sexta-feira, 30 de outubro de 2015

As despesas com contratações em 2015-16

A rúbrica fornecedores do R&C de 2014-15 permite perceber qual a situação do FC Porto no que toca a dívidas a outros clubes e, em muitos casos, a empresários/empresas. Ao longo da época 2015-16, está previsto que o FC Porto pague pelo menos 36,855M€ por jogadores que já estão nos quadros do clube (isto sem contar com as contratações efetuadas no primeiro trimestre, como Imbula ou Corona, que serão contabilizadas depois).

Em contrapartida, está prevista a entrada de um valor até 60M€ (sem contar com Alex Sandro) de outros clubes por jogadores já transferidos, além dos cerca de 50M€ (já a contar com Alex Sandro) de mais-valias que vão ter que ser geradas. Importa sempre ter estes valores em conta antes de começar já a idealizar se vamos comprar A, B e C por X, Y e Z milhões de euros para a próxima época. Vamos então analisar o que há a pagar ao longo deste ano.

Além dos referidos 36,855M€, há 6M€ em dívida que só vão ser liquidados em 2016-17: 500 mil euros ao Chiva Corazón, pela contratação de Gudiño, e 5,5M€ ao Granada, por Brahimi. Neste último, houve uma renegociação dos termos do pagamento, pois o R&C do primeiro semestre de 2014-15 indicava uma dívida corrente de 2,5M€ e uma não corrente de 3,5M€. Nos novos termos, o FC Porto só vai pagar 500 mil euros por Brahimi em 2015-16. De notar que, em contrapartida, o FC Porto tem à espera 5M€ da Doyen Sports (precisamente o mesmo valor pelo qual alienou 80% do passe de Brahimi) para entrar. Operação interligada. Brahimi quase ainda não movimentou dinheiro desde que foi contratado, um pouco à imagem do que se espera ver com Imbula até à próxima época.

Em relação a Raúl Gudiño, está previsto o pagamento de 1,5M€ esta época. Ou seja, o seu custo, salvo algum valor que tenha sido pago antes de 30 de junho de 2015, é de 2M€, o que já faz dele o guarda-redes mais caro da história do clube.

Passemos então a rever a situação de cada clube na lista de fornecedores e os valores que têm a receber do FC Porto ao longo do próximo ano.

Atlético de Madrid: 11M€ pela contratação de Adrián. Estavam já em dívida corrente em dezembro, logo ou terá lugar a renegociação ou o FC Porto poderá ter que liquidar ou abater este valor até dezembro. Tendo em conta o factor Mendes, a tentativa de reabilitação no Villarreal e a particularidade na sua contratação por parte do FC Porto (único jogador contratado em 2014 que não envolveu nem comissão nem prémio de assinatura, o que é uma raridade), não é descartada a hipótese de renegociação. 

Feyenoord: 3,72M€ por Martins Indi. Uma redução de apenas 20 mil euros face ao valor que estava em dívida em dezembro.

Danubio Finanzierungsleistungen und Marketing GMBH: 2,676M€ por Kayembe. Esta é a misteriosa e nada transparente empresa que foi envolvida na contratação de Kayembe, que supostamente teria deixado o Standard em final de contrato. Provavelmente um dos aspetos mais graves e negativos deste R&C. O FC Porto tinha comunicado a contratação de 85% do passe por 2,615M€. Desse valor, o FC Porto terá liquidado 550 mil euros no imediato. Ou seja, em junho de 2014 a dívida era de 2,065M€. Em dezembro aumentou para 2,25M€. E agora, em junho de 2015,  a dívida aumentou para 2,676M€ - é ainda maior do que o custo inicial de Kayembe. A dívida por Kayembe não só não foi abatida como aumentou 23% num ano. Haverá explicação porquê? Houve cláusulas que fizeram o preço aumentar ou o FC Porto está em incumprimento? Seja qual for o caso, é absurdo: um jogador que o FC Porto não utiliza está a ficar mais caro; caso haja incumprimento, é extremamente grave e só revela o disparate que foi contratar Kayembe naqueles moldes, naquela altura, àquele preço. O tipo de negócio que levantaria muitas questões numa auditoria. O seu custo, que não é culpa do jogador, já vai em 3,165M€. E vai parar por aqui?

Coimbra Esporte Clube: 2,5M€ por Otávio. O CEC é o clube do BMG, destinado a ponte como transação para outros clubes. É utilizado para inscrever e posteriormente passar jogadores para vários clubes do Brasileirão, entre eles o Internacional, onde jogou Otávio. Desde que Otávio, que estará entre a dúzia de jogadores mais bem pagos dos quadros do FC Porto, assinou não foi abatido um único cêntimo desta dívida, que permanece na sua íntegra em valor corrente. O FC Porto comprou 33% do passe e cedeu 0,5%, sem ter comunicado a quem.

Vitória de Guimarães: 2,3M€ por Hernâni e André André. Não se sabe quanto custou, de facto, André André, pois o seu custo não foi discriminado e foi incluído nos 4,492M€ pagos a outros clubes por jogadores que não são especificados. 

Onsoccer International, S.A.: 2M€ pela venda de Fernando para o Manchester City, como parte pelo acordo de renovação de contrato.

Defino Pescara: 2,25M€ por 25% do passe de Quintero, depois de já terem sido abatidos mais 2,25M€ por outros 25% do passe no primeiro semestre. O FC Porto ficou com 100% do passe por 9,5M€.

Santos FC: 1,718.5M€ pela venda de Danilo ao Real Madrid, pelos 10% a que o clube tinha direito.

Pencilhill: 1,618.233 pela transferência de Iturbe para Itália, a outra daquelas empresas criadas com o único propósito de movimentar dinheiro em transferências de jogadores. No espaço de 6 meses, o FC Porto abateu mais de 3M€ de dívida a esta sociedade.

Universidade do Chile: 924 mil euros por Lichnovsky. Cerca de metade do custo inicial já foi abatido, mas a SAD já só ficou com 55% do passe, desconhecendo-se a quem ou por quanto cedeu a percentagem alienada.

Gol Football Luxembourg: 800 mil euros... e não se sabe porquê. Em junho de 2014, o FC Porto devia 2M€ a esta sociedade, que se sabe ter sido envolvida nos negócios de James (implicado no valor inicial) ou Reyes. Em dezembro, o FC Porto já só devia 300 mil euros. Agora, a junho de 2015, a dívida já tinha aumentado para 800 mil euros, sem que o R&C explique porquê. Dos nomes dos jogadores mencionados pela SAD, em relação ao último semestre só entram Djim e Hernâni. Por que aumentou a dívida em meio milhão de euros, não é revelado.

Estoril - SAD: 705 mil euros pela contratação de Evandro, não descartando a hipótese de uma pequena parte ainda estar relacionada com Licá.

Gestifute: 600,15 mil euros para Jorge Mendes, não sendo especificado em relação a que negócio (possivelmente Mangala).

Promotora del Club Pachuca SA de CV: 150 mil euros por Héctor Herrera. A SAD abateu 1,85M€ no último semestre. Haveria possibilidade do FC Porto resgatar os restantes 20% do passe de Herrera, mas aparentemente a SAD ainda não mostrou interesse em fazê-lo. E neste momento, face à não utilização do jogador e a poucas perspetivas de uma grande transferência, não se justificaria.

Estas são as entidades a quem o FC Porto terá algo a pagar nos próximos meses. Serão acrescentados os restantes nomes quando o R&C do primeiro semestre sair (é pouco provável que a SAD revele os restantes números no primeiro relatório trimestral). Entretanto, a SAD liquidou a totalidade das dívidas que mantinha com sete entidades no R&C de 2013-14. A saber:

Moreirense: 1,675M€ pagos por Ghilas;

MHD, S.A.: 1,098M€ pagos por Caballero;

River Lane Youyh Club: 375 mil euros pagos por Chidera Ezeh;

MS Entertainmnet Law-Melanie Schärrer: 586 mil euros pagos a outra daquelas empresas, desconhecendo-se de que jogadores se tratará, de Djim ou outro qualquer.

Soccer Invest Fund: 550 mil euros pagos ao fundo que tinha direitos de Mikel, Edu e Djalma, depois de também ter estado ligado a nomes como Ukra, Castro, Moutinho ou Fucile.

DNN Lda: 500 mil euros pagos por Quaresma.

Cluj: 380 mil euros pagos por Álvaro Pereira.

Uma nota em jeito de balanço: dos referidos 36,855M€, mais de 20M€ estão relacionados com jogadores que o FC Porto tem emprestados a outros clubes. Além disso, desta quantia mais de 5M€ devem-se a jogadores já transferidos. E de todas estas contratações, só Brahimi (que só terá um impacto de 500 mil euros) e Martins Indi estão a ser titulares, e Indi só entrou para o 11 devido à lesão de Maicon. Ou seja, uma série de contratações caras que não estão a ter proveito na equipa principal - e grande parte nunca vai ter. Regressaremos então a este tópico quando as operações do primeiro trimestre forem divulgadas pela SAD.

Relatório e Contas da SAD, 2014-15, rúbrica Fornecedores
PS: «Vieira responde a Bruno de Carvalho», lemos pela imprensa desportiva. Não, não respondeu. Continua sem responder, continua sem desmentir. A história do «descer ao mesmo nível» é a desculpa mais primária e fácil da história da humanidade para situações como esta. Luís Filipe Vieira não responde porque não tem como responder. E como João Gabriel ou Domingos Soares Oliveira não conseguiram ainda escrever-lhe uma desculpa decente, o silêncio de Luís Filipe Vieira denuncia que o Benfica não tem capacidade para desmentir uma única acusação. Tentaram a bomba de fumo que foi o processo a JJ, mas correu mal. O Benfica não desmente porque não o pode fazer. Caberia à justiça e às instâncias do futebol português fazer o resto. E já agora, ao FC Porto.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Amor de Vítor Pereira

Se Shakespeare existisse hoje não escreveria sobre Beatrice e Benedick, Romeu e Julieta ou Hermina e Lysander. Escreveria sobre Vítor Pereira e o Benfica. É uma bonita história de amor, que resiste a todas as adversidades e consegue florescer mesmo (ou sobretudo) em campos ilícitos. 

Um amor que resiste a tudo
Comecemos por saudar João Gabriel, que está bem de saúde. Chegámos a temer o pior. Da história dos vouchers, das prendas e de uma prática que não tem defesa nem na FPF, nem na UEFA, não ouvimos nem uma única palavra. João Gabriel nada disse para defender o seu Benfica nesta história. Não que tivesse defesa possível, que não tem - daí o previsível silêncio, na esperança de que tudo fique esquecido -, mas todos estranhámos a ausência de uma reação celestial.

Mas quando alguém ousou tocar na honra de Vítor Pereira, João Gabriel saiu em defesa do mais fiel escudeiro do Benfica. Disse ele que a entrevista de Marco Ferreira ao As foi um frete a Lopetegui. Claro que foi. Da mesma forma que o L'Équipe a citou para fazer um frete ao Imbula, o Récord mexicano fez um frete ao Herrera, o Buteur fez um frete ao Brahimi e a generalidade da imprensa nacional que citou a entrevista fez um frete ao André André. Faz todo o sentido, mas quando isto vem da mente que tão bem conhece a Rua Luciana Stegagno Picchio e a Travessa Queimada, falar em fretes é só mesmo uma prova da falência de caráter e vergonha no sujeito.

Voltando a Vítor Pereira. O mais hilariante, incompetente e surreal dirigente que o futebol português já teve disse que não sabia das ofertas ao Benfica. Vítor Pereira decidiu desmentir esta notícia... 12 depois depois de ter feito manchete no jornal O Jogo. 12 dias, foi o tempo de que precisou para decidir abrir a boca. E foi também o tempo de que necessitou para se enterrar ainda mais.

Ao dizer que desconhecia as ofertas do Benfica, Vítor Pereira esteve a sujeitar-se a uma de duas coisas: ou é mentiroso, ou é incompetente. Na verdade é as duas, mas reparem no surreal que é o responsável máximo da arbitragem nem sequer ler os relatórios. Sim, porque os árbitros têm que declarar todos os itens que são oferecidos pelos clubes à FPF. Isso consta do mesmo comunicado em que a FPF esclarece que os árbitros só podem aceitar «emblemas, galhardetes, miniaturas de camisolas, medalhas comemorativas ou lembranças regionais». A FPF nunca falou em 200 francos nenhuns para as provas nacionais, esse valor é destinado apenas às competições europeias e apenas está nas diretrizes da UEFA. O desespero de encontrar defesa é tanto que se insiste em mentiras.

Se Vítor Pereira diz que não sabia das ofertas, então diz que é incompetente, por não acompanhar sequer a atividade dos seus árbitros. Mas como, segundo Marco Ferreira, só se preocupava em ligar aos árbitros antes dos jogos do Benfica, não surpreende. Como todos sabem que Vítor Pereira, tão familiarizado com pequenos-almoços no Seixal (terá direito a voucher?), sabia perfeitamente das prendas, não diz apenas que é incompetente. 

O Dragões Diário de hoje escreve de forma tão subtil como pertinente que foi Vítor Pereira, e não o Conselho de Arbitragem, a nomear Bruno Paixão (o «joker» que só servia para apitar o Benfica) para o União da Madeira x FC Porto. É a primeira vez, em quase 4 anos, que Bruno Paixão é chamado para arbitrar o FC Porto, logo na psicologicamente difícil deslocação à Madeira, depois do escândalo que foi a arbitragem no jogo da única derrota de Vítor Pereira no Campeonato, em Barcelos. Pior só quando Bruno Paixão, nos seus promissores 25 anos, deixou Jardel bater o recorde de penaltys sofridos por assinalar contra o Campomaiorense.

Já era uma promessa da arbitragem, sem dúvida. E por falar em promessas, eis o wonderboy Fábio Veríssimo chamado para arbitrar o Benfica pela primeira vez. Como os tempos mudam: tempos houve em que um árbitro só chegava a internacional se agradasse nos jogos do Benfica. Hoje em dia, chegam primeiro a internacionais para depois ver se agradam. É esta a herança que nos deixa Vítor Pereira. 

O Benfica não é a maior ameaça na luta pelo título, mas Vítor Pereira continua a ser uma das maiores ameaças ao FC Porto (e ao Sporting) e um dos maiores aliados do Benfica.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Não houve plano B(raga)

Depois de 20 vitórias consecutivas, podemos sempre contar com duas coisas: esta sequência de vitórias, mais tarde ou mais cedo, tinha que acabar; e quando acabasse a amargura iria ser muita. Assim o foi. Dez meses sempre a ganhar no Dragão foi um feito assinalável, quase ímpar, e não sabemos quando nos daremos ao luxo de voltar a ver o FC Porto (ou outra equipa) ganhar 20 jogos consecutivos em casa. Há que dar todo o mérito a Lopetegui e aos jogadores por este percurso, que será muito difícil de repetir.

Nessas 20 vitórias, o FC Porto não se limitou apenas a ganhar: fê-lo sendo sempre, sempre melhor do que o adversário. Ao 21º jogo não foi diferente: o FC Porto foi melhor do que o Braga. Mas não fez o suficiente. Não o fez. Aceitamos o deslize, até porque é extremamente raro haver um 0x0 no Dragão e o Braga é um dos três melhores adversários da liga, e como Lopetegui disse o FC Porto, a jogar como ontem, ganha 90% dos jogos. Mas o jogo de ontem fazia parte dos tais 10% em que é necessário fazer um pouco mais.





Layún (+) - À esquerda ou à direita, já nos habituámos à forma aguerrida como sobe no corredor, corta para dentro e procura sempre tabelas. Defensivamente está longe de ser o mais fiável, mas no Dragão os laterais têm sobretudo que jogar no meio-campo adversário. Layún fê-lo bem, cruzando sempre com perigo e procurando movimentos de ruptura. Tem apenas que melhorar a meia distância, pois arrisca muitas vezes o remate, mas quase sempre sem perigo.

André André (+) - Não é, nem nunca será, o médio a quem possamos delegar a responsabilidade de fazer o último passe ou de romper sozinho entre linhas. Lopetegui já o deverá saber, por mais que tenha que tentar conjugá-lo com Imbula no meio-campo. Mas foi sempre o elemento mais esclarecido do FC Porto, a transportar jogo, a pressionar, a arrastar marcações. Apareceu sempre muito bem nas zonas descaídas para o lado direito e esteve impecável no trabalho defensivo. Continua num excelente momento de forma. Nota positiva para Danilo Pereira e para a dupla Indi-Marcano, que na verdade nem teve assim muito que fazer, mas nos últimos 5 jogos o FC Porto só consentiu um golo - do Chelsea, livre de Willian. E, claro, para Aboubakar, que está constantemente a ter que fazer pela equipa o que a equipa não faz por ele.





Modelo sem alternativa (-) - É bom que Lopetegui tenha uma ideia clara de jogo, que faz sempre do FC Porto uma equipa autoritária, sempre mais atacante, que remata mais, tem mais bola e mais oportunidades para marcar. Esse mérito é permanente. Mas já todos perceberam que, num contexto de futebol português, às vezes temos que procurar atalhos e saber contar com um adversário que não quer jogar futebol, não quer atacar e que vai defender com 11 até ao final. O FC Porto não lidou com isso.

Não houve um único fora-de-jogo assinalado ao FC Porto em todo o jogo. Porquê? Porque o Braga jogou sempre, sempre com bloco baixo (grande exibição do nosso Ricardo Ferreira, portista de formação e coração, e de Boly, uma revelação que merece atenção). Isso anulou quase por completo Tello, que nunca teve espaço para atacar, e Brahimi, que levou sempre com marcação apertada. O FC Porto nunca subiu as suas linhas: continuou sempre à procura dos espaços. Lopetegui confiou demasiado de que o Braga iria eventualmente subir, mas isso não aconteceu. O FC Porto tinha que estar preparado para jogar sempre em 40 metros, sobretudo na segunda parte.

Além disso, o FC Porto nem sequer teve assim tantas oportunidades de golo. Foram 16 remates, tudo bem, mas tirando o remate de Tello, aos 40 minutos, Kritciuk nem teve que fazer nenhuma defesa de encher o olho. Não houve nenhum tiro que deixasse o bruaá na bancada, nem que Kritciuk não conseguisse segurar à primeira. Além disso, o FC Porto só fez 5 remates na grande área em todo o jogo. 11 foram de fora da grande área. Isso diz tudo das dificuldades da equipa em entrar na grande área. 

Sacrificar Aboubakar (-) - Aboubakar continua a trabalhar mais para o FC Porto do que o FC Porto para ele. Em 90 minutos, a equipa não lhe deu uma única boa bola para ele finalizar na grande área. Nada. O FC Porto usa e abusa das descidas de Aboubakar. Ele faz isso muito bem, mas depois não sobra ninguém na grande área. Aboubakar baixa, distribui e arranca para a grande área, mas quando lá chega já o Braga tem a defesa completamente composta. Foram 14 cruzamentos, mas não apareceu nenhum cabeceamento de verdadeiro perigo, nem sequer um desvio em lance de bola corrida. O FC Porto tem que dar mais jogo a Aboubakar em vez de pedir-lhe sempre o contrário. Sobretudo estando o Braga completamente recuado. Em vez de tentar aproximar um médio de Aboubakar, Lopetegui deveria ou fixar Aboubakar, ou então lançar Osvaldo e permitir, aí sim, que Aboubakar pudesse jogar mais recuado. Assim, vai faltar sempre presença na grande área por parte do FC Porto.

Muito pouco (-) - Cissokho foi inexistente em todo o jogo. Não atacou, não deu apoio a Brahimi, não cruzou. Lento, nervoso e sem nunca parecer integrado na equipa. Não tem muito ritmo, é certo (o FC Porto não contratou um lateral de 15M€ - contratou um lateral que não calçava no Aston Villa), mas não é a jogar assim que vai ter mais oportunidades. Imbula foi sempre lento, pouco esclarecido e sem justificar a titularidade. Se Lopetegui foi capaz de sentar Herrera, Imbula tem que perceber que não pode jogar só pelos termos em que foi contratado. Tem que se soltar, tem que ser mais rápido e esclarecido, mas a ideia de Lopetegui em aproximá-lo de Aboubakar correu muito mal. Tello, exceção a dois ou três lances, pouco conseguiu fazer. Corona continua a ser um corpo estranho e a pensar que tem sempre que tentar fintar 2 ou 3 quando recebe a bola.

Dois pontos perdidos, nada irrecuperável. Se fizermos a nossa parte, poderemos recuperar a liderança em breve. Entretanto, há que matar o apuramento para os 1/8 da Champions e cumprir a obrigação na Taça de Portugal. Jogaremos sempre para ganhar, mas não vamos ganhar sempre se jogarmos sempre da mesma forma. À atenção de Lopetegui e do plantel.



sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Patrocinador e empréstimos: novidades

A questão do patrocinador nas camisolas do FC Porto já foi muito debatida, mas eis uma novidade que ainda não foi devidamente realçada: a previsão da receita com patrocínios para 2015-16. O que o orçamento prevê é que, na primeira época já sem o patrocínio da PT, as receitas com patrocínios vão... aumentar.

Não há patrocinador, mas há aumento
Para o FC Porto, o valor normal na rúbrica de patrocínios está situado entre 13 a 14 milhões de euros. Desde 2007 que a SAD está sempre situada nestes valores. Com a saída da PT, que garantia um encaixe anual a rondar os 3,7 milhões de euros, temia-se que o FC Porto deixasse as receitas com patrocínios caírem para o valor mais baixo desde 2007, mas afinal as perspetivas são de um aumento.

O orçamento para 2015-16 aponta para 13,626 milhões de euros com receitas com publicidade, valor ligeiramente acima do das duas últimas épocas (13,56M€ em 2014-15 e 13,59M€ em 2013-14). Aliás, este é mesmo o terceiro valor mais alto registado pela SAD, só superado pelas épocas 2009-10 e 2010-11, as únicas em que a barreira dos 14M€ foi superada.

Face ao fenómeno Casillas, claro que havia expetativas de que a SAD atingisse, pela primeira vez, os 15 milhões de euros. Basta dizer que se ainda houvesse PT, provavelmente essa barreira teria sido agora transposta. Mas o importante era que as receitas com patrocínios não caíssem. Só não se percebe como é que Fernando Gomes, na sua quase surreal apresentação do R&C de 2014-15, não achou relevante mencionar este aspeto, tendo em conta a sua importância. Não sabemos como é que o valor da PT vai ser compensado, tendo em conta que não houve entrada de 3º main sponsor, mas como o orçamento não pode ser construído com wishful thinkings só podemos esperar que os valores propostos sejam atingidos e ficar tranquilos quanto ao tema dos patrocínios.

Em relação à última tranche da PT, o valor foi para o Internationales Bankhaus Bodensee AG, com quem o FC Porto mantinha uma dívida de 2,244M€. De realçar que o FC Porto também tinha uma dívida de 5,5M€ por um empréstimo aberto em novembro de 2014 com a mesma entidade, mas que já foi abatida: a SAD apresentou como garantia o dinheiro do apuramento para os oitavos-de-final da Champions e das receitas de market pool da UEFA de 2014-15.

Novos «parceiros» da SAD
Na gestão do FC Porto, e na generalidade do futebol português, o dinheiro dos patrocínios raramente chega a entrar nos cofres dos clubes, uma vez que estas receitas normalmente são utilizadas como garantias e pagamento a diversas entidades. Na SAD, o dinheiro da Unicer vai para o BIC, a quem o FC Porto terá que pagar 3M€ em fevereiro de 2016. E o dinheiro da Warrior, a substituta da Nike, vai precisamente para o Internationales Bankhaus Bodensee AG: 1,5M€ esta época e pouco mais de 400 mil euros na próxima.

Os portistas bem podem habituar-se a ver o Internationales Bankhaus Bodensee AG ser constantemente referido. Afinal, é neste momento a entidade a quem o FC Porto mais recorre para garantir liquidez financeira. O R&C de 2014-15 dá novidades nesse sentido. Além de todas as operações já referidas, o FC Porto abriu dois empréstimos de 12 milhões de euros cada com este banco: um em abril, outro em maio.

O primeiro, a uma taxa de 5%, vence em julho de 2016. E a garantia é, na íntegra, os 12 milhões de euros que o Real Madrid tem a pagar da 3.ª tranche de Danilo. Por outras palavras, face à necessidade da SAD de receber já o valor, encontrou uma alternativa, arranjando forma de receber já os 12M€... mas com recurso a uma taxa de juro que não se pagaria se houvesse capacidade de aguardar pela tranche do Real Madrid.

O outro empréstimo de 12M€ vence precisamente este mês, a uma taxa de 4%. Neste caso, foi mais uma operação da SAD para contrariar problemas de liquidez imediata, pois a garantia apresentada foi a receita do apuramento da fase de grupos da Champions, que também é de 12 milhões de euros. O Internationales Bankhaus Bodensee AG substituiu o Novo Banco como entidade a quem o FC Porto mais vezes recorre para financiar as suas atividades correntes. 

Por fim, e de volta ao tema inicial. Uma das afirmação de Fernando Gomes, na apresentação do R&C, foi esta: «O merchandising do FC Porto tem aumentado bastante, nomeadamente a procura de camisolas do Iker Casillas. Esgotámos em poucas semanas o stock que tínhamos previsto para um ano. Em novembro chegará uma nova encomenda. Foi uma loucura o que aconteceu com a procura. Esperávamos um aumento de vendas de 3 por cento e o número disparou.»

Ora, em 2014-15 o FC Porto fechou a época com 3,828 milhões de euros de receita de Merchandising/Vendas. Para 2015-16, na qual Fernando Gomes diz haver um grande aumento, o FC Porto apresentou à CMVM uma previsão de receita de... 3,828 milhões de euros. Exatamente o mesmo valor de 2014-15.  Tendo em conta Fernando Gomes fez a referida afirmação a 9 de outubro e a proposta de orçamento foi enviada a 22 de outubro, ficamos à espera que as vendas de merchandising «aumentem bastante».  

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Eis o orçamento para 2015-16

O FC Porto já deu a conhecer à CMVM a proposta de orçamento que será apresentada (e aprovada) na AG de 12 de novembro. O Tribunal do Dragão, tal como já fez há um ano, volta a resumir os principais destaques da proposta, um trabalho inexistente a nível de comunicação social - daí que tantos tenham ficado surpreendidos com os gastos salariais em 2014-15, quando na verdade a SAD até acabou por gastar ligeiramente menos do que estava orçamentado desde outubro.

Para começar, importa referir que o resultado positivo individual de 2014-15 (17,92M€) vai, como é lógico, transitar para 2015-16. Posto isto, o plano para a época já em curso é este:


Em relação ao que estava orçamentado para 2014-15, o FC Porto prevê menos 3,77M€ de receita, menos 6,432M€ de custos operacionais e o prejuízo operacional baixa 2,652M€, de 24,975M€ para 22,323M€. O grande destaque vai para o aumento da necessidade de resultados com passes de jogadores, que sobe 8,2%, para 72,591M€, os números mais altos da história da SAD.

Feita a comparação com o que estava orçamentado, vamos comparar a proposta para 2015-16 com os valores finais de 2014-15.

As receitas operacionais baixam de 93,589M€ para 85,443M€. Basicamente esta descida deve-se à quebra nas receitas da UEFA, pois a SAD orçamentou como objetivo ir aos oitavos-de-final da Champions, que é e deve continuar a ser a meta realista para as contas, e agora só entra um prémio de participação. Para já a SAD perspetiva descidas na bilheteira e nas receitas televisivas, enquanto a publicidade, mesmo sem main sponsor para as camisolas, aponta para admissíveis e normais 13,626M€. Podem recordar em baixo as receitas de 2014-15:


Em relação aos custos, a SAD orçamenta menos 1M€ de salários esta época e os FSE mantêm-se praticamente intactos. Só estas duas rúbricas custam à SAD mais de 100 milhões, o que significa mais um orçamento de elevado risco, sem grande intenção manifestada de reduzir os custos e de encurtar a dependência da venda de jogadores. Foram estas as despesas: 

Chegamos ao maior destaque da proposta de orçamento para 2015-16: o resultado de 72,591M€ previsto com vendas de jogadores. As amortizações e perdas de imparidade com passes não sofrem grandes alterações (mais de meio milhão do que os valores de 2014-15), mas a necessidade de mais-valias disparou. É certo que a SAD projeta menos do que o que foi conseguido na última época (82,5M€), mas inicialmente o que estava orçamentado era 66,529M€. Além disso, em 2014-15 entraram enormes negócios com Mangala, Danilo ou Jackson Martínez. Quantos jogadores terá o FC Porto, neste momento, para negociar com uma base de 30M€ pela percentagem do passe na posse da SAD...?

Podíamos referir que a venda de Alex Sandro já entra para abater parte dos necessários 72,591M€, mas quando a SAD fez o orçamento para 2014-15 também já contava com a mais-valia de Mangala para abater um terço dos 66,529M€ necessários. Agora fica a questão: como é que a SAD, que neste caso delega a Lopetegui a responsabilidade de fazer evoluir os jogadores (quais jogadores?), tenciona obter este dinheiro em vendas?

Tendo em conta que não faz muito sentido falar em negociar jogadores contratados este ano nem jogadores trintões, quem sobra? De Brahimi a SAD tem 50%, de Aboubakar 30%. Herrera (80%) está longe do pico de valorização, Maicon é o capitão e nunca teve grande mercado e Indi, embora esteja agora a ser titular, ainda não atingiu o nível de grande central que o valor pago por ele prometia. Quem sobra para vender? Pois... Apresentar uma necessidade de 72,591M€ com resultados de transações de passes no mesmo dia em que Pinto da Costa diz querer manter Rúben Neves durante muitos anos dá que pensar. Por fim, entre o que está orçamentado, os custos financeiros sobem pouco menos de 200 mil euros e os proveitos baixam mais de meio milhão.

Posto isto, fica à consideração dos leitores e dos sócios do FC Porto o ponto 5 da ordem de trabalhos:

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Muito com pouco e passes, muitos passes

Não foi preciso ser particularmente brilhante para vencer, somar mais três pontos, mais 1,5 milhões de euros e ascender à liderança isolada do grupo, com o objetivo 1/8 à distância de duas vitórias. A primeira parte foi das menos boas do FC Porto esta época, mas também foi a primeira em que a equipa chegou ao intervalo a vencer por 2-0. Basta quatro minutos para mudar toda a perspetiva de um jogo. A eficácia e o talento individual fazem a diferença.

A vitória sobre o Maccabi diz, para começar, que o FC Porto terá que se apresentar a um nível altíssimo em Israel para vencer. A primeira meia hora do FC Porto não foi boa. E na segunda parte a equipa não sentiu necessidade de mostrar a sua melhor face, pois o 2-0 já oferecia a tranquilidade necessária. O Maccabi rematou 12 vezes, mas Casillas só aqueceu as mãos num livre já perto do fim. 

Casillas até disse que foi uma das vitórias mais tranquilas de Champions que já teve. Mas isso não significa que o FC Porto fez 90 minutos de grande classe: significa sim que o que fez em 4 minutos, entre os 37 e os 41, dispensou a equipa de fazer muito mais ao longo do jogo. Foi o suficiente, sem ser brilhante. E não foi preciso ser brilhante para garantir o objetivo. Para o que resta da fase de grupos, ainda assim, fica a garantia de que será preciso fazer um pouco mais. E domingo também - sobretudo domingo.





Aboubakar (+) - Lopetegui não gosta de estatística, mas eu sim: Aboubakar já é um dos 12 melhores marcadores da história do FC Porto na Champions. Só para citar o nome de avançados, marcou mais do que Juary, Domingos, Falcao ou Derlei. Marca num lance onde o que de menos bom fez até foi o remate (se bem que mau remate é o que não dá golo), mas depois descobre Brahimi entre uma auto-estrada que ele próprio abriu na defesa do Maccabi. Arrancou faltas, pressionou sempre bem sem cometer nenhuma, abriu espaços, soube ser a referência de apoio no ataque. Boa exibição, mais uma.

Terceiro prémio MVP da época para Aboubakar
Eficácia do meio-campo (+/-) - Rúben Neves: 94%. André André: 98%. Imbula: 93%. Danilo: 91%. Herrera: 100%. Esta foi a eficácia de passe dos nossos médios, num jogo em que o FC Porto fez mais de 600 passes. Notável que tenhamos todos os jogadores com acerto de passe acima dos 90% na Champions. É meio caminho andado para manter um jogo sob controlo. Por outro lado, há que reconhecer que o FC Porto, não raras vezes, lateraliza em demasia o seu jogo e hesita em procurar um jogo mais vertical. É certo que o modelo de Lopetegui assenta numa transição mais lenta, apoiada, à procura de dominar mantendo o controlo, ao invés de atacar de forma avassaladora mas descontrolada. Por outro lado, não foram assim tantas as vezes em que uma sequência de passes no meio-campo, em construção, deu ocasiões de golo.

Outros destaques (+) - Jogo positivo, embora algo atípico para Brahimi. Não conseguiu arrancar uma única falta, mas esteve melhor e mais seguro no passe (86%), marcou no único remate que fez, arrastou bem marcações e abriu espaços, procurando solicitar o lateral mais vezes do que é costume. Curiosamente, num dos jogos em que nem foi do mais virtuoso que já se viu foi onde apresentou maior evolução. Está mais equilibrado. E por falar em equilíbrio, Maxi Pereira foi o mais constante e regular ao longo de todo o jogo. Limpo a defender, muito bem a atacar. Destaque para Rúben Neves quando recebeu licença para avançar no meio-campo e distribuir jogo mais à frente - dos 5 médios que estiveram em campo, curiosamente até é o que decide melhor sozinho na segunda linha do meio-campo.





Construção com o fator Imbula (-) - Sem Maicon, os centrais arriscaram muito pouco no início de construção. Jogaram sempre curto, tanto que Indi, em 67 passes, teve 100% de eficácia, e Marcano teve 95%. Os centrais deixaram sempre a construção para a primeira linha do meio-campo. Só houve um grande problema: Imbula estava sempre a baixar para a linha de Rúben Neves. Não faz sentido. Para começar, isso encurta o raio de ação de Rúben Neves. Depois, ficamos sem um jogador para a segunda linha do meio-campo, logo aquele que deveria ser o médio de transporte. Depois, fica André André, que por mais interventivo que seja não é o ideal para este papel, sozinho entre um duplo pivô e a linha de avançados, entalado no meio-campo adversário. Baixar Imbula para se juntar da Rúben Neves deixa o FC Porto a construir demasiado atrás. E quanto mais atrás o FC Porto tiver, mais gente o adversário terá a preencher o meio-campo. Há que clarificar o papel do 2º médio. O mesmo é dizer, o papel de Imbula... Curiosamente, a equipa até funcionou melhor com Danilo atrás e Rúben mais solto. Rúben Neves ou joga sozinho atrás ou solto para uma linha adiantada. Ter que dividir o início de construção não favorece alguém com tão boa capacidade de variação de flancos - Rúben Neves sabe teleguiar as bolas e é excelente no passe longo, não precisa de ninguém ao lado para o toque curto.

Menor agressividade (-) - Nos últimos jogos, o FC Porto de Lopetegui tem cometido menos faltas. Foram apenas 9 em todo o jogo. Não queremos uma equipa a dar pau, mas é necessário ter uma equipa muita forte na reação à perda da bola, como foi a principal imagem de marca do FC Porto em 2014-15. Caso contrário, a equipa vai recuando, o adversário vai avançando e não tarda aparecem problemas - há um lance, nos 80s minutos, em que o Maccabi consegue obrigar, num lance de bola corrida, o FC Porto a defender com 10 jogadores dentro da sua grande área. Isto não aconteceria com uma equipa que não baixasse a linha de pressão e que continuasse a ser agressiva. Acreditem, contra o SC Braga vão precisar de dobrar estes índices.

Deslocamento (-) - Os tremeliques iniciais da linha defensiva tiveram muito a ver com a falta de clarificação do meio-campo no início de construção. Mas nada justifica tamanha hesitação e desconcentração nos minutos iniciais, sobretudo por Marcano e Layún. Uma vez mais regressamos a esta questão, até porque Marcano disse que é estranho um canhoto jogar pela direita (Indi, bastante bem): não tem nada de estranho. Se uma dupla de destros joga junta, uma de canhotos também pode jogar. E se um destro joga pela esquerda, um canhoto pode jogar pela direita. Tudo tem a ver com rotinas. Afinar a ligação entre linhas é um dos desafios para Lopetegui e para a equipa nos próximos jogos. Por fim, Corona continua a ser um corpo completamente estranho para o resto da equipa. Quando não consegue aparecer individualmente, não aparece de todo. Está a fazer-lhe falta uma pré-época. Ainda está a integrar-se, e o contexto não é o mais favorável para isso - cabe a Tello e Varela obrigarem-lhe a ser melhor.

Crónica já um pouco fora de horas, pois não foi possível publicá-la mais cedo. Regressaremos à análise ao R&C ainda antes do grande jogo contra o SC Braga. Objetivo: 21ª vitória consecutiva no Dragão. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Os 67% de Lopetegui e do plantel

Somando as mais-valias aos proveitos operacionais, o FC Porto gerou 176 milhões de euros de receita em 2014-15. Uma enormidade num contexto de clube português, sobretudo não sendo o FC Porto o clube mais saudável quando o assunto são resultados operacionais. Este mérito assenta sobretudo em dois elementos: Liga dos Campeões e venda de jogadores. 

Tomando as mais-valias e os proveitos da UEFA como referência, só aqui o FC Porto gerou 118,67 milhões de euros em 2014-15, valor que seria naturalmente maior se não estivéssemos a deduzir as amortizações do custo dos passes dos jogadores transferidos. Mas isto significa que as mais-valias e a UEFA tiveram um impacto de mais de 2/3 das receitas totais do FC Porto em 2014-15 (67%). O mérito passa, acima de tudo, por dois elementos: o primeiro o valor do plantel; o outro o treinador.

Na UCL, o treinador tem que
ser mais do que... treinador
Mais do que na capacidade de qualquer dirigente, a subsistência do FC Porto tem estado acima de tudo entregue aos jogadores e ao treinador. Porque o que permite ao FC Porto manter o seu modelo é os resultados na Liga dos Campeões e a capacidade de lapidar jogadores e canalizá-los para transferências milionárias. Provavelmente não há nenhum outro clube de Champions que esteja tão dependente de mais-valias e das provas europeias para manter a sua saúde financeira.

Isto vem a propósito da proximidade dos jogos contra o Maccabi Tel Aviv e contra o Dynamo Kiev. É nestes três jogos que o FC Porto vai decidir o seu apuramento para os 1/8 da Liga dos Campeões, um dos objetivos para 2015-16. Lopetegui só está a disputar o seu segundo ano de Champions, mas já sabe o que ela significa a todos os níveis. E mesmo na sua curta experiência, já foi tantas vezes aos 1/8 da Liga dos Campeões como o Sporting e Jorge Jesus em toda a sua história/carreira; apenas dois termos de comparação.

Lopetegui é o treinador com maior percentagem de vitórias em jogos da Liga dos Campeões em toda a história do FC Porto. E isso não advém de um calendário facilitado: advém de não facilitar seja contra quem for. A Champions é feita de Bratislavas e APOELs sempre prontos para uma surpresa. Lopetegui fez o que lhe compete: manter sempre a equipa em alerta para qualquer adversário. Daí os elogios ao Maccabi, tentando sempre enaltecer o que de bom tem o adversário. Há quem julgue que é fácil, que na Champions se ganham jogos em piloto-automático, mas não é assim. Mais, não há um único treinador na Liga dos Campeões que, antes de um jogo, diga «vamos ganhar e vai ser muito fácil». Claro que não, todos dizem que esperam um jogo difícil, que vão defrontar um adversário de qualidade. São chavões, mas também todos verdade.

De recordar, por exemplo, que não há muito tempo o Benfica, embora noutra competição e contra outro clube, saiu de Telaviv com 3x0 no saco. Nesse jogo, o melhor em campo foi um tal de Zahavi, que fez dois golos e desfez uma equipa que tinha Maxi, Luisão, David Luiz, Coentrão, Javi Garcia, Aimar, Gaitán, Salvio, Saviola... O mesmo Zahavi que é hoje a estrela do Maccabi Tel Aviv e que vai defrontar amanhã o FC Porto. Ao mínimo desrespeito e desconsideração pelo adversário a consequência será a perda de dinheiro e de pontos na Champions.

Décadas a desafiar
entraves e dificuldades
Nada é garantido. O FC Porto luta contra muito na Liga dos Campeões. Muitos adeptos não têm a exata noção do quão difícil é montar uma equipa competitiva, que assuma a luta pelos 1/8, os atinga com naturalidade e consiga bater-se com os melhores da Europa. Não podemos subscrever, de todo, a história de que os orçamentos ganham sempre, senão o FC Porto ganharia sempre acima de 95% dos jogos na liga portuguesa. Mas serve isto para ilustrar a diferença entre um clube português na Europa e os demais.

Em 2014-15, num percurso que teve 12 jogos, apenas uma derrota, que meteu o FC Porto a sonhar com as meias-finais da Champions e que motivou transferências milionárias de Danilo, Alex Sandro e Jackson (bem como a projeção de nomes como Casemiro, Óliver ou Brahimi), a SAD encaixou 4,263 milhões de euros de market pool. Sabem quanto ganhou o Anderlecht, que nem passou da fase de grupos? 4,529M€. E o Athletic de Bilbao, eliminado no grupo do FC Porto? 10,261M€. E o Malmoe, da Suécia? 7,405M€. E o Olympiacos? 14,653M€. Ninguém se atreve a afirmar que algum destes clubes é superior ao FC Porto. Mas reparem que o FC Porto teve que ir aos 1/4 para ganhar muito menos do que alguns clubes cuja simples presença na Champions vale mais do que qualquer brilhantismo português. O FC Porto precisa desta montra, mas a montra garante muito pouco quando comparado com a maioria dos clubes estrangeiros.

O próprio Benfica, uma das piores equipas da edição 2014-15 da Champions, ganhou 3,947M€, apenas menos de 316 mil euros do que o FC Porto. O Benfica teve o benefício de entrar na Champions com o estatuto de campeão português, o que garante mais receita, e o facto de o Sporting, ao contrário do que é hábito, ter estado na Champions implicou que a receita dos direitos televisivos fosse dividida por três clubes, ao invés de dois. Em 2015-16, é garantido que o FC Porto vai ganhar mais com receitas televisivas, pelo simples facto de só haver dois clubes portugueses na fase de grupos.

Mas reparem no que ganhou, por exemplo, o Mónaco em market pool: 32,395M€. A Roma, que foi eliminada na fase de grupos, ganhou 35,318M€. E quem mais faturou foi a Juventus, que ganhou 58,2M€ só às custas do market pool. Para se ter noção, a Juve ganhou mais dinheiro sozinha do que Barcelona (campeão europeu) e Real Madrid (semifinalista) juntos. É a lei da UEFA, que dita a insignificância que os clubes portugueses têm nesta balança comercial.

Ainda assim, todos os anos o FC Porto assume-se como candidato a contrariar esta norma. Sempre a jogar para os 1/8, sem subserviência perante nenhuma equipa, com treinador e jogadores a carregar mais do que responsabilidades desportivas, mas também financeiras. Amanhã não será diferente. É uma luta difícil, muito difícil, seja em Telavive ou em Munique. Uma luta que assumimos, mas sem nunca esquecer o quão dura é de travar. Lopetegui e os jogadores merecem esse reconhecimento.

domingo, 18 de outubro de 2015

Seriedade e segundas linhas de primeira

Mais do que exuberante ou brilhante, o FC Porto foi acima de tudo sério. Foi essa seriedade que lhe permitiu superar o Varzim e continuar na Taça de Portugal. Julen Lopetegui mexeu imenso na equipa (9 mudanças, 10 se contarmos com a troca de posição de Layún), o que significou um decréscimo nas rotinas e sintonia da equipa, mas serviu para ganhar ou reforçar soluções no plano individual.

Tello, o melhor na Póvoa
Lichnovsky estreou-se ao pé de um bem mais seguro Indi, Layún ganhou rotinas para substituir Maxi Pereira, Evandro disse presente junto a um Imbula mais confiante, Bueno reclamou mais protagonismo, Tello acordou e Osvaldo, mesmo sem pontaria, mostrou que se pode contar com muito trabalho e entrega por parte dele, que até era a maior incógnita em seu redor. 

Todos gostariam que a Taça de Portugal fosse sinónimo de oportunidades para um ou outro jovem, inclusive da equipa B, mas essa deveria ser a função da Taça da Liga. Na Taça de Portugal, pelo historial da competição e até pela desilusão que foi a participação em 2014-15, faz todo o sentimento que Lopetegui privilegie as chamadas segundas linhas do plantel principal. Até porque, como se viu em alguns casos, só não jogam mais porque o nível competitivo e qualitativo do plantel é de facto muito elevado.

Seguem-se dois testes importantíssimos em casa: receção ao Maccabi, que poderá muito bem valer a liderança isolado do grupo da Champions, rumo aos 1/8, e jogo contra o competente e fortalecido SC Braga, numa jornada em que há dérbi em Lisboa. Depois será tempo de matar a maldição na ilha da Madeira. Um passo de cada vez, três passos onde não poderemos falhar.





Reabilitação (+) - Ao encontro do 2.º parágrafo. A Taça de Portugal é uma oportunidade para as segundas linhas, que não deixam de ter qualidade para jogar regularmente no 11, aparecerem. Indi (que será titular nos próximos jogos), Evandro e Bueno são perfeitos exemplos disso mesmo, sobretudo este último. As caraterísticas de Bueno oferecem, simultaneamente, capacidade para ser 3º médio e 2º avançado, muito útil contra autocarros. Percebe-se o meio-campo de combate de Lopetegui nos maiores testes, mas no campeonato português Bueno arrisca-se a ser útil em qualquer jogo. Evandro está tapado por André André, que está a travessar a melhor fase da sua carreira, mas tudo o que faz faz bem, com naturalidade, critério e qualidade. Pode perfeitamente saltar para o 11 a qualquer momento, não esquecendo a sua importância aquando da lesão de Óliver há um ano. Indi esteve muito melhor na ocupação do espaço e no jogo aéreo, afirmando-se como o patrão ao lado de um jogador ainda inexperiente.

Osvaldo, bem e mal
Cristian Tello (+) - Acordou. É o verbo que melhor se aplica à sua exibição. Rápido, aguerrido, excelente na progressão orientada para a baliza, preciso nos cruzamentos. Jogou como só o sabe fazer - depressa - e como ainda não o tinha feito esta temporada - bem. Está num ano decisivo da sua carreira. Será difícil para o FC Porto mantê-lo nos seus quadros, mas se não brilhar no FC Porto também não voltará ao Barcelona. A concorrência de Brahimi e Corona (ontem pouco se viu de Varela) vai obrigá-lo a ser o Tello que vimos ontem.

Trabalho de Osvaldo (+/-) - Osvaldo nunca foi conhecido por ser um goleador. Quase a fazer 30 anos, ainda não atingiu a centena de golos na carreira e no seu percurso sénior só por uma vez superou a barreira dos 15 golos e apenas em quatro chegou à dezena. A maior incógnita em relação à sua contratação não era saber se ia fazer 25 golos, era saber que tipo de profissional íamos ter. Dentro de campo, sobretudo ontem, nada a apontar a não ser coisas boas: lutador, aguerrido, sempre a pressionar e a pedir bola. A atitude a manter é esta, mas como é claro isto não chega, e falhou três ocasiões que um matador não pode perdoar. Castigo duro, pois aos 6 minutos já tinha feito um golo limpo, invalidado sem qualquer razão. Depois, a cada oportunidade falhada sentia que se afastava mais da titularidade. Quanto a mim, somou pontos: o ponta-de-lança do FC Porto tem que se distinguir, acima de tudo, pelo trabalho e empenho. Os golos serão sempre consequência disso. Mas não falhando três golos cantados por jogo.





Pouco caudal (-) - A vitória não mereceu contestação e o FC Porto teve oportunidades para golear, mas a equipa não fez assim tanto em termos ofensivos. Apenas 8 remates, só mais 2 do que o Varzim. Sem proveito nas bolas paradas ofensivas (3 cantos), só duas tentativas de remate de meia distância e o guarda-redes do Varzim acabou por não ser assim tantas vezes solicitado. Um pouco consequência da falta de rotinas da equipa, claro, mas era possível fazer bem mais. Apontamento negativo para as exibições de Cissokho e Varela, que não aproveitaram para reclamar mais tempo de jogo.



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O preço de uma cláusula

Em Imbulição, impunha-se a questão a propósito do comunicado do FC Porto à CMVM sobre a transferência de Jackson Martínez para o Atlético: «Temos só um pequenino problema semântico: «Irá exercer a cláusula de rescisão». Irá, mas quando?»

O R&C anual de 2014-15 revela que o Atlético não pagou, de facto, a cláusula de rescisão de Jackson Martínez no dia em que o FC Porto enviou o comunicado à CMVM. O comunicado do FC Porto já apontava nesse sentido, ao anunciar o «irá exercer». Foi uma informação comunicada já perto da meia-noite, para evitar que a SAD tivesse o segundo ano consecutivo de prejuízos - um saldo negativo acumulado de quase 65M€ em dois anos.

Daí que os 35M€ do Atlético estejam na rúbrica de clientes, em dívida, no final de 2014-15. Note-se que o FC Porto tem a receber quase 60M€ de outros clubes ao longo do exercício 2015-16, inclusive 2M€ da transferência de Souza do São Paulo para o Fenerbahçe. Há ainda a dívida do Fluminense, de 2,125M€, mas que provavelmente não será paga, uma vez que se trata da transferência de Walter. De referir ainda que entre as dívidas não correntes, tirando a transferência de Alex Sandro, só está prevista a entrada, para 2016-17, de 12M€ do Real Madrid (Danilo) e 2,5M€ da Doyen (possivelmente para encaminhar para o Granada, por Brahimi).

Dívidas de outros clubes ao FC Porto durante o período de 2015-16
De volta ao tema inicial, a cláusula de rescisão de Jackson Martínez. O Atlético nunca anunciou o pagamento da cláusula de rescisão. Aliás, o Atlético anunciou isto no seu site: «Atlético de Madrid y Oporto han llegado a un acuerdo para el traspaso de Jackson Martínez a nuestro club». Se o Atlético paga a cláusula de rescisão, não tem que chegar a acordo com ninguém. Tem que depositar o dinheirinho e pronto.

Foi Henrique Pompeu a apresentar a proposta do Atlético, por fax, na condição de procurador. O empresário, que tinha direito a 5% da receita, até fez ameaças públicas ao FC Porto. Se o Atlético apresentasse, de facto, os 35M€ a pronto e Jackson invocasse a rescisão, o FC Porto só tinha era que aceitar.

Apesar das dúvidas que se levantaram sobre se o Atlético paga, ou não, a cláusula de rescisão, no R&C o FC Porto, no ponto (iii) da alínea d) das Alienações, anuncia o pagamento de um valor a Jackson Martínez pela rescisão de contrato. Se se tivesse tratado de uma transferência normal, não haveria motivo nenhum para um pagamento por rescisão ao jogador. Logo pode-se depreender a existência do pagamento da cláusula, possivelmente em julho.

Distribuição de lucro
Por outro lado, o ponto (ii) levanta a maior questão de todas. «Proporção do valor da mais-valia atribuível à Northfields Sports B.V.» Não sendo o valor especificado, entre as quatro alíneas é possível apontar para uma comissão superior a 2M€. O FC Porto comunicou à CMVM que teria que atribuir 5% a Pompeo, mas nunca falou de nenhuma mais-valia a esta empresa sem grande informação pública de Marcelo Simonian. Se o Atlético paga a cláusula, o FC Porto não tem que pagar comissões a ninguém. Se alguém ligado a Jackson as exigia, teria que ser o Atlético de Madrid a pagar. 

Jackson chegou com Manso, passou para Pompeo e agora gera uma comissão, nunca antes especificada, para Simonian? Porquê? A fazer lembrar o caso de Otamendi, jogador que chegou ao FC Porto pelas mãos do referido empresário. A 31-12-2013, o FC Porto tinha 100% do passe de Otamendi. No início de fevereiro vendeu-o ao Valência, por 12M€, e anunciou que deduziu «a proporção no valor de venda do passe detidos por terceiros (10%)». Ou seja, no espaço de um mês, foram subtraídos 10% ao passe de Otamendi. Não se soube por quanto, nem a quem, nem porquê.

A venda de Jackson Martínez, sob qualquer circunstância, foi um excelente negócio financeiro, na medida em que se tratava de um ponta-de-lança já quase com 29 anos, a gerar uma mais-valia superior aos 21/22M€ que eram a base para um bom negócio. Mas se a cláusula de rescisão é paga, não há sentido em que o FC Porto assuma despesas em relação ao negócio. Muito menos de um valor bem considerável, a um empresário que nada tinha a ver com o negócio e numa transferência na qual, supostamente, o dinheiro só teria que cair na conta. As restrições da FIFA para comissões de 3% não servem para nada se depois se andam a atribuir «mais-valias» desta magnitude.

PS: André André e André Silva foram eleitos os melhores jogadores de agosto e setembro dos campeonatos profissionais nacionais. Dois dragões que vão conquistado a pulso, e com extremo mérito, o seu lugar no FC Porto. Parabéns aos dois!

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

As diferenças entre Mangala e Ola John

O timing é uma coincidência maravilhosa, é certo. Mangala foi transferido em agosto de 2014, e na altura já se levantavam questões sobre os valores da sua transferência, mas a FIFA só se lembrou agora, neste tempos tão quentinhos para o futebol nacional, de decidir analisar se há base para uma investigação. E também não é inocente o facto de a FIFA, enquanto entidade íntegra e transparente, estar completamente falida, logo terá que atacar alguns clubes e julgar algumas práticas para restaurar alguma credibilidade. 

Muito bem. O que estará em causa é perceber se a Doyen Sports teve influência na transferência de Mangala para o Manchester City. É um dos efeitos secundários dos leaks. E daí percebemos o porquê de só terem sido divulgados, em matéria de Benfica, documentos a envolver a Doyen e Ola John.

A influência da Doyen
Para quem tiver acesso ao Financial and Economic Rights Participation Agreement (ERPA) de Mangala e Ola John, pode notar a grande diferença entre os pontos 6.2 dos dois contratos. Começam exatamente com a mesma frase: «The fund shall not share the transfer information with third parties other than its owen advisers while such information remais out of the public domain». No caso do ERPA de Mangala, este ponto termina assim. Mas no do Benfica não. O Benfica acrescenta isto:

«The fund shall not share the transfer information with third parties other than its owen advisers while such information remais out of the public domain, and shall be strictly prohibited from contacting or interfering in any way whatsoever, either directly or indirectly, with any of the parties (other than the club) with is directly or indirectly involved in the negotiations of the potencial transfer, except with the written permission of the club».

Voilá. No mesmo artigo (6.2) no contrato do FC Porto, essa informação não aparece. O Benfica está, neste ponto, mais bem protegido no seu acordo do que o FC Porto, o que só levanta uma questão: quem se esqueceu deste pormenor? Se o FC Porto está mais próximo da Doyen do que o Benfica (normal, tendo em conta que Mangala foi um sucesso, tal como vai ser Brahimi, e Ola John uma enorme desilusão para o fundo), como se justifica que o mesmo artigo proteja muito mais o Benfica do que o FC Porto?

Por outro lado, assim se percebe o porquê de a Football Leaks só ter ainda um contrato online: precisamente este de Ola John. Serve isto como termo de comparação para tentar entalar o FC Porto na transferência de Mangala para o City e alegar que a Doyen teve interferência no processo. Mas como veremos mais abaixo, não correu como desejariam.

O que há a fazer? Para começar, não, o FC Porto não pode delegar à Doyen a iniciativa de uma transferência. Todos sabem isso. « (...) Article 18bis par. 1 of the RSTP, which states that “[n]o club shall enter into a contract which enables any other party to that contract or any third party to acquire the ability to influence in employment and transfer-related matters its independence, its policies or the performance of its teams.» O FC Porto só tem que explicar, se a FIFA o convidar a isso, que a Doyen não assumiu iniciativa em nada e somente colaborou com a parte que lhe cabia.

O FC Porto queria vender Mangala. O Manchester City queria comprar Mangala. O Manchester City oferecia uma excelente proposta ao FC Porto. Jorge Mendes estava no papel de intermediário. E então assim se fez a transferência. O que há aqui de errado? Nada.
Nélio Lucas

Levantaram-se questões sobre o valor pelo qual Mangala foi vendido. O FC Porto comunicou a sua parte: 30,5M€ por 56,67% do passe. Deste valor o FC Porto tirou o mecanismo de solidariedade FIFA, a intermediação para Jorge Mendes e os prémios de fidelidade a Mangala. Soube-se que a determinada altura a Robi Plus teria direito a 10%, mas esta sociedade de D'Onofrio e Delmenico deixou de ter esta participação muito antes da transferência para o City (a imprensa belga chegou a falar de uma suposta compra dos 10% por parte da própria Doyen, que as partes não quiseram confirmar). No R&C, o FC Porto acrescentou que «o clube comprador assumiu a obrigação de pagar diretamente à Doyen a proporção que esta entidade detinha sobre os direitos económicos do jogador».

Como se sabe, a Liga Inglesa só admite a inscrição de jogadores se o clube comprador absorver a totalidade do passe. Por isso o Manchester City tinha que comprar os 100% do passe de Mangala. E assim o fez. Comprou a sua parte ao FC Porto e a restante parte à... Doyen. Se a Doyen tinha 33,33% e se a sua quota era necessária à concretização da transferência, como esperavam que a Doyen não interferisse na transferência? É claro que tinha que interferir. E numa liga exigente como a inglesa, onde até é necessário licenças de trabalho, alguém acredita que a inscrição de Mangala teria sido aceite se não estivesse tudo muito bem claro (e logo após a reportagem da France 2, que tantas suspeitas levantou)? 

No acordo, o FC Porto declarou que reservava a um entendimento entre o City e a Doyen a questão da parcela que faltava no passe de Mangala. Ao contrário do que a Bloomberg escreve, não foram 54 milhões, como é lógico, pois não é por os 56,67% do FC Porto terem valido 30,5M€ que a restante parcela tem que ter valor proporcional. Isto é uma não questão, e nem é o que está em causa.

O FC Porto, se a FIFA assim o exigir, só tem que expor que era intenção dos dois clubes, City e FC Porto, transferir Mangala, e que para tal acontecer a Doyen teria que ser implicada nas negociações. Agora, por muito que possa estar limitado a jogadores do catálogo da Doyen, por possíveis dificuldades de investimento a curto prazo, o FC Porto não poderá nunca delegar à Doyen a iniciativa ou total responsabilidade de negociar, por sua conta, um jogador para o FC Porto. Isso não, nunca. Por outro lado, é normal os clubes delegarem a empresários procurações para negociar X jogador com X clube.

20 ou 45M€?
Se a FIFA quiser explicações, o FC Porto só terá que as prestar. De livre e espontânea vontade, pois aqui ninguém pode ficar de rabinho entalado entre as pernas, como basicamente tem sido assumido pelo Benfica nos últimos tempos, desde a Liga Aliança às ofertas ilegais a árbitros. E ao contrário do que se tem verificado neste último, o FC Porto, na questão Doyen/Mangala, não deve ter nada a esconder. 

Ah! O facto do ERPA de Ola John ter sido divulgado e de continuar online tem um propósito claro. Mas atenção àquilo que se possa entender como a influência de um fundo num determinado clube. No contrato do Benfica, está dito que a Doyen e o clube concordam que uma oferta de 20M€ seria mais do que razoável para vender Ola John. Mais, diz que se o Benfica não aceitar uma eventual proposta de 20M€ por Ola John terá que indemnizar a Doyen Sports em 100% do valor.

Mau! Então se a Doyen pretende uma indemnização no caso de o Benfica recusar 20M€, não estará a condicionar ou influenciar o seu futuro? Se João Cancelo e Ivan Cavaleiro, sem terem feito nada de relevante na equipa principal do Benfica, valem 15M€ cada, não me digam que um internacional holandês, que já foi eleito dos melhores jogadores da Eredivisie, até era seguido pelo Manchester United e que até significou um investimento elevado por parte do Benfica não vale um bocadinho mais.

Aliás! Por mais que esta frase esteja batida, Luís Filipe Vieira disse e repetiu isto: «Nenhum jogador sairá sem serem cumpridas as cláusulas de rescisão». Ora Ola John tinha uma cláusula de rescisão de 45 milhões de euros. Então como raio é que o Benfica permite um acordo com a Doyen em que estipula que uma proposta de 20M€ já era um montante razoável para a transferência?

Vá, um bocadinho de rigor. No Regulamento do Estatuto de Transferências de Jogadores sobre o TOP, no artigo 18 a FIFA diz que «No club shall enter into a contract which enbales the counter club/counter clubs, and vice versa, or any third party to acquire the ability to influence in empolyment and transfer related matters its independence, its policies or the perfomance of its teams».

Ora se Vieira só vende pela cláusula, se o Benfica coloca uma cláusula de 45M€ em Ola John e se depois acorda com a Doyen a possibilidade de uma saída por 20M€, em que ficamos? Não está a Doyen também a interferir no Benfica? E não aceitou o Benfica entrar num acordo que levanta estas questões, violando o trecho acima referido? É que a Doyen, pelo menos, não forçou o FC Porto a aceitar propostas de menos de metade do valor da cláusula de rescisão de Mangala.

FIFA, já que estão com a mão na massa, aproveitem e analisem isto também. 

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Já não é só ignorância ou incompetência

Saem os Relatórios e Contas, abundam os disparates em várias publicações. Há um clássico que nunca, nunca falha: não perceberem a diferença entre lucro e mais-valias. O MaisFutebol, por exemplo, apresenta o título «quanto lucrou realmente o FC Porto com as transferências». E é obra não conseguirem acertar num único valor, nem com o R&C chapado à frente. 

Insistência em mitos
Repetindo mais uma vez, que pode ser que quando o R&C de 2076/77 sair deixem de cometer este recorrente erro: mais-valia não é lucro e lucro não é mais-valia. Nunca nos poderemos referir à mais-valia como sendo lucro pois a mais-valia inclui a dedução do valor contabilístico do passe do jogador que foi transferido.

Se o José custa 10M€ e assina por cinco épocas, o seu valor contabilístico anual ascende a 2M€ (valor investido na contratação a dividir pelo número de anos de contrato). Isso significa que se o FC Porto o vende ao fim de dois anos por 30M€, vai ter que deduzir 6M€ para calcular a mais-valia. Isso não tem absolutamente nada a ver com o lucro, pois não são 6M€ de despesa, nem de prejuízo, mas sim a subtração desse valor ao ativo.

Exceção feita a Castro, que já era um produto da formação, o FC Porto teve que deduzir a todos os jogadores uma quantia para amortizar o seus valores enquanto ativos. A partir do momento em que o FC Porto contrata um jogador, esse jogador passa a ser integrado no ativo da SAD. E se esse jogador assina por 5 épocas e é vendido passado dois anos, então a SAD tem que deduzir o valor dos três anos restantes. Simples, mas aparentemente ninguém quer compreender e os disparates continuam.

O Jogo, por exemplo, diz que o FC Porto teve «gastos de 8,4M€» no negócio da venda de Jackson Martínez (tema para um próximo post, pois há um pormenor muito interessante na sua saída). Ai o FC Porto teve gastos para deduzir o valor do próprio Jackson enquanto ativo? Para isso todos os jogadores assinavam contratos de um ano, se não a SAD ia à falência às custas de vender jogadores. A Bola também se refere aos 8,6M€ como o valor para «comissões e impostos». É quem nem um se aproveita.

Lucro: saldo final após excluídas as comissões, terceiras partes e eventuais prémios de fidelidade. Mais-valia: saldo final após excluídas as comissões, terceiras partes, eventuais prémios de fidelidade E o valor contabilístico do passe à data da transferência. O mais provável é ter que repetir isto quando o R&C do primeiro semestre da nova época sair - no último já havia uma fornada de erros com Danilo, em «Mais-valias para totós».

Também se lêem disparates como este: «No que diz respeito a compras, o FC Porto gastou 53,3 milhões de euros». «Gastou?» Pelo pretérito perfeito do verbo gastar, estão a querer dizer o FC Porto já desembolsou os 53,3 milhões de euros? Novo disparate. Basta abrir a página 86 para ver que há 36,855M€ na rúbrica de fornecedores.

Por exemplo, tal como tantas vezes foi referido neste espaço, Adrián López não custou um único cêntimo ao FC Porto em 2014-15 (nem sequer teve encargos por comissão ou prémio de assinatura): os 11M€ ainda estão em dívida para com o Atlético. Logo, o FC Porto não gastou, porque ainda não teve que o fazer. Se o tiver que fazer, aí sim, gastará. Pede-se rigor acima de tudo, e não deveria ser pedir muito.

Por exemplo, o FC Porto tem uma dívida não corrente de 5,5M€ para com o Granada aquando da contratação de Brahimi. E deste dinheiro, não está previsto o pagamento de nenhum durante a época 2015-16 (apenas 500 mil euros em 2014-15, depois de 500 mil euros em 2013-14 - o pagamento foi renegociado). Praticamente só a partir de 2016-17 é que o FC Porto terá que pagar Brahimi ao Granada. Tal significa, numa perspetiva positiva, que durante dois anos podemos estar a desfrutar da magia de um grande jogador sem que quase não tenha saído dinheiro dos cofres da SAD - ainda que no momento da venda, obviamente, tudo tenha que ser liquidado. 

Entre outros erros já vistos por aí: O Jogo diz que Gudiño custou 500 mil euros e Lichnovsky 612 mil euros. Falso, basta abrir a página 86: Gudiño custará, pelo menos, 2M€ (dos quais 1,5M€ a ser pagos em 2015-16) e a contratação de Lichnovsky já se conhecia do relatório anterior (1,83M€ e a SAD já só tem 55% do passe).