sábado, 30 de maio de 2015

Mais-valias para totós

Provavelmente, é mais ignorância ou incompetência do que má fé. Mas é sobretudo um disparate. Falamos do que corre na imprensa desportiva: «Danilo rendeu 23,1M€ ao FC Porto». E dizem isso evocando o Relatório e Contas, quando os números oficiais estão lá chapados, mas nem assim são capazes de citar a informação oficial.

Entram quase 27M€ na SAD
Basicamente, grande parte da nossa imprensa desportiva continua sem saber diferenciar lucro de mais-valia. O que leva alguém a seguir jornalismo desportivo não é propriamente as finanças, mas sim o gosto pelo futebol. Mas em ambos os casos, impõe-se a necessidade de rigor. 

O R&C ainda será devidamente analisado (embora o relatório intercalar nunca seja mais do que um ponto de referência, pois o balanço final só pode ser feito em outubro). O tempo para atualizar o blogue não tem sido muito (como se nota) e ainda há muito para discutir no balanço desportivo de 2014-15, mas importa esclarecer, para quem está a ser induzido em erro, o que diz o R&C sobre o negócio de Danilo.

Diz o que já se previa: O Tribunal do Dragão calcou que a mais-valia rondaria os 22M€, num potencial negócio de 30M€, e a SAD anunciou 23,1M€. Um excelente negócio, a todos os níveis. E mais uma vez, houve quem tivesse muita pressa em anunciar que Danilo estava destinado ao BES/Novo Banco. Uma vez mais, como tinha sido aqui antecipado, tal é falso. A data de vencimento do maior empréstimo bancário (25M€) continua a ser setembro de 2015, após o fecho do mercado de verão, e jamais poderemos ignorar a possibilidade de uma renegociação. E sim, temos um mês para fazer uma grande venda, de mais-valia acima de 20M€,  senão não cumprimos o orçamento.
«Ainda sobre a questão das mais-valias, um conceito que ainda faz confusão a muita gente. Em termos orçamentais, o que interessa não é o lucro, mas sim a mais-valia. Danilo já está pago. Foi contratado em 2011 e a sua contratação foi paga com receitas provenientes de diversas fontes. Por isso, para 2014-15 não interessa ao FC Porto avaliar o lucro considerando o que Danilo custou em 2011, mas sim a mais-valia (verba excluindo comissões, amortizações, prémios e cláusulas) que gera para o orçamento desta época. O FC Porto não precisa de lucro para duplicar um investimento feito em 2011; precisa sim de mais-valias para pagar despesas correntes e cumprir o orçamento de 2014-15.»
Em relação à mais-valia gerada por Danilo, é noticiado erradamente que o FC Porto teve despesas de 8,39M€ com a transferência. Completamente falso. Note-se esta criatividade: «No entanto, e deste valor total, para o FC Porto sobram apenas 23,1 milhões de euros. Os restantes 8,4 milhões são divididos entre movimentos financeiros (...)»

Também era falso que o Real Madrid fosse assumir todas as despesas, conforme se temia aqui.  Dos 31,5M€, o FC Porto tem que deduzir o valor contabilístico do último ano de contrato de Danilo (que poderia ser «arredondado» para 15 meses), que era de 3,56M€. Isto ainda é dinheiro, minha gente, quase que dá para pagar um ano de Jorge Jesus. Depois, há a excluir a mais-valia a que o Santos teve direito (10% da mais-valia, não da transferência) e a comissão para os intermediários, e assim se calcula a mais-valia. O que é completamente diferente daquilo que é o dinheiro que o FC Porto tem a receber.

Na verdade, o FC Porto recebe os 31,5M€. Já recebeu 10M€, que serviram para pagar salários e despesas correntes (foi um trimestre muito, muito difícil, como se pode ver pela abertura de um crédito de 3M€, a 2 meses, com o Banco Carregosa, mais 1,5M€ com o Montepio e um financiamento de 5M€ da - não vale a pena googlarem - For Gool Co Ltd, que tem Herrera como garantia e retorno em caso de transferência - será aprofundado mais tarde, pois esta parte sim é a mais preocupante e importante do R&C, e a primeira alternativa em vigor ao fim do TPO). Vai receber mais 9,356M€ até ao fim do ano e 12M€ na próxima temporada. Mas tem que pagar, do seu bolso, a mais-valia ao Santos e a comissão aos intermediários. Isto deixa nos cofres da SAD mais de 26,5M€, mas segundo a teoria de alguns iluminados o FC Porto tem que pagar o valor contabilístico que devia ser excluído do bolo total. Se a Albuquerque ouve esta estamos bem lixados.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Análise 2014-15: os laterais

Já tinham uma enorme importância com Vítor Pereira, mas com Lopetegui a influência cresceu. Os laterais do FC Porto são cada vezes mais asas de ataque, responsáveis por dar profundidade ao mesmo tempo em que também saibam procurar o espaço interior. Lopetegui até poderá variar a dinâmica de jogo em 2015-16, mas de certeza que a importância dos laterais não sofrerá alterações. Resta saber se teremos soluções à altura.

Alex Sandro só fez um golo mas teve 5 assistências, na Champions foi o 2º jogador do FC Porto com mais milhas nas pernas (o primeiro foi Herrera), foi o lateral com melhor média de cruzamentos e sofreu mais faltas do que as que cometeu. Danilo fez 7 golos, 5 assistências e contagiou tudo e todos pela forma como galgava pelo corredor, cortava para dentro e arrastava marcações. A SAD investiu e arriscou imenso nestes dois laterais, que felizmente corresponderam. Foram donos e senhores das laterais nos últimos anos, não deixando espaço para mais ninguém entrar. Mas um dia teremos que os substituir, e esse dia aproxima-se. Vamos às análises da época 2014-15.

Danilo - Que mais se pode dizer? Que faz um jogador que ouve da boca do sr. Scolari «não te chamo à seleção porque jogas no FC Porto»? Danilo podia ter pedido para sair rapidamente de Portugal. Mas não. Cerrou os dentes, honrou o símbolo e chegou a titular da seleção do Brasil como jogador do FC Porto, mesmo que só o tenha sido após Scolari sair. Foi top 5 esta temporada, fez-se um dos melhores laterais do mundo e ninguém mais que ele merecia ter saído com um título. Vai para o Real Madrid, clube que nenhum jogador em Portugal pode recusar, e deixa um vazio. Não só dentro de campo como nos corações dos portistas. O investimento, 13M€ + encargos, valeu cada cêntimo. Grande contratação, grande jogador, grande profissional, grande venda. 

Alex Sandro - Normalmente, quando um jogador em fim de contrato hesita em renovar, tende-se a condenar o jogador e realçar que a SAD fez o seu papel. «Já ofereceram a renovação e o jogador não quis. Querem que faça o quê, que lhe aponte uma arma à rótula!?» Pois, mas esta não pode caber. Sendo Alex Sandro um jogador em que a SAD investiu quase 10M€ e que é hoje reconhecidamente um dos laterais esquerdos de maior potencial, a SAD não pode nunca perder o controlo da situação do jogador. É responsável por um alto investimento num activo caro, valioso e que continuará a ter alta cotação desportiva e/ou financeira. Não podemos ter mais Cebollas. Assuma-se: ou renova ou sai por um valor aceitável/possível. Alex Sandro tinha um contrato de 5 anos e houve muito tempo para tratar e antecipar esta situação. E ainda há. Conforme já foi descrito no segundo parágrafo, fez uma boa época e é uma mais-valia que vale a pela blindar. E continuar a rentabilizar, seja em campo ou na SAD.

Ricardo Pereira - Sempre que joga, cumpre. Mas é aposta maioritariamente em jogos teoricamente menos exigentes, como os jogos das Taças ou envolvido no esquema de rotação. Tem 21 anos, uma larga margem de progressão pela frente e renovou contrato recentemente. Ultrapassou Opare na hierarquia de opções de Lopetegui, ficando como a alternativa a Danilo, mas a opção de colocar Reyes em Munique pode dizer muito da confiança a curto prazo para fazer de Ricardo o titular no lado direito da defesa. Compreende-se que Lopetegui queira uma solução no mercado, mas não podemos cometer loucuras. Ironicamente, quando contratámos Danilo, não precisávamos dele (havia Fucile e Sapunaru e o primeiro jogo de Danilo até foi a médio - não sabiam que fazer dele). Agora precisamos de um lateral e não encontraremos nenhum com a qualidade imedita de Danilo. Por outro lado, se Ricardo não for já titular, vai para a 3ª época no FC Porto como mera alternativa. Assim é difícil crescer. Cruza e ataca bem, mas defensivamente tem lacunas, sobretudo quando lhe metem a bola nas costas da defesa e tem que fechar em zona mais interior. Limitações próprias da idade... ou de um extremo?

José Ángel - Uma boa aposta do FC Porto no mercado, contratação de pouco risco e muita pertinência. Lateral de propensão ofensiva, que sabe cruzar bem, mas ainda não conhece o momento certo para soltar a bola e muitas vezes enrola-se demasiado, a ponto de depois perder o lance. Havendo Alex Sandro, é difícil jogar. Sem Alex Sandro, é uma solução mais do que interessante para começar a nova época. É preciso ter em conta que esteve várias semanas consecutivas sem jogar e poucas vezes fez 2 ou 3 jogos seguidos. Assim, é difícil ganhar consistência. Conseguindo uma sequência de jogos, pode tornar-se dono da posição. É para ficar.

Opare - O Tribunal do Dragão vai analisar, à parte, os jogadores emprestados, mas como Opare iniciou a época entra aqui. Uma questão: valeu a pena entrar numa guerra de empresários, com ameaças de queixas contra o FC Porto à FIFA, por Opare? Podia ter valido, mas nem houve hipótese de Opare mostrar o seu valor. Assim, qualquer análise torna-se injusta para o jogador. À partida seria alternativa para Danilo e Alex Sandro, mas depois houve a hipótese de ir buscar Ángel e Lopetegui gostou mais de Ricardo. Foi emprestado ao Besiktas, alternou entre o banco e a titularidade, fala-se da existência de mercado na Turquia. Tendo o FC Porto de gerar mais valias e emagrecer a folha salarial, e havendo jovens de valor para a posição a evoluir nas camadas jovens, ou integra-se Opare no plantel ou que se siga uma transferência. 

Os bês - David Bruno, agora com 23 anos, há muito que devia ter sido cedido a outro clube. É o jogador com mais anos de clube nos nossos quadros, já fez pré-épocas com a equipa A e precisa da possibilidade de futebol de primeira liga. Tem mais um ano de contrato, foi habitual titular na equipa B, ora à esquerda ora à direita, e é altura de sair do FC Porto, para jogar a um nível superior, pois aqui a oportunidade não parece que vá surgir. Victor García: esperava-se a época de afirmação, mas não evoluiu tanto quanto se desejaria. Ainda é jovem, tem 20 anos, é um jogador que faria todo o sentido o FC Porto manter. Se houver hipóteses de comprar e colocá-lo na primeira liga, óptimo. Se até o Pedro Queirós lá consegue jogar, o Victor também consegue. E seria bom começar a abrir já espaço para Fernando Fonseca.

Rafa: andou-se a perder tempo com um projecto de lateral Kayembé que era tão bom que chegou ao Arouca para jogar a extremo. Rafa vai estar no Mundial sub-20 e poucos duvidam que será um dos destaques. É sempre redundante esperar evolução dos bês quando não há um treinador com um mínimo perfil que o recomende para isso (opinião por cá, mas podem sempre pedi-la aos jogadores), mas Rafa, que tem um pé esquerdo com régua e esquadro, necessita de melhorar vários aspetos defensivos do seu jogo. Próprio da idade. 

Pergunta(s): quem deve ser o sucessor de Danilo? José Ángel está pronto para assumir a vaga de Alex Sandro?

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Análise 2014-15: os guarda-redes

Quem gosta de basquetebol conhece esta frase: «Os ataques ganham jogos, as defesas campeonatos». Infelizmente, no futebol isto não é regra, caso contrário o FC Porto teria tido uma época muito melhor.

O menos batido da Europa
Depois de no espaço de 6 meses termos perdidos 4 esteios defensivos (Helton, por lesão, e Otamendi, Mangala e Fernando), o FC Porto conseguiu, em 2014-15, acabar a época com a melhor defesa das 25 principais ligas europeias. Tudo isto quando houve muita crítica a Fabiano ao longo da época e aos defesas-centrais. Quando ser a defesa menos batida da Europa não chega, o que chegará?

Claro que não se pode reduzir tudo aos números. Os guarda-redes do FC Porto raramente ganham jogos, pois por norma temos boas defesas e os adversários poucas vezes conseguem criar perigo. E este ano tivemos algo que ajudou a essa estatística, que foram grandes melhorias na reação à perda da bola. Por isso, um guarda-redes do FC Porto pode fazer 50 defesas, mas basta um erro para ficar marcado

Um dos primeiros pedidos de Lopetegui quando chegou foi um guarda-redes. E tinha nome: Navas, ainda antes do Mundial 2014. O FC Porto não agiu a tempo e perdeu-se o guarda-redes. A época teria sido melhor? Impossível saber. Facto é que mesmo com um guarda-redes contestado em parte da época, conseguimos ter a melhor defesa europeia. Agora, volta a haver um pedido de um novo guarda-redes. O nome já é conhecido, Perin, do Génova (e diria que será mais difícil ir buscá-lo ao Génova do que teria sido ir buscar Navas ao Levante). Mas a maior surpresa é a revelada por Pinto da Costa quanto à possível continuidade de Helton. 

Se renovar, mais gente terá que sair. Em Novembro foi alertado: o FC Porto tem que parar de contratar guarda-redes só porque sim, porque isto já é uma prática habitual e que se adivinhava novamente para 2015-16. Não podemos ter 4 guarda-redes com idade sénior no plantel. O ideal seria 2 seniores + o guardião titular da equipa B. Perin, a prioridade, não é uma contratação de ocasião mas sim de grande aposta de médio prazo. Não há memória de o FC Porto ter investido a sério num guarda-redes jovem já internacional por uma grande seleção europeia. Que tem grande potencial, tem. O valor investido e o leque de guarda-redes para 2015-16 definirão se se tratará, ou não, de uma boa contratação, isto se houver condições para a fechar.

Passemos à análise dos guarda-redes de 2014-15, a exemplo do que será feito nos outros setores.


Helton - É preciso uma enorme determinação para, aos 36 anos, conseguir superar uma lesão que a muitos outros jogadores ditaria o fim de carreira. É o mais carismático jogador do plantel, que entende a mística do clube, que ganhou 7 campeonatos e viu o que foi preciso para o FC Porto não ganhar os únicos 3 que falhou. Está bem fisicamente e tem condições para jogar mais um ano. Não sei se vai ficar, mas só faria sentido se fosse para continuar como número 1. Porque por mais peso que Helton possa ter no balneário, sendo ele um dos mais bem pagos do clube tem que render em campo, não fora dele. O problema esta época, muitas vezes, foi não haver voz de comando dentro de campo, não no balneário. Se Lopetegui quiser e entender que Helton será uma mais-valia, que siga a renovação. Caso contrário, preparem a estátua para o museu, porque Helton bem a merece.


Fabiano - Regressemos ao início: foi o guarda-redes menos batido da Europa. Ficou marcado pelos 6 golos em Munique, mas não tem culpa que a sua defesa, no espaço de poucos minutos, seja três vezes batida no jogo aéreo e sofra três golos. Tentou aproximar-se do que Lopetegui pretendia, o tal guarda-redes que oferece sempre linha de apoio na construção e joga com os pés. Evoluiu, mas passou de titular à bancada (ironicamente, na pré-época passou de possível dispensado a titular). Tem contrato até 2019. Se for para passar a época na bancada, que a SAD procure uma solução para ele no mercado.

Andrés Fernández - A mais estranha aposta de Lopetegui. Foi pé frio, pois em 4 jogos o FC Porto só venceu um. Mas em nenhum teve culpas. A verdade é que pouco ou nada pudemos ver de Andrés. Fazendo fé no R&C da SAD, custou não mais que 1,2M€, mas é estranho que tenha sido contratado para ser prioridade em relação a Fabiano, mas na verdade poucos meses depois Fabiano renovou contrato. Não pode ficar no FC Porto em 2015-16 se não for para jogar. Emprestá-lo a uma equipa de primeira liga, preferência estrangeira, que lhe garantisse a titularidade e cobrisse os salários seria o ideal, ou então recuperar o investimento. Lopetegui conhecia-o bem antes de o contratar. Não justificou a aposta do treinador ou houve erro de avaliação?

Ricardo Nunes - É ingrato dizer isto a um adepto do FC Porto que nem uma oportunidade teve, mas foi uma contratação que se sabia desde o primeiro dia desnecessária. Nem sequer serviu para facilitar as inscrições na Champions. Em termos de plantel principal, em 2014-15 só serviu para desfilar o equipamento. Um contrato de 4 anos para um guarda-redes trintão que se sabia que não seria titular? Que o FC Porto o deixe sair no fim da época, porque aqui não vai jogar e merece mais para a sua carreira do que fazer número. Ter um guarda-redes trintão só para jogar na equipa B e na Internacional Cup não cabe na cabeça de ninguém.

Os bês - Kadú pouco ou nada evoluiu nos últimos 2 anos e é tempo de sair do FC Porto por empréstimo, onde possa jogar com regularidade, de preferência tentando colocá-lo num clube com um bom treinador de guarda-redes, que bem precisa. Caio, nos seus 2 primeiros anos de sénior, fez 2 jogos pela equipa B. Se não puder jogar mais em 2015-16 (Filipe Ferreira e Andorinha já vão ter idade de sénior), é tempo de o deixar sair. E claro, o nome de que todos falam: Raúl Gudiño. Nada justificaria a não exerção da cláusula de compra. É um jogador de enorme potencial, que vai ter o primeiro ano de sénior, e faz todo o sentido que seja o titular da equipa B. 

Pergunta(s): faz sentido contratar mais um guarda-redes para a equipa principal? Perin é a solução ideal? Quem deve sair? Quem devem as opções na equipa A e B?

domingo, 24 de maio de 2015

Terminou a época, arranca 2015-16

Quem viaja com o FC Porto para todo o lado ao longo da época, faça sol ou faça chuva, e consegue encontrar forças para ir apoiar a equipa ao aeroporto depois de uma derrota por 6-1 (apoiar, que é diferente da falácia que é dizer «receber em euforia»), tem o direito de no fim da época não estar satisfeito. Neste caso, os protestos foram feito da maneira mais correcta possível: a insatisfação ficou clara, sem necessidade de insultar. Os adeptos têm direito ao protesto, não ao insulto. Vale para adeptos, claques e para quem esteve à porta do centro de treinos.

Obrigado e boa sorte, Danilo
Os jogadores perceberam a mensagem. Perceberam o quão atípico é o FC Porto acabar uma época sem títulos. Nenhum outro clube em todo o mundo ganha de forma tão frequente como o FC Porto. Mas a frequência não pode nunca ser confundida com facilidade. É sempre difícil ganhar um título, seja ele qual for, sobretudo quando temos novos profissionais que (ainda) não estão habituados a ganhar, e adeptos que não estão habituados a não ganhar. Em 2015-16 todos estarão mais bem preparados, mas isso será aprofundado na análise detalhada de fim de época, que será publicada aos poucos.

Foi o dia de despedida a alguns dos nossos, ainda que só Danilo o tenha feito a nível oficial. Daqui a duas semanas já nos estaremos a roer com saudades de ver o FC Porto jogar e impacientes para que chegue a pré-época.





Danilo (+) - A época estava acabada, não havia nada mais a ganhar. Danilo tem muito com que se preocupar: mudança de casa para Madrid, foi pai há pouco mais de um mês, vai jogar num clube onde todos passam de bestas a bestiais e vice-versa em duas semanas e vai disputar a sua primeira grande competição pelo Brasil, a Copa América. Que faz ele? Galga o corredor como se estivesse numa final da Liga dos Campeões, nunca se encolhe na disputa dos lances e ainda oferece aos adeptos um último lance de alegria na época. Fez-se um jogador à Porto, honrando a mítica camisola 2, e afinal todo o silêncio nas bancadas foi a melhor homenagem possível para ele: não havia palavras que lhe pudessem agradecer o suficiente.

Jackson Martínez (+) - Ok, esteve muito mal na finalização. Mas acaba a época como o melhor marcador, pelo 3º ano consecutivo, e seria sempre o mais forte candidato ao 4º (Pinto da Costa sabe porque e para quem está a falar, isto a propósito da capa de O Jogo). É a definição de um profissional exemplar, que não precisa de conhecer a história do FC Porto para a honrar a cada segundo. Esteve 3 anos a levar a equipa às costas, em meses moribundos para o FC Porto, e também não pensou um único segundo no mercado enquanto jogava a feijões contra o Penafiel. Um campeonato em 3 anos é muito pouco para um jogador deste calibre. A liga portuguesa também. Um dos melhores pontas-de-lança da nossa história e provavelmente o melhor da atualidade. Se não for, não faz mal. Também há quem prefira Heineken à Carlsberg.

Destaques de fim de época (+) - Quaresma, também inconformado em fim de época, voltou a ser dos mais perigosos no ataque, cruzando várias vezes com perigo. Evandro deu cabeça e critério a um meio-campo que estava desgastado e desorganizado. E Aboubakar, nos últimos minutos, desatou o nó, com um oportuno golo e uma boa assistência.





Pela metade não chega (-) - Quintero teve apontamentos de qualidade. Como tem sempre que a bola lhe chega aos pés. Mas ao fim de 2 anos, ainda não conseguiu corrigir o que o impede de se afirmar numa grande equipa: é excessivamente lento, a circulação de bola perde sempre velocidade quando lhe chega aos pés (raramente solta de primeira) e só consegue desembaraçar-se em drible curto (e cada vez menos). A SAD investiu mais 4,5M€ nele, numa época que não foi melhor do que a primeira. Comprámos a totalidade do passe quando Quintero ainda jogava a 50%. Há várias questões a esclarecer: É o FC Porto que não aproveita o talento de Quintero, ou é Quintero que não aproveita o seu talento? E o talento que Quintero tem, será o suficiente para fazer dele um jogador que seja mais do que alguém que aparece a espaços? Todos os futebolistas podem ter talento. Mas nem sempre o talento faz um futebolista.

Terminou 2014/15. Segue-se o balanço, setor por setor, protagonista por protagonista, e a antecâmara para 2015/16, ao longo das próximas semanas.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Pontos nos (Lopetegu)iis

Balanço com vista a 15-16
A época 2014-15 tinha um denominador no campeonato. O FC Porto, jogando umas vezes melhor e outras pior, marcando com maior ou menor facilidade, até mesmo mostrando mais vontade nuns jogos do que outros, foi sempre, sempre superior aos seus adversários (como é de esperar em quase toda a época). Em todos, até à 33ª jornada. Não fomos melhores do que o Belenenses.

Não foi domingo que perdemos o campeonato, mas foi esse o dia em que a matemática disse que o FC Porto já não pode evitar o bicampeonato do Benfica. Um clube com o eco social do Benfica, mais tarde ou mais cedo, tinha que ganhar um bicampeonato. Foram precisos 31 anos para ganhar 2 campeonatos consecutivos, coisa que o FC Porto fez uma dúzia de vezes nesse espaço de tempo. Um título celebrado com pompa e circunstância enquanto a manipulação de resultados proposta pelo presidente do Benfica continua sem conhecer consequências - nem vai conhecer. Mas o Benfica é um justo vencedor deste campeonato - o campeonato da Liga Aliança. Mas quando há portistas que acham que é mais correto chamar a este campeonato um campeonato que Lopetegui perdeu... Estão no seu direito. 

Não vale a pena chorar pelo leite derramado. O FC Porto, pouco mais que excepção feita a Lopetegui, deixou que este fosse o campeonato da Liga Aliança. Poderão dizer, como criativamente já se ouviu, a estrutura preparou Lopetegui para que fosse ele a dar a cara. Certamente conveniente: esperar que seja o treinador o rosto de uma época sem títulos, sem demais responsáveis. Foi Jesualdo Ferreira (que em 3 anos de FC Porto fez mais que Jorge Jesus em 6 no Benfica), foi Vítor Pereira (um excelente treinador), foi Paulo Fonseca (um bom treinador que ainda não estava preparado para esta dimensão), agora Lopetegui (um treinador que vive a sua primeira experiência a este nível e que teve que pegar e reconstruir um balneário de rastos, conseguindo restaurar a competitividade do FC Porto). A não ser que arranjem por aí um Mourinho, vai sendo altura de meter algo na cabeça: o problema não é o treinador. E quando se ouve portistas falarem em Rui Vitória, Marco Silva ou Abel Braga como alternativas... Adiante, que opiniões todos podem ter. E seguido estes exemplos, nem precisam de ter base lógica ou justificação. É opinião, e basta.

Sempre que o FC Porto não ganha um jogo, a culpa vai sempre de encontro a algo: falta mística. É sempre essa a primeira razão apontada. Mas importa colocar uma questão: foi o FC Porto que perdeu a sua mística ou é o futebol português que já não permite conservar essa mística?

O FC Porto enuncia-se como um clube vendedor, um clube onde os jogadores têm ciclos de três anos e depois saem, como disse Antero Henrique. Se os jogadores chegam ao FC Porto e já vêem uma ponte para outros campeonatos ou outros contratos, terão que ser muito bem formados enquanto homens e profissionais para sentirem esta camisola. Como tão bem o fizeram Casemiro e Óliver, dois jogadores que mesmo estando cá por empréstimo nunca se pouparam a esforços pelo FC Porto. Apenas dois exemplos, pois felizmente poderão ser dados bem mais.

Antigamente, o sonho de qualquer miúdo era jogar num clube como o FC Porto. Isso era atingir o topo, ter um bom contrato, jogar futebol ao mais alto nível. Agora qualquer miúdo de 16/17 anos com algum talento já tem empresário, já tem mundos prometidos, já sabe que se não der no FC Porto dá noutro lado. A excepção está... em casa: temos vários jogadores, dos juvenis à equipa B, que não só têm talento para se aproveitar como são genuinamente portistas. Jogadores que começaram a treinar esta semana completamente fodidos por os seniores, que deviam ser o exemplo a seguir, permitirem que o Benfica festejasse já domingo o bicampeonato. Não vão jogar todos no FC Porto, mas alguns podem e vão fazê-lo.

É difícil manter o equilíbrio entre um clube que precisa de vender jogadores e que ao mesmo tempo precisa de manter jogadores para criar a mística. Mas reparemos no que foram os últimos capitães do FC Porto. Helton, Quaresma e Jackson, são 3 jogadores portistas, que se dedicaram ao clube sempre que estiveram em campo e merecem todo o respeito. Mas... a) Helton, sendo um capitão que é um amigo e que apoia muitos os colegas, nunca teve ou teria a tal capacidade de dar o murro na mesa, de berrar quando as coisas correm mal, de fazer como um Jorge Costa, que às vezes nem deixava os treinadores falarem e até metia colegas a chorar. Helton sente muito o FC Porto, mas alguma vez imaginariam João Pinto ou Jorge Costa a tocarem viola nos estágios? b) Quaresma amadureceu muito esta época, talvez como nem ele próprio esperaria. Mas nunca foi um líder por onde passou, e nunca imaginaríamos Frasco ou Aloísio a estarem 15 minutos em frente ao espelho para arranjar as sobrancelhas, o cabelo e os brincos (claro que os tempos mudaram em relação à imagem dos jogadores, mas...). c) E sobra Jackson, um profissional exemplar dentro e fora de campo, mas que tem o destino traçado desde o início da época e não vai ficar para dar as boas-vindas a ninguém. Nem sequer é certo que sequer um destes jogadores entre em 2015-16. Que mística há para transportar para a próxima época? Onde podemos arranjar um João Pinto ou um Jorge Costa? Será que ainda existem capitães assim?

Será que o negócio do futebol permite a existência de mística? De recordar que o que permite ao FC Porto manter-se competitivo em termos europeus é, em grande parte, manter orçamentos acima da capacidade de gerar receitas operacionais. Para isso, tem que valorizar e vender jogadores. Mas é possível tentar disciplinar a aposta tanto quanto possível. Por exemplo, que a SAD hesite cada vez mais em apostar em jogadores que não são pedidos pelo treinador. Como Reyes ou Quintero, por exemplo, jogadores caros que são incógnitas e aos quais ninguém sabe o que fazer. Não quer dizer que o treinador vá acertar sempre, porque não vai. Mas as apostas de Lopetegui que não funcionaram (ou não tiverem tempo suficiente para começarem a funcionar), a saber sobretudo Andrés e Campaña, foram contratações de pouco risco. Podemos falar em Adrián, mas o factor Mendes é o que mais pesa na contratação. Mas regra geral, se for dado um jogador caro ao treinador, é sinal de que a SAD também acredita dele. Mas a SAD apostar num jogador caro que não é um pedido expresso do treinador, infelizmente, não é situação virgem, mas também já é uma política de alguns anos, sobretudo pós-2005.

Lopetegui vai ficar, já prepara a próxima época e ainda bem. O FC Porto precisa de um plano de continuidade. Tivemos o annus horribilis, já 2014-15 foi o ano zero que ninguém quis assumir. É verdade que Lopetegui acaba a época sem ganhar um único título, o que é extremamente raro acontecer por cá. Mas também é verdade que um treinador que esteja 2 anos no FC Porto ganha sempre troféus. É isso que vai acontecer, acredito. E Pinto da Costa também. E sendo este o último ano do 13º mandato de Pinto da Costa, com eleições à vista e muita gente a acreditar que esta é a fase do inevitável declínio de hegemonia de 30 anos, de certeza que o presidente do FC Porto calculou muito bem o risco que está a assumir.

Nos últimos 4 campeonatos, o Benfica entrou sempre na recta final a liderar. Na próxima época vão estar sob pressão, pois vão entrar com uma enorme ilusão em relação ao tricampeonato e convencidos - nem todos - de que o FC Porto de Lopetegui não rende. Aproveitemos. Jorge Jesus quer sair do Benfica, mas para isso Jorge Mendes tem que convencer algum clube a contratar um treinador sem provas dadas em competições da UEFA - até o Quique Flores ganhou pelo menos uma Liga Europa, pá. Mas a força interna não está necessariamente no treinador, está no equilíbrio entre jogadores experientes/líderes (Maxi, Luisão, Lima), talentosos (Gaitán, Salvio, Jonas), orçamentos na casa dos 100 milhões e o projecto de continuidade no mesmo modelo de jogo. Jorge Jesus precisa mais das condições de que dispõe no Benfica do que o Benfica de JJ. Com o desinvestimento que vão sofrer já no verão e a forçosa aposta na formação, vai ser giro - desafiante, vá - acompanhar. Mas deixemos de divagar.

Em relação ao FC Porto, cumprindo o orçamento de 2014-15, levante-se uma pontinha do véu do que se tem ouvido: a necessidade de reduzir os custos com pessoal e os FSE é imperativa, mas a aposta será novamente forte (possivelmente com patrocínio asiático, mas o aumento dos prémios da Champions será a fatia mais significativa). Mas 2015-16 já não será um ano zero. Tem que ser o ano em que corrigimos o que de mal foi feito em 2014-15, rumo à evolução. E isso vai muito além das opções técnico-tácticas de Lopetegui (que também precisam de melhorias, claro). O treinador volta a ter palavra nos reforços, mas a SAD também terá as suas apostas (e pode e deve sempre acontecer o interesse comum), com a chegada (pontinha do véu!) de jogadores com talento nos pés, mas sem experiência de futebol europeu nas pernas. Pede-se equilíbrio e uma aposta criteriosa. Para os que chegarem terem tempo de se afirmar, precisam de entrar numa equipa com base já criada. O FC Porto terá essa base preparada e o pavio necessário? É esse o desafio.

Apostamos nos mesmos protagonistas para 2015-16. Com a expetativa revista em alta, pois a compreensão, paciência e apoio em 2014-15 também o foram. Pelo menos aqui.

PS: Face à altura já tardia em que o post é publicado, não serão atribuídos Bonés e Machados ao jogo em Belém, sobretudo porque impunha-se a necessidade de analisar bem mais do que 90 minutos. 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Lopetegui, a política de comunicação do FC Porto e mais umas coisinhas

A ideia principal passava por uma newsletter para adeptos. Foi daí que nasceu o Dragões Diário. Um mês depois da sua criação, o Dragões Diário deixou de ser, pelo menos em termos mediáticos, uma newsletter para adeptos: passou a ser o principal mecanismo de defesa e contra-ataque para o FC Porto em termos de comunicação.

O impacto na comunicação social está a ser imenso. Faz capas de jornais, motiva respostas institucionais, rende milhares de page-views e faz disparar as vendas de Barral Dermaprotect. Os adeptos do FC Porto concordam quase todos com o mesmo: isto só peca por tardio. Mas há cuidados a ter em conta.

Questão: isto é a palavra do FC Porto ou a palavra de Francisco J. Marques? Tendo experiência e responsabilidades como diretor de informação, FJM está identificado com o clube, percebe como funciona e logo custa a crer que alguma vez desse alguma resposta que não estivesse em sintonia com o que pensa o estado-maior do Dragão. Mas não deixa de ser curioso que todos os textos sejam assinados por FJM, ao contrário do que acontece, por exemplo, em comunicados oficiais. Logo, é o FC Porto quem está a falar ou FJM? Aparentemente, FJM em nome do FC Porto. Se assim é, que seja para continuar.

Mas a assinatura a título pessoal já é uma imagem de marca sua. De recordar o que escreveu quando trocou o jornalismo (Lusa, JN, Público...) pela direção de informação do FC Porto. «Ao longo da minha carreira de jornalista escrevi textos simpáticos e antipáticos para com o FC Porto, para com o Benfica, para com o Sporting e para com todos os clubes. É a vida. É um facto indesmentível que escrevi que o FC Porto se sagrou pentacampeão, que o FC Porto venceu a Taça UEFA, que o FC Porto venceu a Liga dos Campeões, a Taça Intercontinental, o tetracampeonato e nunca o fiz em relação ao Benfica, mas a culpa não é minha. Juro

Do Apito Dourado à
Liga Aliança
Era urgente rever a política de comunicação do FC Porto. Pinto da Costa intervém cada vez menos publicamente e nem sempre com a maior pertinência - em 2014-15, destaca-se a forma como se insurgiu contra as nomeações do Conselho de Arbitragem, mas a determinada altura parecia mais interessado em (contra-)atacar Fernando Gomes do que a forma como a FPF, em odores de cumplicidade, (não) tem reagiu ao CA e à Liga Aliança que comprometeu a verdade desportiva do futebol português como não se via desde o Apito Dourado. Com a diferença de que o Apito Dourado parou convenientemente em Leiria, enquanto a Liga Aliança não vai além da capital. Já para não falar que o processo Apito Dourado assentou, essencialmente e factualmente, em dois jogos de alegado benefício ao FC Porto, contra Beira-Mar e Estrela da Amadora. Façam lá as continhas sobre de quantos Apitos Dourados o Benfica beneficiou nas primeiras 22 jornadas do campeonato.

Ainda sobre o Dragões Diário, resta ter o cuidado de não banalizar a palavra do FC Porto. Diariamente, tem sido notícia um pequeno trecho do Dragões Diário. Quase sempre pertinente, mas se diariamente o FC Porto se insurgir sempre contra algo a sua palavra vai começar a merecer alguma indiferença. Há que guardar as críticas para as alturas mais pertinentes possível. Em 2014-15 já não há muito mais a fazer, mas a partir da próxima época há que ser tão seletivo quanto possível. Mesmo nos tempos de maior sangue na guelra de Pinto da Costa, passavam semanas e semanas sem que o presidente falasse. Mas quando falava, o impacto era imediato.

Se essa seleção for bem feita, o FC Porto só tem a ganhar. Era importantíssimo mudar de estratégia, pois temos que ter uma voz presente na defesa do FC Porto. Antero Henrique quase só dá uma entrevista anual em épocas de títulos (não fala desde a promoção ao Museu em 2013), as responsabilidades financeiras e perfil de Fernando Gomes não recomendam que seja ele a fazê-lo, Adelino Caldeira idem e Rui Cerqueira, apesar do papel no Porto Canal e no site/redes sociais do FC Porto, praticamente não se manifesta publicamente desde a conferência de imprensa com os erros de Duarte Gomes, em 2011. Precisávamos de uma nova voz, desde que FJM esteja sempre em sintonia, dentro de possível, com o estado-maior do FC Porto.

O manto protetor
É bom ver a urticária que vai provocando. O mesmo se aplica às conferências de imprensa de Lopetegui. Fica tudo tão incomodado com a palavra do treinador do FC Porto que ninguém pára para pensar na questão essencial: o que é que Lopetegui tem dito que é mentira? Tal como o Dragões Diário se assentou em factos para falar sobre a nomeação de João Capela (já aqui avaliada anteriormente), Lopetegui nunca saiu do campo dos factos/estatística ou da mera opinião pessoal. Nunca acusou um árbitro de querer errar propositadamente, de querer beneficiar o Benfica, de querer prejudicar o FC Porto. Nunca acusou ninguém de ser desonesto e sempre o afirmou: no dia em que tiver provas do contrário, pede para sair de Portugal, tal como José Mourinho o fez em janeiro de 2004, após um clássico com o Sporting. Aliás, Lopetegui vai-se limitando, nas conferências de imprensa, a responder a perguntas. Se os jornalistas lhe fazem essas perguntas, é porque sabem que algo de errado se passa, mas é sempre mais fácil puxar pela boca do treinador do FC Porto em vez de escrever o que todos vêm e sabem.

A maior excepção ao politicamente correto chama-se Jorge Jesus, que à sexta época no Benfica está finalmente à beira de conseguir fazer aquilo que Jesualdo Ferreira fez em 3 anos de FC Porto: ganhar três campeonatos. Com a diferença que Jesualdo, nos 4 anos à frente do FC Porto, passou sempre a fase de grupos da Champions, coisa que Jorge Jesus só fez uma vez, e não teve túneis nem colinho. É um facto que Jorge Jesus goza de uma proteção que nunca um treinador em Portugal teve. Agride jogadores adversários, agentes de segurança, tem justificações e desculpas para recorrentes falhas ao serviço do Benfica e ainda continua a ser aclamado como mestre da táctica, um treinador de 60 anos que só uma vez na carreira meteu os pés nos 1/8 da Champions. E depois de tanta preocupação face à falta de títulos de Lopetegui em 2014-15, que dizer de um treinador que entre 2010 e 2013 recebeu 12 milhões de euros brutos, sempre com orçamentos na casa 100 milhões, para depois ver o FC Porto ser tricampeão com apenas uma derrota? Ah, Lopetegui ameaçou que lhe dava um puñetazo? Foi fraquito. Jorge Jesus não se fica pelas ameaças: soca logo.

Lopetegui fala a título pessoal
Lopetegui deu a Jorge Jesus o tratamento que este fez por merecer. O que disseram após o clássico só ambos saberão. Mas só um dos treinadores decidiu ir meter uma acha e chorar um bocadinho junto do Sol. Percebe-se, foi importante para o treinador do Benfica apresentar logo publicamente a sua versão dos factos, não fosse Lopetegui fazê-lo primeiro e entalá-lo. Adiante, esta é apenas mais uma prova de que com Lopetegui não há subserviência, nem mesmo num clube cuja estrutura (ou parte dela) pensou, nos últimos anos, que o treinador era quase um mero adereço e que no FC Porto qualquer um é campeão. Como se sabe, Pinto da Costa é um grande admirador de Jorge Jesus. E não foi isso que inibiu Lopetegui de, uma vez mais, não ter papas na língua.

Para terminar, Lopetegui vai-se tornando num case study face às reações de muitos adeptos do FC Porto. Todos conhecem a expressão «jogador à Porto», mas há diferentes formas de o explicar. Mas por norma, todos concordam que um profissional à Porto é alguém que dá o peito às balas na defesa do FC Porto, que se insurge contra a injustiça e desvalorização que muitos fazem perante o nosso clube, que demonstra raça, determinação, vontade de vencer. Ora Lopetegui demonstrou tudo isto ao longo da época do FC Porto. Por isso, pode-se concluir que na cabeça de muitos adeptos um jogador/treinador à Porto é simplesmente alguém que ganha (a única coisa que faltou a Lopetegui esta época - também a mais importante). Se não ganha, então não presta. E isso não é um adepto do FC Porto, é um adepto de vitórias.

Balanço e expetativas
Ninguém pode estar satisfeito com 2014-15, pois é, faltando 2 jornadas para o fim do campeonato, uma época sem títulos. Será necessariamente uma época má? O FC Porto fez uma óptima Liga dos Campeões, não só de grande valia desportiva como financeira. Fez um campeonato em termos de pontuação e percentagem de vitórias muito acima da média, que só não nos dá a liderança porque, depois de 2011-13, há outro Vítor Pereira talhado para o campeonato nacional (na Europa é que já não consegue/pode fazer muito). Na Taça de Portugal, estivemos mal, embora os clássicos sejam os jogos onde há mais possibilidades de perder e o jogo que o Sporting fez só aconteça uma vez em 10 (prova disso foi a sua segunda visita ao Dragão). Sobra a Taça da Liga, mas depois de Pinto da Costa ter dito que esta o Benfica podia ganhar todas, é a Lopetegui que vão cobrar a factura por não termos ganho esta competição?

Temos razões para crer que 2015-16 será uma época melhor. Em relação a Lopetegui não havia apenas dúvidas no plano técnico-táctico. É um treinador que não estava habituado a lidar com nada daquilo que é o quotidiano de um técnico do FC Porto e de qualquer outro clube: gestão do balneário, definição de um 11 base, contacto semanal com imprensa, um ou dois jogos por semanas, extensão de uma equipa B/camadas jovens, pressão por ter que manter uma equipa competitiva enquanto tem que lançar outras opções para valorizar, evoluir e vender, ter poder e responsabilidades no mercado de transferências, saber o que é ter um clube rival, lidar com más arbitragens, jogar em campos com declive (...). Resumidamente, o FC Porto talvez nunca teve um treinador tão pouco preparado para estas funções como Lopetegui. Ainda assim, brilhámos na Europa e em Portugal os 78 pontos que somamos chegavam e sobravam para chegar ao título em épocas anteriores. Tudo isto enquanto Lopetegui teve que ser permanentemente a voz de defesa ao FC Porto, muitas vezes sem que fosse defendido ou escudado pela estrutura.

É o homem certo no lugar certo. 2015-16 será a época certa para o provar.

PS: Após tantos meses, alguém acordou, depois de tanto disparte que foi escrito. Mais vale tarde que nunca, não é? No fim da época logo se verá se continuamos a meter gasolina cara, à espera que o motor arranque, ou se devolvemos ao stand.

PS2: Empréstimo obrigacionista sobe para 45M€. Um valor que representa 50% das receitas operacionais que estavam previstas pelo FC Porto para 2014-15. Como prognósticos no fim do jogo são fáceis, alerte-se agora: isto é desafiar os limites do risco e o cinto tem que apertar. Tal como devemos ser criteriosos no uso da palavra no Dragões Diário, teremos que o ser no ataque ao mercado no próximo defeso. Lopetegui saberá que terá que encurtar a lista de compras. E a SAD também. 

terça-feira, 12 de maio de 2015

A diferença entre 78 e 81 pontos

Lopetegui e os jogadores têm que seguir o politicamente profissional: dizer que o título ainda é possível. Logo, percebe-se que Lopetegui tenha apostado praticamente no melhor 11 à disposição. Mas... Como bons portistas, temos que acreditar no FC Porto. Mas não temos que acreditar em Rui Vitória ou no Guimarães, nem em Carlos Pereira - oh, se não podemos! - ou no Marítimo.

Isto para dizer que teria sido uma boa oportunidade para lançar as segundas linhas. Porque há vários jogadores caros no plantel que, se não servem para jogar contra o Gil Vicente no Dragão, então o seu futuro deve ir à mesa. Mas é Lopetegui quem vê quem trabalha bem ou mal ao longo da semana, logo neste caso a opção do treinador deve sempre ser respeitada.

Mas seria bom aproveitar os últimos dois jogos da época para dar uma oportunidade a menos utilizados, sobretudo porque o campeonato já está, com maior ou menor fé, perdido. E resume-se de forma muito simples: é por culpa própria que o FC Porto não tem mais que 78 pontos. Mas é pelos factores externos que todos conhecem que o Benfica tem 81 pontos. Factores esses que o FC Porto, sobretudo a nível directivo, não combateu como devia. A SAD construiu (a valente preço, que exigiu a Lopetegui valorização de activos e ao plantel uma excelente Champions - objetivos cumpridos) um bom plantel, mérito nisso, mas há que se mentalizar de algo: o tempo dos campeonatos em piloto automático acabou. Uma lição a aprender para o último triénio do 13º mandato de Pinto da Costa, onde não podemos repetir a passividade demonstrada esta época. Repetindo os erros, não há forma de pensar em 2016-2020.





Abono em tempos de fome
Jackson Martínez (+) - Não foi campeão europeu, como Derlei ou McCarthy, não foi tetracampeão, como Lisandro López, nem resolveu uma final europeia, como Falcao. Jackson fez algo não menos significativo: foi líder, goleador, referência e inspiração nos últimos 3 anos, nos quais o FC Porto atravessou uma das fases mais delicadas dos últimos 30 anos, inclusive tendo como rival um Benfica forte (e não falamos necessariamente apenas de força futebolística) como há muito não se via. O melhor marcador do FC Porto no séc. XXI faz 30 golos por época e deixa saudades, muitas saudades. Porque Jackson não liderou o FC Porto em tempos áureos, como McCarthy, Derlei, Lisandro ou Falcao. Liderou-o em tempos difíceis. Merece ser perpetuado no museu.

Óliver e Quaresma (+) - Não tendo sido a mais brilhante exibição do FC Porto, não faltou clarividência. Ao contrário do que aconteceu no Bonfim, onde quase não houve oportunidades de golo, desta vez o FC Porto soube criar várias ocasiões. Para isso muito contribuiu Quaresma, preciso nos cruzamentos e a ajustar o seu estilo de jogo à velocidade que já não é muita. De Óliver, o de sempre. Virtuoso, rápido a criar e a corresponder a linhas de passe, e a cruzar muito melhor. De destacar também a boa exibição de Maicon (foi de um dos seus chatíssimos passes longos que começou o lance do 1x0).





2015-16 tem que começar já! (-) - As velhas críticas do costume. Uma dúzia de cantos, zero de perigo (ps: o golo de Jackson é um lance que acontece 1 ou 2 vezes na carreira de um jogador, que nasce da inspiração de predestinados e não de planos de treino). É gritante a falta de evolução no FC Porto nas bolas paradas desde o início da época. Até mesmo em livres cruzados para a grande área, é extremamente raro vermos algum jogador ganhar uma bola de cabeça e criar perigo. Livres batidos de qualquer maneira, movimentações na área que não revelam grande estudo prévio. Agora como há 6 meses: se Lopetegui não consegue evoluir a equipa neste aspecto, que se contrate alguém para reforçar a equipa técnica que o consiga. Por outro lado, a falta de verticalidade em vários momentos do jogo. Somos uma equipa de posse, de ataque planeado, que joga mais com a cabeça do que com o pulmão. Mas num contexto de futebol português, temos que saber jogar em mais de 30 metros, atacar com velocidade e agressividade o último 1/3 do campo e encurtar a distância nas transições. Não é mudar o estilo de jogo, é readaptá-lo. Se não melhorarmos estes dois aspectos, em 2015-16 poderemos repetir erros há muito detetados. E o FC Porto, como qualquer clube com qualquer profissional, tem o direito a errar, desde que trabalhe para corrigir esses erros. 2015-16 tem que começar já.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Empréstimo obrigacionista 2015-18

Conforme vinha sendo aqui antecipado nas análises às contas da SAD, maio era mês de renegociar o empréstimo obrigacionista. É uma situação prevista desde que o orçamento para esta época foi construído. Falando-se em (ligeira) surpresa, só no facto do montante ser de imediato de 40M€, que é o maior empréstimo obrigacionista da história da SAD. Um elemento demonstrativo das dificuldades próprias de quem assume e tem que cumprir o maior orçamento de sempre, com 114,2M€ + compra de passes.
Redução da taxa de juro

Como este espaço procura sempre distinguir-se pelo equilíbrio, tentemos juntar à mesa os que anunciam o apocalipse financeiro e aqueles que às 7h da manhã já estavam a fazer fila no balcão do seu banco para subscrever o empréstimo obrigacionista.

Tendo em conta as dificuldades crescentes em garantir empréstimos bancários, os pequenos investidores são uma alternativa natural. E uma boa notícia (na óptica do FC Porto) é a taxa de 5%. Em 2013 o FC Porto pagava uma taxa média de 8,51% e fechou a última época com 7,31%. Esta redução é assinalável e não sei se alguma vez uma SAD terá emitido dívida com uma taxa de juro tão baixa. Porventura a melhor notícia desde a entrada de Fernando Gomes na SAD.

O FC Porto continuará a ter 2 empréstimos obrigacionistas: 20M€ (6,75%), que vencem em 2017 (o mais natural também será renegociá-lo na altura), e agora os 40M€, para 2018, que vão cobrir o empréstimo de 30M€ (8,25%) que vence este mês. Paralelamente, a boa notícia é que o empréstimo bancário do BES/Novo Banco, que vence em outubro, é o último grande endividamento à banca por parte do FC Porto (isto é, o único empréstimo acima de 10M€). Resta saber quais serão os contornos da mais que lógica renegociação (abater passivo financeiro de forma tão bruta não expectável). Não vale a pena falar de Danilo nem de Jackson quanto ao reembolso. E claro, a procura vai superar a oferta e vai ser descrita como um sucesso.

O FC Porto não deve nunca olhar para o vizinho para avaliar a sua própria situação. É um facto que estamos muito distantes da auto-sustentabilidade e que a SAD atravessa uma situação financeiramente delicada. Mas vá, um olhinho: quando o Benfica, um clube que factura mais do que o FC Porto em quase todas as linhas, lança no mesmo ano 95M€ em empréstimos obrigacionistas, fora taxa de juro, é sugestivo. E o extremamente bem reestruturado Sporting, que em 2011 tinha lançado o seu «último empréstimo obrigacionista» (palavra de SAD), acaba de o renovar, com emissão de 30M€ - mesmo que estas já sejam realidades financeiras muito distintas.

Nada disto deve confortar o FC Porto. Estar melhor do que os rivais não significa estar na situação ideal, que o FC Porto não está. Foi um risco assumido e conhecido desde o início da época, que resultou numa boa Champions, em maiores receitas, em valorização de activos, na restauração de um FC Porto competitivo. Faltam os títulos, claro, que é para isso que jogamos. Mas felizmente o orçamento vai ser cumprido, não dispensado nunca a venda já esperada de Jackson Martínez e atenção para as propostas que outros possam receber.

É tudo um pouco repetitivo: é preciso ser selectivo no ataque ao mercado e reduzir a massa salarial. Em 2015-16 as receitas do FC Porto vão subir, muito por causa dos novos prémios da UEFA (tema a desenvolver mais tarde), mas nunca chegando ao ponto de haver sustentabilidade para mais orçamentos acima dos 110 milhões de euros. Por outro lado, é o que já todos conhecem: esta é a política de Pinto da Costa há 30 anos. Viver no limite do risco financeiro para estar um grau competitivo acima dos demais. O mesmo risco que o próprio Benfica assumiu durante a era Jorge Jesus, por exemplo. 

Sendo o empréstimo obrigacionista uma ação esperada, não é possível aprofundar muito mais. Mas importa deixar uma reflexão: vivemos a segunda época do triénio do mandato de Pinto da Costa. Há movimentações para o 14.º mandato, mas não faltará muita gente a salivar com a possibilidade de ver o prego no caixão que seria ver o Benfica ganhar, por exemplo, um tricampeonato durante o 13.º mandato de Pinto da Costa. E não falamos necessariamente de benfiquistas.

O orçamento é de risco, mas é um risco calculado desde o início, em que a SAD sabe perfeitamente o que tem que fazer a seguir. Viver no risco é a política. Arriscar o clube é o limite, que não foi - nem poderá nunca - ser atingido. 2014-15 é o limiar do limite.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Colheita eficaz, com alguma parra a mais

Há trabalho a fazer
Aproximam-se as férias, há transferências e renovações de contrato para tratar, o FC Porto deitou fora a última possibilidade que tinha de passar para a frente do campeonato e ainda temos que disputar 3 jornadas com a amargura de saber que de pouco ou nada valerá. Mas ainda há um acesso directo à Liga dos Campeões para confirmar, jogadores que querem e têm que acabar a época em bom plano e o símbolo que ostentam nesta fase da época é o mesmo que utilizariam numa final da Liga dos Campeões.

Este plantel sabe que podia e pode render muito mais. E o melhor exemplo disso é o festejo de Brahimi no 1x0, ele que após levar nas orelhas de Lopetegui pela sua recente forma, que teve a última gota na Luz, não hesitou em festejar com o treinador, reconhecendo e aceitando as críticas.

É importante acabar a época com uma sequência de vitórias. Em 2009-10 fizemos um campeonato pior, onde não houve colinho mas houve túnel e acabámos a 8 pontos do Benfica, mas fechámos a época com uma série de 8 vitórias consecutivas (mãe das coincidências, desde que os castigos do túnel foram reduzidos) e começámos a lançar a época dourada de 2010-11. A temporada de 2015-16 começa já a ser preparada, até porque não podemos - nem vamos - voltar a ter um plantel com 15 jogadores novos, mas alguns estão a jogar o seu futuro nestas últimas semanas.





Laterais (+) - Um dos melhores jogos de Ricardo pelo FC Porto. Deu imensa profundidade e velocidade ao flanco, está a cruzar melhor e não cometeu nenhuma falha defensivamente. Não é forte como Danilo nos movimentos interiores, mas a estratégia de meter Quaresma a dar-lhe o corredor funciona bem. Alex Sandro foi quem mais vezes cruzou e esteve igualmente bastante activo, neste caso melhor no espaço interior, e entendeu-se bem com Brahimi, embora por vezes não tome as melhores decisões (já não é a primeira vez que o bracinho, na grande área, pode dar problemas). Renovação para ontem!
Um remate, um golo

Casemiro (+) - Continua a senda de boas exibições. O facto de ter Herrera ou Óliver sempre perto dele no início de construção melhorou a equipa. Mantém sempre a equipa equilibrada, dá a dimensão física que mais ninguém o consegue fazer no meio-campo e tem reduzido o número de faltas que faz de jogo para jogo, melhorando imenso no timing das entradas.

Virtude no meio (+) - O Brahimi dos 3 primeiros meses da temporada apareceu ontem no Bonfim. Mais objetivo, mais confiante e a funcionar muito bem nas costas de Jackson na primeira parte, deixando o corredor aberto para o lateral. A equipa esteve irrepreensível na circulação de bola na primeira parte e, depois, contou com o virtuosismo de Brahimi para desfazer a última linha do Setúbal. 13 golos e 10 assistências em época de estreia. Não fosse a ausência na CAN e a má forma que já arrastava desde Dezembro e teria números muito superiores. Com consistência poderá explodir em 2015-16. Palavra para Jackson, com participação nos dois golos. Oportuno e eficaz.





E chutar? (-) - Lopetegui diz que o FC Porto podia e devia ter matado o jogo logo na primeira parte, por ter tido oportunidades para isso. Na verdade, não teve. Não podemos confundir o caudal ofensivo, a boa circulação de bola e o domínio absoluto com oportunidades de golos. Se cumprirmos os 3 primeiros pontos, estamos mais perto do quarto. Mas a verdade é que Helton faz 4 defesas, enquanto o guarda-redes do Setúbal só faz uma em todo o jogo. O FC Porto, tal como na Luz, procura muito pouco a baliza. Desta vez, tivemos a felicidade de Brahimi e Jackson aproveitarem as suas oportunidades. Mas fizemos muito pouco para matar o jogo e construir uma vitória mais folgada.

Apatia pós-balneário (-) - Diz quem conhece o balneário do FC Porto que Lopetegui fica sem ar nos pulmões quando dá as palestras ao intervalo. O próprio treinador talvez tenha que aprender que a linha que separa o discurso aguerrido que motiva os jogadores e o que os deixa nervosos é ténue. Os jogadores regressam dos balneários nervosos, lentos, com pouca disposição para pressionar. Percebe-se que Lopetegui tem também a intenção de deixar que o adversário suba um bocado para explorar as transições rápidas, mas fazer isso com 1x0, num contexto de liga portuguesa, é demasiado arriscado. Temos muito trabalho a fazer neste capítulo. De lamentar a lesão de Iván Marcano.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A urticária dos factos e um prodígio de bandeirinha

Há conceitos que por mais objetivos que possam ser não deixam nunca de causar alguma urticária. Quase sempre pelas mesmas razões: problemas de consciência. Um deles é a estatística. Resume-se a factos, números irrefutáveis. Um deles é um dado antigo, aprofundado aqui pel'O Tribunal do Dragão, a propósito dos jogos do Benfica com João Capela.

Esse facto diz que o Benfica nunca sofreu golos com João Capela. É estatística. No Dragão Diário, ninguém afirmou que Capela foi decisivo para o Benfica ganhar algum desses jogos ou para os adversários não marcarem golos. Excepção ao que todos viram no jogo com o Gil Vicente, da primeira volta: um dos mais flagrantes golos em offside da época. Não é acusação, nem polémica. É facto. E se alguém se sente incomodado com os factos...

A chata da estatística
Mas não podemos nunca deixar os factos pela metade. As probabilidades do Gil Vicente ganhar ao Benfica são residuais. Mas de certeza que ter um árbitro com quem, em 17 jogos, só ganhou 3, não é a forma mais simpática de tranquilizar a equipa. Num jogo em que o Benfica vai muito provavelmente ganhar sem suar, nem assim deu para prescindir de nomear João Capela.

Apesar de o mais normal ser o Benfica ganhar ao Gil Vicente, com Jorge Jesus em Barcelos o Benfica só ganhou uma vez (e num dos jogos nem com um penalty assinalado por Bruno Paixão, no último minuto, lá foi). Um exemplo de que não há impossíveis, por mais improvável que possa ser. Mas nomear João Capela, um árbitro benfiquista que tem um longo historial de benefícios ao rival, e de quem o Gil Vicente tem razões de queixa, mostra bem a categoria do trabalho do Conselho de Arbitragem.

Mas nunca se deve deixar os factos pela metade. Não podemos concordar com o Dragões Diário quando este diz que foi João Capela a resolver o jogo da primeira volta. Não foi, porque os foras-de-jogo são da responsabilidade dos auxiliares. E é aqui que devemos prestar atenção a uma promessa emergente da arbitragem: João Pedro Mota Sousa.

João Capela volta a arbitrar o Benfica contra o Gil Vicente. E tal como no jogo da primeira volta, que foi resolvido com um golo em fora-de-jogo, Tiago Rocha volta a ser chamado para ser auxiliar. Mas a grande novidade está na troca de Pedro Felisberto por este ilustre desconhecido.

Segundo estes dados, este auxiliar ainda só serviu para arbitrar 4 jogos dos escalões profissionais: todos do Chaves (oh mãe das coincidências!), para muitos provavelmente o único clube que pode tirar protagonismo ao Benfica no que toca a benefícios arbitrais esta época. De resto tem andado sempre pelo Campeonato Nacional de Seniores. E de repente, este senhor que nem sequer tem 2 anos de carreira na arbitragem é chamado para arbitrar um jogo do campeão nacional, numa fase absolutamente decisiva da época, e vai completar uma equipa de arbitragem que foi nomeada com a maior das polémicas.

Vítor Pereira, do CA, não merece uma águia de prata. Merece uma de ouro, porque isto é trabalho de primeira, da mesma categoria de quem consegue transformar um árbitro com 2 jogos de carreira profissional num internacional FIFA. Mal podemos esperar pela visão periférica deste novo talento às movimentações do ataque do Benfica.

E a verdade é que toda esta conversa, agora, de nada vale. Deixaram Lopetegui praticamente isolado na defesa do FC Porto e no contra-ataque a um campeonato forjado, e não é agora que uma picada no Dragões Diário vai mudar o quer que seja. Ainda não acenámos o lenço branco, mas pouca gente se importou quando o rival levou quem quis para junto a sua trincheira. E à 31ª jornada ainda vai sacando (e precisando?) dos «Aliados».