quinta-feira, 30 de junho de 2016

Sem mais a acrescentar


«Espero que ele fique muitos anos no FC Porto. O Rúben tem contrato até 2019 e não até 2017, como por vezes vejo escrito, e nós gostaríamos de o manter no clube, como uma espécie de João Pinto. Ou seja, que ele fosse um símbolo da transmissão da mística por várias gerações. Nunca quererei que saia do FC Porto». Pinto da Costa dixit. 

Sem mais a acrescentar. Boa quinta-feira, 30 de junho, último dia da época 2015-16 da SAD. 

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Obrigado, Helton

Helton terminou a sua carreira de guarda-redes no FC Porto, após 11 anos no clube. Por outras palavras, deixa de haver mobília no balneário. Herrera, que até pode deixar o clube nas próximas 24 horas (o FC Porto tem que vender jogadores - plural - até amanhã), passa a ser o elemento com mais anos consecutivos na equipa principal: apenas três. 

O FC Porto começou a época 2016-17 com a garantia de que terá um plantel renovado, com poucos anos de casa e sem que a grande maioria saiba o que é ganhar um título com este clube. Uma época que pode e deve ser encarada com confiança e otimismo, mas com muita água na fervura, pois é uma realidade sem igual na história do clube.

Mas falemos de Helton. Era um desfecho previsível. Nenhum clube pode ter Casillas sem que seja para a equipa titular. E Helton não iria aceitar uma terceira época consecutiva a ser suplente por opção, muito menos aos 38 anos. 

É óbvio que isto levanta questões sobre a renovação de contrato, em 2015. Helton renovou por dois anos, quiçá na altura a pensar que recuperaria a titularidade, e um mês depois o FC Porto apresentou Casillas. Por melhor relação que os guarda-redes pudessem ter (por norma, os guarda-redes são sempre dos elementos com melhores relações nos grupos de trabalho, por treinarem sempre juntos, à parte, com o mesmo treinador), Helton sempre foi um jogador orgulhoso. Extremamente orgulhoso, que nunca aceitou a sua passagem a número 2 das balizas. Mas o próprio devia lembrar-se que Vítor Baía, o melhor guarda-redes da história do futebol português, passou a número 2 depois de dar um frango contra o Estrela da Amadora. E teve que aceitar essa passagem de testemunho pouco digna. 

A contratação de Casillas fez Helton sentir que a sua história no FC Porto estava a ser pisada. Estamos a falar de um guarda-redes com 18 títulos e que tinha superado uma lesão que, para muitos, era sinónimo de final de carreira. Helton sentia-se preparado para continuar a jogar ao mais alto nível. Com Casillas, isso já não foi possível.

Já antes, a partir do momento em que estava recuperado, reclamava o lugar de Fabiano. Helton, apesar da sua postura de humildade e bondade, sempre foi um jogador a conviver muito mal com o estatuto de suplente. Um guarda-redes suplente tem que ter grande paciência, pois é uma condição que o pode acompanhar toda a época. Mas uma coisa é não aceitá-la, outra é conviver mal com ela. Helton seguia a segunda. 

Helton sempre se sentiu importante, muitas vezes acima do próprio treinador. Porquê? Estamos a falar do guarda-redes com 18 títulos, que ganhou muito no FC Porto. Quando se vê ultrapassado por quem nada ganhou no clube, e a receber ordens de treinadores que não só fizeram nada no clube como no futebol, toma-se por um inconformismo pouco saudável.

Desde a sua lesão, Helton não voltou a ser o Helton. Sucederam-se comportamentos que não condizem com a braçadeira de capitão do FC Porto. A mensagem enigmática nas redes sociais (1993-2014), a flash-interview em que deu recados internos (ao dizer que não estava gordo e não estava acabado), a entrevista em 2015 em que o silêncio sobre o treinador acaba por ser demasiado barulhento (simples: pedia ao jornalista para não publicar nada que fosse para falar sobre o treinador, não a sua resposta tão vaga), e a mais recente entrevista (uma vez mais a falar na terceira pessoa para mandar recados internos). Não lhe fica nada bem.

Dito isto, condenar a memória curta não deveria servir apenas para escudar quem usa fato e gravata, mas sobretudo quem suou em campo pelo nosso emblema. Não podemos nunca esquecer o papel de Helton enquanto foi o número 1 da baliza do FC Porto. Conquistou 18 títulos, e em 8 anos ganhou 7 campeonatos. Provavelmente, passarão largos anos até virmos um jogador ganhar 7 campeonatos em 8.

Helton foi tudo aquilo que um capitão do FC Porto nunca foi. Como assim? Alguma vez imaginaram João Pinto ou Jorge Costa a tocarem cavaquinho num estágio? Claro que não. Helton era um capitão diferente. Não era aquele capitão que levantava a voz, que puxava os mais novos pelas orelhas, que dava o murro na mesa. Era o capitão da proximidade, que tinha um sorriso, uma palavra de força, uma palmadinha nas costas. Foi uma abordagem diferente, mas foi com esse perfil que Helton chegou a capitão do FC Porto. E foi um bom capitão.

Uma das últimas imagens de Helton enquanto número 1 das balizas foi em 2014, em Guimarães, quando o FC Porto empatou antes de Paulo Fonseca sair. Quando o jogo acabou, os jogadores foram todos para o balneário; Quaresma pontapeou a bola para longe e desatou aos pontapés no corredor de acesso aos balneários. Só um jogador ficou no relvado para agradecer aos adeptos: Helton. E nesse dia não foi o capitão do sorriso e da palmadinha, pois quis ir obrigar os colegas a irem agradecer aos adeptos. Nélson Puga teve que acalmá-lo.

Helton conseguiu criar uma empatia sem igual com os adeptos. O que o levou até a merecer o respeito, como nenhum outro jogador do FC Porto, por parte dos adversários, como foi exemplo a ovação em Alvalade. Mesmo que tenha tido também atitudes infelizes, e do Helton que era o guarda-redes titular não ser o mesmo que o Helton que era suplente, é um nome que está na história do FC Porto.

Por isso, é de esperar algo mais do que o seco comunicado do FC Porto, onde não se lê um simples «obrigado». Já toda a gente sabe os títulos que ele ganhou pelo FC Porto. Não é tempo de enumerá-los, mas sim de deixar o devido agradecimento. 

Fica a sugestão: chamar Helton ao palco no jogo de apresentação para 2016-17, no Estádio do Dragão (o mesmo que foi feito a Pedro Emanuel em 2009). Simples e digno. Uma ovação, de pé, na casa onde foi feliz. A coisa mais fácil e adequada do mundo. Dar o microfone a Helton e ouvir a sua última mensagem para os adeptos. Porque o FC Porto tem muito a agradecer a Helton, mas Helton também muito a agradecer ao FC Porto.

Dia 6 de agosto é o dia para o fazer. É o dia de agradecer a quem fez história no FC Porto. A quem faz parte da história do FC Porto.

Bom descanso, capitão. 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Joey Tempest está a chegar ao refrão

Não há adepto - adepto, não os populares cidadãos que se revelam em certames que envolvem a seleção nacional - que não sinta um vazio neste momento. A ânsia de que comece a pré-época e que o plantel comece a ganhar forma é superior a tudo.

Não há Europeu que possa preencher um adepto. Nós vivemos o dia a dia de um clube. Todas as semanas sofremos com esse clube. Temos rivais identificados e eternos. Uns são sócios desse clube, outros assumidos treinadores e/ou dirigentes de bancada que não passam sem debater a atualidade desse clube. Defendem, criticam, analisam. Já vibrámos com as conquistas desse clube e ultrapassámos as muitas derrotas. 

Não há comparação possível com uma seleção, seja ela qual for. Vemos essa seleção disputar uma grande competição de 2 em 2 anos. Não acompanhamos a atualidade da mesma, que só joga de meses a meses. Não há um rival claramente definido na luta por uma competição. Não há um estádio que possamos dizer que é a nossa casa. E a discussão mais recorrente parece ser sempre se deve jogar o jogador do clube A em vez do jogador do clube B. Não há paixão quando joga uma seleção. Nada que se pareça com a paixão de acompanhar um clube desde a infância.

Dizer «tenho orgulho em ser zimbabweano» é uma das coisas mais intrigantes da humanidade. É a mesma coisa que afirmar que tenho orgulho em ter nascido no Santa Maria. Que tenho orgulho em que me tenham cortado o cordão umbilical com uma tesoura Schumacher. Que tenho orgulho em que me tenham embrulhado num cobertor branco. Que tenho orgulho em ter nascido já com cabelo: nenhuma dessas escolhas foi feita por mim. Estava assim, pré-definido, desde o início. O orgulho deveria estar reservado para os feitos, as conquistas, as escolhas e o percurso que fazemos. Não pelo que é decidido sem a nossa intervenção.

Não ter orgulho em ser-se zimbabweano não é um atentado à pátria: é normal. Ninguém escolheu ser de determinada nacionalidade, por mais que se goste de determinado país ou cultura. Nasceu assim, pronto. E isso não diz nada da pessoa. E a partir daí, salvo alguma radicalização, estamos destinados a apoiar sempre o mesmo país. 

Com os clubes isso não é assim. Ninguém está condenado, ao berço, a ter que apoiar o mesmo clube. Reparem que todos os bebés choram quando nascem. Há quem diga que, de facto, as mães dão à Luz, que dá nome ao estádio do Benfica. Pois, é essa a causa de tanto choro: a ofensa por as nossas mães terem dado à Luz, em vez de terem dado ao Dragão. A escolha começa aí.

Seja por influência de um pai, um avô, amigos, a paixão por um clube constrói-se. Não são raros os casos de quem é adepto de um clube durante a infância, mas depois muda. Ou cresce. Escolhemos acompanhar um clube para toda a vida. Viver com ele o dia a dia, a pensar nele, a sofrer com ele. É algo que nunca existirá com uma seleção. Por mais que possamos ter orgulho quando entoamos Kalibusiswe Ilizwe leZimbabwe.

Quem se entusiasma, de facto, com o futebol de seleções talvez mate um pouco o bichinho. Para outros, é um defeso parado. Poucas mexidas no mercado de transferências, pois está tudo concentrado no Euro 2016 e na Copa América. O habitual.

Quando Lopetegui deu o primeiro treino, a 3 de julho de 2014, só tinha como jogadores novos Sami, Evandro e Óliver Torres. Era ano de Mundial 2014. Em ano de Euro 2012, Vítor Pereira começou a pré-época sem qualquer contratação, e só a 7 de julho recebeu a confirmação de que ia ter Jackson Martínez. E com Villas-Boas, em ano de Mundial 2010, no arranque de julho só havia Souza e Sereno. 

Nuno Espírito Santo, para já, tem Felipe, João Carlos Teixeira e Zé Manel (o único que a SAD ainda não confirmou) contratados. E falta uma semana para o final de julho. Ou seja, Nuno não tem menos caras novas do que tiveram Villas-Boas, Vítor Pereira e Lopetegui. E o facto de, a 24 de junho, ainda não haver muitos reforços confirmados não significa que a SAD não esteja a trabalhar nessa questão: simplesmente, em anos de Europeus ou Mundiais, é sempre assim. As coisas são tratadas mais lentamente, a pré-época arranca com poucos reforços e muitas dúvidas. Estranho era que 2016 fosse diferente.

Além disso, neste momento a maior preocupação é outra. Falta uma semana para o final do mês e da época contabilística 2015-16. Ou seja, a SAD terá forçosamente que vender jogadores nos próximos dias, de modo a cumprir o orçamento. Ainda que as provas na UEFA tenham deixado um buraco de cerca de 15M€, a maior preocupação é o resultado com transação de jogadores. 

Orçamento para a época 2015-16
Estavam orçamentos 72,591M€ e, no final do terceiro trimestre, a SAD tinha apenas 29,989M€. Ou seja, só para cumprir esta rúbrica, são necessários 42,6M€ nos próximos dias. O que está em causa não é apenas cumprir o orçamento, caso contrário não surpreenderia que o prejuízo transitasse para a próxima época, como foi feito com os buracões de 2011-12 e 2013-14. Neste caso, o que importa é o fair-play financeiro, pois a SAD não pode apresentar resultados negativos de mais de 8,6M€. 

Ontem vimos que a UEFA manteve o Galatasaray fora das competições europeias, devido a irregularidades no fair-play financeiro. O facto de o Sporting não ter sido excluído da Champions (antes disso há outras punições mais leves) provocou algum relaxamento na maneira como o fair-play financeiro é encarado, mas não devia. 

A UEFA monitoriza as contas do Sporting, penhorou os prémios da Champions e há um limite de 22 jogadores inscritos na lista A, ao invés dos habituais 25. Além disso, o Sporting fez uma grande reestruturação financeira, algo que não aparece no horizonte da SAD do FC Porto. Basta dizer que o Sporting, no final do 3º trimestre, gastou menos 17,7M€ em salários do que o FC Porto e gasta metade nos Serviços e Fornecimentos Externos (14,4M€). Isto entre duas SAD que geraram quase as mesmas receitas operacionais (57,4M€ para o FC Porto, 54,8M€ para o Sporting).

A operação Euroantas, ao contrário do que alguns ainda temem, já não vai ser repetida, pois não há tempo de o fazer até ao final de junho. Logo, o que tem que assegurar a concretização das mais-valias necessárias será mesmo a venda de jogadores. E ainda que a SAD já tenha começado a recorrer às receitas do patrocínio da MEO/PT (hipotecadas até 2017), o contrato de direito televisivos só entra em vigor a partir de julho de 2018. 

Como quando o orçamento foi elaborado a Altice e a NOS ainda não estavam decididas a apostar no futebol português, e como não haveria justificação para ir buscar receitas de 2018 para pagar o buraco de 2015-16, a SAD não iria nunca pensar nas receitas televisivas para pagar o orçamento esta época. Nas palavras de Fernando Gomes, o «contrato com a  PT permite gerir o FC Porto de outra forma». Isso foi entendido com um passo rumo à sustentabilidade, não como forma de hipotecar o futuro para tapar buracos do presente.

Uma semana de decisões para o presente e futuro do FC Porto. Nos próximos dias, não é tempo de pensar na porta de entrada, mas sim na de saída. Nem que seja para o Zimbabwe. It's the final countdown. E vá, que Portugal ganhe à Croácia. Celebrarei quase com a mesma satisfação como quando Sonkaya, Ibson e Ivanildo fizeram uma triangulação no Bessa antes de Hugo Almeida cruzar para a cabeça de Sokota, na última jornada de 2005-06. Foi um grande momento. 

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Análise 2015-16: os avançados

Não foi um ano fácil para os avançados do FC Porto. Aboubakar, Osvaldo, André Silva e Suk, juntos, marcaram 24 golos. Sozinho, Jackson Martínez marcou mais golos em qualquer uma das três épocas em que representou o FC Porto. Entre o começo auspicioso de Aboubakar, a aposta completamente falhada em Osvaldo, a entrada de Suk num comboio que já descarrilava e o sinal de esperança de André Silva no fim da época, ninguém conseguiu verdadeiramente fazer esquecer Jackson Martínez. É caso para dizer: tínhamos um ponta-de-lança que valia por quatro. 

Há qualidade e potencial para um futuro mais animador (Rui Pedro, enfim, renovou, depois de ter sido encostado a meio da fase final do nacional de sub-19), mas pensar na época 2015-16 nunca vai ser pensar em grandes goleadores do FC Porto. Mas oxalá que seja pensar naquela em que um deles começou a dar os primeiros passos.

Aboubakar - Foi um regalo ver o seu início de época. Aboubakar era um jogador capaz de tudo. Confiante, desinibido, influente, goleador. Uma fera. Depois, ao primeiro momento menos bom da equipa, o efeito Aboubakar começou a desaparecer. Não voltámos a ver aquele jogador que pegava na bola, virava-se para a baliza, encarava o adversário e deixava todos os adeptos na expetativas de algo de bom. Por mais estranha que a afirmação possa parecer, Aboubakar é demasiado... bom rapaz. É demasiado humilde e deixa-se abater com facilidade. Há outra expressão, concentração competitiva. Aboubakar é um jogador com dificuldades em revelar-se no momento adverso. Perde a confiança com demasiada facilidade. E assim é difícil aguentar-se num clube como o FC Porto, onde há sempre exigência máxima. Aboubakar tem que ser mais forte mentalmente. 
Contrato até 2018

Nuno disse que o FC Porto deve continuar a jogar em 4x3x3. As caraterísticas de Aboubakar são mais convidativas para um 4x4x2, no papel de segundo avançado. Aboubakar não é o típico ponta-de-lança que pode ficar entre os dois centrais e ser referência na grande área. Aboubakar é mais forte quando se liberta, quando recua, dá apoio aos médios e embala para o ataque. Não significa que não se possa adaptar ao 4x3x3, pois já o vimos brilhar nesse esquema, mas dependerá muito do uso que Nuno der ao ponta-de-lança.

A SAD tem 37,5% a 40% do passe de Aboubakar (surgem as duas informações no último R&C), pelo que uma eventual venda não seria rentável. Faz todo o sentido que Aboubakar continue no plantel (atenção ao contrato). Tem potencial e valia para evoluir. Acima de tudo, tem que ser desenvolvido um trabalho a nível mental. Aboubakar tem que ser mais confiante, mais arrogante (no bom sentido), mais duro. Tem que ser mais à Porto. Que ninguém diga que não tem potencial para vingar, pois tem. Falta o resto.

Suk - Podemos recuperar uma análise antiga d'O Tribunal do Dragão: «Suk é um jogador que agrada aos adeptos pela raça, por ser muito combativo e não dar uma bola por perdida. Mas não iria ser ele a solução para a falta de golos do FC Porto. Suk não garante mais golos do que Aboubakar (...) Suk movimenta-se bem na grande área e é forte no jogo aéreo, mais até do que Aboubakar, mas tem dificuldade em jogar sem espaço, contra linhas defensivas recuadas, demora a soltar a bola e é difícil para ele jogar de costas para a baliza. É um jogador com algumas qualidades, mas seria difícil formatá-lo para encaixar no FC Porto em janeiro.»

Contrato até 2020
Foi uma contratação ao encontro das expetativas. Suk não tinha caraterísticas para chegar e encaixar na equipa em janeiro. É um jogador que tem escola, que tem coisas interessantes, mas que não era melhor do que quem cá estava e nunca tinha jogado numa equipa com o modelo do FC Porto. Fez coisas interessantes na Madeira e no Setúbal, mas se lá estivesse Aboubakar também faria. 

Os adeptos gostam de Suk pela forma como ele pressiona os defesas e se movimenta na grande área. Mas conforme esperado, não consegue jogar quando não tem espaço. É difícil para Suk libertar-se da marcação, vir atrás tabelar, jogar em espaço curto. Numa equipa como o FC Porto, que assume o jogo, um jogador como Suk terá sempre dificuldades. Podia ter tido mais algumas oportunidades, mas entre André Silva e Aboubakar, era naturalmente a 3ª opção para o ataque. Pode perfeitamente fazer a pré-época (não faz sentido algum, aliás, que quem chega em janeiro, mês de «reforços» e não meras «contratações», já não sirva no final da época - isto também deveria servir para Marega, que custou mais do dobro de Suk), mas só com uma grande evolução pode enquadrar-se no plantel. Custou 1,5M€ por 70% do passe. Não foi o mais caro dos reforços, mas há que tentar rentabilizar a aposta. Mas entre Suk e Gonçalo Paciência (será analisado juntamente com os emprestados), o sul-coreano só ganha em experiência e agressividade.  

Contrato até 2019
André Silva - Foi considerado o 3º melhor jogador da época pelos leitores d'O Tribunal do Dragão. É um facto que os resultados podem estar um pouco inflacionados pela final da Taça de Portugal, mas agora percebem o porquê de, há dois anos, o TD ter defendido que era essencial amarrar André Silva. Já não é só futuro: é também presente. André Silva tem tudo o que um ponta-de-lança precisa de ter. É forte fisicamente, bom de cabeça, rápido, tem capacidade no um para um, é agressivo, consegue finalizar com os dois pés e consegue jogar tanto em profundidade como mais longe da grande área. É um avançado completo, é nosso, é portista.

O primeiro golo custou a aparecer, mas aquele bis no Jamor não foi nenhum momento Rodrigo Tiuí (que também marcou de bicicleta numa final da Taça). André Silva é capaz disto e de muito mais. Terá que continuar a ser humilde, trabalhador e profissional. Tem condições para começar a disputar o lugar na pré-temporada. A contratar alguém para o ataque, não faz sentido que venha alguém que não seja melhor do que André Silva (como aconteceu em janeiro); mas vindo alguém melhor, poderia tapar André Silva. Mas a questão é mesmo essa: que ponta-de-lança melhor do que André Silva o FC Porto poderia arranjar a curto/médio prazo? Sinceramente, não vale a pena pensar nisso. Quem já tem um leão não precisa de ir à savana. 

Pergunta(s): Partindo do princípio que o FC Porto jogará em 4x3x3, quem deverão ser os três pontas-de-lança para 2016-17?

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Realidades diferentes, realidades iguais

Sempre ouvimos, e é sabido, que não há comparação entre o poderio económico dos clubes ingleses e o dos clubes portugueses. Por exemplo, a Premier League acabou de pagar 117 milhões de euros ao Leicester, entre direitos televisivos, prémio de participação, classificação final e outras variáveis. O Arsenal foi quem mais ganhou: 126 milhões. E o Aston Villa, a pior equipa, levou para casa 83 milhões de euros.

Isto não são as receitas totais de um clube: é somante aquilo que a Premier League paga aos seus clubes. Só o Aston Villa, através das receitas da Premier League, ganha mais do que todas as receitas operacionais do FC Porto para a época 2015-16 (57M€ ao fim do terceiro trimestre).

Não há comparação possível. Daí que também seja interessante perceber se essa diferença se reflete no mercado de transferências, nomeadamente nas intermediações pagas a empresários. Os resultados são no mínimo curiosos.

Valores em milhões de euros
Como referência, estão identificadas as receitas e comissões pagas pelos 8 clubes mais ricos da Premier League em 2014-15. No caso de FC Porto e Benfica, estão contabilizadas todas as receitas de 2014-15 (receitas operacionais e mais-valias com jogadores), enquanto que no que toca às comissões estão incluídos os números revelados pela FPF. Números precisos, por se referirem unicamente a comissões.

Por exemplo, algumas análises às contas do FC Porto indicam que a SAD pagou 13,17M€ em comissões nos primeiros 9 meses desta época. Não é verdade. Não é verdade pois os «encargos relacionados com aquisições de passes de jogadores» não incluem apenas comissões, há também prémios de assinatura para os jogadores, serviços jurídicos/legais, direitos de imagem e afins. Daí que não seja possível, através do R&C, aferir quanto foi de facto para empresários.

O período em análise da FPF não se refere a uma época desportiva completa, mas sim a um ano, de 1 de abril de 2015 a 31 de março de 2016. Ou seja, isto inclui todas as contratações feita para a época 2015-16, mais as contratações de janeiro. Já as receitas são referentes à época desportiva 2014-15 completa.

A primeira conclusão é que FC Porto e Benfica pagam comissões acima dos clubes ingleses na relação receitas vs. pagamentos a empresários. Liverpool, Manchester United, City, Chelsea e Arsenal têm obviamente mais despesas, pois falamos de clubes que conseguem contratar um jogador por mais de 40, 50 ou 60 milhões. Mas as suas receitas são imensamente superiores. Logo há um despesismo acima da média da Liga Inglesa levado a cabo por FC Porto e Benfica.

É claro que as comissões têm relação direta com as transferências, não com as receitas. Mas a capacidade de um clube investir em transferências está diretamente ligada às receitas que gera. Um clube com menos receitas não tem tanta disponibilidade para o mercado e, consequentemente, para despesas com intermediações.

Na relação comissões vs. aquisições, as despesas são muito mais elevadas. Para o 3º trimestre de 2015-16 houve um impacto de 23,5%. Em 2014-15, 12,85%. Em 2013-14, o recorde, 25,07%. A época 2013-14 foi a mais saudável, com apenas 5,45%, depois de em 2011-12 ter sido de 19,55%. Tendo em conta que a política do FC Porto, anunciada pelo próprio presidente, assenta em comissões de «5 a 10%», vemos que os números estão acima da média.

Sobretudo porque é fácil enquadrar uma comissão de 5 a 10% numa transferência, mas nas renovações de contrato ou na contratação de jogadores a custo zero já não há um valor movimentado para se definir a tal percentagem. 

Neste momento, a média do FC Porto na relação aquisições vs. encargos é superior à de clubes como Manchester City (7,67%), Manchester United (12,54%) e Liverpool (16,10%), tendo como referência os seus negócios de 2014-15. Estamos a falar de clubes com capacidade de receitas imensamente superior. 

De realçar que a época 2014-15 foi aquela em que a SAD teve maiores receitas (com o recorde de 82,5M€ em mais-valias e receitas operacionais de 89,2M€). Ou seja, a percentagem de 6,3% é muito conservadora. Pois se estivesse relacionada com as receitas de 2015-16, seria certamente superior. 

Em 9 meses, o FC Porto chegou sensivelmente a metade das receitas de 2014-15. Nos primeiros nove meses, a SAD gerou 93,4M€. Para surpresa de alguns, o FC Porto não foi o clube que, globalmente, mais gastou: esse continua a ser o Benfica, que no 3º trimestre teve custos totais de 131,6M€, mais 200 mil euros do que o FC Porto. Mas o Benfica gerou receitas de 122,3M€, essencialmente graças à grande diferença de proveitos operacionais (95,4M€ para 57,4M€), agravada pelos resultados na Champions. 

Um clube português gastar mais das suas receitas do que um endinheirado clube inglês em serviços de intermediação não rima com sustentabilidade. Bons exemplos? Uma vez mais, a época 2010-11. Ou até a época 2012-13, que teve encargos de 5,45% de um total de 46,5M€ em aquisições. Ou qualquer uma das épocas do ciclo do último tetracampeonato. Ou pouco/nada do que foi feito nos últimos três anos. Viver à grande e à inglesa é que não.

PS: Sejam dadas as boas-vindas a João Carlos Teixeira e Felipe, oficialmente confirmados como jogadores do FC Porto. É essencial os reforços começarem a pré-época tão cedo quanto possível, sobretudo por se tratar de uma nova realidade para ambos. Estando já duas caras confirmadas, falta esclarecer o caso de Zé Manel: nem anúncio de contratação, nem desmentido da mesma. Decidam-se.

domingo, 12 de junho de 2016

Uma aposta interessante

Falta passar o acordo para o papel e assinar, mas já se pode colocar a questão: o que pode João Carlos Teixeira acrescentar ao FC Porto?

João Teixeira era a estrela da última equipa do Sporting a ser campeã de juniores. Havia outros talentos, como Ilori, João Mário ou Bruma, mas João Teixeira estava um passo à frente dos outros, mesmo que no primeiro ano de sub-19 tenha tido uma grave lesão, que poderia ter comprometido a sua evolução.

Recuperado da lesão, bastou meia época em 2011-12 para o Liverpool o contratar. Por si só, não é um atestado de qualidade, pois há muitos jovens portugueses nas camadas jovens de clubes ingleses que não atingem um grande nível. Mas João Teixeira é um daqueles casos que não engana.

É daqueles jogadores que conseguimos apreciar pelo simples facto de receberem a bola. Elegante, joga de cabeça levantada, movimenta-se a toda a largura do meio-campo, assume o jogo, chega bem à grande área, não é muito forte fisicamente mas é agressivo e pressiona com intensidade, dá verticalidade ao jogo da sua equipa. Tudo caraterísticas interessantíssimas.

Chegado a Liverpool, mais problemas físicos. Tinha uma fratura nas costas que só foi detetada quando fez os exames médicos. O Liverpool não deixou de o contratar, mas esteve mais de meio ano parado. Duas lesões no espaço de dois anos para um sub-19 não é fácil de ultrapassar.

As lesões explicam um pouco do porquê de João Carlos Teixeira ser tão elogiado na formação do Liverpool, mas sem nunca ter jogado assim tantas vezes na equipa principal. Em 2014-15 fez uma boa época no Championship, ao serviço do Brighton & Hove Albion, a ponto de um há um ano ter sido eleito o melhor jogador das camadas jovens do Liverpool.

João Teixeira esteve sempre tapado no Liverpool, por jogadores como Lallana ou Coutinho, o que também explica que pouco tenha jogado em 2015-16. E é essa a maior incógnita face à chegada ao FC Porto: perceber se João Teixeira tem a rodagem competitiva necessária para ser opção regular. Não é um problema de talento, pois esse ele tem-lo de sobra.


João Carlos Teixeira sempre jogou preferencialmente a número 10. Pode jogar a 8 ou descaído para a ala esquerda (a cortar para dentro, nunca como extremo, pois não é muito veloz), mas sempre foi como médio-ofensivo que mais se destacou. Os planos de Nuno Espírito Santo para a próxima época ainda estão em segredo (não sabemos em que tática vai apostar), mas João Carlos Teixeira joga, por exemplo, na mesma posição que Otávio e Quintero, dois jogadores que foram anunciados para o plantel de 2016-17. Dificilmente haverá espaço para os três. 

Chegando a custo zero, e face ao potencial que João Carlos Teixeira tem, tem tudo para ser uma boa aposta do FC Porto. O maior problema é mesmo a falta de jogos que teve na última época e a pouca rodagem numa primeira liga. Essa é a maior, e talvez a única, dúvida. Daí que seja essencial começar a pré-época logo no início - tal como Óliver Torres, que em 2013-14 tinha jogado pouco no Villarreal, mas ao fazer a pré-época logo de início conseguiu cedo adaptar-se à equipa.

O Championship é muito competitivo, mas é um futebol mais físico e intenso, totalmente diferente do português. Em Portugal, João Carlos Teixeira tem que trabalhar para criar espaço e desmontar defesas recuadas, uma realidade diferente da inglesa. Tendo 23 anos, o espaço para evoluir não será tão grande como aquele que tinha há 4 anos. Na Europa, terá que ser inscrito como jogador da lista A. 

Entre Josué, Sérgio Oliveira, André André, Danilo e João Carlos Teixeira, um já não cabe no estatuto de formado no país (4 vagas, além das 4 para jogadores formados no clube), ou seja, na eventualidade de os 5 ficarem um deles tem que entrar numa das 17 vagas sem restrições. E jogando Otávio e Quintero na mesma posição, também é difícil imaginar os três no mesmo plantel. 

Há também a questão de João Carlos Teixeira poder tapar a afirmação de outros jovens médios do FC Porto. Há que encontrar uma forma de todos coexistirem, seja na equipa B, na A ou em empréstimos a outros clubes. O jogador cujo perfil mais se aproxima do de João Carlos talvez seja João Graça, da equipa B. Jogadores como Francisco Ramos ou Rúben Neves têm caraterísticas diferentes, pelo que por aqui não será um problema

Para já, o essencial: João Carlos Teixeira, o primeiro jogador a chegar via Jorge Mendes, tem tudo para ser uma boa aposta. Contratação de baixo custo, escola, potencial, muitas caraterísticas interessantes e que fazem falta ao plantel. Falta saber se terá a experiência e o ritmo competitivo para encaixar no FC Porto. Não é um jogador que enquadremos nos tais «titulares» que iriam ser contratados, mas pode ser uma boa e útil surpresa. Que lute por isso a partir do final de junho. 

sábado, 11 de junho de 2016

Análise 2015-16: os extremos

Não deve haver portista que considere que os extremos de 2015-16 estiveram melhor do que os de 2014-15. E não é por causa de Quaresma, que passou um ano no Besiktas sem que ninguém se lembrasse dele, mas bastou fazer dois (excelentes) jogos pela Seleção para regressar ao mapa, e logo elogiado como nunca. É simplesmente um facto: os extremos desta época foram inferiores quando comparados com os da época passada. É certo que só Brahimi repetiu a presença do início ao fim, pois Tello saiu a meio, mas em vários momentos da época sentiu-se a falta daquele jogador que sabíamos que a qualquer momento podia resolver um jogo. E não é que ele não existisse.

Há um ano, Quaresma, Tello e Brahimi, os três extremos mais utilizados, foram responsáveis por 31 golos e 28 assistências. Este ano, Brahimi, Corona e Varela, os três mais utilizados, conseguiram apenas 20 golos e 16 assistências. Brahimi foi responsável por mais de metade do trabalho, com 9 golos e 10 assistências. Corona e Varela juntos tiveram intervenção direta em 17 golos. Há um ano, Quaresma, sozinho, teve intervenção em 17 golos e Tello em 19.

Dos extremos que compõe o plantel, talvez só Corona tenha o lugar garantido para 2016-17, ora porque a venda de Brahimi está há muito prevista, ora porque Varela não caminha para mais novo. Tello saiu e nunca foi substituído no plantel, o que também convida à entrada de mais um extremo. A continuidade de Marega no plantel parece ser tão provável como avançar para a Champions com um quarteto defensivo composto por Butorovic, Stepanov, Sonkaya e Benítez. Eh pah, o Sonkaya não era central. Pois não. Mas lateral-direito também nunca provou ser.

Contrato até 2019
Silvestre Varela - Não há treinador que não goste dele. Foi assim com Jesualdo, Villas-Boas, Vítor Pereira, Paulo Fonseca e... Lopetegui. Ou pelo menos parecia, tendo em conta que o pediu em 2014 e voltou a pedi-lo em 2015. Mas Varela mostrou-se uma sombra do que já foi. Começou a época como titular, mas rapidamente desapareceu das opções de Lopetegui. Reapareceu com José Peseiro, outro a confirmar que não há treinador que não veja utilidade em Varela, mas tirando três ou quatro bons jogos fez muito, muito pouco, sobretudo para quem teve um contrato renovado por três anos. Cada vez mais, o que se destaca em Varela é a capacidade defensiva: fecha bem o corredor, protege bem a bola. Mas há cada vez menos rasgo, menos golo, menos cruzamento/passe/assistência (apenas uma assistência em toda a época). Foi a sua pior época no FC Porto, de longe. E se a sua continuidade dependesse das exibições desta época, o seu futuro estaria mais do que definido.

Contrato até 2020
Jesús Corona - Foi o jogador que mais acusou a troca de treinadores. Já se imaginaria que seria um ano difícil para Corona, pois só chegou no final de agosto e não fez a pré-época. Conseguiu até entrar surpreendentemente bem na equipa, aproveitando a quebra de Varela e Tello, mas depois com a chegada de José Peseiro, e com uma abordagem tática completamente diferente, Corona perdeu-se. Dois treinadores e dois estilos de jogo totalmente diferentes, numa temporada em que não fez sequer pré-época, é demasiado para um extremo verdinho como Corona.

Corona até foi um dos melhores da primeira volta, mas desde janeiro que vinha sendo muitas vezes inconsequente. O ponto forte do jogo de Corona é o enquadramento com a baliza, daí que muitos defendam que joga melhor em zona interior. E é verdade. Corona tem um acerto de 61% nos remates que faz, a percentagem mais elevada no FC Porto. Contrariamente, é mau a cruzar, pois só acertou 17% dos cruzamentos que fez. Na primeira volta, Corona era mais objetivo até do que Brahimi. Basicamente, fazia em 4 toques o que Brahimi fazia em 10. Mas essa capacidade de Corona foi desaparecendo. Perdeu 58% dos lances em que tentou o drible, e eram poucas as vezes em que Corona conseguia ganhar metros em progressão, além de ser muito frágil fisicamente, na pressão e na proteção da bola. Pelo elevadíssimo investimento feito nele e pelo talento e potencial que tem, é de esperar muito mais para 2016-17. Corona não desaprendeu a jogar a partir de janeiro.

Contrato até 2019
Brahimi - Goste-se ou não do estilo, foi, é, o maior desequilibrador do FC Porto  e um dos poucos que ia sempre tentando remar contra a maré, entre o caos tático e coletivo que era tantas vezes o FC Porto. Por exemplo, é muito curioso compará-lo a Gaitán e Ruiz, os artistas dos rivais: Brahimi teve uma média de dribles eficazes de 3,8 por jogo, o dobro de Gaitán e Ruiz; Brahimi é o mais rematador dos três, com 2,9 remates/jogo; Brahimi é muito mais eficaz no passe do que Bryan Ruiz (86% contra 79%); Brahimi cria duas situações de finalização para os colegas por jogo, exatamente a mesma média de Gaitán e um pouco mais do que Ruiz.

Isto para dizer que o volume de jogo está lá. Brahimi, mesmo com as rotundas e voltinhas, cria mais lances de perigo do que Bryan Ruiz e Gaitán. É certo que não teve tanto golo, pois rematou mais e marcou menos; mas no papel de desequilibrador e de criador de situações de perigo, Brahimi esteve sempre acima da média. Então porque é que a sua época não foi considerada melhor do que a de Ruiz ou Gaitán? Porque é que não consideram que Brahimi fez uma boa época? A verdade é que, muitas vezes, faltou mais FC Porto a Brahimi do que Brahimi ao FC Porto. O criador esteve sempre cá; mas o sucesso de um criador depende sempre de quem aproveite o seu trabalho. A sua saída é uma inevitabilidade, resta torcer para que em 2016-17 haja extremos que criem tantas situações de perigo como Brahimi. Se tiverem um pouco mais de objetividade não fará mal a ninguém. 

Contrato até 2020
Marega - Havia dúvidas sobre se devia fazer parte da avaliação dos extremos. E dos avançados também. Neste limbo, acaba por entrar nos extremos. Tendo em conta que O Tribunal do Dragão não pode dizer nada de novo sobre o jogador, pois soaria a repetição, a avaliação fica para quem esperava algo mais de Marega e achou que seria este o reforço que ia devolver o FC Porto à luta pelo título em janeiro. Para a história ficam 13 jogos, 500 minutos e um golo. Seguindo o pensamento de Leibniz, já marcou mais do que Kaviedes, Cajú, Paulinho Cascavel, Rentería e Toninho Metralha. E os últimos três até foram campeões pelo FC Porto. O céu é o limite e o otimismo reina. 

Os jogadores que estiveram cedidos a outros clubes serão avaliados na análise aos emprestados.

Pergunta(s): Que expetativas para Corona em 2016-17? Marega e Varela merecem continuar no plantel? Confirmando-se a saída de Brahimi, quem deve ser o seu sucessor?

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Você tem que dar certo, Felipe

O presidente do Corinthians já se antecipou/precipitou e anunciou Felipe como reforço do FC Porto, por 6,2 milhões de euros, por 75% do passe.

Uma contratação que ninguém imaginaria há ano e meio, quando Felipe era suplente do Corinthians e um jogador recorrentemente insultado pelos adeptos. Curiosamente, também vimos portistas, nos últimos tempos, sem a maior das simpatias pelos centrais do plantel. Mas pelo menos nenhum terá ouvido coisas como Felipe diz que ouviu: «Culpada foi a tua mãe de te ter parido»

Felipe é um caso de afirmação relativamente tardia. Só começou a jogar regularmente pelo Corinthians em 2015 (depois de Anderson Martins deixar o clube) e só este ano, após a saída de Gil (o melhor central do Brasileirão) para a China, se afirmou como o patrão da defesa. Vale a pena ouvir, em discurso direto, o percurso de Felipe, que chegou a pensar desistir do futebol. Deve a sua carreira a Tite (o melhor treinador brasileiro, de longe), o treinador que apostou nele.



Então, será Felipe o central de que o FC Porto necessita? Melhor, será um dos centrais de que o FC Porto necessita? Ninguém pode pensar em apenas um central, mas sim numa dupla. Ao contratar Felipe, já há que idealizar ao lado de quem ele vai jogar. A qualidade de um central depende muito da complementariedade que tiver no colega de setor. 

Em 2015, o Corinthians teve a melhor defesa do Brasileirão. Felipe foi uma das boas surpresas do campeonato, ainda que não tenha sido considerado um dos melhores centrais. A CBF considerou Gil e Jemerson (que chegou a ser falado para o FC Porto) os melhores. Outros nomes como Víctor Hugo, Rodrigo Caio ou Geromel (grande época no Grémio) também estiveram em grande plano. 

Mas a maior revelação acabou por ser Felipe, um central por quem ninguém dava nada. E a primeira incógnita face à sua chegada é precisamente perceber se Felipe estará à altura do maior desafio da sua carreira. Só começou a jogar como titular no Corinthians em 2015 e nunca jogou na Europa.

É difícil, para jogadores brasileiros, chegarem e serem logo titulares em grandes equipas europeias. Felipe terá que ser sujeito a processos desconhecidos (ou pelo menos menos utilizados no Brasil), como a linha defensiva mais subida e o início de construção. 

Avaliando unicamente as caraterísticas de Felipe, o que mais se destaca é o jogo aéreo. É excelente pelo ar. Tem uma boa condição física, é forte e ágil, e lê bem o jogo. Critério acima da média a sair a jogar, e é agressivo sem ser excessivamente impetuoso (só foi uma vez expulso em toda a carreira, num lance em que nem falta fez). Só falta saber se conseguirá, de facto, adaptar-se ao FC Porto e ao futebol europeu. Pois se um central de 27 anos, de 6,2M€, é contratado numa altura em que a defesa está fragilizada, então tem que ser para jogar. Diríamos que estamos em tempos de contenção de custos, mas a avaliar pelas últimas compras do FC Porto não haverá nenhuma desculpa para deixar algum setor do plantel carecido por falta de dinheiro. 

Agora, o preço. Felipe é caro. É muito caro. E rompe com a tradição do FC Porto no que toca à contratação de centrais. Historicamente, o FC Porto ou forma grandes centrais, ou contrata centrais jovens e fá-los evoluir.

Transfermarkt, os centrais mais caros do FC Porto
Confirmando-se os 6,2M€ por Felipe, passa a ser o 4º central mais caro da história do FC Porto, e muito mais velho do que qualquer um deles. Curiosamente, Indi e Reyes, os dois mais caros, tardam em afirmar-se na equipa principal. 

Falando de todas as posições, Felipe torna-se o jogador de 27 ou mais anos mais caro da história do FC Porto. Até há bem pouco tempo era Marc Janko, que custou metade. Mas a SAD também já avançou para a compra de Layún. São os primeiros sinais de uma aparente mudança de política. A SAD está a comprar jogadores mais velhos, por mais dinheiro; já não são jovens, sub-21 ou sub-23, que daqui a três anos estarão no ponto para darem o salto para outros clubes e que possam render de 25M€ para cima.
Felipe, 27 anos

Há também a realçar que Felipe torna-se o segundo central de 27 ou mais anos mais caro da história do Brasileirão. O único mais caro foi curiosamente Gil, que saiu para o endinheirado futebol chinês, por 8,5M€. Felipe é caro na perspetiva de compra, para o FC Porto, e na perspetiva de venda, para o Corinthians. 

Mas a partir do momento em que o Corinthians investiu cerca de 3M€ para recuperar metade do passe de Felipe, numa operação que envolveu o banco BMG e o empresário Giuliano Bertolucci (bem conhecido do Benfica, responsável por jogadores como Luisão, Ramires, David Luiz, Elkeson e parceiro de Kia Joorabchian, empresário sob recorrentes suspeitas e que embolsou um milhão de euros com Taarabt), seria de esperar sempre um negócio acima dos 6M€. Resta aguardar para ver se a eventual existência de variáveis/comissões pode fazer este valor subir. Curioso que o Corinthians esteja a tentar Naldo, do Sporting, para substituir Felipe. Face ao preço de Felipe, é de esperar que o Corinthians fique a perder muito, mas mesmo muito em termos de qualidade.

Boa sorte a Felipe, com uma oportunidade única na carreira, e que o fardo de um investimento invulgar e bastante elevado não prejudique a sua adaptação ao FC Porto e ao futebol europeu.

PS: Mauro Caballero está a ser anunciado, na imprensa desportiva, como tendo sido emprestado pelo FC Porto ao Olimpia. Mas como, se a página 26 do R&C do 3º trimestre da SAD diz, claramente, que o jogador foi «alienado a outro Clube ou Sociedade Anónima Desportiva durante a época desportiva 2014/15», dizendo ainda que não tem qualquer percentagem do passe do mesmo? Faz lembrar o caso de Célestin Djim, que foi anunciado pelo Metz como jogador emprestado pelo FC Porto... já depois de ter sido vendido ao Al Hilal (venda tecnicamente nunca anunciada pela SAD). Decidam-se.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Análise 2015-16: os médios

Dizem, e bem, que o meio-campo é o coração da equipa e que sem ele nada funciona. Nos últimos três anos, que coincidem com a ausência de títulos, tem sido difícil para o FC Porto manter o setor estável. Na pré-época de 2013-14, só transitaram Lucho, Fernando e Defour da temporada anterior. Em 2014-15, só Herrera e Quintero já estavam no plantel. E no arranque para 2015-16, só Rúben Neves, Herrera e Evandro repetiram a presença no plantel principal.

Manter um meio-campo estável é essencial. Basta reparar no último tricampeonato: Fernando e João Moutinho estiveram sempre lá. Lucho entrou em 2011-12, quando saiu Guarín, e Defour ia surgindo como alternativa recorrente. 

No tetracampeonato, entre 2005 e 2009, Lucho González e Raúl Meireles estiveram sempre no plantel. Quando Paulo Assunção saiu na 3ª época, Fernando estava pronto para assumir. Havia uma base sólida no meio-campo.

Nos últimos três anos isso não existiu. Herrera foi o único denominador comum no meio-campo nas últimas três épocas. Experimentámos três/quatro médios-defensivos (Fernando, Casemiro, Rúben Neves, Danilo). Quintero, Rúben Neves e Evandro foram, além de Herrera, os únicos a fazer mais do que uma pré-época, mas nenhum deles foi verdadeiramente um titular indiscutível. Houve jogadores que só tiveram gás para algum tempo (Josué, Carlos Eduardo ou André André), outros que estavam de passagem (Óliver), outros que nunca chegaram a engatar (Defour e Imbula), outros que, por diversas razões, pouco ou nada acrescentaram (Campaña ou Bueno). 

Daí que o ideal seria mexer o menos possível no meio-campo para a próxima época. Conseguir finalmente alguma estabilidade no setor. Mas olhando ao plantel e ao mercado, já é possível prever que será difícil. Uns vão sair, outros vão entrar. Para já, manter Danilo Pereira e Rúben Neves seria essencial, pois o resto é um grande ponto de interrogação. 

Contrato até 2019
Danilo Pereira - No dia da sua contratação, O Tribunal do Dragão considerou que Danilo era a melhor contratação da época. Não era difícil prevê-lo: bastava olhar para a autoridade como que agarrava o meio-campo do Marítimo pelo pescoço. Danilo tem tudo o que um médio defensivo deve ter: capacidade física, bom jogo aéreo (fez 6 golos na sua primeira época de FC Porto, tantos quanto Fernando em toda a sua carreira no clube), sabe sair a jogar (87% de eficácia), agressivo mas limpo no desarme (um cartão a cada 350 minutos), capacidade para ganhar metros no terreno enquanto mantém a retaguarda segura. É um médio-defensivo completo, com tudo o que é preciso ter. Além disso, não só é um excelente profissional como é um potencial líder de balneário, que pode e deve integrar a lista de capitães para 2016-17. A SAD comprou 80% do passe por 2,8M€ (de lamentar que 20% tenham ficado em Portimão, pois este valeria cada cêntimo) e Danilo pode ser um dos destaques do Euro 2016. Com a capacidade física e técnica que tem, pode jogar em qualquer campeonato. Que tudo seja feito para que seja na Liga NOS em 2016-17.

Contrato até 2019
Rúben Neves - Época difícil para o menino prodígio do meio-campo, sobretudo mediante a troca de treinadores. Começou com uma utilização algo intermitente no início da época. Danilo Pereira agarrou cedo o lugar mais recuado do meio-campo, enquanto em 2014-15 Rúben Neves foi dono da posição enquanto Casemiro fazia os adeptos arrancarem cabelos. Começou a coexistir com Danilo, jogando um pouco mais adiantado no meio-campo, mas com a troca de treinadores teve que readaptar o seu jogo. Com Lopetegui, num futebol de posse e circulação, Rúben Neves era peixe na água. Com Peseiro, pedia-se mais verticalidade aos médios, um estilo ao qual Rúben não estava habituado. Nunca é de mais esquecer que tem 19 anos e só agora terminou o seu percurso enquanto júnior. No último ano, ganhou dimensão física e começou a arriscar mais vezes o remate. Há ainda aspetos a evoluir, como o jogo aéreo e a marcação, mas continua a ser um talento muito acima da média, por onde passa o futuro do FC Porto. Logicamente, para manter, para bem do presente e do futuro.

Contrato até 2019
Sérgio Oliveira - Não era opção para Lopetegui, mas em março Peseiro deu-lhe a titularidade e Sérgio Oliveira manteve o lugar até ao final. Alguns bons jogos, outros em que passava ao lado do jogo, sem intensidade suficiente para o meio-campo. Destaca-se pela meia distância (dois bons golos), mas esconde-se demasiado do jogo quando não tem a bola nos pés, além de ter que melhorar muito na reação à perda. A sua continuidade ou não no plantel deve seguir o aval de Nuno Espírito Santo. Se for primeira escolha para 2016-17 será uma surpresa - esperemos que boa. 


Contrato até 2018
Evandro - Perto de completar 30 anos, é possível que Evandro tenha feito a última época no FC Porto. Deixa claramente a impressão de que foi subaproveitado esta época. Evandro é um médio completo, capaz de ser integrado em qualquer momento do jogo. Mas ora por decisão de Lopetegui ou Peseiro, ora por problemas físicos, ora porque havia outras prioridades e só podiam jogar 11, Evandro acabou por ter um papel demasiado secundário. A sua experiência poderia ser importante no plantel, mas sendo titular e tendo quase 30 anos é difícil ter planos de longo prazo para Evandro. 


Contrato até 2019
Héctor Herrera - Até dezembro esteve em má forma, mas a partir daí conseguiu finalmente acordar e foi, a par de Danilo Pereira, o melhor jogador da segunda volta do campeonato. Curiosamente, esteve melhor com José Peseiro do que Lopetegui. Com Lopetegui, Herrera era mais influente nas ações defensivas. Recuperava mais bolas, fazia mais desarmes. Com Peseiro, Herrera começou a jogar mais à frente e destacou-se no ataque: rematava mais, fintava mais, criava mais situações de golo. Isto mantendo sempre a eficácia de passe de 85% (infelizmente, muitos adeptos memorizam mais facilmente um passe errado de Herrera do que seis de outro jogador). Herrera continua a ter as virtudes e defeitos de sempre: não se cansa de correr, pressionar, transporta bem o jogo, dá sempre apoio aos corredores, aparece bem entre linhas e é um médio que tem golo (nove na última época). Por outro lado, é sabido que erra muitas vezes no momento de soltar a bola e no passe de primeira. Isto porque Herrera é um médio de transição, não de posse/circulação. Curiosamente, agora que chega um treinador que joga(va) mais em transição rápida (Nuno), é que Herrera está mais próximo da saída. É um dos mais valiosos do plantel, já fez 3 épocas e o FC Porto precisa de vender. Não surpreende que, mediante uma boa proposta, possa sair. No último verão, o FC Porto atribuiu uma procuração para o vender por 30M€. Provavelmente nenhum clube chegará a esse valor, mas Herrera é jogador para gerar uma mais-valia acima de 18M€. Caso a decidir antes da pré-época. 

Contrato até 2019
André André - O grande arranque de época, em que fez 2/3 meses de alta rotação, só levantava uma questão: conseguiria André André manter o excelente momento de forma durante a maior parte da época? Infelizmente, não. A quebra começou por problemas físicos e André André não conseguiu igualar o nível que exibiu na primeira metade da época. Será difícil ser um titular indiscutível, mas a sua valia e utilidade no plantel são claras. Justifica plenamente a continuidade, e oxalá estas semanas sirvam para recuperar em plenitude de todos os problemas físicos. É essencial apresentar-se bem no arranque da próxima época.


Contrato até 2020
Alberto Bueno - Considerado como médio, pois Bueno só teria espaço no FC Porto como 3º médio, não como avançado num 4x3x3. Os adeptos habituaram-se a vê-lo no boletim clínico. Dois meses para recuperar de uma «contusão num pé», semanas de tratamento... E na última vez em que jogou no campeonato, ainda levou, indiretamente, com um coro de assobios antes da sua entrada em campo. Lamentável. Jogador muito mal aproveitado na sua primeira época. Lopetegui geriu mal a sua situação logo nas primeiras semanas, quando havia claramente um défice de criatividade no meio-campo, mas ainda assim Lopetegui hesitava em colocá-lo atrás de Aboubakar. Depois, entre problemas físicos e falta de ritmo de jogo, acabou por nunca ser opção. Há uma decisão para tomar: ou fica para jogar, ou sai. Bueno é demasiado caro para ser suplente. Nuno terá que decidir prontamente se as suas caraterísticas encaixam ou não nos seus planos, caso contrário Bueno é um jogador que não deixará de ter algum mercado. 

Os jogadores que estiveram cedidos a outros clubes serão analisados no post destinado aos emprestados.

Pergunta(s): Qual foi o melhor trio de médios 2015-16? Que médios justificam a titularidade para 2016-17?

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Análise 2015-16: os centrais

O FC Porto terminou esta época da mesma forma que terminou 2014-15: sob um grande clima de suspeita face à qualidade dos seus centrais. Normal, tendo em conta que os 30 golos sofridos foram a 3ª pior marca de sempre num campeonato a 34 jornadas.

Ironicamente, os centrais foram praticamente os mesmos de 2014-15, exceção feita à entrada de Chidozie a meio da época. E na época passada, mesmo entre muitas críticas, Maicon, Marcano e Indi acabaram por integrar a defesa menos batida da Europa.

Não era fácil. O FC Porto perdeu, no espaço de 6 meses, dois centrais de classe mundial (Otamendi, o melhor em muitos anos, e Mangala) e o melhor amigo de qualquer defesa, Fernando. Teve que se habituar a jogar com um novo guarda-redes, Fabiano, também ele tantas vezes contestado. E ainda assim, marcar ao FC Porto foi sempre difícil para qualquer clube. 

Mas este ano tudo mudou. O FC Porto contratou um novo guarda-redes, trocou os laterais e optou por não reforçar o centro da defesa. O resto é o que se sabe.

Apesar da troca de treinadores, e de José Peseiro ser um treinador que sempre preparou mal as suas equipas defensivamente, grande parte dos golos sofridos pelo FC Porto não se deviam a exposição na transição defensiva, mas sim por erros individuais dos centrais. Foram muitos, demasiados.

Embora o FC Porto não tenha tido um jogador a garantir golos como Jonas ou Slimani, a equipa deste ano fez mais golos do que o FC Porto de Co Adriaanse ou do que no bicampeonato de José Mourinho. Ofensivamente, não há desculpas para uma equipa que não marca ao Tondela ou ao Paços de Ferreira. Mas foi o mau desempenho defensivo que esteve na base da derrocada que foi esta época. 

É naturalmente um setor a precisar de ser reforçado e há dois nomes na minha da frente, ambos oriundos do mercado sul-americano, Felipe e Gustavo Gómez. Mas como sempre, antes de pensar em que vem, há que decidir quem deve ou não ficar. 

Contrato até 2018
Maicon - Capitão, iniciou a sua sétima época no FC Porto, começou em boa forma e a marcar golos importantes, até que chegou o momento que todos se recordam. Maicon foi riscado do plantel e emprestado ao São Paulo, depois de ter renovado contrato por mais um ano, até 2018. Pinto da Costa já disse que no FC Porto não há «pena de morte» e anunciou que Maicon vai regressar. Não sabemos ainda quais são os planos efetivos para Maicon, pois ou o regresso é mesmo possível, ou pode ser um sinal dado ao mercado de que o jogador não estará em saldos. 

O Tribunal do Dragão concorda com a reintegração do jogador no plantel, se houver predisposição de todas as parte para assumir e ultrapassar o erro que foi cometido por Maicon, jogador que ao longo de 6 anos sempre foi um bom profissional e que não raras vezes se sacrificou em campo pelo FC Porto. Tirando as charutadas às quais insiste em chamar passes longos e a mania de complicar o que deve ser simplificado, Maicon é um elemento de valia desportiva. Ser ou não titular sempre dependeu da qualidade dos seus parceiros de setor (Bruno Alves, Rolando, Otamendi ou Mangala eram superiores), mas é um elemento de qualidade para se ter no plantel.

Superou as expetativas no São Paulo, sendo um dos centrais do Brasileirão em melhor forma nos últimos meses. Vai fazer 28 anos, e não deixa de ser curioso que o melhor Maicon, no São Paulo, não deva muito - se é que deve algo - ao melhor Felipe do Corinthians. A diferença estará sempre na consistência exibicional, algo que faltou várias vezes a Maicon no FC Porto. 

É um caso em que qualquer decisão poderá ser compreendida. Ou a saída, mediante uma boa proposta, ou a permanência no plantel. É bom lembrar que, até à sua saída, era o central com mais duelos e bolas de cabeça ganhas no FC Porto. Além disso, entre todos os centrais da liga, era o central com melhor média de desarmes no 1x1 e o segundo melhor no jogo aéreo, só atrás de André Pinto, do Braga. Certo é que, com ou sem Maicon, o setor defensivo necessitará de ser reforçado. E o regresso de Maicon não será esse reforço, ainda que ajude à profundidade no plantel.

Contrato até 2018
Martins Indi - Quando o FC Porto comprou Martins Indi em 2014, num investimento de 7,7M€, muitos imaginariam que, passados dois anos, já seria o patrão da defesa do FC Porto, seguindo o exemplo da evolução de Mangala. Infelizmente, não foi o caso, e Indi não conseguiu evoluir como seria de desejar nestes dois anos. 

O problema de Indi está, acima de tudo, no jogo aéreo. Ganha poucas bolas de cabeça (na liga ganhou em média apenas 40% dos duelos aéreos) e não controla bem o espaço na grande área. Coisas que escapavam ao olho nu no Mundial 2014, ao serviço da Holanda. Indi jogava num esquema de três centrais, pelo lado esquerdo. Acontece que neste esquema o central que joga por fora é menos exposto ao jogo aéreo, o que fez com que as debilidades de Indi no jogo aéreo não se notassem tanto.

Jogar a defesa-esquerdo seria então solução? Não numa equipa como o FC Porto. Os laterais do FC Porto têm que jogar em profundidade, precisam de velocidade, saber cruzar, ter capacidade para ir à linha e ser fortes no movimento interior. Tudo caraterísticas que Indi nunca revelou. A grande valia de Martins Indi está no início de construção, na forma como faz o primeiro passe, mas isso não chega ser central de equipa grande.

Tem 24 anos, mais 2 anos de contrato, e está longe de ser um caso perdido. Pode e tem condições para evoluir. O FC Porto já acabou de pagar o seu passe ao Feyenoord, pelo que Nuno terá que decidir se Martins Indi tem capacidade para se assumir como titular no FC Porto. Certo é que não poderá acabar a época 2016/17, a um ano do final de contrato, ainda com dúvidas sobre se terá o estofo necessário para se afirmar no clube. Aliás, não é recomendável que um ativo de 7,7M€ fique a um ano do final de contrato, portanto a sua situação terá que ser resolvida a curto prazo. 

Contrato até 2018
Iván Marcano - Com a saída de Maicon, passou a ser o melhor central do plantel, com a maior percentagem de interseções, desarmes, duelos e duelos aéreos ganhos. É o central low-profile que nunca vai ser o líder de uma defesa, mas que é sempre um elemento útil para se ter no plantel. É o tipo de jogador que não vão ver a dar entrevistas, a violar a hora de recolher e a falhar nos deveres de profissional.

Infelizmente, acabou a época a errar no Jamor, num jogo de circunstâncias difíceis e em que mais 2 erros defensivos provocaram a perda de uma Taça. Era apenas a segunda vez que estava a jogar com Helton e Chidozie (nenhuma equipa que se preze vai a uma final da Taça com uma dupla de centrais + guarda-redes sem rotinas), mas não terá sido por isso que entregou o golo a Josué. 

Custou 2,65M€ por 100% do passe e vai fazer 29 anos. Com a chegada de dois novos centrais, é possível que Marcano, o central que não mostra os dentes, seja dado como negociável pelo FC Porto. Desportivamente é um elemento de valia. Não pode ser o patrão de uma defesa, mas pode ser sempre um bom parceiro de setor (e metam na cabeça que dois centrais canhotos podem jogar juntos, pela mesma razão que dois centrais destros o podem fazer). Uma vez mais, que a palavra de Nuno seja ouvida na composição da sua defesa.

Contrato até 2020
Chidozie - Sub-19, equipa B e equipa A na mesma época. Foi um carrossel de emoções para Chidozie, lançado às feras na Luz. O Tribunal do Dragão foi da opinião de que Diogo Verdasca, tendo o mesmo número de oportunidades que Chidozie, faria igual ou melhor. Opinião que se mantém, mas José Peseiro escolheu confiar em Chidozie, que acusou toda a sua inexperiência ao longo destas semanas.

A grande exibição de Casillas contra o Benfica disfarçou muita coisa. Chidozie comete os erros próprios da idade e da sua inexperiência. Bruno Alves, Jorge Costa ou Ricardo Carvalho não jogavam no FC Porto aos 19 anos por um motivo. O mesmo que penalizou Chidozie: inexperiência e falta de devida preparação. Repara-se que Chidozie nem sequer teve um parceiro consistente ao lado, o que não ajudou. Não houve jogo em que Chidozie não cometesse erros graves de posicionamento. Mais culpa das circunstâncias do que propriamente do jogador, que fez o que podia, sem a preparação devida.

E agora? Chidozie já fez meia época integrado na equipa A, por isso regressar à equipa B poderia ser encarado como um retrocesso. Empréstimo? É preciso cuidado, pois se Chidozie começar já a ser emprestado corre o risco de deixar de contar como jogador formado no FC Porto (tem época e meia feita). Apesar de a sua aposta, desportivamente e na prática, não ter dado os resultados desejados, continua a ser um jovem com muitas potencialidades e caraterísticas interessantes para o médio prazo. Há que apostar na sua evolução.

Por princípio, o 4º central de um plantel deve ser mais jovem, por isso Chidozie pode enquadrar-se nesse perfil. Treinar sempre com a equipa A, ir jogando ocasionalmente na equipa B. Mas Chidozie não tem 2 anos de FC Porto completos, por isso não pode ser inscrito na lista B da UEFA - e o FC Porto não pode voltar a cometer o erro de não ter 4º central para a Champions/Liga Europa (Verdasca, por exemplo, é elegível). Uma vez mais, tudo dependerá dos planos que o treinador possa ter a médio prazo para Chidozie.

Pergunta(s): Que futuro para Maicon, Chidozie, Indi e Marcano? Que centrais seriam mais-valias como reforços?

terça-feira, 7 de junho de 2016

Sim, é possível

Chegados a finais de maio/junho, a preocupação no que às contas da SAD do FC Porto diz respeito é sempre a mesma: perceber se, ou como, o FC Porto vai fazer as mais-valias necessárias para cumprir o orçamento. 

O timing ou sucesso de determinado negócio é sempre decisivo. Em 2012-13, a venda de Hulk em agosto (a sua não venda até junho de 2012 resultou num prejuízo agravado de 35,7M€ em 2011-12) e o grande negócio de James/Moutinho em maio permitiram um lucro de 20,3M€ (segundo melhor resultado da história da SAD). No ano seguinte, o adiamento na venda de Mangala resultou num prejuízo acrescido de 40,7M€, o maior de sempre da SAD. Já em 2015, a venda de Jackson, a 56 minutos de fechar a época contabilística, salvou as contas, com um lucro de 19,35M€.

Agora, tudo se volta a resumir ao timing e à existência de uma boa proposta. Faltam 42,6M€ de mais-valias, que não serão conseguidas com a venda de um único jogador. De Brahimi a SAD tem, neste momento, 50% do passe, e de Herrera 80%. São os dois jogadores mais valiosos entre os negóciáveis. Depois, faltarão recuperar quase 16M€ de receitas da UEFA. 

Noutras alturas o prejuízo transitaria sem hesitação para 2016-17, mas com as implicações do fair-play financeiro a SAD já não o poderá fazer. Nem deveria, à luz daquilo que foi a projeção do orçamento para 2014-15: duas entradas na Liga dos Campeões garantidas e um resultado de 66,5M€ na transação de passes de jogadores. Bastava que o FC Porto tivesse falhado uma destas metas em 2014-15 para cair num buraco.

A sustentabilidade da SAD é um tema há muito debatido. Há anos que assumimos a venda de jogadores como uma necessidade para subsistir, devido ao crónico prejuízo operacional. Mas é possível fazer mais com menos. E a época 2010-11 é o exemplo perfeito disso mesmo.


Destas 9 rúbricas, a única que o FC Porto não consegue igualar é a dos «Outros Proveitos». Esses 15,566M€ de 2010-10 incluem a indemnização pela saída de André Villas-Boas para o Chelsea. Se Villas-Boas não tivesse saído, a SAD teria conseguido proveitos de 74,815M€. 

No terceiro trimestre de 2015-16, a SAD conseguiu receitas de 57,367M€. Estavam orçamentados 85,4M€, mas perante os objetivos falhados na UEFA as receitas estarão na ordem dos 70M€. Que é praticamente o mesmo que o FC Porto conseguiu em 2010-11, numa época memorável a todos os níveis. 

E repare-se que, quando ganhou a Liga Europa, o FC Porto ganhou apenas 18,34M€ na UEFA. E as receitas televisivas foram bem inferiores (11,39M€) àquelas que o FC Porto conseguiu nos 9 primeiros meses desta época (14,2M€). Neste momento, só o apuramento para a fase de grupos da Champions garante 12M€ e 10 pontos na fase de grupos rendem 5M€. Mais as receitas de market pool, uma fase de grupos normal já garante mais dinheiro do que ganhar a Liga Europa.

Na época 2010-11, o FC Porto teve resultados operacionais positivos, de 3,45M€. É certo que só o conseguiu graças à saída de Villas-Boas. Mas na altura, não havia Liga dos Campeões (nem o consequente aumento de prémios por parte da UEFA), e as receitas televisivas estavam a render menos dinheiro. Caso contrário, atingir o tal break-even seria uma meta perfeitamente ao alcance da SAD.

E repare-se que não foi necessária nenhuma barbaridade de mais-valias. Para a época 2015-16, a SAD orçamentou resultados com transações de passes de jogadores de 72,59M€. Para o último trimestre, faltam 42,6M€. Ora em 2010-11, o resultado com transações de passes foi de... 31,88M€. E foi mais do que suficiente.

Nos primeiros nove meses de 2015-16, a SAD fez 29,98M€, essencialmente com as vendas de Alex Sandro e Imbula. Ou seja, praticamente tanto quanto seria necessário em 2010-11.

O mais curioso é que não se pode falar de uma grande diferença em termos de investimento no plantel.  Em 2010-11, as aquisições do FC Porto ascenderam a 59,27M€. Já as desta época, nos primeiros 9 meses, totalizaram 56M€. Um pequeno detalhe: na altura o FC Porto pagou encargos de 7,67% do valor total, enquanto os desta época subiram até 23,5%.

Mas a maior diferença será esta: os custos operacionais.

Os Fornecimentos e Serviços Externos, que tiveram um grande aumento (quase 50%) em 2010, têm estado na casa dos 30M€ (previstos 32,8M€ para 2015-16). Mas reparem na diferença abismal nos custos com pessoal: o plantel de 2010-11 teve custos de 31,86M€ (o restante foi repartido entre órgãos sociais, técnicos e administrativos, seguros e outros custos), num total de 50,065M€. Entretanto o FC Porto criou uma equipa B, é certo, mas se uma equipa da segunda liga dificilmente tem um orçamento superior a 1M€ a 2M€, então nunca poderá ser isso a justificar esta subida. 

Para esta época, estão previstos custos com pessoal de 68,89M€. Ou seja, quase uma diferença de 20M€. E neste momento, é difícil imaginar muitos jogadores do FC Porto a garantirem grandes vendas. Brahimi e Herrera estão na montra. Há Danilo Pereira, há Rúben Neves, talvez Layún, de resto não há muitos jogadores prontos para garantir um grande encaixe.

Agora comparem isto com o plantel de 2010-11. Estamos a falar de um plantel que tinha Otamendi, Álvaro Pereira, Guarín, Moutinho, James, Fernando, Hulk e Falcao, entre muitos outros jogadores de enorme valia. E só estes 8 jogadores saíram por cerca de 200M€! E mesmo que não haja comparação em termos da qualidade e profundidade dos plantéis de 2010-11 e 2015-16, a diferença de custos é abismal.

A época 2010-11 é a prova de que é possível fazer muito mais com menos. É possível a SAD atingir o break-even operacional; é possível formar um grande plantel com uma folha salarial de 50M€ (ou seja, uma redução de quase 20M€ na atual); é possível pagar menos comissões por melhores jogadores; é possível subsistir com mais-valias de 30M€, em vez de ter que andar a fazer 70M€ todos os anos, chegando a junho com a corda no pescoço.

É possível. E a maior prova disso é que os responsáveis pela época 2010-11 são praticamente os mesmos da época 2015/16, naturalmente com uma pequena grande diferença no Conselho de Administração: não há Angelino Ferreira, há Fernando Gomes.

Mas sim, é possível.