quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Os Pentas: Novembro de 2017

Novembro não foi um mês fácil para o FC Porto. Houve uma quebra de rendimento a nível exibicional, algo que se acentuou nos últimos três jogos, mas a equipa chega ao início de dezembro na liderança da I Liga, em prova na Taça de Portugal e a depender de si própria para seguir para os 1/8 da Liga dos Campeões. 

A pausa para as seleções limitou o calendário a cinco jogos, que despertaram diferentes sensações: uma boa vitória frente ao Leipzig (3x1); uma performance q.b. frente ao Belenenses (2x0); um pé e meio fora da Taça de Portugal, mas a tempo de dar a volta ao Portimonense (3x2); um empate sofrido na visita ao Besiktas (1x1); e a primeira má jornada da época na I Liga, na visita ao Desportivo das Aves (1x1). Não era o ciclo de jogos mais difícil da temporada, sobretudo se tivermos em conta que dezembro começa com receções a Benfica e Mónaco, mas os resultados acabaram por ser melhores do que as exibições. E delas destacaram-se os seguintes nomes. 

5. José Sá

Uma estreia no top 5, curiosamente graças a dois jogos em que o FC Porto não conseguiu vencer. Na visita ao Besiktas, foi decisivo com três intervenções de elevado grau de dificuldade, que ajudaram a manter a igualdade no marcador. Já no último jogo, na visita ao Desp. Aves, acabou por ser novamente o jogador mais votado pelos leitores d'O Tribunal do Dragão para o prémio MVP, num jogo em que fez apenas duas - mas difíceis - defesas. Sérgio Conceição fez dele o novo dono da baliza do FC Porto, uma escolha que continua longe de ser consensual mas que não justifica nenhum dos últimos maus resultados que o FC Porto tenha tido. Iker Casillas tem sido um jogador decisivo nos clássicos contra o Benfica; estará José Sá à altura dessa responsabilidade já amanhã?

4. Yacine Brahimi

O melhor jogador dos meses de setembro e outubro esteve uns furos abaixo nos últimos jogos, mas isso não é suficiente para deixar de notar a sua influência na equipa. Contra Leizpig e Besiktas reforçou o estatuto de 2º melhor driblador da Champions (só atrás de Neymar - e tem mais lances de 1x1 ganhos do que todo o plantel do FC Porto junto), um oásis numa equipa que tem dependido das bolas paradas para chegar aos golos. A nível interno, foi na Taça de Portugal que resolveu, frente ao Portimonense, entre exibições mais discretas diante de Belenenses e Aves, mas sem nunca deixar de ser o jogador que mais desequilíbrios cria do ponto de vista individual. Mesmo sem estar ao seu melhor nível, Brahimi continua num nível à parte.

3. Danilo Pereira

Voltou a roçar o seu melhor nível exibicional no último mês, começando desde logo na receção ao Leipzig - fez um golo e esteve na jogada de outro, numa exibição em que esteve quase irrepreensível defensivamente. Falhou a receção ao Belenenses, mas voltou a marcar logo de seguida na Taça de Portugal, ante o Portimonense, tendo sido o melhor médio em campo. Na visita ao Besiktas sentiu, à imagem da equipa, dificuldades para lidar com o meio-campo turco, tendo estado longe do seu melhor nível, mas na visita ao Aves foi dos poucos a ter clarividência e rumo na procura, em vão, pela vitória. Está melhor fisicamente e, apesar de o 4x4x2 não ser o esquema que melhor revela Danilo, o médio-defensivo continua a ser uma garantia de segurança e organização na retaguarda.

2. Alex Telles

Foi do seu pé esquerdo que começaram por nascer as três vitórias do FC Porto no último mês. Contra o Leipzig, assistiu Danilo para o 2x1 e esteve na génese do golo de Herrera; na ronda seguinte, ante o Belenenses, esteve novamente na origem de um golo do mexicano, fazendo uso da apetência para as bolas paradas; contra o Portimonense, voltou a assistir na marcação de um pontapé de canto, mas foi no delicioso passe para Aboubakar, já para lá do minuto 90, que mais brilhou. As exibições contra Besiktas e Aves foram mais discretas, mas Alex Telles somou mais três assistências no último mês e esteve em mais duas jogadas de golo, continuando a destacar-se mais pelo que oferece do que pelo que tem para fazer na defesa. Continua a ser presença regular e justificada no top 5.

1. Héctor Herrera

Eleito o MVP pelos leitores d'O Tribunal do Dragão em dois dos quatro prémios atribuídos neste mês, agarrou-se desde logo ao primeiro lugar nas receções a Leipzig e Belenenses. Depois de um golo e uma exibição completa na Champions, brilhou com um golo e uma assistência na 11ª jornada. Descansou na Taça e não esteve ao mesmo nível frente a Besiktas e Aves, mas quem leva dois de quatro prémios MVP (Alex Telles e José Sá foram eleitos nos dois restantes), tendo sido o melhor em campo em duas de três vitórias, justifica a eleição para «Penta» do mês de novembro, tendo ele curiosamente sido alvo de uma análise mais detalhada que explica o papel desempenhado por Herrera nos últimos jogos. E seria de uma crueldade poética amanhã, em dia de clássico, Herrera, jogador tão polémico nas apreciações entre adeptos, não começar o mês de dezembro a justificar os elogios de novembro.


Cinco dos próximos seis jogos vão ser disputados no Estádio do Dragão. Há a liderança da I Liga, a passagem aos 1/8 da Champions, Taça de Portugal e Taça da Liga (seja lá o que signifique/importe esta prova) para disputar, e basta um mau resultado para qualquer um destes objetivos ficar por terra. A pressão é máxima e a margem de erro mínima. Como a malta gosta. 

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Porquê sempre Herrera?

Héctor Herrera começou o mês de novembro em grande forma, ao ser eleito o MVP pelos leitores d'O Tribunal do Dragão nos dois primeiros jogos (Leipzig e Belenenses), algo que o colocou desde logo na pole para vencer «Os Pentas» deste mês. Mas como vem sendo hábito no percurso de Herrera no FC Porto, após um par de boas exibições vem uma quebra de rendimento e, com ela, as eternas questões sobre a sua utilização na equipa principal.

O comentário mais comum entre os adeptos do FC Porto é o de que Héctor Herrera «falha muitos passes». Hoje vamos ver se isso é, de facto, verdade, e chegar desde logo a uma conclusão: Herrera não só não falha «muitos passes» como é o jogador do FC Porto com maior eficácia de passe em todo o Campeonato.

Entre os atletas que disputaram pelo menos 400 minutos na I Liga até ao momento, Herrera é o 4º jogador com maior eficácia de todo o Campeonato, com acerto de 88% no passe. À sua frente só Fejsa (89,6%), William Carvalho (88,8%) e Mathieu (88,4%). É fácil perceber o porquê de estes jogadores dos rivais estarem à sua frente: tratam-se de dois médios defensivos e um central, que têm como missão distribuição curta e não pisar terrenos muito adiantados. Como curiosidade, no FC Porto seguem-se Danilo (87,6%), Corona (84,2%) e Alex Telles (83,2%).

Não, Herrera não falha muitos passes - falha menos até do que os colegas. Mas isso leva seguramente a outra crítica da massa adepta: «Só passa para trás e para o lado». Vamos ver se é verdade.

Mapa de desempenho de Herrera (dados Squawka)

Até ao momento, 63,1% dos passes de Herrera foram efetuados para a frente (267 passes). Quer isto dizer que 36,9% (156 no total) foram feitos para trás ou para o lado, sem progressão no meio-campo. Será esta percentagem boa ou má? Neste caso, há que comparar com outros jogadores do Campeonato.

Pizzi, do Benfica, foi um dos melhores jogadores da época passada e o melhor passador do Campeonato. Como estará a ser o seu desempenho esta temporada? A estatística diz que 66,2% dos passes de Pizzi foram efetuados para frente. Ou seja, a cada 100 passes, faz apenas mais 3 do que Herrera para a frente. E a sua eficácia de passe, de 84%, é inferior à de Herrera.

No Sporting temos Battaglia, com 85% de acerto no passe, e do qual 61,9% dos passes saem para a frente. Ou seja, praticamente a mesma percentagem de Herrera.

Quer isto dizer que não, Herrera não passa «só para trás ou para o lado». Está na mesma linha de desempenho dos médios dos candidatos ao título em Portugal. Já falámos da eficácia de passe, já falámos da progressão em campo... Mas falta falar da distância.

O passe médio de Herrera no Campeonato é de 17 metros. A mesma distância de Battaglia, mas inferior a Pizzi (20m). Mas aqui o maior termo de comparação deve ser com Óliver Torres, o 2º melhor médio do plantel (atrás de Danilo) mas que deixou de ser opção após Conceição ter apostado no esquema que «recuperou» Herrera - algo que não é justificação única, pois Sérgio Oliveira tem sido preferência para os grandes jogos.

Óliver, no Campeonato, tem 83% de eficácia no passe, mas 69% dos seus passes são efetuados para a frente. Ou seja, Herrera acerta mais passes do que Óliver, mas apesar de Herrera estar associado a um esquema de maior velocidade/verticalidade, e Óliver a um modelo de circulação, a verdade é que Óliver joga mais para a frente do que o mexicano. E há um detalhe muito importante: o passe médio de Óliver é de 22 metros. Ou seja, com Óliver em campo, o FC Porto ganha muito mais amplitude de jogo, enquanto com Herrera, embora a eficácia de passe seja maior, o raio de ação é mais curto. A isso também se deve o facto de Herrera correr mais com bola, ou seja, vai comendo metros no meio-campo, enquanto Óliver privilegia desde logo a distribuição. 

Mas não basta passar para a frente: é preciso saber se esse passe leva a alguma coisa. E aqui os dados saem novamente em defesa de Héctor Herrera, que cria 1,8 ocasiões de remate por jogo. Só Alex Telles, com 2,8, consegue melhor, mas há algo que justifica a vantagem do brasileiro: Alex Telles bate as bolas paradas e cria muitas situações dessa forma. Ou seja, em bola corrida, Herrera é o jogador do FC Porto que mais ocasiões de finalização cria no Campeonato. Sim, inclusive à frente de Brahimi (1,4). O segundo melhor é... Óliver Torres, com 1,5.

O que diz então a estatística? Que Herrera é o jogador com maior eficácia de passe no FC Porto; que não joga mais para trás do que os rivais; que é o principal criador de oportunidades do plantel em bola corrida. Por que é que joga com Sérgio Conceição? Porque oferece estas coisas à equipa.

Esta discussão deveria ter terminado a partir do momento em que o presidente do FC Porto disse ter recusado 30 milhões de euros por Herrera - e que tinha provas dessa recusa. Porque Herrera pode ser mais ou menos adorado pelos adeptos, mas numa coisa todos concordarão: não vale esse dinheiro. Se pensarmos nos grandes médios que o FC Porto teve nos últimos anos, desde Maniche a Lucho, de Raúl Meireles a João Moutinho, talvez não valha nem metade. E não é culpa dele que tenham recusado isso. Herrera é capitão porque é um profissional exemplar e respeitado por todos os colegas, mas a discussão sobre a sua valia para o 11 do FC Porto terminou no dia dessa recusa. 

Mas não joga por ser bom tipo e bom profissional. Joga pelos factos descritos nesta análise estatística, que não é o que os adeptos querem ou julgam ver: é o que se passa no relvado. O Tribunal do Dragão sempre opinou que o melhor FC Porto tinha que ter Óliver Torres no 11. Não tem tido, mas Herrera não tem sido, de todo, mais problema do que solução, bem pelo contrário. Talvez seja um post de defesa a Héctor Herrera, talvez seja meramente um aglomerado de factos. Mas vem aí um FC Porto x Benfica, e no último clássico aquele pontapé de canto de Herrera ficou atravessado na garganta de todos os adeptos. Héctor, eis uma boa oportunidade para a redenção.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O penalty mudaria o resultado, não a exibição

À 12ª jornada, o FC Porto teve o seu primeiro mau resultado na I Liga. Consequências? A equipa continua no primeiro lugar e terá, já na sexta-feira, a oportunidade de manter esse lugar e de deixar o tetracampeão em título a 6 pontos de distância. Se pensarmos naquilo que foi toda a preparação desta época, dificilmente se poderia pedir contexto mais favorável após cumprido um terço de Campeonato. Melhor ataque, melhor defesa e mais 7 pontos do que aqueles que somava por esta altura há um ano. Como pode o crédito do que foi construído até agora ser deitado abaixo após o primeiro - o primeiro! - mau resultado nesta Liga?

Não há descrédito. Há uma oportunidade de lavar a cara já no clássico. Mas como é claro, não há coisas simpáticas para dizer sobre os 90 minutos que o FC Porto fez na visita ao Aves. Não foi só a pior exibição da época: foi dos piores jogos que vimos o FC Porto fazer nos últimos anos. Pobreza tática, previsibilidade, baratas tontas a defender, sem ideias a atacar. Quim tem 42 anos, duas décadas de Campeonato, e este terá sido um dos jogos em que menos trabalho teve na sua carreira. Quim não fez uma defesa. Nem uma, porque o FC Porto não lhe deu essa possibilidade. 

Sérgio Conceição sabe que a equipa não esteve bem. Sabe que ele próprio não esteve bem. Mas também sabe que não há melhor tónico de recuperação emocional e exibicional do que vencer o Benfica. Será difícil? Com certeza. Como tem sido até agora.

Claramente que o penalty não assinalado sobre Danilo, ao cair do pano, foi um erro gritante que tirou ao FC Porto a derradeira oportunidade de chegar ao 2x1 e de manter as distâncias antes do clássico. Foi um erro que não se pode deixar de denunciar e condenar. Mas esse penalty só mudaria o resultado, não a exibição. E a exibição foi muito pior do que o resultado, pois é perfeitamente aceitável somar um mau resultado em 12 jornadas no Campeonato, mas não jogar tão, tão mal e com tão pouca clarividência e ideias. 




Ricardo Pereira (+) - Fez o que mais nenhum colega conseguiu fazer: fazer um remate enquadrado com a baliza. E deu golo, após um magnífico passe de Soares. Foi o ponto alto de uma exibição positiva, na qual ainda se destacou uma ocasião de golo criada e 13 ações defensivas. Melhorou imenso no timing de desarme e é, neste momento, o jogador do Campeonato com mais tackles eficazes (25), embora não tenha tido uma única oportunidade para cruzar - algo que se tem acentuado nos últimos jogos. Mais culpa da dinâmica da equipa do que do próprio.

Danilo Pereira (+) - Cometeu alguns erros, falhou alguns passes, perdeu algumas bolas. Mas se há jogador a quem não se possa apontar falta de empenho é Danilo. Parecia ser o único a perceber que era preciso circular e passar mais a bola, a comandar a subida das linhas, a apelar à garra e a uma pressão mais constante e aguerrida. Danilo deu tudo num jogo em que o meio-campo do FC Porto quase não existiu, e tentou ele próprio assumir protagonismo na frente - rematou 3 vezes, criou uma ocasião de golo e conseguiu fazer mais dribles do que os 4 pontas-de-lança que o FC Porto teve em campo.




Bola atrás, bola à frente (-) - Pontapé de saída, bola longa para o lado direito do ataque. Repete-se a jogada. Bola em Felipe, bola longa para a frente. Bola em Marcano, bola longa para a frente. Repetir invariavelmente a mesma coisa esperando resultados diferentes. É algo que já tinha sido aqui comentado nos últimos jogos: o FC Porto está a tornar-se em demasia uma equipa de chutão para a frente. Há momentos em que isso vai funcionar, em que vai haver espaço, em que Ricardo, Alex, Marega ou Aboubakar vão apanhar uma bola nas costas dos defesas. Mas neste momento não está a funcionar, pois todas as equipas já sabem que o FC Porto vai fazer isso. Podem já anotar: no pontapé de saída para o FC Porto x Benfica, o jogador que estiver do lado direito do ataque (seja Marega ou eventualmente Aboubakar a cair naquela zona) vai estar com 2 homens em cima, pois já sabem que vai cair ali uma bola longa.

A determinada altura parecia que não havia meio-campo. A bola passava da defesa diretamente para a linha avançada. Não houve jogo interior, Brahimi ou Corona a caírem no meio para compensar a inferioridade numérica no miolo, tabelas entre linhas, soluções de passe e progressão. É claro que jogar num 4x4x2 com Herrera não é o mesmo que jogar num 4x3x3 - ou mesmo noutro esquema qualquer - com Óliver, o que obriga a menos controlo e mais vertigem. Mas não está a funcionar. É preciso alternativa. É preciso saber controlar a bola, fazê-la circular, procurar o espaço de forma mais apoiada em vez de continuar a insistir no jogo direto para as costas dos laterais. 

Zero no ataque (-) - O FC Porto teve 16 tentativas de remate ao longo da partida. Só uma vez conseguiu rematar à baliza, por Ricardo. Conforme já foi afirmado, estamos a falar de um jogo em que Quim não teve que fazer uma única defesa, a não ser sair a algumas bolas em cruzamentos. Foi provavelmente um dos jogos mais tranquilos de Quim frente a um grande na sua carreira. Foi um jogo em que o FC Porto foi praticamente inexistente no ataque. Aboubakar e Corona simplesmente não existiram em campo. Brahimi foi muito mais inconsequente do que o habitual. Herrera foi quem mais ocasiões de golo criou e quem mais acerto teve no passe, mas faltou ligação ao ataque. Os cruzamentos foram simplesmente maus: Alex Telles fez 10 dos 12 na partida, e apenas um teve seguimento. Pouco, muito pouco.

A bola queima (-) - Felipe bem pode agradecer que a dupla com Marcano traga crédito da época passada, e que Reyes não tenha o estofo necessário para entrar no 11, caso contrário já tinha sentado. Começam a ser demasiados erros. O problema não são os passes longos - Marcano e Felipe usam e abusam dos passos longos porque têm instruções para isso. O problema são as constantes hesitações, os maus timings sobre a bola, a falta de sentido prático a cortar os lances. Mas não é só isso, a quantidade de vezes em que o FC Porto deitou a bola a perder, durante a cobertura face à pressão do adversário, foi preocupante. O próprio Danilo, Herrera, Corona, foram vários os casos em que a bola parecia queimar.

Herrera, apesar de tudo, ainda foi dos que maior acerto conseguiu ter. Se repararem no mapa de passes errados vs. ocasiões de  remate criadas pelo FC Porto, praticamente saíram todas desde a meia esquerda, onde estava Herrera e também Brahimi. De resto, do lado direito do ataque do FC Porto não saiu um único lance de perigo, a não ser a entrada de Ricardo para o lance do 1x0. O FC Porto poucas vezes conseguiu fazer a bola circular no último terço e procurar o espaço certo para atacar. Admita-se, acabar o jogo com 10 e com um avançado que no início do ano estava na Sanjoanense não é fácil. Mas estávamos na visita a uma equipa que luta para não descer antes de um clássico.

A vermelho os passes errados, a laranja os passes para ocasião de perigo
O Aves não ganhou a Champions... (-) - Não, não ganhou. Mas o Aves nunca tinha conseguido pontuar frente ao FC Porto. Só tinha feito 2 golos ao FC Porto em toda a sua história. Tinha, tem, um dos piores ataques e defesas da Liga. Luta para o pontinho, para não descer. E ainda assim, conseguiu tirar pontos ao FC Porto. Se isto não é motivo para o Aves festejar, o que seria? No que ao contexto de um Desportivo das Aves diz respeito, sim, ganharam a Champions deles, pois foram superiores ao FC Porto durante 90 minutos. E isto merece mais preocupação do que saber de que forma festejaram ou deixaram de festejar. 

E agora? Agora o FC Porto é líder, tem o melhor ataque, tem a melhor defesa, e nos próximos dois jogos pode consolidar a liderança, deixar o Benfica a 6 pontos do primeiro lugar e apurar-se para os 1/8 de final da Liga dos Campeões. Mas é preciso aprender com o que (não) se fez neste jogo. 

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Defeito e feitio com vista para os oitavos

Sérgio Conceição resumiu tudo, sem falsas modéstias ou arrogância: «Nem o mais otimista» esperaria que o FC Porto chegasse à última jornada da fase de grupos a depender de si próprio para seguir para os 1/8 da Champions, enquanto lidera a I Liga de forma imaculada e responde com soluções a cada problema provocado por não terem dado um único reforço ao treinador. Mérito inabalável de Sérgio Conceição e do grupo por si liderado, sobretudo quando temos em conta o quão difícil tem sido para o FC Porto jogar esta Champions. 


Se era impensável que o FC Porto chegasse a esta fase com notórias hipóteses de se qualificar, também é difícil imaginar que o FC Porto tenha tanta dificuldade em tratar a bola na Champions, sendo a 2ª equipa que mais passes falha, só atrás do APOEL, e praticamente só as bolas paradas permitem à equipa estar no 2º lugar (7 dos 10 golos nesta fase de grupos foram obtidos desta forma, e os restantes divididos entre um lance de contra-ataque, uma bola em profundidade e uma jogada com vários ressaltos). 

O FC Porto de Conceição não nega as suas limitações, convive com elas, e está a apenas uma vitória de cumprir um difícil objetivo de época. O que é muito diferente de já se poder cantar vitória, pois a receção ao Zenit de 2011-12 deve ser sempre mantida como exemplo.




A equipa a defender (+) - Este FC Porto convive mal com a bola, mas isso não retira à equipa o mérito de saber controlar o espaço e a profundidade. O Besiktas teve momentos de grande superioridade, mas o FC Porto limitou o adversário a três únicas entradas perigosas na grande área, duas por Quaresma e uma por Pepe, - além, claro, do golo, um lance que deixou Felipe mal na fotografia (a única falha numa exibição de sentido prático quase irrepreensível) e no qual Sérgio Oliveira (o melhor do meio-campo) pareceu ter parado para coçar as jóias da família em vez de fazer o acompanhamento a Tosun quando este correu para o flanco. Não tivesse ocorrido esta falha e o FC Porto teria feito um jogo perfeito defensivamente, ainda que também José Sá, na sua melhor exibição desde que chegou ao clube, tenha feito 3 defesas de elevado grau de dificuldade.

Brahimi (+) - À imagem da equipa, teve dificuldades em criar perigo objetivo para a baliza adversária (além do golo, só ficaram na retina um remate de Aboubakar e a tentativa de trivela de Ricardo), mas sempre que recebia a bola parecia que o jogo parava. Brahimi arrastava a bola, descobria zonas novas, permitia à equipa subir, partia as linhas do Besiktas que iam aparecendo e foi sempre o único escape de criatividade da equipa. Foi o elemento com maior facilidade em manter e passar a bola, mesmo jogando em zonas mais recuadas e sempre com 2 jogadores do Besiktas em cima dele.




Demasiada alergia à bola (-) - Pode ser mais feitio do que defeito, mas nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O FC Porto divide-se demasiado entre a pressa de querer atacar rapidamente e jogadas perdulárias por querer acelerar demasiado o jogo. Sérgio Conceição pode querer isso, e a forma como monta a equipa, por exemplo jogando com Herrera em vez de Óliver, é um exemplo desse modelo, mas o FC Porto deita demasiadas vezes a perder a posse de bola gratuitamente. Estamos entre as equipas que menos controlam os jogos na Champions, ficando sempre à mercê da eficácia adversária e ficando demasiado limitados aos lances de bola parada. Apesar de o FC Porto gostar de acelerar o jogo, só fez dois golos de bola corrida dessa forma na Champions, o 0x2 no Mónaco e o 3x1 ao Leipzig. De resto, valem as bolas paradas, que são um trunfo, mas não podem significar 70% dos golos que o FC Porto marca.

Atacar as linhas (-) - Ok, o FC Porto é forte nas bolas paradas. E sai de Istambul sem um único pontapé de canto? Faltou forçar a ida à linha, obrigar o Besiktas a cortar para onde estivesse virado. O FC Porto foi forçado a 38 jogadas em que os defesas tiveram que, simplesmente, dar uma bicada ou cortar para a linha, enquanto o Besiktas esteve apenas exposto a 8 dessas situações. Alex Telles não teve a oportunidade de ir nenhuma vez à linha fazer um cruzamento, e o FC Porto conseguiu apenas cruzar 2 vezes com perigo, ambas por Ricardo. E não é por acaso que 2 das 3 jogadas de maior perigo do FC Porto nasceram por intermédio de cruzamentos de Ricardo. O Besiktas ganhou o meio-campo, mas poderia ter sido bem mais explorado pelos corredores. 

Verborreia (-) - «Às vezes não necessito de um treinador como Lopetegui. Quando tenho na equipa Hulk, Falcao e James, é-me indiferente quem é o treinador. Com eles é difícil não ganhar. Mas entrámos num período em que não tínhamos esses jogadores, nem capacidade económica para os substituir, e o trabalho é diferente. (...) No primeiro ano esteve bem, mas no próximo [esta época] vai ser melhor. Não ganhou nada, mas estou satisfeito. Na Liga, um estudo demonstrou que o Benfica foi favorecido com sete pontos. E na Liga dos Campeões foi o Bayern de Munique que nos eliminou nos quartos de final». Pinto da Costa, julho de 2015

Ontem ficámos a descobrir que o FC Porto não foi campeão nos últimos anos não por causa do colinho, do polvo e de tudo aquilo que vem sendo denunciado e combatido no Porto Canal. Descobrimos que o FC Porto não foi campeão porque Pinto da Costa decidiu ir buscar Lopetegui em 2014, um treinador com o qual afinal não era para ganhar. Dirão alguns portistas que Pinto da Costa lembrou-se só agora de vir falar, nas vitórias. Nada mais errado, pois o FC Porto ainda não ganhou nada. E se ganhar não será por certo por enxurradas de disparates, falta de coerência e fugas à responsabilidade como estas. Deprimente. Sérgio Conceição disse recentemente que não queria o diretor de comunicação a falar em nome da equipa. O melhor mesmo é limitar essa faculdade ao treinador.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Salvos pelo gongo

Um daqueles jogos em que os instantes finais podem mudar a forma como se olha para os restantes 90 minutos. Até à entrada para o início de compensação o FC Porto era uma equipa desinteressada, que se pôs a jeito, com alguns jogadores a revelarem-se insuficientes mesmo para uma segunda linha e que só se poderia queixar de si própria por sair novamente de forma precoce da Taça; depois, no momento em que Brahimi faz o 3x2 final, o FC Porto passa a ser uma equipa lutadora, que teve garra, que acreditou até ao fim e que voltou a mostrar que tem um grupo unido e determinado. 


Para trás fica uma exibição muito pouco conseguida e o mais importante: a continuidade na Taça de Portugal, em vésperas de Champions e depois de duas semanas de difícil preparação, quer pelos trabalhos das seleções, quer pelas lesões. Tivemos a sorte que faltou noutros anos e que poderá faltar noutras situações, sobretudo se a equipa voltar aos níveis de relaxamento exibidos na primeira parte.




Alex Telles (+) - Bateu o canto que deu origem ao 1x0, com alguma felicidade à mistura (é incomum vermos a bola pingar naquela zona num jogo entre primodivisionários), mas foi ele quem descobriu o caminho para a permanência na Taça, com um excelente passe a desmarcar Aboubakar para o 2x2. Voltou a fazer a diferença no último terço, sem nunca comprometer defensivamente, e a compensar a falta de criatividade e ideias no ataque.

Danilo Pereira (+) - O melhor do meio-campo. Abriu o marcador e foi a constante referência da equipa no eixo, não só na primeira fase de construção como nos avanços que ele próprio assumiu pelo corredor. Falhou qualquer coisa na cobertura a Pedro Sá no 2x1 do Portimonense, mas Danilo Pereira foi sempre uma garantia de força, empenho e clarividência num jogo difícil. 

As pequenas coisas (+) - Um daqueles pormenores que podem passar despercebidos, mas que têm grande valia e que revelam inteligência e espírito competitivos. No momento em que Aboubakar atira para o 2x2, não celebrou: foi buscar a bola ao fundo da baliza, correu para o meio-campo e quis que o jogo fosse rapidamente reatado, de modo a tentar chegar ao 3x2 e evitar o prolongamento. Era o momento: o Portimonense estava atordoado, a jogar com 10 e não havia interesse nenhum em jogar mais 30 minutos antes da Champions. O esforço foi compensado pouco depois, com o golo de Brahimi. 




E janeiro está aí à porta (-) - Hernâni foi a jogo em seis dos últimos sete jogos do FC Porto, tendo sido titular em quatro. Fez um bonito golo de escorpião na Taça, mas de resto pouco ou nada consegue acrescentar à equipa. Constantemente alheado do jogo, inconsequente, improdutivo no 1x1 e por vezes a fazer parecer que tem medo de aleijar a bola na hora de rematar. Com o mercado de inverno aí à porta, cada exibição de Hernâni tem parecido um atalho para a saída em janeiro. Ficou no plantel e joga perante a falta de alternativas, mas nem isso o parece espevitar. No mesmo âmbito, André André continua em campo neutro (não compromete, mas também não acrescenta nada de substancial ao meio-campo), e embora se saúde a estreia e o empenho de André Pereira, sejamos francos: neste momento provavelmente não jogava em nenhuma equipa da Primeira Liga. Não é novidade, mas este plantel precisa de mais soluções, sobretudo se continuar em todas as frentes para lá do natal. E oxalá a visita a Istambul ajude nesse sentido, quer financeira, quer desportivamente. 

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O orçamento da época 2017-18

A SAD já deu a conhecer a proposta de orçamento que será submetida a aprovação na Assembleia Geral de 27 de novembro. Depois de meses em que as (poucas) intervenções dos dirigentes da SAD apontavam para um caminho de contenção de custos, redução da despesa e de dar passos rumo à auto-sustentabilidade, este orçamento era, é, a oportunidade de conferir se há realmente planos para isso ou se eram meras palavras. E como é hábito, resta deixar os números falarem por si - e também deixarem claro que, se queremos razões para festejar esta época, só podemos mesmo contar com Sérgio Conceição e os jogadores.


Há um ano, a SAD apontava para custos operacionais (sem despesas com passes de jogadores) de 116,5 milhões de euros - o valor final acabou por atingir os 121,8 milhões. Desta vez, a SAD prevê gastar mais do que o que havia sido orçamentado há um ano: 118,5 milhões de euros

Isto indica desde logo uma coisa: a folha salarial praticamente não baixa, apesar de ter havido um desinvestimento no plantel para esta época. A SAD prevê custos com pessoal de 69,4 milhões de euros esta época. Aliás, há uma pequena redução face ao orçamento da época passada, mas não chega aos 100 mil euros. Já em relação aos resultados finais da temporada passada, que atingiram os 73,26 milhões de euros, a redução aproxima-se dos quatro milhões de euros.

Portanto, a partir deste orçamento, concluímos que a SAD propõe uma redução dos custos com pessoal de 74 mil euros em relação ao orçamento de 2016/17 e de 3,822 milhões de euros face ao Relatório e Contas final da temporada passada. Isto leva-nos desde logo a questionar de onde saíram estas previsões particularmente animadoras. 


Além deste relato do jornal O Jogo, o site oficial do FC Porto cita Fernando Gomes: «Libertámos 26 jogadores que tinham contrato, o que nos permite já em 2017/18 uma diminuição dos custos com o plantel de 20,8 milhões de euros». De custos com plantel para salários, de 3,822 milhões de euros para 20,8 milhões, há aqui um triângulo das Bermudas qualquer, entre semântica e matemática, que faz as coisas não baterem certo. Onde está a poupança com 26 jogadores? Oportunidade para se explicar dia 27. A não ser que estejam à espera do mercado de inverno para emagrecer a folha salarial, quiçá com ativos bem remunerados que não estão a ser opção inicial para Sérgio Conceição. Especulação, nada mais. 

Os proveitos operacionais previstos também aparecem dentro da mesma linha. Na época passada, a previsão era de 98,4 milhões de euros, e ficou meio milhão acima da metade traçada. Agora, a SAD aponta para 98,8 milhões de euros. A maior fatia volta a ser esperada na UEFA, em que a SAD conta com a qualificação para os 1/8 de final da Liga dos Campeões. Mesmo havendo restrições nas opções de Sérgio Conceição e que não lhe tenham dado um único reforço para a Champions. 

Tudo isto resulta num prejuízo operacional de 19,737 milhões de euros, resultado que acaba por ser superior às previsões da época passada (18,1M€).

O resultado final esperado é então de um prejuízo de 17,277 milhões de euros (o prejuízo de 2016-17 transitará para este exercício), após serem considerados/esperados proveitos de 55 milhões de euros com transações de jogadores na próxima época. Posto isto, torna-se difícil de encontrar algo nesta proposta de orçamento que aponte para uma mudança de rumo, de redução de custos ou de aproximação da auto-sustentabilidade. Mas calma: Fernando Gomes por certo explicará, dia 27, que este é apenas o «ano zero» e que a verdadeira recuperação começará já em 2018-19. 

Coisa que nos leva a imaginar qual seria a disposição dos adeptos se um treinador do FC Porto que, estando há três anos e meio no cargo e que tenha estado envolvido nos piores resultados da história do clube, se desse ao luxo de prometer «calma que isto vai melhorar, estamos no caminho certo e a partir do próximo ano vamos começar a jogar futebol a sério». Tem tudo para correr bem. 

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Os Pentas: Outubro de 2017

Novembro já deu ao FC Porto duas saborosas vitórias, mas é tempo de análise ao desempenho do plantel em outubro último. Um mês que arrancou com um empate em Alvalade, resultado que manteve o FC Porto na liderança e cuja vantagem foi dobrada na jornada anterior. A primeira etapa da Taça de Portugal foi superada sem problemas, mas a Taça da Liga continua a ser um fenómeno difícil de compreender. A derrota na visita ao Leipzig custou, mas no Campeonato os triunfos dilatados sobre Paços e Boavista reafirmaram uma candidato forte ao título. Em mês de Taças há maior rotatividade de jogadores, o que torna mais difícil definir um top 5, mas estas são as escolhas d'O Tribunal do Dragão. 

5. Ricardo Pereira

Só jogou em três dos seis jogos do FC Porto disputados em outubro, mas curiosamente (ou não) esteve em todas as vitórias do clube. Duas assistências e um golo ao Paços de Ferreira, numa das exibições que foi das melhores a nível individual de todo o plantel esta época, e uma exibição particularmente bem conseguida na visita ao Boavista. Parece ter agarrado de vez a titularidade no lado direito da defesa e aproximou-se do rendimento de Alex Telles, embora o brasileiro continue a ser o rei dos passes para finalização, embora muito graças às bolas paradas. 

4. Moussa Marega

Continua na senda da combinação agridoce de um jogador que lidera várias estatísticas de passes falhados, más receções e bolas perdidas com muita luta, golos importantes e algumas assistências. Voltou a ser útil no Campeonato, no qual conseguiu dois golos e duas assistências no último mês, mantendo a sua contribuição de um golo por jornada. É o mais rematador do plantel (3,8 remates por jogo) e o segundo que mais faltas arranca (atrás de Brahimi), embora na Champions as suas limitações sejam mais evidentes. Na I Liga, no entanto, a sua dimensão física continua a fazer de Marega mais vezes solução do que problema, para surpresa e agrado. Estará ausente ao longo do mês de novembro e será a altura de fazer o balanço: o FC Porto é mais ou menos forte com Marega?

3. Iván Marcano

Voltou a mostrar a sua vocação goleadora, ao marcar dois golos no último mês, um na Taça e um na Champions. Apesar dos três golos sofridos na Alemanha, Marcano continua a somar exibições que combinam autoridade, inteligência e uma enorme capacidade no jogo aéreo. Tirando Maurides, irmão de Maicon e que tem uma capacidade forma do normal para jogar de cabeça, Marcano é o central que mais bolas de cabeça ganha no Campeonato e o que mais tackles ganha, com 73%. Em 11 jornadas disputadas, continua a ser notável a sua forma limpa de jogar (fez apenas 8 faltas, o que lhe dá menos de uma falta cometida a cada 120 minutos). E porque não custa lembrar: pode assinar a custo zero por qualquer clube dentro de menos de dois meses. 

2. Vincent Aboubakar

Voltou a ser o homem-golo do último mês, ao contribuir com cinco remates certeiros e uma assistência. Destacou-se no Bessa, ao inventar e finalizar a jogada do 1x0 depois de uma primeira parte fraca da equipa. Já é o 6º melhor marcador da história do FC Porto na Champions e é o terceiro portista com melhor média de golos na competição, só atrás dos heróis de Viena Madjer e Juary. Já leva intervenção direta em 38% dos golos da equipa, sendo o mais influente nesse capítulo. Na pré-época entendeu-se com Soares, depois com Marega e agora prepara-se para guiar o ataque do FC Porto a solo. Está bem entregue.

1. Yacine Brahimi

Repete a eleição de melhor jogador do mês, sem que possa haver grande surpresa. Três assistências e um golo no último mês, mas todos sabem que a magia de Brahimi não encontra meramente nos golos o melhor espelho. Foi o MVP no Bessa e em Alvalade e trata-se de um desequilibrador de uma dimensão à parte neste campeonato, com já 56 dribles eficazes, mais de metade do segundo melhor - um nome que merece atenção para o mercado de inverno... Gonçalo Paciência, com 24. É também o jogador que mais duelos ganha no Campeonato (96), tendo inclusive a melhor eficácia de 1x1 em toda a Liga - 73% dos lances resultam em jogadas de perigo. À margem da criatividade do ataque, destaca-se cada vez mais nas recuperações de posse e na forma como se envolve na primeira linha de pressão. Tem contrato até 2019, vai fazer 28 anos e o FC Porto dificilmente conseguirá, algum dia, fazer uma venda que faça jus à valia e qualidade de Brahimi. O melhor mesmo é continuar a desfrutar dela dentro de campo. 

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Um belo 31

Imaginar, no início da época, que no início de novembro o único central suplente já teria que jogar a médio-defensivo, perante a falta de alternativas de raiz no plantel, e que já haveria jogadores a acusar uma quantidade preocupante de desgaste seria coisa para motivar e justificar todo o tipo de preocupações.


Mas o saldo é este: líder à 11ª jornada, com 31 pontos, com a 2ª melhor marca da história do clube e com 4 pontos de vantagem sobre o 2º classificado; melhor ataque; melhor defesa; e uma demonstração de força e estofo mesmo quando a equipa não consegue jogar da melhor forma. No início da época perspetivava-se um campeonato muito equilibrado, com as equipas teoricamente mais pequenas a tirar pontos várias vezes aos candidatos ao título, mas o FC Porto ainda não conheceu nenhum mau resultado nesta Liga - o que não deixa de atestar as dificuldades presentes na Liga, tanto que o 2º classificado deste Campeonato já foi buscar 8 a 10 pontos (com VAR à mistura) nos minutos finais. 

Já o FC Porto, com exceção do clássico em Alvalade, nunca chegou à última meia hora sem já conhecer a vantagem no marcador. O coração agradece, ainda que na mais recente vitória só em cima do minuto 90 foi possível respirar de vez de alívio. 




Héctor Herrera (+) - Está definitivamente a atravessar a sua terceira vida no FC Porto. Quando chegou ao Dragão, Paulo Fonseca não viu nele um sucessor à altura de João Moutinho e Herrera teve uma utilização intermitente; na segunda época, brilhou com Lopetegui, mas na temporada seguinte caiu em desgraça na primeira metade da época; depois da chegada de José Peseiro, recuperou a forma e foi possivelmente o melhor jogador portista da segunda volta; com NES voltou a ser uma unidade de subrendimento, mas agora com Sérgio Conceição está novamente a recuperar o seu espaço.

Está a jogar à Costinha nas bolas paradas, escondido ao segundo poste, e foi daí que nasceu o primeiro golo; depois, já quando faltavam pernas, serviu Aboubakar para o 2x0 após uma corrida de 40 metros. Muito antes, destacou-se no passe (91% de eficácia) e na distribuição de jogo, além de ter criado 4 situações de finalização (tantas quanto Brahimi, Hernâni, Aboubakar, Corona e Galeno juntos). Falhou algumas ações defensivas, mas foi no meio-campo adversário que foi capaz de ser a diferença. Há poucas coisas que possam justificar o desaparecimento de Óliver das opções; esta exibição de Herrera é uma delas.



Diego Reyes (+) - Nota bastante positiva a jogar numa posição que é relativamente nova para si. Foi o jogador mais solicitado em campo, esteve no lance do 1x0 e não se inibiu de subir até aos últimos 30 metros, procurando empurrar a equipa para a frente. Não foi tão eficaz nos duelos individuais como Danilo (perdeu um terço das jogadas pelo ar e pelo chão), mas mostrou ser uma solução válida - se é que é possível que o 3º central seja também o 2º médio-defensivo num plantel que ambiciona lutar por todas as frentes.

Outros destaques (+) - Frieza e classe no golo de Aboubakar, que passou grande parte do jogo longe da grande área, muitas vezes descaído sobre a meia direita, a tentar abrir espaços e a arrastar os centrais. Teve apenas duas oportunidades para rematar, mas numa delas acabou com o jogo. Nota também positiva para Alex Telles, que voltou a jogar sobretudo no meio-campo adversário, criou duas ocasiões de golo e voltou a ser o jogador com mais quilómetros nas pernas. 




A bola nas costas da defesa (-) - Um novo meio-campo, o regresso ao esquema com um avançado, um Hernâni que se enquadrava bem na grande área mas depois parecia ter medo de aleijar a bola a rematar. Ingredientes difíceis para o ataque do FC Porto, mas o problema esteve na forma como a bola (não) lá chegava. Invariavelmente, a equipa abusou da tentativa de bater a bola para as costas da defesa, mesmo que o Belenenses não tivesse a equipa particularmente avançada. A tentativa de apanhar Aboubakar nas costas pelo lado direito, ou de tentar aproveitar logo a profundidade de Alex Telles, deu poucas vezes resultado. Houve dificuldades em criar e encontrar espaço e os sucessivos pontapés longos para a linha da frente não foram solução.

Mais cabeça (-) - A linha que separa os centrais agressivos, duros e impetuosos daqueles que podem deitar tudo a perder numa única entrada mal calculada é ténue. Felipe sabe, ou deve saber, que se pôs a jeito. A dificuldade na abordagem aos lances tem-se acentuado nos últimos jogos, com Felipe a expor-se demasiadas vezes ao risco - e com ele a equipa. Desta vez, ganhou apenas um terço dos lances de cabeça que disputou e foram poucas as vezes que recuperou a bola e soube sair a jogar - os lances em que mais se destacou foi quando, na grande área, não inventou e chutou para longe. Felipe já conquistou titularidade e estatuto no FC Porto, por isso são erros que se poderiam esperar quando chegou do Brasil, não agora que já tem experiência de futebol europeu. É preciso mais cabeça, até porque não nos podemos dar ao luxo de ter Felipe e/ou Marcano em má forma.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Andamento de bola parada

Líderes invictos e isolados na I Liga, com 10 bons resultados em 10 jornadas, e numa posição de apuramento para os 1/8 da Champions a 2 jornadas do final da fase de grupos? Perfeito. Se a lei da Champions diz que o apuramento se consegue com três vitórias em casa e um ponto fora, a equipa sabe o que fazer nos restantes jogos, ainda que a vitória sobre o Leipzig tenha voltado a expor o quão difícil será essa tarefa - bastou a lesão de um avançado para obrigar Sérgio Conceição a mudar o esquema de jogo. Felizmente, as bolas paradas abriram o caminho para a vitória, sendo de realçar que o FC Porto faz quatro golos dessa forma ao Leipzig, além de um tipo de golo que raramente acontece na I Liga (defesa adversária subida e espaço de 45 metros para a bola em profundidade). 

Agora o Belenenses. Istambul pode esperar. 




Danilo Pereira (+) - No seu centésimo jogo pelo FC Porto, a sua presença na grande área adversária foi decisiva. Esteve na jogada do 1x0 e fez ele próprio o 2x1, o que por si só já faz dele o homem do jogo. Defensivamente esteve quase impecável - perdeu apenas um lance de cabeça e um corte sobre Keita, sem prejuízos para a vantagem no marcador. O 4x4x2 continua a ser algo novo e difícil para um médio-defensivo que é dos melhores da Europa em 4x3x3, mas Danilo cumpriu e brilhou. Novamente.

Héctor Herrera (+) - O passe e a posse de bola é um problema para o FC Porto nesta Champions (já lá vamos), mas ninguém pensa nisso quando se pensa em Herrera. Tem jogado neste 4x4x2 por ser mais direto no seu jogo, ataca os espaços livres, pressiona, ajuda Danilo na missão defensiva e chega ele próprio várias vezes à grande área adversária. Com ou sem bola, Herrera é uma constante unidade de combate. Está novamente num bom momento e tem sido essencial no combate à inferioridade numérica no meio-campo.


Os laterais (+) - Apesar de o golo de Werner ter entrado num espaço proibido (entre o lateral e o central), Ricardo Pereira e Alex Telles voltaram a ser postos à prova e a rubricar boas exibições. Enquanto na I Liga jogam sobretudo no meio-campo adversário, na Champions têm menos liberdade para subir, mas ainda assim Ricardo e Alex chegaram várias vezes à linha de fundo e criaram seis situações de finalização. Foram os dois jogadores com mais ações com bola do lado do FC Porto. Essenciais no bloqueio do jogo exterior do Leipzig na segunda parte.

Um dia de folga (+) - Dois médios a marcar e o terceiro golo marcado por um lateral/médio-ala saído do banco. Ainda que Aboubakar tenha feito a assistência para o 3x1, é refrescante ver o FC Porto fazer golos e vencer jogos sem a marca goleadora do habitual trio africano. Não que não ver golos de Brahimi, Aboubakar ou Marega seja positivo, mas é sempre bom ver diversidade de goleadores no plantel e saber que, no dia em que os avançados falham, há mais jogadores prontos a encontrar a baliza. 




Alergia à bola (-) - Sérgio Conceição nunca escondeu que pretende impor no FC Porto um estilo de jogo mais direto, acutilante, agressivo, sempre na procura de atalhos para a baliza. E conseguiu, mas sem deixar de ser autoritário na gestão das partidas. O FC Porto é a equipa da I Liga que mais tempo joga do meio-campo para a frente, controla os jogos com bola e tenta circulá-la em toda a largura do campo. Na Champions isso não acontece. Diferentes adversários obrigam a diferentes estratégias, mas há que refletir sobre o facto de o FC Porto ser a segunda equipa que menos circula a bola na Champions (pior só o APOEL) e ser a quarta que mais passes falha (curiosamente, Mónaco e Besiktas estão no mesmo top, o que mostra que isso tem sido uma tendência neste grupo).

O FC Porto foi eficaz nas bolas paradas e soube suster as ameaças do Leipzig (José Sá só teve que fazer duas defesas), mas tem tido dificuldade em relacionar-se com a bola na Champions. Ter sido obrigado a mudar de esquema de jogo a frio não ajuda, mas permitir ao adversário ter tanto tempo a bola pode tornar-se complicado se o poderio dos adversários aumentar. E se o FC Porto tiver de facto de passar a jogar em 4x3x3, devido à ausência de Marega, não será possível jogar tantas vezes em profundidade e a tentar explorar a sua dimensão física pelo lado direito. A rever, até porque em breve haverá visita à Turquia e receções a Benfica e Mónaco. 

Do Dragão leva-se o bom resultado e o moral novamente reforçado. Agora importa vencer o Belenenses, antes da pausa para as seleções, que poderá ser útil para recuperar alguns jogadores.