex Telles e pouco mais - Felipe cometeu vários erros, mas quem acaba por fazer o golo da vitória, no único remate do FC Porto à baliza do Feirense na segunda parte, tem que merecer destaque. 

O regresso de Óliver (+) - Este mês de janeiro vai ser a oportunidade para esclarecer uma coisa: ou Óliver não contava porque o FC Porto já tinha a sua saída alinhavada para este mês, ou porque era uma opção de Sérgio Conceição. Se é opção, é sem dúvida a mais discutível decisão do treinador. Não por Herrera estar mal (pelo contrário), mas por Óliver ser, em qualquer dia da semana, melhor do que André André e Sérgio Oliveira (que, bem vistas as coisas, não conta para o esquema habitual, mas sim para quando é necessário mudar de esquema inicial). Falhou apenas um passe nos últimos 55 metros e deu calma à equipa, sobretudo após o 2x1, além de ter orientado a equipa para o ataque - André André fez apenas cinco passes para a frente no meio-campo adversário. E enquanto Óliver teve 6 ações defensivas, André André teve apenas duas, tendo perdido a maioria das jogadas que disputou. Óliver é melhor. Quem quer ser campeão tem que jogar com os melhores mais vezes. 




Já lá vão 5 dias (-) - Não custa muito lembrar: o mercado está aberto. E podemos continuar com as graçinhas de que não são precisos jogadores se todos estiverem disponíveis, ou que Messi e Ronaldo são muito caros, mas desvalorizar esta questão - coisa que certamente pelo menos Sérgio Conceição não o faz - é abusar da sorte. Para todos os efeitos, apesar das contingências provocadas pelo apito, foi apenas de bola parada que o FC Porto conseguiu rematar à baliza do Feirense na segunda parte. Uma cabeçada de Felipe, um golo. Faltam soluções, e não basta estarem todos disponíveis.

André André, Corona e Marega estavam disponíveis, mas não conseguiram boas exibições. Hernâni estava disponível, mas pouco mais serve do que para fazer número. Layún, que queriam fazer sair, teve que entrar na equipa para ajudar a segurar a vantagem. Soares, que (também prejudicado pela lesão) tem tido dificuldades em fugir à descrição de que é melhor reforço de inverno do que um jogador para médio prazo, é a única alternativa para o ataque neste momento. Não chega. Sérgio Conceição merece melhores condições, merece mais consideração. 

À 11ª jornada o FC Porto tinha 4 pontos de vantagem sobre o Sporting. Passado duas jornadas perdeu a vantagem. Neste momento voltou a isolar-se na liderança, com dois pontos de vantagem. Cabeça.