domingo, 29 de janeiro de 2017

Obrigado, Senegal e Tunísia

Começando por um curto agradecimento a Senegal e Tunísia, equipas que venceram a Argélia na CAN. Em boa hora nos mandaram Brahimi mais cedo para cá. É um agradecimento egoísta, mas sem Brahimi provavelmente o FC Porto teria saído da Amoreira com perspetivas menos animadoras no Campeonato.

Voltando a reconhecer: em termos de resultados, o FC Porto de Nuno Espírito Santo está acima das expetativas. 44 pontos em 19 jornadas, não sendo nada de extraordinário (o líder tinha mais pontos em qualquer uma das últimas sete épocas...), é uma marca assinalável face àquilo que foi a preparação da pré-época e que nos mantém com condições na luta pelo título, além do objetivo Champions ter sido cumprido. 

Mas os resultados, como se sabe, têm o poder de disfarçar limitações que, mais tarde ou mais cedo, se revelam. Não, o problema do FC Porto não foi ter entrado em campo com 4 médios e sem extremos. Percebeu-se a intenção de NES: projetar Maxi e Alex Telles para nunca perder a profundidade pelos flancos e recuar Danilo para assegurar sempre uma linha defensiva de pelo menos 3 elementos. Se funcionasse, isso resolveria o problema de se jogar com 4 médios e sem extremos.


O FC Porto ganhou em Gelsenkirchen sem extremos e com 4 médios. Isso não é o problema. O problema é a dinâmica e as unidades em campo. Alex Telles (um pouco melhor) e Maxi Pereira recebiam quase sempre a bola quando ainda tinham 30 metros pela frente, ou seja, o problema da profundidade mantinha-se, pois o FC Porto tinha o campo encurtado pelos flancos; no meio-campo, o FC Porto não tinha nenhum médio que faça habitualmente a diferença num lance individual ou perto da grande área; o Estoril queria o que o FC Porto fez: uma equipa que se fechasse a si própria e que nunca alargasse o jogo. 

Uma vez mais, foi uma bola parada a desbloquear tudo e a livrar-nos de um grande problema. Mas calma, que há copo meio-cheio: «Grande NES! Mudou o jogo com as suas substituições! Percebeu que o FC Porto precisava de meter extremos em campo para ganhar o jogo, então meteu e o FC Porto ganhou! Foi com o dedo do mister!». Não é brincadeira: há-de haver quem pense assim. Mas o problema é mesmo esse: é só se ter apercebido do que era preciso para ganhar o jogo já depois de ter dado 45 minutos de avanço ao adversário, quando isso já era algo para ter percebido antes de entrar em campo.




André Silva (+) - A namorada de André Silva começa a ter motivos para se queixar do FC Porto: o rapaz não deve ter vontade para nada quando chega a casa, tamanho o desgaste a que se expõe jogo após jogo. São já 17 golos na sua época de estreia numa equipa principal (tem intervenção direta em 40,5% dos golos do FC Porto na Liga), mas o que mais surpreende é as piscinas e toda a pancada que leva jogo após jogo.

André Silva não tem a maior capacidade de decisão no 1x1, mas é obrigado a isso: vai receber nos lançamentos, vai atrás, ganha no ar, mete o corpo perante os centrais e no meio de tudo isto ainda tem que encontrar frieza e frescura para ser o matador na grande área. Ganhou o penalty com grande ratice e assistiu Corona para o 2x0. Que mais querem? Um conselho: aproveitem e desfrutem agora, porque por este andar vai deixar saudades no fim da época.


As entradas de Brahimi e Corona (+) - É verdade que Brahimi esteve na CAN, e é verdade que Corona tem rendido muito mais quando sai do banco do que quando é titular. Não é por aí que se pode censurar a decisão de NES em que começassem no banco - se os extremos não estão nas melhores condições, difícil seria jogar com extremos. Mas a verdade é que este FC Porto está a depender de dois fatores: ou a bola parada, ou o talento individual dos jogadores. Porque coletivamente, na dinâmica tática e ofensiva da equipa, este FC Porto está a revelar muito pouco. 

Brahimi entrou e agitou de pronto o ataque do FC Porto. Com Brahimi em campo, há sempre uma via para atacar. Brahimi arrasta sempre 2 jogadores com ele, sabe guardar a bola perto da grande área e obriga a defesa adversária a recuar. Corona entrou muitíssimo bem: não só fez um excelente golo, em que mostrou o que muito lhe tem faltado (critério na decisão), como deu largura ao FC Porto e obrigou a defesa do Estoril a abrir. Mas é verdade que Corona não se pode queixar de falta de oportunidades, e com Otávio de regresso vai ter que se mostrar mais vezes a este nível. 

Este ano, o FC Porto aparenta ter um balneário fantástico, um grupo unido. E o que ainda dá esperanças na luta pelo título é isso: o grupo unido e o talento individual dos jogadores. Corona e Brahimi serão por isso essenciais na segunda volta.

Outros destaques (+) - Não fez três assistências, mas no jogo jogado Alex Telles esteve bem melhor do que na última partida: conseguiu, dentro dos possíveis, manter profundidade pelo flanco, forçou várias vezes a subida, fez os poucos bons cruzamentos da equipa e foi o jogador mais solicitado em toda a partida, o que mostra bem a necessidade do FC Porto procurar gente nos flancos, mesmo quando Alex Telles ainda estava à saída do meio-campo. 

Herrera foi o melhor dos médios em campo. Apesar de ter saído aos 65 minutos, foi quem mais acerto teve no passe (86,7%, bem acima de André André, com 74,3%, e Óliver, ontem muito mal, com irreconhecíveis 69,2%), fez o único passe de situação flagrante de golo, recuperou 13 vezes a posse de bola e ainda fez 5 cruzamentos (mais que toda a equipa junta, exceção a Alex Telles), num jogo em que teve dificuldades pela ausência de Maxi (não fez um único cruzamento) pelo corredor. Nota ainda para mais um bom jogo de Marcano e a entrada desinibida de Rui Pedro - fez um golo (estando ou não em fora de jogo, foi uma excelente finalização naquele momento), esteve perto de outro e ajudou a baralhar a defesa do Estoril.




Mais do mesmo (-) - Uma primeira parte à imagem das demais. O FC Porto chega ao intervalo sem um único remate à baliza do Estoril e com um notório défice de criatividade no meio-campo. O FC Porto pode jogar com 4 médios, mas não pode jogar com estes 4 médios. Faltará sempre criatividade e rasgo individual nesta equipa. André Silva e Diogo Jota, apesar de serem razoáveis no 1x1, não são os jogadores ideais para sair de cabines telefónicas e abrirem espaço com bola. Óliver baixa muitas vezes para pegar no jogo, André André atingiu há muito os seus limites no que pode oferecer ao FC Porto (no vídeo que se tornou viral, o sprint de Danilo não é a única coisa impressionante - a forma como André André é batido por todos em velocidade e quase desiste do lance não condiz com a sua descrição de jogador à Porto) e Herrera destacou-se mais nas missões defensivas do que no último terço.

É curioso. Nuno Espírito Santo decidiu, agora, experimentar jogar com 4 médios. Então o que fez o FC Porto no mercado de inverno? Mandou 2 médios embora (Sérgio Oliveira e Evandro) e não contratou nenhum. Onde fica o médio mais criativo? No banco (João Carlos). E o que melhor circula a bola? Na bancada, no meio dos Super Dragões (Rúben Neves). Não é preciso ser-se um génio tático para perceber que algo não bate certo nesta gestão de recursos. 

Nuno percebeu o seu erro e lançou Brahimi ainda na primeira parte. E aqui é que as coisas surpreendem ainda mais: saiu Jota, que de facto não estava bem, e Brahimi entra... para jogar em zona central! Brahimi colocou-se em zona central, e os seus primeiros 3 minutos em campo foram preocupantes, tamanho o número de vezes que olhava para o banco a tentar perceber as instruções do treinador. Nuno pretendia que a profundidade de Alex Telles permitisse que Brahimi se colocasse em zonas mais interiores, mas chegarmos ao final de janeiro, com este tipo de dinâmicas por definir, é muito preocupante.   

Os aliados do Estoril (-) - O que faz uma equipa inferior que quer segurar a vantagem ou o empate? Queima tempo. Um jogador atira-se para o chão, o ritmo de jogo baixa e os jogadores respiram mais tranquilamente. Mas ontem os jogadores do Estoril quase não precisaram de o fazer, pois tiveram a ajuda de meia dúzia de energúmenos que estavam misturados na zona dos adeptos do FC Porto, e que decidiram atirar material pirotécnico para a grande área do Estoril.

Não há palavras para descrever a burrice desses cidadãos - não vamos usar o termos adeptos -, que prejudicaram o FC Porto nesse momento. Ao lançarem o referido material, permitiram que o jogo fosse interrompido numa altura em que o FC Porto estava a apertar o adversário. Isso deu tempo ao Estoril e ia custando muito caro ao FC Porto.

O que acontece logo após o jogo ter sido reatado? O Estoril ataca e Marcano acaba por conseguir um corte salvador, evitando o que podia ter sido o 1x0. O FC Porto passou 10 minutos de menor fulgor, acusando a quebra de ritmo, e só voltou a criar perigo quando Brahimi desmarcou André Silva, que ganhou o penalty e fez o resto. Parabéns aos referidos cidadãos, que se revelaram muito úteis para o Estoril e quase prejudicaram diretamente o FC Porto.

Não estamos na Palestina: é bom que se acabe com esta palhaçada de petardos. É bom recordar que o FC Porto associou-se aos Super Dragões na comemoração do seu 30º aniversário. Nessa mesma semana, o FC Porto foi multado em 20,5 mil euros frente ao Braga. Porquê? Por causa dos muitos petardos que foram rebentado durante a partida. Em semana de aniversário, celebrado nas instalações do clube, tomem lá uma multinha de 20,5 mil euros. As claques não precisam de lições de clubismo, pois são elas que viajam com a equipa para todo o lado e não compram pipocas à entrada do estádio, mas o FC Porto também não precisa destas estranhas demonstrações explosivas de afeto, que só prejudicam o clube durante os momentos mais importantes: os 90 minutos em que estão em campo.

E por falar em 90 minutos: à partida, vai ser esta a duração do clássico contra o Sporting. Se der para evitar dar-lhes 45 minutos de avanço, a malta é capaz de agradecer. O próprio treinador o afirmou no final da partida: «Os jogos têm 90 minutos». Então porquê esta insistência de deitar tanto desse tempo fora?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Soares

A semana começou com uma excelente notícia. O FC Porto conseguiu um reforço de indiscutível qualidade para atacar a segunda volta. Trata-se de Brahimi, que regressa mais cedo da CAN. Não houve nenhum reforço para o lado esquerdo, apesar de Brahimi ter estado na CAN, Otávio lesionado e de já levarmos quase 4 semanas de mercado aberto. Por isso, se não chegou até ao momento, agora já não chegará, o que só acentua a enorme importância que Brahimi terá para a segunda volta.

Um raro reforço
Entretanto, o FC Porto contratou um novo avançado, Soares. Tem sido uma política crescente da SAD, a de recrutar apenas jogadores da Primeira Liga no mercado de inverno. Por um lado, faz todo o sentido: os reforços de inverno têm que dispensar período de adaptação, por isso ter jogadores já adaptados ao futebol português é positivo. Por outro, as contratações têm sido quase sempre tiros ao lado no que toca ao preenchimento das necessidades do plantel para o curto prazo.

Nos últimos quatro defesos, chegaram Izmaylov, Liedson, Quaresma, Hernâni, José Sá, Suk e Marega. Quaresma foi o único a assumir-se verdadeiramente como um reforço no autêntico sentido da palavra. Porque o FC Porto tem feito contratações em janeiro, mas não tem conseguido reforços. Foi esse o ponto de partida para este post d' O Tribunal do Dragão, há um ano, em que se considerava que as apostas que estavam a ser feitas eram desadequadas ao mercado de inverno. 

E com isto chegamos a Soares. Ponto prévio, o FC Porto não revelou custos de aquisição, e até os títulos mais próximos do clube (JN e O Jogo) pareceram não querer avançar com números concretos. Pode ser sigilo, falta de informação, ou até uma forma de proteção ao investimento. Mas é curioso que tenham chegado à informação de que terá havido uma suposta proposta de 7M€ de um clube chinês. A sério que descobrem quanto quer oferecer «um clube chinês», mas não descobrem quanto recebe o V. Guimarães?

Os números lançados na imprensa apontam para 5,6 milhões de euros por 80% do passe. Se for o caso, estamos a falar da 2ª maior transferência da história do V. Guimarães, que tinha pago pouco mais de 500 mil euros por Soares há meio ano. 16 jogos depois, sai por 10 vezes mais. O mérito a quem o merece: fantástica transferência para o V. Guimarães do ponto de vista financeiro, e leva a imaginar se o FC Porto consideraria hoje ir buscar Soudani, Edgar, Saganowski ou Baldé se lá estivessem.

Mas como é lógico, não foi Soares quem decidiu o seu preço. Nenhum jogador tem culpa de quanto custa. O jogador deve ser meramente avaliado pelas suas caraterísticas e por aquilo que pode oferecer ao plantel do FC Porto. O seu custo é responsabilidade de quem decidiu que valia a pena o FC Porto pagar X valor por ele. 

O que mais se destaca em Soares é a sua agressividade, a forma como pressiona incansavelmente os defesas. Estamos a falar do segundo jogador que mais faltas comete no campeonato, com uma média de 3,2 por jogo (pior só Mateus, do Paços de Ferreira, com 3,8). Faz quase tantas faltas como Marcano (0,8), Felipe (1,2) e Danilo (1,4) juntos, algo que diz muito da forma como ataca os defesas. 

Mais forte na grande área
Por um lado, isso pode libertar André Silva do trabalho de ter que estar a correr por todo o lado. Soares pode permitir que o companheiro de ataque tenha descanso. Por outro, Soares trabalha melhor sem do que com bola, algo que foge do padrão daquilo que costuma ser a forma de jogar do FC Porto de NES com dois avançados. Mas há também quem veja o contrário: fixar Soares para poder libertar André Silva. Algo que não faz muito sentido, pois André Silva é mais forte a todos os níveis na grande área, quer na finalização, quer no jogo aéreo. Por outro lado, sendo Soares um jogador que pressiona muito bem no início de construção, há que se organizar nesse primeiro momento defensivo com André Silva. 

Soares fez 7 golos em 16 jornadas pelo Guimarães. Os golos, por si só, não são indicador de nada, caso contrário Marega já cá estava. Mas se colocarem um jogador como Ghilas, Suk, Aboubakar ou Bueno (curiosamente, ou não, tudo jogadores emprestados pelo FC Porto) em Guimarães, qualquer um deles pode marcar tanto ou mais do que Soares. O que levanta desde logo a questão sobre se o FC Porto estará a fazer a gestão mais acertada dos seus recursos: fará sentido ir comprar fora se temos igual ou melhor em casa?

Soares tem uma compleição física muito interessante, mas no jogo aéreo o aproveitamento não tem sido assim tão positivo. Soares ganhou 31% dos lances pelo ar que disputou, bem menos do que André Silva (43%) ou Depoitre (82%). E apesar de ser muito bom a trabalhar na pressão sobre o adversário, em Guimarães Soares tinha 1,9 ações defensivas por jogo. Apenas ligeiramente acima de André Silva (1,7). 


A questão do FC Porto ser a equipa que mais ocasiões flagrantes falha, aqui debatida, também não encontra solução naquilo que foi o desempenho de Soares até ao momento. Soares converteu apenas 33% dos ocasiões de golo consideradas flagrantes de que dispôs. André Silva acertou 50%. Depoitre não teve nenhuma, na medida em que também pouco tem jogado.

No que toca aos remates, Soares atira menos (3,1, contra 4,1 de André Silva), quer pelo chão quer pelo ar, e tem ligeira vantagem nos remates enquadrados (mais 2% do que André Silva, 48% no total). Podemos continuar nos dados estatísticos, que nunca servem para mais do que um complemento às análises, mas nenhum deles vai jogar a favor de Soares. Mas são dados mais objetivos do que aqueles lugares comuns em que o FC Porto tem entrado para descrever os pontas-de-lanças que têm sido contratos na nossa liga: têm velocidade, força, garra e capacidade técnica assinalável (nunca é apenas capacidade técnica, é sempre «assinalável», ou então «acima da média»). Suk e Marega tinham merecido a mesma descrição. 

Já não há Mourinhos
Há portistas que gostam de lembrar que Derlei também veio de Leiria, e em boa hora, pois esteve nos melhores momentos da história do FC Porto. Mas tem faltado sempre algo a essa análise, o denominador comum do sucesso de Derlei em Leiria e no FC Porto: José Mourinho.

Derlei foi treinado pelo melhor do mundo em Leiria e no FC Porto. Não é coincidência alguma que na época seguinte à saída de José Mourinho Derlei fez apenas 1 golo em 20 jogos (não esquecendo, claro, a grave lesão que sofreu na segunda metade de 2003-04). Certo é que depois de deixar o FC Porto a sua carreira desceu a pique. Soares não terá a sorte de encontrar José Mourinho no Dragão, nem nenhum outro jogador.

Os pontas-de-lança das equipas de Nuno Espírito Santo costumam fazer poucos golos nos campeonatos. Na primeira época no Rio Ave, Hassan fez 7 golos. Na segunda, o melhor marcador foi Ukra, com 4. Na primeira no Valência, o melhor marcador foi um médio, Parejo, com 12. Na segunda, o melhor marcador foi Paco Alcácer, com 13 golos em 34 jogos. André Silva tem sido, de longe, o ponta-de-lança com melhor rendimento que NES alguma vez treinou. Até aqui, as equipas de NES não potenciaram qualquer goleador para números considerados acima da média. 

É também verdade que o FC Porto tem tido um aproveitamento negativo na contratação de pontas-de-lança da nossa liga. Pensar nos grandes goleadores da nossa história é pensar em jogadores que tenham tido pelo menos uma média de 0,35 golos por jogo. Nos últimos 25 anos o FC Porto contratou 17 pontas-de-lança a clubes portugueses, e só Derlei (0,42) e Edmilson (0,36) estiveram acima dessa média. O que não significa que vários jogadores não se tenham revelado úteis, como Jankauskas ou Artur.

Soares é agora mais um a lutar pelos objetivos do FC Porto, consciente de que está perante uma oportunidade única e até há bem pouco inimaginável na carreira. Que consiga dois pares de golos importantes e que não esta já cedido a um clube turco daqui a meio ano, é o que se deseja - e o que surpreenderá. E como sempre, os adeptos saberão separar o negócio do jogador. O jogador merece o apoio dos adeptos. O negócio, quando o FC Porto decidir revelar os detalhes, a seu tempo o dirá. Desmentir a avaliação de 7 milhões de euros já teria sido um bom princípio.

Boa sorte, Soares. 

domingo, 22 de janeiro de 2017

Uma vitória com muita cabeça


O FC Porto venceu o Rio Ave porque teve cabeça. Mas não é a expressão idiomática à qual a língua portuguesa está habituada: teve cabeça nas bolas paradas, mas não no futebol corrido, onde houve enormes dificuldades para fazer frente a um Rio Ave que quis assumir jogo no Dragão e, não raras vezes, se organizou melhor a meio-campo. Três livres de Alex Telles e quatro golos de cabeça foram a fórmula para conseguir três importantes pontos, com o FC Porto a aproveitar da melhor forma o terrível momento do Sporting antes do clássico. 

O resultados não espelham tudo o que se passa em campo, mas há a assinalar o mérito do FC Porto já ter mais pontos do que nas últimas três épocas. Não há a consistência, o fio de jogo e a clarividência desejadas, nem em quantidade nem em qualidade no plantel, mas quanto a resultados no campeonato o FC Porto está melhor. Atacar a segunda volta em condições de lutar pelo título é excelente, mas é necessário o reconhecimento do plantel, de Nuno Espírito Santo e SAD de que uma primeira volta igual à primeira não chegará para o título. 

Nem uma exibição como ontem, a não ser que possamos sempre contar com Alex Telles de bandeja e com muita, muita cabeça.




Danilo Pereira (+) - Sabemos que fez uma exibição monstruosa quando não precisamos de falar do golo para a destacar. Foi o melhor jogador do FC Porto na época passada e, decorrida meia volta desta época, revalida esse estatuto. Estamos a falar do jogador em campo com mais remates (a par de Jota), recuperações, interceções, desarmes, faltas sofridas e que ganhou 88% dos lances que disputou. Muitas vezes forçado a cair mais sobre o lado direito, encheu o meio-campo, empurrou a equipa e fez um sprint do mais extraordinário que o Dragão já viu desde que Lisandro López mordeu a língua, galgou meio campo e secou Cristian Rodríguez nos tempos em que Cebolla ainda vestia um bocado mal. Se se chamasse Cristiano Ronaldo e estivesse em Espanha, já andavam a fazer cálculos para descobrir a velocidade daquele sprint. Mas não, chama-se Danilo Pereira e representa tudo aquilo que queremos ver num jogador do FC Porto. Que continue assim, e por cá, por longos anos!

Alex Telles (+/-) - Como dizia Jaime Pacheco, uma exibição com uma faca de dois legumes. Fez três assistências, sempre da mesma forma, e não fosse os seus cruzamentos e o FC Porto podia ter terminado o jogo em apuros. Já se tornou o melhor assistente da equipa, com sete passes para golo, a par de Otávio. Mas voltou a ter a tarefa inglória de ter quase todo o corredor esquerdo para ele, muitas vezes sem ninguém por perto para combinar naquela zona, e isso fez com que acabasse por ter entregado a posse de bola ao adversário 24 vezes, quer em perdas de bola, quer em cruzamentos ou passes mal medidos. Nada que três assistências não tenham compensado, mas Alex Telles foi o espelho da exibição do FC Porto: fantástico nas bolas paradas, pouco mais em todo o resto. 


Iván Marcano (+) - Elogiar Marcano é também elogiar a excelente dupla que formou com Felipe, pois ninguém pode falar da qualidade de um central sem lembrar quem joga ao lado. Mas a forma serena e calma, sem deixar de ser determinada e agressiva, com que Marcano se apresenta sempre em campo é notável. Tem uma média de faltas de 0,7/jogo no campeonato, com o pormenor de ainda só ter visto um cartão, e mostra que não é preciso criar hashtags e bater com as mãos no peito para os adeptos não terem dúvidas do seu empenho em representação do FC Porto. Nunca o ouviram reclamar ou manifestar-se negativamente, nem quando muitos o criticavam e achavam que não tinha nível para o FC Porto. Não só tem como o eleva. 


Primeira parte (-) - A primeira parte não foi má: foi terrível. O Rio Ave jogou à FC Porto (na medida em que tentou assumir o jogo e foi mais organizado) e o FC Porto jogou como deveria jogar uma equipa menos forte que visita o Dragão. Menos posse de bola, mais passes falhados, um só pontapé de canto, apenas 10 entradas na grande área adversária e duas únicas situações de perigo (uma delas podia ter dado o 2x0, mas Jota finalizou mal). Foram 45 minutos constrangedores e não sabemos o quão poderiam ter sido prolongados se não tivesse havido tanta eficácia nas bolas paradas. Primeiras partes a este nível nestas circunstâncias, nesta fase da época, não são aceitáveis. 

Outra vez, a equipa coxa (-) - Brahimi está na CAN, Otávio ainda não recuperou totalmente, por isso não havia alternativa para o lado esquerdo. Nuno prefere Corona à direita e não será choque nenhum se Kelvin nunca chegar a ser uma verdadeira opção para NES. Por isso, já se previa que o FC Porto ia tentar jogar novamente de forma híbrida, com Óliver e Jota a variem no aparecimento pelo lado esquerdo. Mas essa fórmula, uma vez mais, não funcionou. O FC Porto perdeu muita profundidade pelo lado esquerdo, raramente foi à linha de fundo (daí ter havido poucos cruzamentos e cantos) e só tinha lado esquerdo quando Alex Telles conseguia subir. Jota só começou a render quando passou para o meio e, uma vez mais, as limitações do plantel não facilitaram a tarefa de Nuno Espírito Santo: ou desviava um jogador de posição ou tinha que reorganizar a equipa taticamente. Seja como for, ter que fazê-lo em pleno mês de janeiro, com o mercado aberto, só pode ser visto como negativo.

Um dia mau x 3 (-) - Parecendo que não, Layún só fez 2 jogos a titular desde outubro. E acusou claramente a paragem de 6 semanas por lesão. Desconcentrado, a cometer várias falhas, pode agradecer aos céus por não ter sido expulso e por NES o ter tirado de campo a tempo. Foi um dia mau de Layún, como todos os jogadores têm direito a ter. Sobretudo quem, como ele, é sempre mais vezes solução do que problema. O dia também não foi memorável para André Silva, que só se destacou sem bola: na forma como procurou sempre correr, abrir espaços e pressionar os defesas. Mas com bola mal se viu, não criou desequilíbrios e valeu-lhe apenas a intervenção na jogada do último jogo (bom trabalho de JCT). E porque não há duas sem três, aquela bola é, tem que ser, de Casillas. Um dia mau para três dos jogadores mais importantes. Que tenha sido isso mesmo: apenas um dia mau. E se voltarem a tê-lo, que venha num dia em que as bolas paradas sejam tão proveitosas.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O que faz falta

Terminou a primeira volta do campeonato. Se o jogo com o Benfica tivesse terminado aos 90'+1 minutos, ou se tivéssemos vencido em Paços de Ferreira, contra o Belenenses ou no Bonfim, o FC Porto estaria neste momento a depender de si próprio para ser campeão. São muitos ses, que não vale a pena lamentar agora. 

Mas numa época em que o FC Porto não ganhou praticamente metade dos jogos que disputou (46,7%), tem reforços que não rendem, problemas no ataque, limitações no plantel, más arbitragens, um treinador muitas vezes ainda à procura de acertar a fórmula para a equipa e uma tensão inegável entre grande parte da massa associativa e a direção do clube, chegar a esta fase a 4 pontos do Benfica não é, de todo, algo que possa desmoralizar a equipa. Basta um deslize do rival, devidamente aproveitado pelo FC Porto, e a possibilidade matemática de lutar pelo título regressa. 

Defensivamente o FC Porto tem sido competente (7 golos sofridos em 17 jornadas), mas o ataque é, sem dúvida, o grande problema desta equipa. E isto não diz respeito apenas aos avançados, mas a todos os jogadores que são envolvidos no momento de remate ou finalização. 

O FC Porto tem 31 golos marcados, mas o maior problema não é o número total: foram aqueles 0x0 contra Belenenses, V. Setúbal ou Paços de Ferreira. Bastava um remate certeiro em cada um destes 3 jogos para estarmos numa posição altamente favorável no campeonato. Os golos não apareceram, por isso, para a segunda volta, é importante perceber onde foram cometidos erros e como se pode melhorar. Atentos ao quadro abaixo.


O que mais salta à vista: ofensivamente, o FC Porto é muito mais perdulário do que Benfica ou Sporting, ao converter apenas 37,8% das ocasiões flagrantes de golo de que dispôs. Ao longo de 17 jornadas, o FC Porto falhou 26 destas ocasiões. Benfica e Sporting, juntos, falharam 25.

Há um nome incontornável nesta estatística, André Silva. É o jogador com mais remates, mais remates dentro da grande área e mais ocasiões flagrantes do Campeonato. E é também o jogador que mais ocasiões flagrantes falhou. É o responsável pela ineficácia do FC Porto? Claro que não. Não é o problema: o problema é ser a única solução.

André Silva tem 11 golos no campeonato, 2 de penalty. Tem mais golos do que todos os restantes atacantes do plantel juntos. Os homens que se seguem são Diogo Jota, com quatro golos (três no mesmo jogo), Brahimi, com três (está na CAN e passou muito tempo fora das opções), e Marcano, que é central, também com três. Só mais um jogador marcou por mais do que uma vez, Óliver. 

O líder, o Benfica, não tem nenhum jogador a marcar mais golos do que André Silva. O melhor marcador do Benfica, Mitroglou, precisa de mais tempo para marcar do que André Silva, por exemplo. Mas o rival tem mais gente a fazer golos, tem soluções mais variadas para o ataque. 

No FC Porto, André Silva carrega praticamente sozinho o peso dos golos, ele que tem 21 anos recentemente feitos e está a cumprir a sua primeira época completa na equipa principal. Surpresa não é que falhe alguns golos: é estar já a carregar todo este peso nas suas costas. E isso tem um problema adjacente: todos os jogadores que estavam no plantel na época passada estão a fazer menos golos

Corona tem apenas um golo. Há um ano já tinha oito. Brahimi tinha 4, agora tem menos um. Herrera tinha cinco, agora apenas um. Danilo levava três, esta época tem um. Layún, André André e Varela tinham marcado, este ano estão em branco. Só neste pequeno grupo de jogadores há um total de menos 18 golos marcados em relação à época passada. O futebol nunca será tão assim tão simples, mas bastava que um deles tivesse caído na baliza do Belenenses, do Paços de Ferreira ou do Setúbal para dependermos de nós próprios na luta pelo título.

Só um jogador marca mais do que há um ano: Marcano, que tem três golos, mais dois do que há um ano. O FC Porto ganhou novos marcadores no campeonato (Jota, Óliver, Alex Telles, Felipe, Rui Pedro e Depoitre), mas entre os jogadores que transitaram face à última época o rendimento tem decrescido. Dirão, e bem, que a função destes jogadores não é a mesma do ponta-de-lança (não se pode julgar um defesa ou um médio pelo número de golos), mas lá está: quando André Silva falha, não está a aparecer aquela alternativa que muitos avisaram que faria falta no início da época. Ou seria mais jogadores capazes de aparecer na grande área e marcar, ou seria o tal ponta-de-lança experiente que alguns acharam que seria Depoitre. 

Pecados de pré-época
E é de facto incontornável falar de Depoitre. Contra o Chaves, entrou na segunda parte, marcou e mostrou o seu primeiro momento de utilidade no FC Porto. Um jogador da sua envergadura física, quando colocado na grande área e apesar de todas as suas limitações, vai sempre ter uma oportunidade para meter a bola na baliza, chame-se Depoitre, Hassan ou Tiago Caeiro. Mas desde então, não voltou a jogar no Campeonato, e nas duas jornadas seguintes Nuno preferiu apostar em Rui Pedro: em Paços para tentar ganhar o jogo, contra o Moreirense para gerir o resultado. 

No início da época, quando Depoitre chegou, Nuno pretendia jogar em 4x3x3. Neste momento, joga de forma diferente, mais próximo de um 4x1x3x2. Os planos que podiam ser vistos para Depoitre num esquema de um ponta-de-lança são totalmente diferentes de uma estratégia com dois avançados. E é por isso que Nuno aposta incansavelmente em Jota e André Silva: pois não vê neste momento mais nenhum avançado no plantel que possa fazer aquelas duas posições.

O mercado está aberto. E é preciso o mesmo que no início da época: um avançado experiente, capaz de garantir golos, mas desta vez mais capaz de oferecer outro tipo de mobilidade ao ataque. Não é um acaso algum que os dois últimos reforços de inverno que tiveram grande impacto imediato no FC Porto se chamavam Lucho González e Ricardo Quaresma: ambos já eram não só muitos experientes como conheciam o clube, estavam habituados a um futebol de equipa grande, autoritário, à pressão dos resultados e dispensavam qualquer período de adaptação.

Janeiro não é momento para disparates como aquelas que foram as contratações de Suk e Marega, jogadores que não eram melhores do que quem já cá estava e que rapidamente passaram ao atestado de dispensa (por norma um empréstimo para a Turquia ou uma equipa do nosso campeonato). Não é momento para trazermos um avançado para lhe permitir subir um degrau na carreira: é o momento para trazer um avançado que faça o FC Porto subir um degrau. Ter a capacidade de estar lá para resolver no dia em que André Silva - que deve continuar a ser o nosso matador de eleição, com todo o mérito - não acertar. Era preciso no início da época e é preciso agora.

Guimarães não é o FC Porto
As contas de merceeiro são muito fáceis de fazer. Mas o FC Porto investiu mais de 12M€ em dois jogadores - Boly e Depoitre - que pouco utiliza e que não serão nunca opções prioritárias para Nuno Espírito Santo (é essencial dar-lhe um avançado neste defeso, sobretudo após a mudança de esquema tático; para se segurar um treinador é preciso arranjar matéria prima para as suas ideias, acredite-se ou não que seja a melhor opção para o lugar). 

O que se faria com 12 milhões de euros? Por menos o FC Porto comprou Jackson Martínez. Ou Lisandro. Ou Falcao. Ou outros jogadores que, não sendo pontas-de-lanças, garantiam golos, como Hulk, James ou até Lucho. Jogadores que não só tinham uma qualidade excecional como até permitiam à SAD fazer parcerias para partilhas de passe, tão apreciadas. Maregas? Não serão nunca solução. Como se diferencia os Maregas dos Falcoes, é essa a questão, pois erros de casting há em todo o lado. Mas é, ou devia ser, por isso que os sócios reelegeram esta direção, por isso é que há 28 mil adeptos num treino, por isso é que temos um departamento de scouting: para apresentarem serviço, trabalho de qualidade. Hoje, não memórias do trabalho passado. 

Nenhum adepto poderá aceitar que se invistam (ou que se percam) mais de 12 milhões em Depoitre e Boly, que não jogam, e que neste momento não haja uma alternativa sólida para o ataque. É essencial trazer um avançado neste defeso. Se há dinheiro para um central suplente, tem que haver para um avançado titular. E a SAD não se pode dar ao luxo de cometer muitos mais erros de casting quando o tema é a posição 9. 

Entre Aboubakar, Depoitre, Adrián, Walter, Marega, Ghilas e Suk (a estratégia de contratar avançados do nosso campeonato tem falhado redondamente - todos gostam de se lembrar de Derlei, mas é bom lembrar que já lá vão mais de 13 anos), só nestes 7 nomes, o FC Porto tem metidos quase 40 milhões de euros. O problema não é só o imenso prejuízo que as contratações estão/vão dar: é que qualquer um destes jogadores foi contratado com a missão de fazer golos pelo FC Porto, e nenhum deles o está a fazer (Aboubakar teria sido uma boa solução para se manter no plantel, mas o clube assim não o entendeu - e ainda não trouxe ninguém melhor do que ele). 

A SAD tem a responsabilidade de encontrar uma solução para o ataque; todos os jogadores do plantel têm que procurar melhorar as suas marcas pessoais e aparecerem mais vezes na lista de marcadores; e NES tem que tentar tirar o máximo proveito de todas as unidades que estão à sua disposição. Se estes pilares falharem, não será em 2017 que o FC Porto vai voltar a celebrar um título. Até Soares, Mário Soares, um dia disse: «Não se fazem omeletes sem ovos». 

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Outro paralelismo


Tal como no post anterior, vamos começar com um paralelismo. Em Paços de Ferreira, no empate 0x0, o FC Porto rematou 23 vezes, 7 à baliza. Contra o Moreirense, rematou 22, 7 à baliza. Em Paços de Ferreira criou 14 ocasiões de perigo (5 na primeira parte). Contra o Moreirense, 16 (7 na primeira parte). Em Paços de Ferreira, o FC Porto entrou na grande área 59 vezes e ganhou 14 cantos. Contra o Moreirense, entrou 62 vezes e ganhou 11 pontapés de canto. 

Que quer isto dizer? No que diz respeito ao volume ofensivo, o FC Porto produziu praticamente o mesmo. A mesma equipa, a mesma produção, com a diferença do FC Porto ter jogado contra 10 na segunda parte (algo que acabou por não surtir efeito no resultado). Ainda assim, os mesmos adeptos que ficaram minimamente satisfeitos com a vitória frente ao Moreirense são os mesmos que ficaram insatisfeitos com o empate em Paços de Ferreira.

A diferença? A eficácia. É isto que tem diferenciado o FC Porto que faz os adeptos acreditar do FC Porto que não parece ter estofo para o título. A equipa joga sempre dentro da mesma linha, o que faz a diferença é a bola que bate no poste, a que sofre um ressalto e entra, a que o guarda-redes deixa escapar ou não.

A equipa é a mesma, o rendimento é o mesmo. Suficiente? Não, ainda não. Mas este não é um FC Porto de duas caras. Tem apenas uma. E essa cara só sorrirá no final da época se tiver eficácia a acompanhá-la. 




Héctor Herrera (+) - Um case study. Herrera foi o jogador que mais ocasiões de golo criou em toda a jornada (6). Fez 6 desarmes e 14 recuperações de bola, tendo só sido ultrapassado neste aspeto por Danilo na reta final do jogo. Do meio-campo para a frente, foi o mais eficaz no passe, com 86%. Preencheu toda a meia direita, foi à linha, fartou-se de apoiar Maxi Pereira quer no ataque quer na defesa, também ajudou no miolo e durante grande parte da partida foi o único jogador a preencher o buraco de 30 metros entre a linha média e os avançados do FC Porto. Fez tudo isto, mas ainda há-de haver quem acha que jogou mal. É obra.

Iván Marcano (+) - Quando o Tribunal do Dragão considerava Marcano o melhor central do FC Porto, muitos entendiam isso como uma crítica ao nível dos centrais no clube, essencialmente desde 2014-15. Hoje, já ninguém pode duvidar de que afirmar isso não é mais do que enaltecer a qualidade de Marcano. Um central que marca um golo e faz uma assistência será sempre motivo de destaque, mas uma vez mais, Marcano assume-se como o patrão de uma defesa que sofre poucos golos e que nunca será a causa para um FC Porto sem títulos. A renovação já não é tabu, e não será nunca uma má opção.


Óliver Torres (+) - Não sabe jogar mal - e o FC Porto não sabe, pelo menos da mesma maneira, jogar sem ele. Mas há de facto algo que falta ao futebol de Óliver: intervenção direta em golos. Se é verdade que mostrou isso com Lopetegui, com NES Óliver não ter tido tanta influência direta perto da grande área. As coisas começam a mudar: em dezembro fez a primeira assistência, agora contribuiu com um belo golo, num remate que pode parecer fácil mas que não está ao alcance de todos - a capacidade de perceber exatamente onde e como tem que colocar a bola, em vez de chutar com ansiedade. Não é que seja essencial Óliver marcar mais golos - por exemplo, Sergio Ramos tem mais golos na carreira do que Iniesta, que não deixa de ser dos melhores médios de sempre -, mas será sempre importante para que se afirme como um dos melhores médios da Europa. E porque não cansa insistir: Óliver tem que jogar na zona central. Não na esquerda, não a partir da esquerda: na zona central. É ali que está a virtude de Óliver - e, com ele, do FC Porto.

Avançados (+) - Diogo Jota foi sempre o jogador capaz de agitar o ataque e de acrescentar velocidade às transições. Tem grande mérito na jogada do 2º golo e foi o complemento perfeito a André Silva e à ausência de uma referência clara à esquerda - palavra para Alex Telles, que teve que fazer praticamente o corredor todo durante parte do jogo. Desequilibrou e voltou às boas exibições, depois de um período em que perdeu um pouco de fulgor. André Silva fez um golo à ponta-de-lança, perdeu oportunidades para bisar, mas o que mais há a destacar na sua exibição foi a forma como caiu nos flancos, segurou a bola, esperou apoios e deixou de apostar naqueles 1x1 que eram quase sempre inconsequentes. Ah, já agora: de todos os jogadores que passaram pelo FC Porto e estão no ativo, só dois tiveram melhor média de golos do que ele: uns tais de Falcao e Jackson Martínez. Tem 21 anos e um ano de equipa principal. Só mesmo para lembrar.




A pontaria (-) - Muitas vezes discute-se a mera eficácia ou ineficácia, mas há algo a ter em conta: a quantidade de remates que saem entre os postes. De nada vale haver queixas da eficácia se o que o FC Porto fez foi fazer pontaria à bancada, em vez de dar muito trabalho ao guarda-redes. Neste caso, em 45 minutos, a jogar contra 10, o FC Porto fez apenas 4 disparos entre os postes - dois deles de André Silva na mesma jogada. É muito pouco para uma equipa que se afirma candidata ao título, que joga em casa e que joga contra 10. A determinada altura, a bancada parece que tinha íman nos remates. É preciso afinar a pontaria. Só dão golo os remates que levarem a direção da baliza. Sim, uma descoberta tão chocante quanto ver que a bola é redonda, mas que tem sido algo em que o FC Porto tem falhado (contra o Paços de Ferreira, também apenas 4 remates à baliza na segunda parte).

Coxos contra 10 (-) - Qual é a primeira coisa que uma equipa que joga com 10 tenta fazer? Encurtar o campo. Reduzir os espaço, tentar que o jogo não alargue para não ficar desequilibrada. Qual é a primeira coisa que uma equipa que joga com mais um tem que fazer? Abrir o jogo, ganhar profundidade e largura, porque assim é impossível uma equipa com 10 permanecer equilibrada na altura de variar o flanco.

Mas aquilo que vimos, durante grande parte da segunda parte, foi o FC Porto jogar coxo do lado esquerdo, sem ninguém que assegurasse largura constante naquele flanco. Quando Alex Telles não subia, o FC Porto perdia um espaço de 10 a 15 metros na largura do campo que podiam ter ajudado a criar muitas mais ocasiões de golo. Não foi coincidência alguma que a melhor ocasião de golo da segunda parte tenha aparecido quando Diogo Jota - dividido entre a faixa e o apoio a André Silva - conseguiu romper por aquele lado e ir à linha cruzar. O FC Porto nunca preencheu declaradamente aquela zona, e com isso ajudou a que o Moreirense, apesar de jogar com 10, não tenha sofrido um único golo de bola corrida, e o único que o FC Porto tenha conseguido marcar contra 10 tenha sido na sequência de um canto. Contra 10, exigia-se outro tipo de clarividência e produtividade. 

Ficam os 3 importantes pontos, numa jornada em que o FC Porto ganhou em 3 campos. Na época passada, o FC Porto na segunda volta fez menos 7 pontos do que na primeira. A ambição tem que passar por, desta vez, melhorar. Venham já mais 3 no sábado.

domingo, 8 de janeiro de 2017

É importante ganhar ao Moreirense

Entremos numa realidade paralela. Se Rui Pedro não tivesse marcado ao SC Braga, diriam daquele jogo exatamente o que estão a dizer deste jogo com o Paços de Ferreira. Da mesma forma que se uma daquelas bolas tivesse entrado ontem, talvez diriam o que muitos disseram do jogo contra o SC Braga: que a equipa teve raça até ao fim, que nunca desistiu, que o Paços não merecia nada e alguns ainda iam conseguir descobrir sinais de crescimento na equipa. 

Mas a equipa é a mesma. Tivesse ou não Rui Pedro marcado ao SC Braga, tivesse ontem alguém conseguido meter uma bola na baliza do Paços de Ferreira. A valia da equipa é a mesma, a evolução - a falta dela - é a mesma, as limitações no plantel e no banco (não apenas nos sete suplentes que lá estão sentados) são as mesmas. Não é um único remate que muda isso, mas pode muito bem mudar a disposição de vir a público dar entrevistas e catalogar os adeptos.


Ontem não foi por culpa da arbitragem, foi por culpa própria. Culpa da ineficácia, mas não só: culpa da falta de ambição e de capacidade de resposta ao jogo. É a pior pontuação à 16ª jornada desde os tempos de Jesualdo Ferreira, e não é difícil imaginar que bastava André Silva não ter convertido aquele penalty nos descontos em Brugge para as coisas estarem muito, muito piores. Não só para o FC Porto. 

Face a tudo o que foi a preparação desta época, estar nesta altura num lugar de acesso à Champions é estar acima das expetativas. Já estar a 6 pontos do Benfica é consequência não só das arbitragens que temos tido razão em criticar, mas também por causa de exibições e da postura desportiva como a que foi apresentada em Paços de Ferreira.




Óliver Torres (+/-) - Quando falta um jogador crucial, a pior coisa que podem fazer é mexer numa segunda posição para corrigir a primeira. Assim, a equipa tem duas alterações na sua base, em vez de apenas uma. Mas face à falta de Brahimi, Nuno optou por desviar Óliver para o lado esquerdo. E com isso, Óliver falhou muitos mais passes do que é habitual, a sua zona de distribuição ficou reduzida e o FC Porto nunca teve capacidade individual para furar naquele flanco. Apesar disso, Óliver ainda conseguiu ser dos melhores do FC Porto: era o único que procurava soluções, que tentava orientar a equipa para o ataque e que conseguia ganhar bolas no meio-campo do Paços de Ferreira (12) e organizar o ataque. O problema é que o FC Porto está, no lado esquerdo, habituado a alguém que ofereça rasgo à equipa. Mas Óliver não é Brahimi. E com isso perdeu-se muito no miolo, pois ninguém mais é Óliver no FC Porto.

Herrera (+/-) - Esteve mais eficaz no passe do que Óliver, criou 4 situações de golo e, mesmo no seu estilo desengonçado, procurou tabelar e dar velocidade ao jogo, tendo acabado por ser o principal municiador do ataque. Mas tudo à sua volta era um corpo estranho: um flanco direito que era sinónimo de bola perdida, um flanco esquerdo onde ora aparecia Óliver (que guardava a bola à espera que lhe dessem apoio, quando Herrera tentava sempre lançar a tabela rápida), ora Jota (por alguns minutos), ora André Silva (alguém que explique esta alteração); Herrera não tinha nenhuma solução por perto que aproximasse a bola da baliza; e quando tinha que ser Herrera a assumir esse papel, aparecia a muralha de pernas do Paços.





NÃO SOFREMOS GOLOS! (+) - Um sinal mais num Machado? Sim, é possível. Pelo menos a avaliar pela primeira reação de Nuno Espírito Santo ao empate: «Hoje conseguimos recuperar o que é nosso, ou seja, tivemos uma boa coesão defensiva e não permitimos ocasiões de golo ao Paços de Ferreira». Depois de um empate que sabe a derrota, contra uma equipa nunca esteve interessada em mais do que defender ou sair com pouca gente para o ataque, a primeira coisa que se destaca é que o FC Porto não sofreu golos? Celebremos!

Sem ambição (-) - Ok, concordemos que os tempos em que a solução para tentar marcar nos últimos minutos era meter mais avançados, ou até mandar um central para o ataque. Isso já é passado. Mas se calhar não devia ser, pois era provável que desse mais argumentos ao FC Porto do que todas as opções ontem de NES. As 3 unidades mais criativas (do ponto de vista individual) do FC Porto são estas: Óliver, Jota e Corona. Todos foram substituídos, e em nenhuma das alterações NES deu sinais à equipa para subir. 

Trocou Óliver por João Carlos; trocou Jota por Rui Pedro; e trocou Corona por Varela. Tudo alterações de troca-por-troca, sem acrescentar volume ofensivo à equipa. Depoitre, que deixou meio mundo a vibrar com um golo de cabeça que aparentemente só um ponta-de-lança comprado por mais de 6M€ ao Gent conseguiria fazer, ficou a aquecer o banquinho. NES disse que o FC Porto quer «manter o seu plano de jogo, do primeiro ao último minuto». Mas o problema é exatamente esse: uma equipa que pensa em jogar no primeiro minuto, estando 0x0, da mesma forma que no minuto 90, continuando 0x0. Não houve capacidade de resposta através do banco. 

NES já mostrou ser capaz de preparar bem os jogos. Como foi exemplo o jogo com o Benfica. E o clássico da 10ª jornada. E a última visita do Benfica ao Dragão. E o jogo que fizemos a 6 de Novembro. São estes os exemplos de um grande FC Porto que tivemos esta época, personalizado, com uma entidade clara e dominante. O problema é que, na hora do treinador meter o seu dedo no jogo a partir da primeira alteração, a tendência do FC Porto é sempre para piorar. Neste caso, para não melhorar em nada e não procurar novas soluções para ganhar o jogo.

As asas (-) - Uma pequena questão: que está Varela exatamente a fazer no FC Porto? Em causa não está a valia do jogador, mas o seu contexto no plantel. Faltam Brahimi e Otávio, foram dispensados 3 jogadores (a dispensa de Sérgio Oliveira só peca por tardia, a de Adrián López compreende-se se tiver já colocação e o caso de Evandro é o mais/único lamentável, pois é um médio completo, experiente e inteligente que podia - e devia - entrar na equipa a qualquer altura), e mesmo assim Varela só é opção para uns minutos finais de desespero. São estes os planos para um dos jogadores mais bem pago do clube? Se é para isso, o melhor é repensar a sua posição no plantel. De certeza que não foi NES a achar que as alas estavam suficientemente fortes para atacar esta época, sobretudo com Brahimi na CAN. Também não esperem que NES sinta que Kelvin vai resolver os seus problemas.

Ainda no tema dos flancos, jogo verdadeiramente penoso de Corona, que continua a ter uma inconsistência gritante. Ora sai do banco para agitar o jogo, pedindo a titularidade no jogo seguinte, ora faz uma exibição como a de ontem, em que decide quase sempre mal quando toca na bola. Não havendo mais opções para as alas nesta fase, é natural que Corona seja aposta clara de NES; jogando assim, complica ainda mais a tarefa do treinador. Maxi Pereira também não esteve bem no apoio ao ataque, onde Jota e André Silva desperdiçaram as poucas (não foram assim tantas) oportunidades que tiveram. É o peso de confiar o ataque a uma dupla de avançados sub-21, que não tem culpa que o ponta-de-lança que devia ser mais experiente/maduro do que eles se chame Depoitre e não saia sequer do banco. Jota perdeu muito fulgor nas últimas semanas, mas a sua recorrente titularidade mostra que NES não tem outra solução em mente para a equipa neste momento e prefere insistir nesta fórmula até à exaustão. Não que tenha muitas mais alternativas por onde escolher.

K7 (-) - Pontapé de saída, bola no lateral, balão para o ataque. Pontapé de saída, bola no lateral, balão para o ataque. Pontapé de saída, bola no lateral, balão para o ataque. A época vai a meio e o FC Porto ainda não pensou que seria uma boa ideia ensaiar outro tipo de jogada. 

Bolas paradas (-) - 14 pontapés de canto, nenhum em que alguém ganhasse posição para um cabeceamento. Foi notória a incapacidade de aproveitar os lances de bola parada. Isso treina-se, e quem não tem jogadores altos o suficiente na grande área, pode procurar outro tipo de movimentações através do canto curto.  NES não tem culpa de não ter o melhor plantel, mas tem que tentar fazer o melhor possível com as armas que tem. Não se pedirá nunca mais do que isso ao treinador. 

Outra vez, o tema Depoitre (-) - Dos 22 remates que o FC Porto fez, 11 foram feitos na pequena área. Que quer isso dizer? Que o FC Porto, apesar de muitos cruzamentos mal tirados, estava a meter as bolas na pequena área. Nesse caso, se nesta circunstância um pinheiro (leia-se Depoitre) não é útil, nunca o será. Até Rui Pedro, mais baixo, foi lá cabecear duas vezes. Se NES queria Depoitre, as suas opções não o têm demonstrado. Nada. 

Terceiro jogo consecutivo sem ganhar e sinais muito preocupantes no rendimento fora de casa, com apenas 6 vitórias em 15 jogos, uma nos últimos sete jogos. A receção ao Moreirense, dentro de uma semana, aumenta de importância. E não é por o Benfica já estar a 6 pontos. É por Sporting e Braga estarem a 2.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Despenalização

«Em Inglaterra, quando um jogador é mal expulso é-lhe retirada a punição. No nosso jogo contra o Moreirense, foi mal expulso um jogador nosso e não lhe retiraram o cartão».

Nuno Espírito Santo, 06/01/2017

O texto de hoje do Dragões Diário, nomeadamente o primeiro parágrafo, foi tão pertinente e incisivo que dispensa que se lhe acrescente algo. Fosse, seja, sempre assim. Era preciso cultivar a ideia de que Danilo Pereira foi expulso por insultos ao árbitro. E se a FPF foi cúmplice nisso, o FC Porto só tem que agir para apurar consequências e responsabilidades. A Assembleia Geral da FPF tem mais de 80 delegados. Dêem-lhes que fazer. 

Nuno Espírito Santo notou, e bem, que Danilo Pereira não viu o seu cartão amarelo ser retirado, algo que provavelmente aconteceria em Inglaterra. Mas a verdade é que Portugal tem precedentes de despenalização de cartões.

Hoje como há 15 anos atrás, há coisas que não mudam. Vamos recordar o FC Porto x Benfica de 2001-02. Reviravolta, golos de Deco, Alenichev e Capucho (chapéu!), grande jogo. Se o Benfica ganhasse, passava à frente do FC Porto. Como perdeu, ficou a 3 pontos e mais perto do 5º lugar do que do 3º. Não era o tempo de ficarem sem o seu melhor jogador. Então o que acontece? O insuspeito Record traz o relato de então, com Simão Sabrosa a ser despenalizado de um cartão amarelo.


O precedente já tinha sido aberto antes, também a envolver o Benfica, e também a envolver o FC Porto. Neste caso, com Poborsky, que foi castigado com um cartão amarelo depois de ter simulado uma falta para penalty - Vítor Baía não lhe tocou, mas Nuno Gomes fez justiça ao falhar o penalty. Acontece que o CJ da FPF decidiu depois retirar o cartão amarelo a Poborsky.

Certo. Reformularam-se os organismos, mudaram as pessoas, mas o denominador em comum mantém-se. Não é que o FC Porto seja sempre o lesado. Por exemplo, Cabral viu vermelho direto num Braga x Benfica. Que aconteceu? O cartão vermelho foi-lhe retirado e na jornada seguinte já estava a jogar na Luz.

Os tempos até eram dourados para o FC Porto, que era pentacampeão, mas nem isso parecia ajudar o clube junto do CJ da FPF. Nem José Guilherme Aguiar, pois o FC Porto tentou uma despenalização de Jardel contra o mesmo SC Braga, por má amostragem de um cartão amarelo que resultou numa expulsão, mas o jogador não foi despenalizado. 

Também houve precedentes? Houve. Costinha e McCarthy já viram ser retirados cartões que tinham sido mostrados erradamente. Então, é caso para questionar: por que é que agora Danilo não teve o mesmo direito? Vamos supor que foi, como a FPF quis cultivar, por insultos ao árbitro. Então, vamos novamente calcular os precedentes.

Quando Rui Vitória, no Marítimo x Benfica, mandou Vasco Santos para o Ricardo Carvalho sem prenome e sem V (algo que as imagens televisivas mostraram, ao contrário de qualquer tipo de insulto por parte de Danilo), que aconteceu? Nada, só um calorzinho na orelha. 


Mas isto na Luz faz escola. Reparem na naturalidade com que Pizzi, porventura o melhor jogador do Benfica nesta fase, admitiu no 15º Encontro Nacional de Jovens Árbitros (uma vez mais, a proximidade entre clube e arbitragem sobressai) que insulta árbitros. «Já chamei nomes, já disse várias coisas que não se podem dizer aqui». Não deve haver nenhum jogador que nunca tenha soltado uma palavrinha para a mãe de um árbitro. O problema é a diferença de tratamento e os precedentes que só vão servindo o Benfica. 

Porque não foi Danilo despenalizado? Que responda a FPF. E se é tão claro que Danilo foi expulso por protestos, então qual o motivo para não o terem afirmado publicamente, protegendo assim o seu árbitro e evitando serem alvo de chacota em todo o mundo pela expulsão mais ridícula de sempre? Pois.

Numa jornada em que o Benfica vai a Guimarães, o FC Porto a Paços de Ferreira e ao primeiro deslize do rival podemos passar a depender de nós próprios na luta pelo título, todo o cuidado é pouco. 

PS: À saída do supermercado, ao fazer marcha atrás, não vi uma velhinha que estava sossegada na berma da estrada e passei-lhe por cima. Seguindo os ensinamentos da escola Luís Godinho, vou processar a malandra por se ter metido à frente - neste caso atrás - e agredido a minha viatura. A não ser que alguém se lembre de distribuir mails a denunciar que a velhota me insultou. É capaz de ajudar. 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

23 dias e três jogos

«O FC Porto precisa que as arbitragens estejam à altura daquilo que desejamos para a verdade desportiva. Eu acho que ainda é muito cedo para fazer uma análise. Não se pode, ao fim de 10 jogos, analisar o trabalho de um conselho de arbitragem». Pinto da Costa, JN, 12-12-2016

«Sobre a terceira equipa [a de arbitragem] vai ser feita uma exposição à Comissão de Análise amanhã [terça-feira], porque todos vimos o que se passou, mas não podemos analisar. Estão a acontecer coisas estranhas. Já começa a ser demais e estamos a ficar fartos (...) Fomos postos fora da Taça pelo João Capela e ontem vi um jogo com o senhor João Capela a arbitrar. Estão perfeitamente à vontade e não compreendo como é que o Conselho de Arbitragem (CA) não toma medidas contra o que está a acontece». Pinto da Costa, 19-12-2016

«Definitivamente, não há vergonha no futebol português e quem menos vergonha tem é quem é responsável por este estado de coisas, com o Conselho de Arbitragem à cabeça, com nomeações sempre a piorar». Dragões Diário, 04-01-2017

Recapitulando. A 12 de Dezembro, o presidente do FC Porto considerava que era muito cedo para fazer avaliações sobre o Conselho de Arbitragem. De recordar que um mês antes o clube já tinha publicado um vídeo com 12 penaltys que ficaram por marcar esta época. Se 12 grandes penalidades não eram já motivo para avaliação, só faltava saber quantos lances seriam necessários para o presidente do FC Porto reconhecer que o clube estava a ser prejudicado sucessivamente.

Uma semana depois, essencialmente após a derrota em Chaves, Pinto da Costa já veio mudar o discurso e estranha que o Conselho de Arbitragem (que uma semana antes não merecia que julgassem o seu trabalho) não «tome medidas», apelando a uma intervenção

E agora, 23 dias depois de Pinto da Costa ter afirmado que o Conselho de Arbitragem não merecia que se fizesse uma análise sobre o seu desempenho? Passaram-se três jogos: o FC Porto venceu o Chaves (mesmo tendo um golo anulado e um penalty por marcar), empatou na receção ao Feirense (com 3 possíveis lances de penalty por marcar) e perdeu na visita ao Moreirense da forma que todos viram.

Então, 23 dias e três jogos depois, é caso para perguntar: ainda é cedo para fazer uma análise ao Conselho de Arbitragem?

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O fracasso é mútuo

Começando pela parte desportiva. A posição d'O Tribunal do Dragão em relação à Taça da Liga já é conhecida: uma Taça que deve ser destinada à promoção dos talentos da equipa B e como espaço competitivo para os suplentes. Mas a partir do momento em que o próprio FC Porto assume o objetivo de vencer esta Taça, é óbvio que a avaliação sobre o desempenho nesta competição tem que obedecer a critérios mais exigentes - sobretudo quando o treinador não abdica de apostar numa base de jogadores habitualmente titulares ao longo da competição. 

Posto isto, a participação do FC Porto na Taça da Liga voltou a ser um fracasso. Três jogos (dois em casa), apenas dois pontos e dois golos marcados, exibições cinzentas e que só revelaram qualidade a espaços - e quando a qualidade ia sobressaindo, um apito fazia questão de a inibir (já lá vamos). 

Este é o 10º ano de Taça da Liga. Já foi uma competição desvalorizada pelo FC Porto (na verdade começou a sê-lo devido aos maus resultados), mas nos últimos anos tem sido sempre comentada como sendo um objetivo para o clube (não obviamente uma prioridade, mas uma competição para vencer). E a verdade é esta: o FC Porto nunca ganhou a Taça da Liga porque nunca foi suficientemente competente para o fazer. E era o troféu que mais hipóteses o FC Porto tinha de conquistar esta época, na medida em que a competição é curta e o formato altamente favorável para os grandes clubes. 

Ao longo destes 10 anos, o FC Porto ganhou menos de metade dos jogos que disputou na Taça da Liga. Tem uma média de golos marcados de 1,35/jogo (muito pobre, tendo em conta que joga contra adversários teoricamente inferiores), um golo sofrido por jogo, e nos últimos 7 jogos de Taça da Liga o FC Porto não ganhou nenhum e perdeu 5. Isto poderia ser relativizado se o FC Porto assumisse que a Taça da Liga serviria para colocar em cena as segundas linhas e a equipa B. Mas não, foi assumido que era para ganhar. E o desempenho nesta competição não está à altura dos pergaminhos do FC Porto. Isto transcende as prestações dos jogadores e de NES nos últimos três jogos. 

Em relação ao que se passou em Moreira de Cónegos, foi uma vez mais o produto dos internacionais de proveta. O Tribunal do Dragão, na sua modesta e pequena posição no Universo Porto, orgulha-se de ter sido um dos primeiros espaços (senão mesmo o primeiro) a denunciar que a promoção de jovens árbitros estava a ir contra os regulamentos da FIFA e que não augurava nada de bom ao FC Porto. Enquanto isto acontecia, os responsáveis do FC Porto andavam ocupados com temas bem mais importantes, certamente. Como por exemplo preocupar-se imenso com o que iam escrevendo os blogues.

A forma como Luís Godinho expulsa Danilo mostra que não há respeito pelo FC Porto, e que os árbitros se sentem impunes perante qualquer decisão que tomem em prejuízo do FC Porto. Danilo Pereira é um jogador à Porto, uma das referências do atual clube, e ainda assim Luís Godinho nem pestanejou na hora de puxar do cartão. Mas alguém acredita que há 20, 15, 10 anos atrás, um árbitro agiria da mesma maneira se se virasse e visse Jorge Costa, Aloísio ou João Pinto? Não se trata de intimidar. Trata-se de impor respeito. 

Era coisa para rir - tanto que Pinto da Costa riu mesmo - se não fosse um assunto tão sério. O FC Porto tem tomado posição através de algumas vozes críticas, mas nada muda na arbitragem nacional. A contagem dos 19 penaltys é por certo exagerada, mas todos os lances têm algo em comum: em caso de dúvida, assinala-se contra o FC Porto. Redes sociais não chegam. Note-se que até o jornal O Jogo escreve que Danilo foi expulso porque «reclamou atraso de bola» e «não conteve os protestos». Se fosse Fejsa, A Bola tinha capas para a semana inteira. 

Andamos há semanas a dizer que é tempo de dizer «basta». Dizer basta não muda nada, porque a voz do FC Porto não tem sido respeitada, ouvida e considerada nos últimos meses. NES, no final do jogo, tocou num tema importante: o de ter que convencer os jogadores de que o que eles vão fazer é mais importante do que a arbitragem. Pois isto derruba o moral de qualquer jogador, o de saber que estão em campo inclinado.

Há portistas que dizem que uma equipa à Porto supera qualquer erro de arbitragem. Não brinquem. Nenhuma, nenhuma equipa consegue jogar jogo após jogo sabendo que vai ter sempre decisões de arbitragem em seu prejuízo. É que não estamos a falar de um, dois ou três jogos. É semana após semana. E nada muda.


Qualquer discussão do ponto de vista tático soa a repetição (como sempre, bastou ganharem um pequeno ciclo de jogos - que era suposto o FC Porto ganhar! - para muitos se deixarem levar pela euforia, querendo ver crescimento e evolução no que eram serviços mínimos), por isso apenas nota para algo que NES tem que abandonar: o politicamente correto.

O que estas intervenções serenas, mansas e monocórdicas de NES vão demonstrando é uma preocupação de não querer associar em demasia a sua imagem à de uma defesa acérrima do FC Porto, sob pena de não encurtar as opções que possa ter para a sua carreira no futuro. Um treinador do FC Porto que esteja preocupado com a simpatia que vai ter da generalidade não tem sucesso, ponto. Se NES sente que os seus jogadores, o seu grupo de trabalho estão a ser lesados, tem que liderar o grito de revolta. A diferença na ousadia do discurso entre um guarda-redes em final de carreira e um treinador no início da mesma vão sendo demasiado grandes. Não esquecendo que não pode ser o treinador a tomar a posição que os dirigentes não tomam. Ninguém poderá terminar a época a afirmar «a culpa foi do NES». 

FC Porto novamente prejudicado, outra participação de péssima qualidade na Taça da Liga. Os maus resultados na Taça da Liga não podem beliscar o que vai acontecer no que resta do Campeonato, mas arbitragens como a de ontem - a começar pelo afastamento de Danilo de Paços de Ferreira - podem muito bem fazê-lo. Que vai o FC Porto fazer relativamente a isso, é a questão. 

Depois de 40 mil no Dragão, num jogo de Taça da Liga, e 28 mil adeptos num treino aberto, o FC Porto devia mais aos seus associados. Aqueles que precisam de algo mais do que memórias do passado, e que reconhecem que o amanhã do clube é mais importante do que o ontem.