domingo, 30 de agosto de 2015

Triunfo de pré-época

Soou a pré-época. Não só por Maicon ter marcado um golo de livre, mas por o FC Porto ter-se apresentado em campo, durante grande parte do jogo, sem entrosamento, sem saber muito bem qual é o seu modelo e como jogar, com Lopetegui a testar novas soluções e jogadores que não pareciam aguentar 30 minutos de intensidade. No meio disto tudo, saíram três pontos, mais um jogo sem sofrer golos no Dragão e o regresso às vitórias.

Da teoria à prática
Se Cissokho foi contratado com vista à dispensa de José Ángel e para ser alternativa a Alex Sandro, não faria sentido nenhum Ángel entrar como titular. A ideia da titularidade de Martins Indi no lado esquerdo podia ser interessante: forma de aproveitar um ativo caro que está tapado pela boa dupla Maicon-Marcano e tentar disfarçar as grandes dificuldades que Indi tem no jogo aéreo.

Por outro lado, o FC Porto de Lopetegui sempre dependeu da projeção ofensiva dos laterais. Com Indi, isso perdeu-se. Mas Lopetegui terá pensado que tendo três criativos nas costas de Aboubakar, além de dois «todo-o-terreno» a guardar o meio-campo, talvez se conseguisse ultrapassar essa necessidade de profundidade no lado esquerdo. Infelizmente não foi assim, mas foi corrigido.

Da mesma forma que Lopetegui, não tendo alternativa a Lucas Lima (ou será à Doyen?), decidiu testar Brahimi na zona central, até porque está em vias de ter mais um extremo (Corona). Não foi por Brahimi que isso correu mal: foi pelo pior jogo em muito tempo de Varela e Tello, pela desarticulação absoluta entre as linhas do meio-campo e do ataque, pela falta de rotinas neste esquema. O meio-campo nunca entendeu muito bem o seu papel e os extremos não deram uma para a caixa. Assim era difícil o 4x2x3x1 singrar. Lopetegui, felizmente, reagiu a tempo.

Resta saber se foram 40 minutos a mostrar que este 4x2x3x1 precisa de ser MUITO melhor trabalhado ou que simplesmente não serve. Dentro de duas semanas já não será tempo para experiências.





Maxi Pereira (+) - Há dois meses escrevia: «Curiosamente, as maiores preocupações que se leem nem é do investimento: é do simples facto de Maxi Pereira vestir a camisola do FC Porto. Porque é um «caceteiro», basicamente. Não sejamos hipócritas: se Maxi Pereira estivesse no FC Porto há uns anos, diriam todos que é um jogador à Porto. Porque tem raça, garra, dá tudo em campo, tudo aquilo que caracteriza um jogador à Porto. Mas como é natural, se um jogador tem essas caraterísticas mas está num rival, é normal que não gostemos dele.» Maxi Pereira só precisou de três jogos para que muitos se esquecessem do que ele defendeu durante oito anos. Com atitude, disponibilidade e rendimento assim, não há como não gostar. Certinho a defender, aguerrido a atacar, mesmo num jogo em que o FC Porto não parecia ter flancos a funcionar.

Brahimi (+) - Ele já disse que prefere jogar em zonas mais interiores. Mas para Brahimi ter a tal liberdade para ser 10, é preciso um entendimento e rotinas que o FC Porto não revelou de todo ontem. Ainda assim, foi da sua capacidade de desequilibrar que o FC Porto chegou ao 1x0 bem cedo. Tendo em conta que o outro golo foi de livre direto, só mesmo aquele lance de inspiração de Brahimi permitiu ao FC Porto marcar um golo de bola corrida. E já na Madeira foi ele a descobrir o caminho para o único golo...

Corrigir os erros (+) - Lopetegui poderia ter ficado à espera que o 4x2x3x1 funcionasse, mas não foi teimoso. Não hesitou em mudar tudo ainda na primeira parte. O esquema falhou, sobretudo por falta de preparação, e não havia por que arriscar a perder a vantagem frente ao Estoril. O treinador tem quota-parte por a mudança não ter funcionado e é bom que a tenha assumido, não limitando tudo ao subrendimento de alguns jogadores. André André e Herrera entraram muito bem. Nota para a boa exibição da dupla Marcano-Maicon, mais uma, e para a segurança de Casillas. E Aboubakar: um remate à baliza, um golo. Se lhe dessem mais situações de finalização, marcaria mais.






Má resposta ao mercado (-) - Neste caso, Varela e Tello não fizeram um dos piores jogos em muito tempo por culpa do esquema tático, mas sim por diversas falhas técnicas em quase todas as suas abordagens aos lances. Varela começou por se envolver no lance do 1x0, mas depois esteve completamente ao lado do jogo: desatento, mal posicionado, incapaz de fazer um bom centro, uma boa abertura ou de aparecer em zona de finalização. Já Tello pareceu tecnicamente raso e incapaz de ultrapassar uma única vez Mano ou Anderson Luis, insistindo em atirar-se contra o defesa e deixar a bola nas pernas do adversário. Se queriam dar um «alerta» à iminente contratação de Corona na luta pela titularidade, correu muito mal.

Sem saber o que fazer (-) - Jogar em duplo pivô não é fácil e requer tempo. Sobretudo porque os dois jogadores que atuam nessa posição têm que se conhecer muito bem e complementar-se mutuamente. Não foi isso que aconteceu com Danilo e Imbula. Houve um constante afastamento entre linhas e desentendimento entre quem subia e quem ficava. Danilo Pereira aparentou estar algo nervoso e o FC Porto parecia estar a tentar descobrir como iria começar a construir. Por outro lado, Imbula tem revelado muitas dificuldades em jogar em toque curto, de primeira, «embrulha-se» demasiado à bola e parece sentir que é obrigatório que cada ação sua tenha que ser um transporte de bola. É natural, trata-se de um jovem de 22 anos, ainda com muito para aprender e evoluir, e também consequência de se contratar um jogador pelo preço que pode vir a valer, não pelo que vale no momento.

Se Lopetegui testa uma nova dinâmica de meio-campo à terceira jornada, é normal que a equipa acuse falta de rotinas. Mas convém definir qual será exatamente o modelo do FC Porto. Podemos ter um plano B, mas convém que tanto esse como o A funcionem.




sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A confiança não pode enganar ninguém

Aly Cissokho não foi convocado por Lopetegui para defrontar o Estoril. Não há problemas físicos, foi opção técnica. Uma surpresa? Não, não pode ser. Porque a verdade é apenas uma: Cissokho não está, neste momento, pronto para se apresentar ao nível de Alex Sandro.

Tempo: Cissokho ainda
não o teve
Há uma diferença entre um jogador que custa 26 milhões de euros à Juventus e outro que é dispensado pelo Aston Villa. Por termos visto a belíssima meia época de Cissokho em 2008-09, muitos adeptos chegaram ao ponto de dizer que Cissokho era igual ou melhor do que Alex Sandro. Neste momento, é impossível sequer compará-los.

Desde fevereiro de 2015, Cissokho só fez dois jogos oficiais. Dois. O último pelo Aston Villa, em abril, e o jogo na Madeira. Tendo os laterais uma enorme importância no FC Porto de Lopetegui, não se pode pedir a um jogador que fez dois jogos em meio ano que chegue e faça com que não se sinta a saída do dono do lado esquerdo da defesa dos últimos três anos. Alex Sandro é o terceiro lateral esquerdo mais caro de sempre. Não será fácil substituí-lo.

Muitos acharam que Cissokho quase não precisaria de período de adaptação por já ter jogado no FC Porto. Completamente errado. Cissokho não conhece nada deste FC Porto. Temos uma concorrência que não tínhamos em 2008-09, novos colegas, novo treinador, novos processo de jogo. É tudo novo para Cissokho, que nem sequer estava a jogar no Aston Villa. Além disso, chegou já com a pré-época perto do fim e ainda teve o azar de se lesionar. Na Madeira, aos 5 minutos cometeu um erro grave e ficou marcado para todo o jogo. Tudo estava contra Cissokho, que além disso jogou com Brahimi (que pouco ajuda os laterais, mesmo nas combinações ofensivas) no seu flanco pela primeira vez.

Por ninguém do FC Porto ter dito o contrário, nasceu a teoria de que o FC Porto já sabia que ia perder Alex Sandro e que Cissokho foi contratado para precaver essa saída. Não é, nem pode ser assim. Por todos os motivos acima referidos, não podíamos pensar em Cissokho como um jogador com totais condições para chegar e assumir logo a titularidade.

Perdemos mais do que
um mero titular
Como alternativa a Alex Sandro, entendia-se e subscrevia-se, pois até permitiria a Ángel jogar uma época com regularidade. Pinto da Costa deu vários sinais ao mercado - e a Lopetegui - de que Alex Sandro seria para ficar. Quando saiu, depositou-se todas as fichas em Cissokho e congelou-se Ángel. Depois da exibição de Cissokho nos Barreiros, de repente «já não serve».

Nos Barreiros quase toda a equipa esteve mal, não foi apenas Cissokho. E não são estes 90 minutos a dizer que Cissokho não pode chegar, ver e vencer: é tudo o que foi descrito acima. Cissokho precisa de treinar, inteirar-se ainda melhor sobre a nova realidade do FC Porto, ganhar confiança e rotinas de jogo.

Cissokho não ser convocado é normal. Anormal foi ter lançado Cissokho já contra o Marítimo, até porque quando começou a semana tudo apontava para a titularidade de Alex Sandro. E agora, à 3ª jornada, o FC Porto vai usar o terceiro jogador diferente nessa posição. Passamos de uma dupla de laterais que custou 22,6 milhões de euros e foi transferida por 57,2 milhões de euros para outra contratada a custo zero. Maxi Pereira começou muito bem, mas é mais do que natural que haja uma quebra de qualidade no conjunto das laterais.

Percebe-se que Lopetegui tenha pedido uma solução mais experiente e de provas dadas para o lado esquerdo da defesa. Mas por outro lado, se Lopetegui já tinha aprovado as contratações de Ángel e Cissokho, a margem para pedir um terceiro jogador fica curta (tudo tem um limite para as exigências do treinador). É muito difícil encontrar um bom lateral-esquerdo, mas a terceira tentativa não pode ser uma mera aposta, tem que ser uma certeza.

Os adeptos podem manter total confiança em Cissokho. Mas essa confiança não pode encobrir a realidade do presente: a saída de Alex Sandro deixou um buraco que vai levar tempo para cobrir. Tempo esse de que Cissokho ainda não dispôs o suficiente. E tal como 90 minutos não podem condenar Cissokho ao insucesso, não vão ser os 90 minutos de quem ocupar o seu lugar contra o Estoril que darão à SAD a mensagem de que podem passar o domingo descansados sem pensar em inscrições na segunda-feira.

PS: Caro Simonian, queremos Otamendis e Falcaos, não queremos Predigers ou Quiñones (rescindir contrato com um jogador que custou 2M€ sem nem sequer divulgar uma informação oficial nesse sentido!?). E depois da insistência dos últimos anos em aproveitar o último dia do fecho do mercado para inscrever, com alguma pressão e discrição, ditas promessas (Quiño em 2012, Kayembé em 2013, Otávio em 2014), fica o desejo para o último dia do mercado: não precisamos de promessas, precisamos de certezas.

PS2: Pinto da Costa vai ser operado no sábado (não esta sexta-feira), uma cirurgia simples. sem riscos e sem relação com os problemas de 2012. O presidente voltará depressa e a 100%.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Contas para a Champions

O FC Porto já passou em grupos difíceis e já foi eliminado em grupos mais fáceis. Na Champions, prognósticos só mesmo no fim do jogo. Para já, o desafio vai ser o de sempre: lutar pelo apuramento para os 1/8.

A SAD estrutura as suas épocas a pensar sempre na qualificação para os oitavos-de-final (ou seja, independentemente do grau de dificuldade no grupo, assume-se sempre que é para passar). Isso é sempre uma pressão para treinador e jogadores, que têm que se concentrar não só nos objetivos desportivos como em conseguir, através dos prémios da UEFA, dar à SAD dinheiro que ajude a equilibrar o insustentável balanço entre gastos e receitas operacionais. 
Quanto vale a Champions
para o FC Porto

Mas no FC Porto não há outra coisa que não pressão, e há que conviver com ela. Em 2014-15, a frio, o FC Porto teve que passar pelo play-off e fez 11 jogos invicto, sempre jogando bem acima da média, até ser eliminado por um adversário francamente superior, com quem aos 75 minutos da segunda mão o FC Porto ainda estava a discutir a eliminatória. 

Ainda é cedo para estar a projetar os jogos, mas fica já a nota de que o FC Porto estreia-se em Kiev a 16 de setembro, quatro dias antes de defrontar o Benfica no Dragão. O Chelsea é obviamente uma equipa num patamar superior, treinada por José Mourinho, o treinador que mais dinheiro gastou em contratações em todo o mundo no séc. XXI. Se o FC Porto pudesse aplicar em investimento no plantel um décimo do que José Mourinho já gastou, o favoritismo do Chelsea talvez não passasse da teoria. Assim, sejamos francos: o Chelsea é um adversário, mas não é «o» adversário.

O apuramento possivelmente irá decidir-se entre a 3ª e 5ª jornadas. Sendo cedo para fazer contas, uma dupla vitória diante do Maccabi é quase essencial, bem como procurar fazer pelo menos 4 pontos contra o Dínamo Kiev, sendo absolutamente imprescindível ganhar o jogo em casa. É óbvio que o FC Porto apresenta-se em campo para discutir sempre o resultado, contra qualquer adversário, mas não será muito recomendável entrar em campo na 6º jornada, em Stamford Bridge, para discutir o apuramento.

Assumimos a luta por um lugar nos 1/8 - a SAD assume-a antes dos jogadores e do próprio treinador, logo torna-se lógico que é esse o objetivo -, com o máximo respeito pelos adversários. Porque independentemente das circunstâncias, a única equipa do grupo que não é campeã é o FC Porto. E o Dínamo Kiev superou o Shakhtar Donetsk (com quem o FC Porto sofreu muito para empatar duas vezes há um ano). Contra o Maccabi, podemos e devemos dedicar todas as palavras de respeito, mas é para fazer 6 pontos... e três milhões de euros.

Sobre a questão financeira. Para começar, a eliminação do Sporting foi uma boa notícia, pois assim o FC Porto vai receber mais dinheiro de market pool. Não sabemos onde o MaisFutebol foi buscar que o market pool em Portugal tem um bolo de cerca de 20 milhões de euros (que dizem ser de 9M para o FC Porto e 9M para o Benfica - absurdo e sem lógica), mas que era bom, era.

O market pool (essencialmente receitas televisivas) deu 3,163M€ ao FC Porto em 2013 e 3,618M€ em 2014. Apenas com o Benfica como outra equipa portuguesa em prova e chegando aos 1/8, a receita superará os 4M€. Transmissões televisivas para Ucrânia e Israel não são as mais valiosas, mas a UEFA aumentou a percentagem.

Pela entrada direta, o FC Porto já recebeu 12M€, sendo que já tinha orçamentada a entrada direta em 2014-15. Por cada vitória na fase de grupos, a SAD recebe 1,5 milhões de euros. Apontando aos 10 pontos na fase de grupos, isso significaria um encaixe de 5M€. E chegando aos oitavos-de-final, são mais 5,5M€. Se contarmos com as receitas de bilheteira, a participação na Champions esta época dará uma receita de cerca de 30M€ se o FC Porto cumprir o objetivo de chegar aos oitavos-de-final.

Platini tem muitos defeitos (oh, se tem!), mas a aposta no futebol jovem potenciada pela UEFA, as diretrizes do fair-play financeiro e o aumento dos prémios da UEFA foram excelentes medidas nos últimos anos. Não contando com dinheiro que entra na época anterior, entre apuramento direto, 10 pontos na fase de grupos e qualificação para os 1/8 desta época, o FC Porto ganharia por si só 22,5M€. Se fosse em 2014/15, o mesmo desempenho renderia apenas 15,6M€. Ou seja, a UEFA passa a oferecer tanto dinheiro como... duas PTs. Seria uma boa via para ganhar alguma folga e reduzir a necessidade de mais-valias, mas neste caso tudo vai direto ao ciclo já aqui muitas vezes descrito. Assim sendo, vamos à luta. Seis jogos, 18 pontos, muitos milhões e um objetivo: voltar aos oitavos de final da Liga dos Campeões e continuar a ser o clube português de maior prestígio e desempenho desportivo da UEFA.



PS: Para já, não será dito mais nada. Mas por favor, comparem o impacto nos media que está a ter a Operação Porta 18 com o que teve a Operação Fénix, bem como a forma como o tema está a ser tratado. Voltaremos a este tema mais tarde.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Com vista para a Champions

Numa altura em que o mercado de transferências está perto do final, importa fazer um ponto de situação sobre as inscrições na UEFA. Pois como em anos anteriores, é quase inevitável que alguns jogadores do plantel principal fiquem de fora da Liga dos Campeões, algo que levanta várias questões, que vão desde o seu papel no plantel, à relação custo/rendimento e ao próprio moral de um jogador ao saber que não conta para jogar na competição que é a maior atração para qualquer futebolista.

Para recapitular as regras, basta ver a infografia abaixo do zerozero, apenas com a alteração da data de nascimento para jogadores da lista B (depois de 1 de janeiro de 1994).



Neste momento, o FC Porto tem 17 jogadores estrangeiros que só podem ser inscritos na lista de 17 jogadores sem restrições. E nestas contas já não entram Quintero e Adrián López.

Assim, a saber: Helton, Casillas, Maxi Pereira, Indi, Maicon, Iván Marcano, Ángel, Lichnovsky, Cissokho, Evandro, Herrera, Imbula, Brahimi, Aboubakar, Osvaldo, Bueno e Tello. Estes jogadores só podem entrar nas tais 17 vagas, caso contrário ficam de fora. O mesmo é dizer que entre as vagas para «estrangeiros» na lista A não cabe mais ninguém.

Em relação aos jogadores formados em Portugal. O FC Porto pode inscrever 4 jogadores formados no clube e 4 formados no país. Como consequência da má aposta na formação nos últimos anos (um problema que o projeto visão 611, supostamente, iria resolver), o FC Porto não tem nenhum jogador da equipa A elegível para inscrever na categoria de «jogador formado no clube». O único é... Mikel, que está na equipa B.

Rúben Neves, por ter nascido em 1997, entra na lista B. Já Sérgio Oliveira, que começou a ser emprestado logo ao segundo ano de sub-19, também não conta como jogador formado no FC Porto para a UEFA. André André só esteve um ano nos juniores, logo também não conta. Assim, o FC Porto fica limitado a 21 jogadores na lista A.

Quanto às 4 vagas para jogadores formados em Portugal, neste momento há 6 jogadores elegíveis para tal: Ricardo Pereira, Sérgio Oliveira, Danilo Pereira, André André, Hernâni e Varela. Ou seja, destes 6, dois deles terão que ficar de fora... a não ser que entrem na lista dos 17 jogadores sem restrições. Mas para alguém entrar entre os tais 17, outros terão que sair.

E este é o dilema a ter em conta perante os últimos dias de inscrições: chegando um, dois ou três reforços terão que sair mais um, dois ou três jogadores da lista de inscrições. Jogadores como Lichnovsky, Ángel, Sérgio Oliveira, Evandro ou Hernâni só terão o seu futuro verdadeiramente clarificado aquando do fecho do mercado, mas ainda sem a chegada de mais reforços já há quem tenha de ficar de fora. E um jogador para quem o FC Porto não tem planos de Champions, talvez seja um jogador sem o melhor dos futuros no FC Porto.

Em relação à lista B. Nomes como Andorinha, Victor Garcia, Rafa, Tomás, Chico Ramos ou André Silva são inscritos sem restrições. Já os jogadores que não têm dois anos completos de FC Porto, como são exemplo Gudiño ou Leonardo Ruiz, não poderão ser inscritos na lista B.

Assim, além de Quintero e Adrián, já há pelo menos dois jogadores do plantel que não podem entrar na Champions. Então, para inscrever um reforço, três dos jogadores que estão neste momento no Olival têm que ser preteridos. Para somar, há que subtrair, sabendo o quão caro pode custar ir à Champions sem, pelo menos, um titular e uma alternativa por posição. Basta lembrar o que aconteceu quando faltaram Danilo e Alex Sandro pela primeira vez na Champions 2014-15.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Corona é «o» extremo?

Ter um blogue que se assume como um espaço de «opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto» torna-se por vezes um dilema. Por um lado, opinar sem ser refém da paixão pelo clube que, por vezes, leva a que se concorde com tudo, ou que se dê sempre o benefício da dúvida - crítica assim é vazia e não acrescenta nada, apenas apoio às decisões tomadas, concordando ou não com elas. Por outro lado, há sempre que tentar compreender as decisões tomadas pelo FC Porto, sob pena de assumir uma postura que vai contra aquilo em que acredita o próprio clube. Neste espaço, procura-se sempre um equilíbrio. Nem sempre concordar, mas tentar compreender. Criticar, mas explicando e justificando porquê. Acreditar, dando argumentos. Explicar, usando factos.
Falta de aposta ou
aposta precipitada?

E com isto chegamos a Hernâni. Tirando o último post sobre Lopetegui, a opinião que mais celeuma causou entre os leitores foi sobre a contratação de Hernâni. É normal os adeptos ficarem empolgados com jogadores portugueses que brilham na nossa liga. Mas a aposta em Hernâni foi sobretudo reativa.

Hernâni, que até ajudou a resolver dois jogos no campeonato, estava a funcionar em Guimarães pela mesma forma que Licá funcionava no Estoril: encaixa muito bem em modelos de contra-ataque, onde tem espaço para jogar em profundidade. Não é por acaso que Marco Silva, que fez de Licá um dos melhores jogadores do campeonato 2012-13 para a imprensa desportiva, quer agora Hernâni no seu Olympiacos. É um jogador talhado neste modelo.

No FC Porto, torna-se difícil encaixar Hernâni, pois os adversários jogam sempre em bloco baixo. Hernâni tem dificuldades em jogar em espaço curto. Isto era algo percetível ao visionar os jogos do Vitória de Guimarães, mas entende-se (sem concordar) que o FC Porto tenha achado que estava ali um protótipo de jogador que poderia ser muito interessante. Tudo bem. Mas Hernâni tinha pouca experiência de primeira liga, e há que ter cuidado com o fogo de vista no campeonato nacional.

Hernâni chega ao FC Porto na condição de jogador com caraterísticas interessantes e potencial. Em contrapartida, a SAD cedeu Ivo Rodrigues (mais talentoso), Otávio (uma aposta de 2,5M€ por um terço do passe da SAD) e Sami (mercadoria), além de pagar 2,9 milhões de euros por 75% do passe. Hernâni foi avaliado em 4M€ e foram cedidos três jogadores à troca. Não é coisa pouca.

No entanto Hernâni chega ao FC Porto para ser claramente o 4º extremo. Ora enquanto 4º extremo, e a jogar apenas na sombra dos habituais titulares, não dá para crescer. Não acredito que Hernâni possa chegar ao que muitos idealizam, mas não é a passar mais tempo na bancada do que dentro de campo que pode corresponder ao investimento e evoluir. Por outro lado, emprestar já Hernâni seria a confirmação de que a sua contratação no mercado de inverno não serviu a lógica da própria janela: acrescentar ao plantel algo que não tenha e que seja utilizado no imediato. Há a questão da tal jogada de antecipação, mas não são muitos os casos de jogadores de sub-23 para cima que regressaram ao plantel do FC Porto após serem emprestados.

Ora a entrar um extremo, o mais lógico seria Hernâni sair. E tendo em conta a idade de Varela, a situação contratual de Tello e a forte possibilidade da saída de Brahimi em 2016 (e aqui, injustamente, esquece-se Ricardo Pereira, por força do seu papel no plantel, que poderia ser libertado para tarefas mais ofensivas mediante a contratação de uma alternativa a Maxi Pereira - sem esquecer que vai para o 4º ano de sénior), é altura de definir muito bem se o extremo, a ser contratado, será «o» extremo. Não um projeto de jogador, como Hernâni, mas um jogador capaz de entrar já no 11, de jogar duas ou três épocas a um nível elevado, de se valorizar financeiramente. De realçar que entre as mega-vendas do FC Porto desde 2014, nenhum era extremo.

Corona, avaliação de 10M
O Dragões Diário referiu, há dois meses (ainda antes da pré-época), que Hernâni ia ficar no plantel, três dias após as primeiras notícias que apontavam para a sua saída. As opções de Lopetegui não têm reforçado o estatuto de Hernâni no plantel (jogou apenas 45 minutos a sério na pré-época e não foi convocado para as duas primeiras jornadas da liga). Logo é de concluir que a pré-época e primeiras semanas de trabalho não deixaram Hernâni mais perto de se afirmar no plantel, nem mesmo tendo a vantagem de começar a pré-temporada de início. Até poderia ficar com o plantel para 2015-16, mas uma coisa é certa. Não é, à data de hoje, «o» extremo que vai obrigar Brahimi, Tello e Varela a um rendimento constante ao mais alto nível (em termos de concorrência, claro, pois cada profissional do FC Porto deve ter o compromisso consigo próprio de estar sempre ao mais alto nível).

E então surge a questão: Corona é «o» extremo? Já em 2013 esteve perto de ser reforço (uma vantagem, está referenciado há dois anos, não é uma contratação reativa a um par de meses), quando o FC Porto começou a olhar para o México (Corona partilha o representante com Diego Reyes). Em 2013-14 foi para o Twente, na mesma época em que a Doyen Sports celebrou um acordo de investimento com o clube holandês. A mesma Doyen que terá uma percentagem da receita com Corona. Já se sabia que o espaço para aventuras a solo no mercado está muito reduzido, mas esperemos que Corona, a ser contratado, seja «o» extremo de que o FC Porto precisa, e não apenas aquele que tem melhores condições para ser contratado.

Peçam (e sobretudo avaliem) os pareceres de scouting que forem necessários (há muitas coisas boas a dizer de Corona) e que Lopetegui explique muito bem o que pode trazer Corona ao FC Porto, da mesma forma em que o impacto financeiro imediato e a médio prazo deve ser tido em conta pela SAD (escusado dizer, pois esse deve ser ponderado a cada contratação). Lopetegui pode pedir jogadores se tiver planos de primeira linha para eles. Apostas sob pressão de fecho de mercado, como foi Campaña há um ano, dispensam-se. Não precisamos de profundidade nem de alternativas no plantel. Precisamos «do» extremo.

Pergunta(s): Há espaço para Hernâni no plantel do FC Porto? Jesús Corona é uma boa aposta?

domingo, 23 de agosto de 2015

Maratona, não sprint

Em 2014-15, quando o FC Porto perdeu com o Marítimo por 1-0 no campeonato, arriscou ficar desde logo a 9 pontos do Benfica. Acabou por continuar a 6, pois o Benfica perdeu em Paços de Ferreira, mas de qualquer forma foi uma jornada negra, pois o FC Porto não só não fez o que lhe competia como também acabou por desperdiçar uma jornada onde rival perdeu pontos.

Mau jogo, boa jornada
Agora, em 2015-16, o FC Porto voltou a ter um mau resultado na Madeira. E de uma possibilidade de ficar já a 2 pontos do Benfica, o FC Porto passa já a ter um de vantagem. Em 2014-15, o FC Porto não tinha pontuado na Madeira. Já em 2015-16, o Benfica acaba de perder contra quem ganhou os dois jogos há um ano, e ainda por cima num estádio neutro onde tinha adeptos em massa.

Basta dizer o óbvio: o campeonato é uma maratona, com altos e baixos, e não são os segundos 90 minutos dessa longa corrida que podem definir o quer que seja. O FC Porto teve um mau resultado na Madeira (pior que o resultado foi a exibição, na verdade), mas a jornada acaba por se revelar proveitosa.

Podíamos pensar que já poderíamos levar 3 pontos de vantagem sobre o Benfica, mas não é essa questão: logo à primeira oportunidade de ganhar pontos em relação a FC Porto e Sporting, o Benfica não mostra o estofo de campeão que, na verdade, faltou a cada um dos três grandes nesta jornada. Porque todos vão ter maus jogos, todos vão perder pontos.

Para já, a realidade é essa: o FC Porto depende de si próprio para, já à 5ª jornada, fazer com que o rival e bicampeão Benfica já não dependa de si próprio para revalidar o título. Vamos ter desafios importantes contra Estoril (que aguentou 70 e tal minutos na Luz e só Júlio César lhes roubou o sonho) e Arouca (que é o líder isolado!), depois teremos o clássico com o Benfica. São 3 testes de fogo, já após alguns dias que serão decisivos no ataque ao mercado e na redefinição do plantel.

O campeonato é uma maratona, que terá altos e baixos, no qual podemos fazer maus jogos em boas jornadas, e bons jogos em más jornadas. A crítica e opinião é um direito que assiste a qualquer um, mas quando se vê, de há um ano para cá, portistas a aclamarem Rui Vitória (opção sempre recusada neste espaço) como alternativa a Lopetegui, isso diz claramente uma única coisa: o problema nunca é o treinador, é sempre um mau resultado, seja quais forem as circunstâncias. Podemos achar que com A estamos mais perto da vitória do que com B, mas se Pinto da Costa, em época de recandidatura/eleições, diz que é em Lopetegui que deposita e reforça confianças numa temporada importantíssima para o seu legado, não é por acaso.

Sobretudo porque Mourinho não está disponível. Ah, esse também não presta, pois já está a 5 pontos da liderança e só hoje ganhou o primeiro jogo da época. Pode ser Allegri? Ah, não, a Juventus pela primeira vez abriu um campeonato a perder um jogo em casa. Guardiola? Nope, também não, que em Munique dizem que não sente a mística do clube. Vamos ao Benítez, o tipo contratado para substituir o campeão europeu Ancelotti... e que não ganha em Gijón. Ou então Rui Vitória, é isso? Mas quem quiser poderá sempre sugerir outros nomes. Daqui a uns tempos compararemos os pedidos.

A maratona ainda agora começou. E é com Lopetegui que a vamos correr. Tropeçando num dia, podendo recuperar terreno logo no dia seguinte, mas com a garantia de que os próximos 270 minutos deste percurso vão dizer muito da ânsia, da capacidade e do estofo do FC Porto para ser campeão nacional.

sábado, 22 de agosto de 2015

Não foi azar

Não foi azar. Aquela bola na trave não foi azar. Não foi azar porque o FC Porto não mereceu, e pouco fez por isso, ganhar ao Marítimo. Cru e revoltante, mas verdade. O problema não esteve naquela bola que podia ter feito de Maxi Pereira um herói. Esteve nos 90 minutos que a antecederam.

Pouco, muito pouco
Se não foi o pior jogo do FC Porto de Lopetegui, andou lá perto. Podíamos falar já da questão do médio criativo - não foi por acaso que foi publicado isto e isto antes do jogo, pois já se sabia que depois de não ganhar ao Marítimo seria demasiado fácil e óbvio criticar plantel, treinador e etc. -, mas o que se viu foi uma equipa que não estava preparada para ganhar, que não sabia como dar a volta a adversidades (apesar, e aí sim, da pouca sorte de sofrer um golo tão cedo num jogo de enorme pressão pelo passado recente) que seriam mais do que esperadas e que não soube ser gerida a partir do banco.

Um mau jogo não faz um mau treinador, e um bom treinador pode fazer maus jogos. Vale o mesmo para os jogadores. Mas o que se viu hoje foi simplesmente mau, insuficiente e deixa algo muito claro: assim, com esta postura e (falta) de ideias, não se ganham campeonatos. E não podemos resumir nada à questão do médio criativo, pois o problema não foi a ausência de um jogador com ideias: foi a presença de muitos jogadores sem ideias.





Danilo Pereira (+) - Sempre calmo, sereno, inteligente, a saber quando e a quem entregar a bola. É o jogador ideal para se ter à frente da defesa do FC Porto: criterioso e prático a construir, agressivo e forte a defender. Encaixou muito bem no plantel e no 11, como seria de esperar, e será difícil sair da equipa.

Varela (+) - Só jogou 55 minutos, mas conseguiu ser o jogador com mais ataques e cruzamentos, o que diz tudo. Era o único jogador a dar largura ao FC Porto, a perceber quando devia explorar as zonas interiores ou quando devia ficar encostado ao flanco. Protege sempre bem a bola, sabe solicitar o lateral, entra bem na área... Não há compreensão possível para Lopetegui o ter retirado tão cedo. Nota para a boa jogada coletiva do 1-1, com Brahimi, Imbula e Herrera, e para a boa exibição de Marcano.





Estreias a frio (-/+) - É bom ter confiança nos jogadores e fazer com que se sintam acarinhados. Mas não vale a pena cair em romantismos de avaliação. Alex Sandro é muito melhor do que Cissokho, e é por isso que um custou 26 milhões à Juventus e outro foi dispensado pelo Aston Villa. Teve um erro, um grande erro, e não é isso que vai definir Cissokho enquanto jogador para 2015/16, mas importa alertar que estamos a substituir um jogador que era titularíssimo há 3 anos, um dos melhores laterais-esquerdos da Europa e que tinha grande importância no FC Porto de Lopetegui. É bom que todos se consciencializem de que perder tantos titulares em tão pouco tempo reduz as possibilidades de ter uma equipa pronta para ser campeã. Podemos dizer que o FC Porto perdeu Falcao e teve Jackson, perdeu Hulk e teve James, etc. etc. Pois, mas não os perdeu todos de uma vez.

Podemos acreditar que Cissokho o pode substituir, mas não peçam impossíveis a quem fez o primeiro jogo oficial desde maio e está numa espécie de «reabilitação» desportiva. Perder titulares tem um grande impacto, e o FC Porto perdeu meia equipa. Vai custar tempo, e possivelmente mais pontos, até que alguns jogadores estejam à altura da sucessão.

O mesmo vale para Osvaldo, também um projeto de «reabilitação». É óbvio que Lopetegui tinha que colocar Osvaldo, pois nunca se perdoa um treinador que não meta o seu ponta-de-lança quando precisa de ganhar (mesmo que nem sempre seja a melhor solução). Mas o FC Porto, na segunda parte, raramente foi à grande área do Marítimo. Se a bola não chegava lá, que podia Osvaldo fazer? O que faltava ao FC Porto, ali, era o 3º médio para pensar o jogo e simultaneamente saber chegar à área com Aboubakar. Lopetegui ainda pode acreditar que esse jogador chegará do mercado, mas se Bueno não serviu para isto, servirá para quê?

A questão Brahimi (-/+) Brahimi não esteve mal, nada disso. Percebemos a intenção de Lopetegui. Quis disfarçar o tal défice de criatividade na zona central ao puxar Brahimi para o centro. Mas isto implicaria que Cissokho estive apto para dar grande profundidade ao flanco. Ora Cissokho estava a fazer o seu primeiro jogo, com novos colegas, numa nova ideia de jogo. Lopetegui não terá calculado da melhor forma a responsabilidade a que Cissokho estaria sujeito.

Brahimi é criativo, mas mostrou por que é que não pode fazer o tal papel de 3º médio: muitas vezes é demasiado inconsequente. Brahimi dribla para um lado, para o outro, dá uma voltinha, mas os efeitos depois disso nem sempre são práticos e rápidos (um jogador com uma capacidade tão grande de arrastar marcações só tinha a ganhar em saber soltar a bola). Deu um bom passe para o 1-1, e ainda esteve nos lances mais perigoso do FC Porto, mas isso não foi por abundância de Brahimi, foi por escassez de lances de perigo do próprio FC Porto. Funciona muito melhor na ala, pois o tal médio criativo tem que dar a capacidade de soltar rapidamente a bola, fazer um passe de primeira e de não ter a tentação de começar a dançar. Brahimi quis resolver demasiadas vezes as coisas sozinho, mas também foi do mais inconformado.

Jogo no banco (-) Herrera e Imbula funcionaram na 1ª jornada enquanto dupla de médios. Porquê? Porque Maxi Pereira e Alex Sandro estiveram sempre balanceados para o ataque, a garantir profundidade e dar largura à equipa. Cissokho não tem, nem é suposto ter para já, rotinas para fazer o que fazia Alex Sandro. E com Brahimi na equipa, sobretudo estando na zona interior (mais lento na circulação de bola), o FC Porto precisava de dar largura ao seu jogo, de circular rapidamente a bola e de abrir a equipa do Marítimo. Saiu tudo ao contrário.

André André faz sentido na necessidade de ter um médio rápido, agressivo e que faça circular a bola com velocidade, mas ali Lopetegui pensou no modelo da equipa, não na necessidade de chegar ao golo. Ali, era preciso o tal 3º médio que ia colocar-se atrás de Aboubakar, que iria abrir linhas de passe, fazer o último passe e acrescentar capacidade de finalização. Se Bueno não serviu para isso, depois de ter feito toda a pré-época...

Depois, Tello. A sua velocidade podia ser importante, mas de nada serviu, pois o Marítimo esteve sempre muitíssimo bem no posicionamento defensivo. Mas o pior foi a saída de Varela, que tirou muito do que estava a ser a capacidade do FC Porto de meter bolas na grande área, de ser objetivo no ataque e de dar largura à equipa. Por fim, retirar Aboubakar, que até tinha a capacidade de recuar para dar apoio ao meio-campo, para colocar Osvaldo sozinho lá na frente, sem apoio, foi uma decisão que Lopetegui pode ter idealizado da melhor maneira, mas que correu muito mal. Ficámos com a ideia de que o FC Porto não fez tudo o que estava ao seu alcance para ganhar. E tirando o último suspiro de Maxi Pereira e aquele remate de Aboubakar, de facto pouco ou nada se viu na segunda parte na luta pelos três pontos.

Lopetegui pouco arriscou, mas as suas ideias contrastam de forma estranha com a sua atitude. Olhamos para o banco e vemos um treinador esfomeado, a gritar e a esbracejar com clara ânsia de ganhar, como se tudo dependesse do jogo de hoje. Mas olhar para a atitude de Lopetegui e para as alterações durante o jogo é incomparável. Passa a imagem de que havia total empenho em ganhar, mas desconhecimento ou falta de preparação em como o fazer. Não há milagres, pois por melhor que seja o treinador e por melhor que seja reforçado o plantel, recompor uma equipa que perdeu tantos e bons titulares num curto espaço de tempo precisa de... tempo.

Foi um mau jogo, que custou 2 pontos, e oxalá que esta tenha sido a pior exibição da época. Se a repetirmos muitas vezes, vai correr mal. Se aprendermos com os muitos erros cometidos hoje (erros que já deviam ter sido previstos), então podemos estar otimistas. Mas a realidade é esta: 2ª jornada e já temos que andar a correr atrás da liderança. Desta vez por culpa própria (e ainda bem que Lopetegui o reconheceu), mas com máxima responsabilidade de ter que fazer melhor e concluir a 5ª jornada com 13 pontos.



sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Quem arrisca e quem corre o risco

O site Transfermarkt, embora muito conhecido, nem sempre é totalmente rigoroso ao divulgar os valores envolvidos em transferências de jogadores. Mas o balanço dos dados que vão ser apresentados abaixo é tão claro que, mais milhão menos milhão, tudo aponta para uma conclusão: o FC Porto é de longe o clube em todo o mundo que melhor vende e valoriza jogadores.


Desde 2003, e embora haja sempre comissões, terceiras partes e encargos a descontar a este bolo (e alguns valores erradamente divulgados), o Transfermarkt diz que o FC Porto fez 828,91 milhões de euros com a venda de jogadores. Ou seja, quase 70 milhões de euros brutos por época. Se tivermos em conta que o segundo classificado da lista é o Real Madrid, com «apenas» 578,55 milhões (embora com muito menos jogadores vendidos), a diferença é altamente sugestiva.


No balanço, o FC Porto também é número um em todo o mundo: saldo positivo de 459,7M€, mais do dobro do que o Benfica, o segundo classificado da lista. É de realçar que o FC Porto, que tem um passivo e endividamento incomparavelmente inferior ao do Benfica,  gastou «apenas» mais 49M€ do que o rival nos últimos 12 anos, isto nas contas do Transfermarkt. Se tivermos em conta que o FC Porto, em 12 anos, conquistou 22 títulos (dos quais uma Liga Europa, uma Liga dos Campeões e 8 campeonatos), contra 14 do rival (dos quais 4 campeonatos e 6 Taças da Liga), é possível concluir que o superior palmarés do FC Porto justificaria os tais 49M€ que o Transfermarkt diz haver de diferença.

Sim, o FC Porto é o clube que melhor vende em todo o mundo. E no último ano e meio, o FC Porto conseguiu fazer uma venda bruta de jogadores que se aproxima dos 200 milhões de euros (a custo da perda de vários jogadores titularíssimos num curto espaço de tempo, casos de Otamendi, Fernando, Mangala, Danilo, Alex Sandro e Jackson). E para quem ainda acha que Lopetegui estava a dar desculpas ao lembrar a perda de titulares, basta dar um olhinho nesta estatística interessante. E antes de falarem na «exceção», convém recordar toda a saga que criou essa exceção. Há muitas coisas exigíveis, mas ser o primeiro a conseguir algo inédito ultrapassa esse campo.

Responsabilidade
desportiva e financeira
Dito isto, segue o óbvio: o objetivo do FC Porto, aos olhos de qualquer adepto, é ver o clube ganhar títulos. Enquanto adeptos, não queremos que um titular saia por 40M€: queremos que saia como campeão (num universo ideal nem quereríamos que saísse, mas percebemos o modelo). Por outro lado, é o ciclo que se repete: alguns jogadores têm que sair para que outros possam entrar. E esses que entram, já poderão sair como campeões.

E será essa a grande responsabilidade e desafio de 2015-16. Otamendi, Fernando, Mangala, Danilo, Alex Sandro e Jackson conquistaram coisas boas no FC Porto. Mas nenhum deles deixou o clube como campeão. Que quem ocupou os seus lugares lute para recuperar esse estatuto, é o desejo de todos nós. Ninguém está obrigado a ser campeão, porque ninguém ganha títulos por garantia. Pinto da Costa, em mais de 30 anos de presidência, já teve discursos assertivos, de extrema confiança, mas nunca prometeu títulos. Esse é o limite. Enquanto adeptos, não podemos exigir títulos, ninguém pode. Mas podemos e devemos exigir uma equipa que dê tudo, tudo pela concretização desse objetivo. Que saiba o que faz em campo, que saiba responder a qualquer adversidade e que acabe o jogo com a garantia de que foi feito tudo o que estava ao alcance para lutar pela vitória.

Afinal, o futuro do FC Porto está, mais do que possa parecer, nas mãos de Lopetegui e dos jogadores. No FC Porto não é qualquer treinador que é campeão: ser treinador no FC Porto é o trabalho mais difícil do mundo. Tudo isto porque o que permitiu ao FC Porto ganhar 19 títulos nos últimos 12 anos, e ser o clube mais titulado do século XXI, tem sido em grande parte as vendas milionárias. Jogadores de qualidade que se valorizam, saem e dão lugar a outros que continuam o ciclo. A verdade é que o modelo de gestão é da SAD, mas quem tem a responsabilidade de o fazer funcionar são os jogadores e o treinador.

Daí que seja incansável na defesa do treinador do FC Porto a partir do primeiro dia em que veja compromisso com o clube, qualidade e determinação em vencer e melhorar. As receitas operacionais da SAD não sustentam os próprios gastos (que, diga-se, também aumentaram para melhorar o plantel e reforçar as condições para cumprir o tal ciclo). E desde a criação do fair-play financeiro, o FC Porto começou a vender ainda mais jogadores (a preços também mais altos), pois ainda não se aproximou do necessário equilíbrio entre gastos e receitas. Por isso, tem que ser o trabalho da equipa técnica e dos jogadores, ano após ano, a permitir que o FC Porto resista financeiramente. Nem o melhor dirigente do mundo dá chuto na bola. Nem Beckenbauer, quando era presidente do Bayern, ia para os treinos dar explicações. Tal como os jogadores, talentosos por natureza, executam as ideias de um treinador, também é o plantel a executar as ideias da SAD.

No último ano, um punhado de jogadores e o trabalho do staff permitiu ao FC Porto gerar mais-valias que asseguram o cumprimento do orçamento e mínima estabilidade financeira. E se estão reunidas as condições financeiras, é tempo de apostar em força no sucesso desportivo.

Por isso, mais do que ganhar ao Marítimo, o FC Porto vai ter que mostrar o que não mostrou na última época nas visitas à Madeira: uma sede insaciável de vencer, uma equipa que sabe o que quer e como o vai conseguir, uma equipa de jogadores que sabem que se não suarem até à última gota merecem voltar ao Porto a nado. O fim, os títulos, satisfazem qualquer adepto. Mas não há maior orgulho dos que os meios - a raça, a mística, a luta, os pilares que simbolizam a história do clube - para chegar a esse fim. 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O treinador que mais teve ou o que mais perdeu?

Habituámo-nos a dizer que Julen Lopetegui teve/tem recursos que os treinadores do FC Porto nos últimos anos não tiveram. Dizer que teve o melhor plantel é sempre discutível (por exemplo, considero que o plantel de 2010-11 era superior ao da época passada), mas é um facto que teve o plantel mais caro de sempre e vai voltar a tê-lo em 2015-16. 

Fim da linha para
Alex Sandro
Mas curiosamente, das 10 contratações mais caras da história do FC Porto, apenas duas foram efetuadas na era Lopetegui: Imbula, contratado agora e sob condições muito específicas (apenas a intervenção da Doyen Sports permitiu ter já o jogador), e Adrián López, outra contratação conseguida em moldes muito particulares e que, embora não tenha funcionado desportivamente, ainda pode ter salvação financeiramente.

No entanto é verdade que Lopetegui herdou excelentes ativos que já estavam no plantel. Entre eles, Danilo, Jackson Martínez e Alex Sandro. E também é verdade que numa época em que o FC Porto não ganhou nada desportivamente, estes três jogadores atingiram um patamar de valorização de mercado que era difícil imaginar.

- Jackson Martínez é o ponta-de-lança de 28 anos mais caro de sempre: 35 milhões de euros, e ainda havia quem se aproximasse dessa marca, no caso o AC Milan.

- Danilo é o lateral mais caro da história do futebol nacional, um dos três laterais-direitos mais caros de sempre e o FC Porto conseguiu um valor bruto de 31,5 milhões por ele a nove meses do final de contrato.

- E Alex Sandro, a menos de cinco meses de poder assinar por outro clube a custo zero, está de malas feitas para a Juventus, por um valor nunca inferior a 25 milhões de euros. Se tivermos em conta o preço pelo que o muito mais carismático, influente e melhor jogador Danilo saiu, então a venda de Alex Sandro, goste-se ou não neste momento (e desportivamente é difícil gostar), então é uma excelente venda. Restará a Pinto da Costa explicar - porque tem que explicar - os 30M€ que disse ter antes recusado, se bem que é possível alegar que o dinheiro que se poupa na renovação de Alex Sandro quase compensa o défice da proposta da Juventus. Mas a continuidade de Alex Sandro dispensava a contratação de mais um lateral-esquerdo, algo que passou a ser uma necessidade para quem não está satisfeito com José Ángel.

Nem só de títulos se faz
um bom trabalho
Três jogadores, mais de 90 milhões de euros. Fantástico. Em três jogadores, numa época de zero titoli, o FC Porto faz mais dinheiro do que em todas as receitas operacionais que estavam orçamentadas para 2014-15. Danilo, Alex Sandro e Jackson Martínez têm muito talento e não foi Lopetegui que lhes ensinou a jogar futebol. Mas que foi após uma época com Lopetegui que chegaram a três transferências impensáveis, foi.

E há outros méritos. Com um guarda-redes criticado e centrais muito pouco aclamados, Lopetegui apresentou a melhor defesa das 25 principais ligas europeias. Casemiro, o tal que irritava ver jogar no início da época, ainda deu para uma compensação de 7,5M€ (a conferir depois no R&C, até pela contratação de Casillas). Óliver Torres, o miúdo que não jogava no Villarreal, deixou no FC Porto (e nos adeptos) um vazio que só ele mesmo parece poder preencher. Rúben Neves foi pescado nos juvenis sem nunca antes ter sequer feito um treino nos sub-19 ou na equipa B. Marcano foi um achado, Herrera foi um dos médios de melhor rendimento na Champions e até Cristian Tello, mesmo entre lesões e baixas de forma, entre golos e assistências rendeu 19 golos no campeonato - menos um do que Gaitán, a estrela do rival. E muito mais merecia ser destacado.

A cobrança para Lopetegui vai ser alta para o tribunal do Dragão (o das bancadas, não o da bluegosfera), mas convém lembrar: Danilo, Alex Sandro, Casemiro, Óliver, Jackson, e num grau diferente Fabiano e Quaresma (saíram porque a SAD e Lopetegui quiseram e havia melhor para os substituir), saem todos no mesmo defeso. São 7 habituais titulares na época anterior. E no verão de 2014, o FC Porto perdeu o central mais caro da história do futebol (Mangala), um dos melhores trincos que por cá passaram (Fernando) e a defesa ainda se estava a recompor da saída de Otamendi (que sem surpresa já tem um valor de mercado que é o triplo daquele por que saiu em 2014).

Lopetegui pode ter reforços que nenhum outro treinador do FC Porto teve. Mas também nunca nenhum outro treinador do FC Porto perdeu tantos titulares em tão pouco espaço de tempo. Por isso, quando Lopetegui diz que o FC Porto é a equipa que mais titulares perdeu, não está a arranjar desculpas: está a enunciar um facto que muitos vão querer, convenientemente, esquecer e que ele sabe que será difícil combater em 2015-16. O FC Porto não pode virar a cara às adversidades, mas também não as pode ignorar.

Mercado e as peças para Lopetegui

Faltam duas semanas para o fecho do mercado. E uma das frases mais interessantes de Lopetegui enquanto técnico do FC Porto foi que só olha para o mercado «para melhorar a equipa», nunca para a deixar mais frágil. Num clube assumidamente vendedor como o FC Porto, é curioso o treinador assumir esta postura.

O plantel ainda vai forçosamente emagrecer, pois não haverá lugar para todos, mas a questão das entradas ainda não está sentenciada. Há quem peça um central, há quem deseje um extremo, mas o pedido que tem recolhido maior unanimidade é o do tal médio criativo para fechar o meio-campo, o jogador capaz de driblar em zona interior, distribuir jogo, fazer o último passe, ele próprio aparecer em zonas de finalização e sem nunca comprometer no processo defensivo.

9,5M€ por colocar
A lógica diria que esse médio está nos quadros do clube: Quintero. Estão quase 10M€ investidos num jogador que está a dois anos de terminar contrato e que ainda nem tem clube para jogar em 2015-16. O FC Porto nunca se enganou quanto ao seu talento. Quintero tem um excelente pé esquerdo, faz bem o último passe, tem bom remate, bate bem as bolas paradas, tem capacidade de drible curto acima da média... Só lhe falta uma coisa: saber jogar futebol. Ou duas: aprender a ser futebolista. O talento está lá, mas as componentes físicas e psicológicas estão abaixo dos exigível. Lopetegui deu-lhe alguma continuidade de jogos em 2014-15, e Quintero chegou a parecer que ia engatar, mas não aguentou.

Entende-se que Lopetegui não veja em Quintero o tal médio que falta ao plantel, mas importa não esquecer uma coisa: Quintero não é mercadoria que já podemos dar como descartável. Primeiro, porque estão 10M€ investidos num jogador que foi contratado em 2013-14, sem intervenção de Paulo Fonseca na altura, numa época negra a nível financeiro. Segundo, porque sabemos que tem talento. Não é um caso perdido. É um caso que a SAD não pode nunca dar como perdido, seja desportiva, seja financeiramente. Por diversos motivos Quintero pouco ou nada evoluiu em dois anos, e grande parte desse motivos são de responsabilidades imputadas ao jogador, mas o FC Porto não pode desistir dele, pois foi uma grande aposta do clube. E mesmo que não seja aposta no clube, exige-se máximo empenho na reabilitação e evolução do jogador. Ao clube e ao atleta.

De volta ao ponto inicial. Lopetegui, logo na 1ª jornada, já deu uma excelente resposta à carência no plantel. Ao envolver tanto os laterais no processo ofensivo, permitir aos extremos explorar o espaço interior e ganhar através de Herrera e Imbula grande verticalidade no meio-campo e capacidade em aparecer em zonas de finalização, o FC Porto disfarçou muito bem a falta do tal médio. Mas há uma pergunta que se impõe, e que deve ser feita ao treinador: o plantel está preparado para jogar sempre assim e não receber o tal médio? Lopetegui dirá, certamente, que não, pois um treinador que fala do mercado como Lopetegui o fez é um treinador que sente que ainda falta algo.

E com isto recuamos até 2013, a lembrar o caso Bernard. Há quem recorde que o FC Porto errou ao deitar todas as fichas em Bernard, dando o jogador por garantido, e depois já não teve capacidade para encontrar uma alternativa quando apareceu o Shakhtar. Nada mais falso, pois Bernard assinou pelo Shakhtar na primeira semana de agosto. Havia tempo de sobra para contratar uma alternativa. Não havia era outra coisa.

Plano B, precisa-se
O prejuízo apresentado no final da época justificou tudo: o FC Porto não teve condições financeiras para contratar mais ninguém. Acreditou-se em Licá e os resultados ficaram à vista. Bernard era um jogador com preço de mercado de 20M€, mas isso não significa que o FC Porto tinha capacidade para contratar um jogador desse preço. Era simplesmente o que a Doyen tinha para oferecer.

Dois anos depois, situação idêntica com Lucas Lima. Os grandes investimentos em Casillas e Maxi Pereira, já para não falar em Imbula, alimentaram a crença de que o FC Porto quase podia chegar a qualquer jogador no mercado. Mas o efeito está mais próximo do contrário: depois dum esforço tão grande em trazer 3 ou 4 jogadores mais experientes para a equipa titular, não restou grande margem para mais investimentos.

Porque é que não se vislumbra, para já, alternativa a Lucas Lima? Porque Lucas Lima é o que a Doyen tem para oferecer. O FC Porto só teve um grande investimento esta época, Imbula, e também envolveu a Doyen. Caso contrário, todas as contratações do FC Porto estariam feitas ou a custo zero (que implica normalmente maiores comissões, prémios e salários), ou no mercado nacional. O FC Porto está a investir (e muito bem) com extrema disciplina. Sobretudo se tivermos em conta a situação de alguns ativos.

É um balanço que poderá ser aprofundado depois, mas entre os emprestados do FC Porto estão investidos mais de 25M€. Ora isto é quase tanto como o valor contabilizado para compras de passes em 2015-16. Isto significa que houve uma série de investimentos que ou foram maus, ou precisam de mais tempo, ou simplesmente falharam. Depois, há um jogador de 9,5M€ para colocar (Quintero), um central de 7,7M€ que ainda não é titular (Indi) e dois ativos caros (Alex Sandro e Herrera), de mais de 17M€, que estão entre a renovação e a lei do mercado. Isto para não falar em Adrián López, que já se sabe que vai sair mas não em que moldes, e jogadores caros ainda sem o futuro resolvido, como Quiñones ou Rolando.

Investimento para 2015-16
Além disso, o FC Porto já tem uma lista de potenciais compras para 2015-16. Como por exemplo Aboubakar, de quem a SAD só tem 30% e cada parcela de 10% custa entre 1 a 2 milhões; Brahimi, de quem a SAD ainda pode resgatar mais 25% (até ver pagou 5,3M€ por 50%); Tello, emprestado pelo Barcelona, que tem opção de compra que só poderá ser exercida com grande ginástica financeira. Estes 3 ativos são candidatos às tais grandes vendas que permitem à SAD (sobre)viver acima das suas possibilidades operacionais todos os anos. Mas ainda vão custar mais do que já custaram. E tendo em conta que é cada vez mais raro ver um jogador com 100% do passe nas mãos do FC Porto, a percentagem de receita tem tendência a diminuir. Além disso, ainda em 2015-16, há a contar uma folha salarial que possivelmente será a maior da história da SAD e a própria liquidação de reforços já contratados, como Imbula e qualquer outra possibilidade que a Doyen possa ter. Uma venda, é certo, poderia dar mais alguma liquidez para o curto prazo e reduzir a necessidade de mais-valias para o 2º semestre. Mas apenas Alex Sandro tem mercado para isso neste momento. Portanto, ou a Juventus abre de facto os cordões à bolsa, ou Pinto da Costa terá que explicar como é que recusou 30M€; e se quiser explicar que os 30M€ não eram cash, então talvez tenha que explicar como se prescindiu da oportunidade de ter Óliver Torres pelo menos mais um ano. Como o presidente que todos conhecemos não é homem de ficar de mãos atadas na hora de negociar jogadores, aguardemos.

Tendo em conta que é quase impossível fugir a um défice operacional sempre acima dos 30 milhões de euros, aliado a todos os gastos previstos/possíveis para 2015-16, entende-se que a margem para investir ainda mais no plantel está reduzida. Daí tanta espera por Lucas Lima e pela Doyen, como há dois anos houve esperança e crença em Bernard e na Doyen. E em 2013-14, Licá e o bom início de época disfarçaram muita coisa. Daí a importância de agora avaliar a situação com o máximo pragmatismo: o plantel que Lopetegui tem em mãos dá mesmo as garantias necessárias para cumprir os objetivos do FC Porto?

Se sim, força, vamos para a guerra com o que temos, e quem achar que é suficiente no final estará sempre sujeito à eventualidade de explicar por que é que afinal não era suficiente. Se não, então mais que nunca o FC Porto terá que recuperar o toque de midas e procurar soluções baratas, com um euro no bolso - e esse euro não precisa de ser de um fundo. Lopetegui, enquanto treinador do FC Porto, também tem que ter a capacidade de sugerir nomes low cost para reforçar o plantel, como o fez tão bem com Óliver, Marcano e até Varela ou Rúben Neves, em diferentes circunstâncias e moldes negociais, e não tão bem com Campaña ou Andrés Fernández.

Largos dias têm duas semanas. É o tempo de acabar de compôr o plantel e de aprender com os erros cometidos em 2013-14.

domingo, 16 de agosto de 2015

Aboubakar dançou o chá-chá-chá

Ganhar ao Vitória de Guimarães no Dragão não é um atestado de qualidade para ninguém. Mas a forma como o 3x0 foi obtido é uma soma de boas notícias: reforços que acrescentam algo ao plantel, intenção em corrigir muitas das limitações do futebol praticado na última época, alguma evolução e belos sinais na substituição de Danilo, Casemiro, Óliver, Jackson e Quaresma. E nos últimos 450 minutos, inclusive jogos de pré-época contra equipas da Bundesliga, La Liga e Premier League, nenhum golo sofrido.

Na 2.ª jornada já teremos um verdadeiro teste na luta pelo título, na ilha maldita, onde o FC Porto não vence há cinco jogos e deixou lá, em 2014-15, pontos que teriam sido suficientes para ganhar o último campeonato. Se a equipa repetir muito do que fez na estreia no campeonato, a maldição não terá como resistir.





Exibição completa
Jackson Martínez (+) - Belo jogo de Jackson Martínez, não só pelo bis como em toda a envolvência no jogo coletivo. Continuou a jogar em zonas recuadas, mas com um plus em relação à época passada: é mais rápido e incisivo a sair no um para um, parte melhor a partir do flanco, é mais veloz a desmarcar-se e sacou duas assistências que Herrera e Imbula não podiam desperdiçar. Jackson fez com que tudo se passasse à sua volta, surgiu galvanizado, empolgou os adeptos e não conseguiu tocar uma única vez na bola sem que se esperasse algo de bom. Foi o goleador e referência ao qual o FC Porto se habituou. Nem parece que saiu para o Atlético. Ah, troquem "Jackson" por "Aboubakar". Só mudou o nome. E esta é a última vez em que Jackson é o termo de comparação para Aboubakar, pois o camaronês começou ontem a escrever a sua própria história. Jackson é um dos pontas-de-lança mais completos do mundo. E Aboubakar fez uma das exibições mais completas que um ponta-de-lança pode fazer.

Laterais (+) - Alex Sandro dá o primeiro golo, Maxi Pereira o segundo e terceiros. Três assistências dos dois laterais num só jogo. Começando por Alex Sandro: está mais leve, mais ágil, mais agressivo, e quando um lateral joga com um extremo inteligente como Varela no seu flanco só tem a ganhar. Quanto a Maxi Pereira, foi aqui analisado, aquando da contratação do jogador, que em termos de assistências/golos não ia oferecer menos do que Danilo. Começou muito bem, com grande disponibilidade e empenho. É difícil não gostar de um jogador com esta postura.

Muito para dar
Varela (+) - O melhor marcador português da história do Estádio do Dragão voltou com tudo. Combina com os laterais como nenhum outro extremo do FC Porto o consegue fazer, cruza com precisão e surgiu com maior objetividade e prontidão. Oferece mais ao plantel do que oferecia Quaresma, por mais polémica que possa parecer esta afirmação, e entre golos e assistências não vai oferecer menos do que o seu antecessor. Brahimi e Tello podem contar com vida difícil. Ah, e Varela, no lance de 3x0, teve a calma e cabeça que Tello não teve quando viu a baliza praticamente aberta. Para espanhol ver.

Evolução (+) - Primeiro: trabalho de casa nas bolas paradas. Jogadores a posicionarem-se bem, a ganharem lances de cabeça, a movimentarem-se de forma estudada e Varela a bater bem a maioria dos lances. Lopetegui tem que mostrar evolução neste capítulo esta época, e para já começou bem. O meio-campo está mais combativo, mais forte e a verticalidade que Imbula e Herrera oferecem ao meio-campo, conjugada com a enorme projeção ofensiva de Alex Sandro e Maxi Pereira, disfarçou a ausência do tal 3º médio criativo (Danilo Pereira, candidato à melhor contratação da época, segurou muito bem as pontas e foi prático no início de construção). Além disso, tanto Imbula como Herrera apareceram muito bem em zonas de finalização (falta afinar a pontaria - Imbula tem que aprender a chutar com o pé direito, o seu ponto fraco). Viu-se evolução em todas as limitações do FC Porto de Lopetegui na época passada, inclusive a maior agressividade na reação à perda da bola, em zonas mais adiantadas.





Nem só Héctor esteve mal
Começa bem/mal (-) - Herrera, apesar da importância na verticalidade que dava ao jogo e do bom entendimento com Imbula, sabe que não esteve bem. Nervoso, com desacerto no passe, pressionado por as coisas não lhe estarem a correr bem. Estamos no primeiro jogo da época, início da segunda parte, então como se motiva um jogador a quem as coisas estão a correr mal? Toma lá uma assobiadela. Enfim, é sempre preciso um patinho feio, e como não dava para implicar com Maicon ou Varela sobrou para Herrera. Esteve mal, para a próxima estará melhor. Tem que estar melhor, até porque André André e Evandro estiveram à altura e Rúben Neves (Lopetegui saberá melhor do que ninguém como fazer a sua gestão, mas ninguém compreenderia que não ficasse no plantel) tem pezinhos para mais do que fazer jus ao número que está na camisola.

À altura (-) - Não se pode pedir muito a um árbitro que apitou pela primeira vez uma equipa grande. Ou então metam lá um internacional a explicar como é que consegue assinalar 23 faltas contra o FC Porto, que teve 65% de posse de bola, e apenas 10 para o adversário, que andou sempre a correr atrás dela. E Maxi Pereira lá viu o seu cartão. Bem ou mal, não surpreende ninguém. Atenção à nomeação para a Madeira. Uma boa arbitragem não justificará nunca uma má nomeação. Mas com a segunda, dificilmente chegaremos à primeira.