sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A continuidade de Óliver (adenda)

«É um dia feliz para o FC Porto, que confirmou a contratação de Óliver Torres. Tendo em conta que a SAD não explicou os contornos da transferência (como é claro, nunca o FC Porto manteria um jogador emprestado por meia época, logo o empréstimo de ano e meio vai ao encontro do calendário financeiro, não do desportivo), e visto que ainda não está fechado tudo o que há para fechar com o Atlético, o negócio não pode para já ser comentado além da adição desportiva. E essa não poderia ser melhor». O Tribunal do Dragão, 25-08-2016

Esta semana começou com um fenómeno curioso: propagou-se, em massa, a notícia de que o FC Porto teria que comprar Óliver Torres. Era algo em relação ao qual os adeptos mais informados já estavam ao corrente, mas de facto o FC Porto não tinha anunciado, ainda, a existência da tal opção de compra obrigatória - pelo contrário, sempre se referiu a ela como opcional.

No comunicado à CMVM, a SAD falou apenas em «opção de compra». E quando o regresso de Óliver foi anunciado no site do clube, também só foi referido que a operação permitia aos «Dragões ficarem com a opção de compra». Esta semana, no Porto Canal, já se anunciou que a opção de compra era obrigatória, como se isso tivesse sido colocado no domínio público do futebol português no momento da sua transferência. Não foi, o que não se compreende.

Adenda: eis o comunicado do FC Porto enviado à CMVM, no qual se confirma a existência de uma «opção de compra», não qualquer tipo de obrigatoriedade de compra. E o termo «opção de compra definitiva» não pressupõe qualquer tipo de obrigatoriedade. Veja-se o exemplo do empréstimo de Tello, que também chegou com uma «opção de compra definitiva». Mas o FC Porto não comprou Tello, porque não estava obrigado a isso, uma vez que era, claro está, uma «opção».

E para que não restem dúvidas, vejam o comunicado à CMVM sobre Diogo Jota. O que diz? «Mais se informa que o contrato contempla a opção de compra definitiva dos direitos acima referidos». Exatamente a mesma informação que foi prestada no comunicado sobre Óliver Torres. E agora querem fazer crer que houve diferenças? Não. O FC Porto prestou a mesma informação sobre Óliver e Diogo Jota: que havia uma opção de compra definitiva dos direitos económicos. Agora dizem que a compra de Óliver é obrigatória e que a de Jota é opcional, depois de terem prestado, à CMVM, exatamente a mesma informação sobre ambos. Fica o esclarecimento, que o clube aparentemente não quis dar. 

Prosseguindo. Era uma questão de tempo, mas está formalmente anunciado: Óliver Torres fica no FC Porto. A qualidade do jogador não merece pinta de discussão, é uma excelente adição - neste caso, uma continuidade - ao plantel. O preço, de 20M€, é normal que inquiete os adeptos, aqueles que sabem que o euro e as finanças da SAD são sempre as mesmas, entre a bola ou não na baliza - se na Liga dos Campeões isso pode fazer uma grande diferença nas receitas, em Portugal, ganhar a Primeira Liga ou não, não provoca grandes alterações nas finanças dos clubes. Por isso, a história de «se formos campeões ninguém se preocupa com as contas» só pode ser encarada como uma valente treta, porque o que está em causa é sempre o futuro do FC Porto - e portista que se preze, para não dizer «verdadeiro», preocupa-se com o amanhã do seu clube.

O facto da SAD já ter anunciado a compra de Óliver levantou a questão sobre se a operação já terá implicações financeiras no segundo semestre de 2016-17. A SAD não o esclarece, mas atente-se a este pormenor: «O contrato de trabalho com o jogador, para as épocas seguintes, será efetivado após término do contrato de empréstimo em vigor». Tendo em conta que a amortização da transferência está diretamente ligada ao contrato que o futebolista fizer com a SAD (no caso, se for um contrato a 5 anos, Óliver «custa» 4M€ por época à SAD em amortizações), se Óliver só vai ter diretamente contrato com o FC Porto a partir de 31 de dezembro de 2017, então é uma operação para ser contabilizada a partir das contas de 2017-18.

A época 2017-18 vai entrar no período de monitorização de 2018-19 do fair-play financeiro, que mantém o tal limite de prejuízo de 30 milhões de euros na soma das três épocas que o antecedem. Nessa altura, já não serão aplicáveis os resultados negativos de 40,7 milhões de euros de 2013-14, época que entra no período de monitorização que está agora em vigor. Por isso, a operação de Óliver é considerada depois do referido prejuízo deixar de o ser. Ainda assim, manter-se-á sempre a grande preocupação do resultado negativo de 2015-16, de 58,4 milhões de euros, quase o dobro do que é permitido para um ciclo de três épocas.

Óliver tem condições para fazer render o investimento. Não está a ter a influência direta que teve na época com Lopetegui, mas isso não tem a ver com a qualidade do jogador, mas sim com a forma como está a ser utilizado na estratégia de NES. Óliver já começou por ser prejudicado por só ter chegado no final de agosto, não fazendo a pré-época, e está a ser muito limitado nas suas funções ao nível do meio-campo. Vejamos os últimos três jogos de Óliver ao serviço do FC Porto.


Se olharmos para os terrenos que Óliver pisou frente ao Sporting, o que mais se destaca é a zona na qual esteve mais tempo presente: no lado esquerdo à saída da grande área do FC Porto. Óliver tinha a função de ir pegar no jogo atrás, e esteve muito mais ativo no meio-campo defensivo do FC Porto do que no ataque - até porque tinha também uma missão defensiva de enorme responsabilidade. Óliver raramente pisou o último terço do meio-campo e não teve nenhuma ação na grande área do Sporting. Agora, os passes.


Uma vez mais, nota-se que Óliver teve um papel muito interventivo sobretudo na meia esquerda. Nos últimos 40 metros, Óliver só fez 5 passes no jogo contra o Sporting. Não é por não querer subir: é por não ter instruções para o fazer. No esquema utilizado contra o Sporting, que só usava dois médios de raíz, era impossível Óliver ter um papel mais influente do meio-campo para a frente. Vejamos agora o jogo frente ao Estoril.


Novamente, o mesmo padrão: Óliver tem ação sobretudo através da meia esquerda. Neste caso, também foi várias vezes ao lado direito, mas teve novamente um papel pouco interventivo perto da grande área do Estoril. E isso também se reflete nos passes que fez.


Nos últimos 25 metros, Óliver só fez três passes e teve apenas uma ação na grande área adversária. A tendência era sempre a mesma: ir pegar no jogo no lado esquerdo. Por fim, um jogo em casa teoricamente mais acessível, frente ao Rio Ave.


Onde está o maior raio de ação de Óliver Torres? Lado esquerdo, novamente ainda atrás da linha de meio-campo do FC Porto. E quanto à zona em que fez passes...


Imaginem que Deco tinha feito carreira no FC Porto a jogar pelo corredor esquerdo. Não dá para imaginar, pois não? Mas as ações de Óliver frente ao Rio Ave mostram que a esmagadora maioria dos seus passes foram efetuados no corredor esquerdo. Longe da zona central, longe das zonas de decisão perto da grande área. Os três passes que fez nos últimos 25 metros foram todos efetuados junto à linha lateral. 

Como curiosidade, vamos ver o último jogo em que Óliver marcou pelo FC Porto, na vitória frente ao Moreirense.


A diferença em relação aos últimos três jogos? Aqui, Óliver Torres teve na zona de maior intervenção o meio-campo do adversário, em vez dos primeiros 25 metros do meio-campo do FC Porto. Pôde jogar mais à frente, esteve um pouco mais influente em zonas interiores e também chegou à grande área - onde teve a hipótese de fazer o 1x0. 

Não, Óliver não está pior jogador: está simplesmente a ser usado de maneira diferente em relação àquele que era o seu papel na época 2014-15. Óliver está a jogar muito mais sobre a meia esquerda e mais distante da grande área, o que lhe retira sobretudo a possibilidade de fazer o último passe no meio-campo adversário. Até porque no que toca ao número de remates, a diferença não é assim tanta. Uma comparação em relação ao que foi o desempenho de Óliver na sua primeira época com o que está a ser nesta temporada.


O que se destaca? Menos passes de Óliver para ocasião, menor eficácia de passe no meio-campo adversário... e menos trabalho defensivo, apesar de nesta época estar a jogar em zonas mais recuadas. Há que ter em conta que Óliver teve uma eficácia brutal na sua primeira época no FC Porto - nesta altura, era o jogador com maior aproveitamento de remates enquadrados, com 69%, à frente de Danilo e Jackson (45%), e era também o jogador com mais eficácia em remates/golos, com 46%, à frente de... Martins Indi (33%). Desta vez, não está, simplesmente, a ter um papel tão influente perto da grande área do adversário. 

É algo que lhe falta, mas também é algo que o modelo de jogo utilizado nesta época torna impossível que Óliver o faça. A não ser que esperem que Óliver vá à meia esquerda no início de construção, corra para o meio-campo adversário, faça o último passe, corra para a grande área e o próprio apareça para finalizar. 

Já as contas do primeiro semestre terão que ser divulgadas até ao final de fevereiro, o que já permitirá fazer um melhor enquadramento entre esta operação, o fim do pagamento do Estádio do Dragão (faltavam três prestações inferiores a 3,5 milhões de euros, o prazo de pagamento terminaria no próximo ano) e o presente e futuro imediato das finanças da SAD. Até ver, dará jeito ter o melhor Óliver em Guimarães. Ou NES pode até sacrificar o melhor Óliver, desde que isso resulte num melhor FC Porto. 

10 comentários:

  1. É, custa ver um talentoso jogador tão distante da zona onde poderia decidir. Mas vejamos a coisa por outro prisma: é jovem, está a ter oportunidade de jogar sempre e aprender dinâmicas mais defensivas que o vão, certamente, tornar num jogador mais completo (Deco - e não é para comparar - até aparecer F.Santos, era só um jogador jeitoso). Se não for com este, sê-lo-á com outro treinador, aqui, no FC Porto.
    As contas, é ver para crer...

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  2. o terceiro parágrafo está totalmente equivocado e induzirá em erro os mais incautos:
    a 25 de Agosto de 2016, no Comunicado enviado à CMVM, a $AD portista refere taxativamente que «o empréstimo do Óliver «contempla a opção de compra definitiva» dos direitos desportivos do jogador por 20 M€ (vinte milhões de euros)».
    é favor conferir aqui.

    Miguel | Tomo III

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    1. Precisamente: opção de compra. Opção, não obrigação.

      Uma compra é sempre definitiva, não se compra apenas temporariamente, logo o «definitiva» não pode ser a palavra que separa a opção da obrigação.

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    2. O termo "opção de compra", definitiva ou não, é ridículo se houver obrigatoriedade. Ou tens opção, ou não tens. O Porto não tinha a obrigatoriedade de comprar, logo o termo "opção" foi anunciado por burrice, ou para enganar os incautos.

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  3. Feliz pla continuidade de Oliver apesar do preço elevado. Mas antes 20M por um jogador de classe, jovem e que gosta do clube do que 10 ou 15milhoes distribuídos por jogadores que nunca serão mais valias.

    Neves

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  4. Acho que a SAD já terá acordadas grandes vendas. Possivelmente André Silva e Danilo ou Brahimi.

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  5. A "menor influência" do Oliver deve-se exatamente a uma questão tática e ao estilo de jogo do Porto do NES. O facto de jogarmos com menos um médio, per si, já obriga a que pise terrenos mais recuados, mas acima de tudo, o estilo de jogo mais direto do NES (levado talvez ao exagero no jogo contra o sporting) versus o estilo de jogo demasiado "mastigado" do Lopetegui, faz com que a construção de jogo seja feita numa zona mais recuada e que haja menos trocas posicionais entre os dois médios nessa mesma fase (à semelhança do que acontecia com os dois pivots defensivos, Fernando e Defour, na era Paulo Fonseca).

    É verdade que custa ver um jogador com tamanha capacidade de tornar simples o que é complicado, a jogar tão longe da área contrária, mas a chave é a última frase do vosso texto, e o melhor Oliver talvez nao seja o melhor para o Porto neste momento, e para já, ele está onde o Porto mais precisa dele e da sua capacidade de decisão muito acima da média (que tanta falta nos fez no início desta temporada).

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  6. Se bem me lembro, o que foi divulgado na altura foi a opção de compra obrigatória, ao contrário do Diogo Jota que veio apenas com opção de compra. Opção de compra definitiva pressupõe compra obrigatória, o que se confirmou estes dias mas que poderia ser realizada mais tarde. Não custa nada admitir o erro e corrigir no texto uma informação que está errada, de forma a que este seja mais que uma opinião com dados estatísticos credíveis mas também uma informação verdadeira, que é o que se pede a quem escreve num blogue deste cariz. Ricardo Gomes

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    1. E o disparate continua. Informe-se, Ricardo.

      http://web3.cmvm.pt/sdi/emitentes/docs/FR61377.pdf

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    2. Opção de compra definitiva obrigatório não tem lógica. Qual é a opção?

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