quarta-feira, 14 de junho de 2017

Não é preciso mais nada

Como unha e carne. O ponto 3 do artigo 61º já desmantela a teoria de que possa haver Pedro Guerra sem Benfica. Não pode. O regulamento disciplinar da FPF é muito claro e refere-se a «dirigentes, representantes e colaboradores». Logo, quando o próprio Pedro Guerra se enuncia como um mero «colaborador» do Benfica, já está a dar reconhecimento suficiente para que o clube seja julgado pelas suas ações.


E face às últimas revelações no Porto Canal, vimos que Adão Mendes, vice-presidente da AF Braga - membro da APAF -, apelou ao administrador do Benfica Paulo Gonçalves para que a nota de Manuel Mota fosse «positiva», depois de um Marítimo-Vit. Guimarães. 

Porquê este interesse em que Manuel Mota tivesse nota positiva num Marítimo-Vit. Guimarães, um jogo que não interferia com os objetivos do Benfica? Porque no jogo seguinte que apitou na I Liga, Manuel Mota foi chamado precisamente a arbitrar o Benfica-Rio Ave

Ora, poderia ser difícil que Manuel Mota fosse chamado a arbitrar um jogo de um candidato ao título tendo nota negativa num Marítimo-Vit. Guimarães. Mas Manuel Mota lá foi nomeado para o Benfica-Rio Ave. Lembram-se do que aconteceu nesse jogo?

Podemos começar por lembrar que Roderick, ex-Benfica, não foi convocado para esse jogo, por alegados problemas físicos. Certo é que 3 dias depois foi chamado para jogar na Liga Europa e que agora foi transferido para o Wolves, uma das lavandarias, perdão, clubes geridos por Jorge Mendes. 

O Benfica venceu esse jogo por 1-0, golo de Talisca, aos 60 minutos. Golo esse que não deveria ter acontecido, pois foi precedido de uma falta por marcar de Maxi Pereira. E oito minutos depois, aconteceu isto:


Esmael Gonçalves acabou por introduzir a bola na baliza e fazer aquele que poderia ter sido o 1x1 final. Porquê tanto interesse em que Manuel Mota tivesse nota positiva? Pois assim a sua nomeação para o Benfica-Rio Ave não seria comprometia por uma má prestação numa jornada anterior. E todos constataram a imensa felicidade e circunstâncias que levaram o Benfica a esta vitória sobre o Rio Ave. 

Há também a assinalar o interesse em que Manuel Mota tivesse uma boa classificação. Afinal, não sendo Manuel Mota internacional, segundo os regulamentos só seria recomendável para arbitrar jogos de grande dificuldade se ficasse no top 12 da classificação dos árbitros. E ficou, numa posição confortável mas numa classificação particularmente renhida - bastava ter menos 0,035 pontos e Manuel Mota ficaria abaixo da classificação necessária. 

Perante estas circunstâncias e o pedido para que Manuel Mota tivesse nota positiva, vemos uma infração do ponto 1 do artigo 61º, que proíbe «comportamento ou decisão destinados a modificar ou falsear a veracidade e a autenticidade de documentos, procedimentos ou deliberações». Neste caso, a modificar a nota atribuída a um árbitro que estava na lista dos meninos queridos do Benfica.

Não é preciso mais nada para que o Benfica seja punido à luz destas normas. Apenas que os regulamentos e respetivas punições sejam aplicados. 

AGORA PARTILHEM TUDO. 

segunda-feira, 12 de junho de 2017

André Silva por 60 milhões de euros

«André Silva foi, afinal, alvo de duas ofertas milionárias durante o último defeso: uma antes da renovação e outra depois. A revelação foi realizada por Pinto da Costa durante a intervenção final na assembleia geral do clube efetuada na noite de quinta-feira, no Dragão. "O André Silva, que na altura valia 25 milhões de euros, neste momento vale 60, porque é a sua cláusula de rescisão, para a qual, se quiséssemos, já o teríamos vendido", esclareceu o presidente do FC Porto». Jornal O Jogo, 05-11-2016

Quando temos a palavra do presidente, não há muito mais a acrescentar. André Silva fez alguma coisa para que o seu passe desvalorizasse um terço? Duvidemos. A não ser que a parceria com Cristiano Ronaldo esteja a ser nociva ao seu crescimento, o que dificilmente será o caso. 

Assim sendo sobra a questão: quem diz que rejeita 60 milhões de euros por André Silva vai agora deixá-lo sair por 40? Com que lógica? O que poderá ter feito André Silva para desvalorizar 20 milhões de euros?

É bom realçar que isto não é um recado para o mercado, como a história do euro que metia para chegar aos 40 milhões de euros da cláusula de Ricardo Quaresma. Isto foi uma afirmação dita em Assembleia Geral, na cara dos associados do FC Porto.

Assim sendo, na iminência da saída de André Silva para o Milan (clube pelo qual já podia ter assinado quando tinha 15 anos, mas o próprio André Silva recusou), será particularmente interessante ouvir o que Pinto da Costa terá para dizer sobre este negócio, tanto quanto apurar se António Teixeira vai conseguir a proeza de encaixar cerca de 4 milhões de euros por um jogador que nem sequer agencia. 

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Os lesados do NES

«Quem olhou para as contas da época passada, pode ver que as contas deram um prejuízo considerável. Assumidamente, não houve qualquer surpresa, porque ficou definido pela SAD que não haveria vendas, porque o treinador de então achou que os os jogadores não deveriam ser vendidos». Fernando Gomes, 07-06-2017

Três anos de trabalho
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Lembram-se dos tempos em que se dizia que, no FC Porto, o treinador treina, o jogador joga e a estrutura cuida de todo o resto? Entrámos, aparentemente, numa nova era: aquela em que o trabalho do treinador da equipa principal do FC Porto também passa por ser responsabilizado pelos prejuízos apresentados pela SAD. 

Fernando Gomes já habituou os adeptos do FC Porto às mais surreais intervenções, desde as camisolas sem patrocinador que ficam mais bonitas aos alertas para a necessidade de uma contenção que nunca chegou a pôr em prática.

Mas esta nova intervenção, de responsabilizar o treinador (no caso, o ex-treinador) pelo maior prejuízo da história da SAD, desafiam todos os limites da compreensão que se possa ter para decisões que, no cargo que ocupa, nunca são fáceis de tomar.

Aquando da operação Euroantas, o próprio Fernando Gomes admitiu que havia a necessidade de cumprir o fair-play financeiro. E na apresentação do maior prejuízo da história da SAD (em que ninguém se lembrou de dizer que era culpa do NES - como tem sido hábito, assim que um treinador deixa o FC Porto, leva com ele culpas que nunca lhe seriam imputadas enquanto estivesse no cargo), Fernando Gomes afirmou isto: «Nas nossas conversas estamos em sintonia relativamente ao que fazer: reduzir custos e não depender da venda de jogadores. Não temo sanções mais graves».

E agora, o que admitiu Fernando Gomes? «Se o FC Porto vai ter de vender jogadores? É evidente que sim.» Era capaz de ser mais fácil encontrar sintonia e segurança numa defesa composta por Kralj, Butorovic, Stepanov, Sonkaya e Benítez do que coerência nas palavras do administrador responsável pelas finanças do FC Porto. 

Esta falta de lógica não é nova. Basta recordar as palavras de Pinto da Costa em finais de novembro. «Havia dois caminhos. Era fácil apresentar resultados positivos: no último dia [de mercado], por exemplo, ofereceram-nos 30 milhões de euros por Herrera, 40 milhões por Danilo e quiseram pagar a cláusula de rescisão do André Silva que era de 25 milhões. Aí tínhamos feito 95 milhões e em vez de apresentarmos um resultado negativo íamos apresentar um resultado positivo de 40 e tal milhões. Mas a nossa opção foi aguentar porque tivemos prejuízo, mas os ativos continuaram cá, o André Silva renovou contrato».

Pinto da Costa afirmou, nesta entrevista à ESPN, que o FC Porto recusou as vendas (e fala no plural, não numa vontade expressa de NES - Danilo sempre foi imprescindível, mas Herrera foi opção intermitente e André Silva acabou secundado por Soares nas suas opções) devido a esta razão: «Não é só pelo dinheiro, é pelo prestígio porque o FC Porto, a par do Manchester United, é quem tem mais presenças na Champions e tínhamos a Roma para tentar eliminar logo a seguir. Se perdessemos esses três jogadores em cima da pré-eliminatória, as nossas possibilidades de eliminar o adversário iam diminuir muito. Foi uma opção e conseguimos o objetivo de ir para a Champions e esse prejuízo já está menor».

Ora então. O presidente do FC Porto afirmara que a SAD recusou propostas no último dia do mercado por Herrera, Danilo e André Silva, por causa do play-off com a Roma. Falta só realçar que o play-off com a Roma disputou-se a 17 e 23 de agosto. Ou seja, o FC Porto recusou a venda de jogadores porque queria estar na máxima força para um play-off que tinha sido disputado na semana anterior? 

Perante esta organização/coerência digna de um Phasianidae de cabeça cortada, o mais fácil acabou mesmo por ser isto, pelo menos na visão assumida por Fernando Gomes: coitados dos lesados do NES, neste caso, a SAD do FC Porto. 

Mas depois de tudo isto, a principal vítima tem um nome: Sérgio Conceição, que no dia seguinte à sua apresentação no FC Porto (uma excelente conferência de imprensa, a todos os níveis, com posições fortes e esclarecedoras em todas as vertentes) recebe a notícia de que ficará privado de 3 jogadores na Liga dos Campeões. 

O FC Porto já tinha dificuldades em compor a lista A da Champions, devido à falta de jogadores formados no clube com mais de 21 anos, e agora viu a UEFA reduzir a lista de 25 para 22 jogadores, o que vai certamente limitar as opções do treinador. E não, a responsabilidade não é de Nuno Espírito Santo. Nunca será de mais renovar os votos de confiança e apoio no trabalho de Sérgio Conceição, que ainda não deu o primeiro treino e já ficou sem três jogadores. Bem vindo ao FC Porto, mister!

Este é, infelizmente, o resultado de uma das frases mais acertadas que Pinto da Costa alguma vez proferiu: «Nada tenho contra políticos que são políticos, mas quando os vejo no futebol deito logo as mãos à cabeça, cheira-me logo a esturro». Sem mais a acrescentar. 

quarta-feira, 7 de junho de 2017

O árbitro vermelho

Adão Mendes é mais conhecido pelas funções que desempenhou na União de Sindicatos de Braga do que propriamente pela sua carreira como árbitro de futebol. No entanto, no meio tinha uma alcunha particularmente curiosa. Assim o recorda o Correio do Minho.

«No mundo da arbitragem era apelidado de 'árbitro vermelho' tendo em conta a sua filiação partidária», assim o recordam. Mas afinal, parece que a alcunha de «árbitro vermelho» se justificava por algo mais do que a sua filiação partidária.

O FC Porto não usou cartilhas, indiretas ou suspeitas: apresentou provas, factos, que atestam a forma como o Benfica controla a arbitragem. Este «esquema de corrupção para favorecer o Benfica» remonta à época 2013-14, precisamente a primeira do ciclo do tetra do Benfica e logo após o último título do FC Porto. Coincidência? Cabe ao Ministério Público apurar. 

É impossível ignorar, tanto quanto ver um golo marcado com a mão através do vídeo-árbitro. Os e-mails estão aqui como estiveram as escutas do Apito Dourado (processo de existência de corrupção no futebol português que apanhou, entre outros, Luís Filipe Vieira em escutas) no Youtube. O FC Porto foi julgado nas (in)devidas instâncias, mesmo pagando o preço de Portugal terminar em Leiria, e conseguiram associar uma imagem de 30 anos de corrupção ao FC Porto por culpa de dois jogos contra dois clubes simpáticos - Beira-Mar e Estrela de Amadora -, que já nem se encontram no mapa de futebol profissional em Portugal. E, diga-se, dois jogos dos quais o FC Porto nem precisava para ser campeão em 2003-04. Só conseguiram encontrar isso? A sério?

Agora, investiguem, enquanto se aplaude a posição do FC Porto, pela voz de Francisco J. Marques, de expor a teia de corrupção com factos e voz viva. Quando os interesses comungam na defesa do FC Porto e no combate aos adversários, não pode haver outra posição possível.

É de recordar, curiosamente, a posição do então diretor de comunicação do Benfica, João Gabriel, quando Marco Ferreira deu uma entrevista ao As em que falou da forma como Vítor Pereira protegia o clube da Luz. «Um frete do As ao amigo basco», chamou-lhe João Gabriel.

Então e agora? Será que esta também é um frete ao amigo basco? Não. É apenas a forma como o tetracampeonato do Benfica está a ser visto lá fora. Sujinho, sujinho, sujinho. 

terça-feira, 6 de junho de 2017

Para afixar e refletir

«Adoro o futebol realista, pragmático, com velocidade em direção à baliza adversária. Isso é o mais difícil no futebol (...) É por isso que adoro o Mónaco, a equipa mais completa, a melhor do campeonato. Mas tenho diferenças em relação a Jardim. Ele acha que é melhor ganhar 4-3, eu penso que é melhor ganhar 1-0 (...) A única coisa que garante pontos é não sofrer golos». Sérgio Conceição, 21-03-2017, Ouest France

segunda-feira, 5 de junho de 2017

A luta de Sérgio

Estamos no defeso de 2014, marcado pela saída de Paulo Fonseca e pelo período de transição de Luís Castro. Os adeptos estavam fartos de um treinador que, no entender de muitos, não percebia «a mística». Queriam um «discurso à Porto». Queriam «garra». Queriam um treinador que parasse de confundir os nomes dos clubes e que batesse menos palmas no banco de suplentes.

Chegou Lopetegui. Época e meia depois, Lopetegui saía. E saía com os adeptos a suspirarem por alguém que representasse todos os lugares comuns: a mística, a garra, o ser Porto, o não jogar resguardado contra o Benfica.  

Depois José Peseiro chegou, viu e partiu. E adivinhem que conclusão deixou nos adeptos: que era necessário um treinador com mais garra, que não fosse mosquinha morta, que jogasse sempre para ganhar, que entendesse o ser Porto.

Chega então depois Nuno Espírito Santo, que muito apreciavam por ser um treinador «da casa», que entendia «a mística», que representava o ser Porto. NES revela-se então um treinador manso, de pouca determinação, pouca ambição e mais preocupado em ser politicamente correto do que em contra-atacar pelo FC Porto. A que conclusão chegaram muitos adeptos? Que falta garra, que falta mística, que falta o ser Porto. Que estão cansados de ver um treinador mansinho. 

Uma, duas, três vezes... E nasce o padrão. Os adeptos acabam sempre a pedir a mesma coisa. Nem todos: há quem entenda que a competência é mais importante do que a paixão, sendo certo que competência sem paixão dificilmente rima com sucesso. Mas podem ter a garantia de uma coisa: dentro de um ano, já ninguém andará a suspirar pela falta de mística ou pela falta de garra. Porque com Sérgio Conceição encontramos o expoente máximo disso mesmo: a garantia de garra, de ambição, de entendimento e conhecimento da mística. No final da época que se avizinha, só se poderá pedir uma de duas coisas: ou a sua continuidade, ou o fim da história da mística e da garra, passando a suspirar por competência. Não necessariamente apenas do treinador. 

Sérgio Conceição é então o escolhido para comandar o FC Porto, faltando todavia acertar a rescisão com o Nantes, processo naturalmente demorado e que tem muito que se lhe diga. Isto confirma, desde logo, que a SAD não tem planos de mudar e que se revela incapaz - ou desinteressada - em contratar um treinador habituado a ganhar. Podemos começar por recordar este excerto escrito a 1 de junho de 2016, dia da confirmação de NES como treinador do FC Porto. 
«No processo de escolha do treinador, é mais ou menos consensual que a escolha não seria... consensual. Nunca é, diga-se. Mas há perfis que correspondem mais às necessidades do presente do que outros.
Neste caso, a escolha de Pinto da Costa, Nuno Espírito Santo, mostra que o FC Porto não vai mudar. Vai continuar a apostar num treinador que vem para o FC Porto para tentar vencer pela primeira vez, em vez de procurar apostar num treinador já experimentado, com títulos, com experiência internacional (algo que é difícil conjugar com um bom conhecimento do campeonato nacional, diga-se), capaz de apostar em jovens enquanto faz evoluir jogadores e capaz de se ajustar a um plantel sob constantes alterações.
Não é que o FC Porto não seja capaz de os ir buscar. Claro que é, pois quem teria dinheiro para cobrir o contrato de Jorge Jesus com o Sporting, ou teve dinheiro para comprar Marega em janeiro, então tem dinheiro para um bom treinador. Não vai porque não quer, não é por não haver capacidade financeira. 
Mas Pinto da Costa insiste na sua fórmula de sempre. Como Mourinho, como Villas-Boas, como Paulo Fonseca, como Lopetegui: treinadores sem títulos a nível de clubes, com pouca experiência, que vêm para o FC Porto para tentar ganhar pela primeira vez. A questão é: o FC Porto é um clube que proporcione essas condições?»
Basta substituírem o nome de Nuno Espírito Santo pelo de Sérgio Conceição. Ou a SAD não quer, ou não consegue contratar um treinador de um perfil superior

O FC Porto não é, neste momento, um clube ganhador, que esteja a conquistar títulos e troféus. Não é um clube onde os treinadores chegam, veem e vencem. Vamos cumprir um período de pelo menos cinco anos sem títulos. Temos então o nome de Sérgio Conceição: é um treinador ganhador? Também não, ainda não conseguiu troféus na sua carreira de treinador.

Dirão que foi esse padrão que fez do FC Porto um clube vitorioso: treinadores jovens, sem títulos, que chegaram às Antas ou ao Dragão para ganhar pela primeira vez. Falta é reconhecerem que os tempos mudaram: nenhum treinador chegou ao FC Porto de Pinto da Costa após um período de seca de quatro anos sem títulos, com um Benfica tetracampeão e numa crise financeira grave na SAD. Sérgio Conceição não encontra o mesmo que José Mourinho ou André Villas-Boas encontraram: encontra um desafio muito, muito maior pela frente. 

Então. Clube que não está a ganhar + treinador que nunca ganhou... O que faz os adeptos acreditarem? Nada mais do que a mística e a vontade intrínseca de vencer. Pois se o clube não está, atualmente, numa fase vitoriosa, que exigências podem ser apresentadas a Sérgio Conceição para que ganhe no FC Porto pela primeira vez? E que condições terá ele para isso?

Não é o início de uma análise depreciativa. Pelo contrário. Para quem aprecia resultados, Sérgio Conceição deu goleada a Marco Silva, por muito boa imprensa que este último tenha tido. Quando Marco Silva chegou ao Hull, a equipa estava a três pontos da linha de água. Acabou a seis. Quando Sérgio Conceição chegou ao Nantes, a equipa estava na zona de despromoção. Deixou-a no 7º lugar, às portas da zona de qualificação europeia. Para quem privilegia os resultados como base de avaliação de um treinador, nem há discussão, pelo menos face à época 2016-17 (lógico que Marco Silva fez mais no Estoril do que Sérgio Conceição nos clubes portugueses que treinou). 

Mas a maior questão é: porquê Sérgio Conceição? É bom recordar o que disse Pinto da Costa nesta entrevista: «Quando tenho na equipa Hulk, James e Falcao, o treinador é indiferente. Com eles é difícil não ganhar. Mas entrámos num período em que não tínhamos esses jogadores nem capacidade económica para substituí-los». 

Este comentário, além de desvalorizar imenso o bom trabalho que Villas-Boas e Vítor Pereira (sem coincidência, os últimos treinadores campeões pelo FC Porto) fizeram, antecipa a questão: Sérgio Conceição vai ter um Hulk, um James ou um Falcao? Se não, então será Sérgio Conceição aquele treinador que vai elevar a qualidade de um plantel razoável, ao invés de ter um plantel que eleva a qualidade do próprio treinador?

Se o contexto económico da SAD não é favorável, não havendo perspetivas de Hulks ou Falcoes, a SAD pedirá a Sérgio Conceição aquilo que ainda não conseguiu na sua carreira: vencer como treinador. E o que faz Sérgio Conceição? Corre em direção às balas.

Ao contrário de Nuno Espírito Santo, que não fez nada na sua carreira (quer como guarda-redes, quer como treinador) sem Jorge Mendes, Sérgio Conceição subiu a pulso e trata as dificuldades por tu. Até há bem pouco tempo, Sérgio Conceição era um treinador aclamado e adorado em Nantes. E não foi fácil encontrar isso na sua carreira.

Estamos a falar de um técnico que teve problemas por todos os clubes por onde passou, não só no balneário como com os dirigentes. No Nantes, pelos bons resultados que apresentou, tornou-se um nome indiscutível e aclamado. E que faz ele agora? Tenciona abdicar de tudo isso em prol de se juntar à luta pelo FC Porto, onde sabe que qualquer treinador corre o risco de se queimar.

A vitória de Sérgio Conceição começa aqui: larga zonas de confronto para enfrentar o risco. Quer ser ele o treinador a pôr fim ao maior jejum de troféus nos últimos 30 anos. Ninguém lhe vai prometer um Hulk, um Falcao ou um James. Ou então, num contexto mais atual, ninguém lhe vai prometer um Casillas, um Maxi, um Brahimi ou um André Silva. Que faz ele? Quer abraçar o desafio. Sem pensar duas vezes, quiçá sem saber muito bem o que vai encontrar no FC Porto. 

Nenhum adepto sabe ainda se Sérgio Conceição vai jogar em 4x4x2 ou 4x2x3x1. Se vai jogar em posse, em transição rápida, se vai ser híbrido. Não é, até à data, um treinador que tenha diferenciado os clubes por onde passou com um estilo de jogo particularmente brilhante ou positivo. O Paços de Paulo Fonseca jogou melhor futebol que o Braga ou o Guimarães (apenas 8 vitórias em 2015-16) de Conceição, por exemplo. O que não é garantia de nada, mas que sugere uma coisa: o FC Porto não está, com Sérgio Conceição, a contratar um modelo ou uma ideia de jogo

Está, isso sim, a contratar sede de vencer e um homem que vai ao encontro das dificuldades, trocando o conforto pelo risco. Sérgio Conceição não é, provavelmente, a melhor escolha para treinador. Mas como homem, já começou a vencer pelo FC Porto: está disposto a queimar-se a ele próprio para tentar a reerguer o clube que aprendeu a respeitar e a amar.

Sérgio Conceição, o homem e o treinador, terá todo o apoio ao longo da sua estadia no FC Porto, sempre que esteja envolvido no compromisso de crescer e vencer. Se Sérgio Conceição falhar, não é o falhanço nem do homem, nem do treinador, mas sim do modelo e da estrutura que gere o FC Porto. Não há, por isso, pressão para Sérgio Conceição. Mas não duvidem: não será homem para fugir dela.

Força, Sérgio!